segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Alegrai-vos Sempre no Senhor

“Outra vez digo: alegrai-vos” (Fp 4.4).

Paulo escreveu essas palavras à igreja em Filipos. Na ocasião, ele era prisioneiro em Roma e poderia ter se atormentado, questionando: “Quando serei libertado? Quando poderei continuar minha viagem? Quando e onde continuarei meu trabalho missionário? Será que a prisão ficará mais rígida? Serei condenado à morte? O que será da igreja de Filipos? E em Roma, como as coisas vão continuar?”. Mas Paulo não se preocupava com nada disso. O que marca essa carta da prisão não é a preocupação ou a dúvida, mas a alegria e o encorajamento que transparecem do começo ao fim. Paulo sabia que tinha todas as razões do mundo para se alegrar, apesar de sua situação pessoal penosa, apesar das perseguições e da enfermidade.

Nós cristãos realmente temos todos os motivos para nos alegrar. Se não nós, que somos libertos, então quem se alegraria? Podemos nos alegrar sempre, alegrar-nos no Senhor. Ele está conosco todos os dias (Mt 28.20). Isso é mais do que consolo, é a razão da nossa alegria! A alegria no Senhor é eterna e independente das circunstâncias exteriores. Obviamente os filhos de Deus também estão sujeitos a mudanças de humor. Nós também somos afligidos por problemas e enfermidades.Seria hipocrisia andar pelas ruas ostentando sempre um sorriso no rosto. Tudo tem seu tempo, tanto a alegria como a tristeza. Mas a alegria deve ser o fundamento, a base firme dentro de nós, apesar de todas as circunstâncias.

Paulo foi perseguido, açoitado e aprisionado, e certamente não sentia vontade de ficar sorrindo à toa. Mas ele emanava uma alegria que vinha do coração. Podia encorajar a outros mesmo estando em aflição. O que lhe concedia essa força interior? A fonte da força em si: o Senhor e Sua Palavra! “A alegria no Senhor é a vossa força” (Ne 8.10). “A esperança dos justos é alegria” (Pv 10.28).

Em qualquer circunstância da vida é essencial que nos lembremos quem somos e quem éramos. Éramos perdidos e espiritualmente mortos. E agora? Deus tornou-se Homem para perdoar nossa culpa. Ele rasgou o escrito de dívida que era contra nós e nos libertou da pena da morte. Agora estamos salvos, ressurretos dentre os mortos com Cristo para a vida eterna, e um dia teremos um lugar seguro na glória com Jesus – seremos revestidos com um corpo de glória. Tudo isso não é motivo de alegria? Essa expectativa não pesa muito mais do que todas as preocupações do mundo? Justamente um filho de Deus renascido deve atentar para a direção em que volta seu olhar. Se eu olhar para trás, talvez minha alegria nem seja muito grande. Se tenho apenas o aqui e agora diante dos olhos, talvez fique apavorado. Mas se voltar meu olhar para o Senhor e antevir o encontro com Ele, meu coração saltará de alegria.

“Vi novo céu e nova terra... Eis o tabernáculo de Deus com os homens... Ele lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor...” (Ap 21.1- 4). Passagens bíblicas como essa – e existem muitas semelhantes – só podem nos tornar alegres! Como o Senhor Jesus já disse a Seus discípulos: “alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus” (Lc 10.20). Apesar de toda a maldade que nos cerca e mesmo diante dos eventos que parecem colocar o curso da História de ponta-cabeça e deixam o mundo assustado, nós cristãos temos todos os motivos para nos alegrar, pois temos à frente a eternidade e o encontro com nosso Senhor ressuscitado.

Se paz a mais doce me deres gozar... Por trás desse conhecido hino cristão há uma história comovente.

Meu hino preferido é “Se paz a mais doce me deres gozar...”. Seu texto foi escrito por um homem de Chicago, chamado Horatio Spaf­ford. Ele era um advogado bem-sucedido até que o grande incêndio devastou Chicago. Para essa cidade a catástrofe do fogo representou o mesmo que a queda das Torres Gêmeas para Nova Iorque, apesar de ter tido causa natural e não ter sido provocada por terroristas. O escritório de advocacia de Spafford também sucumbiu às chamas. Nos dois anos seguintes, outros investimentos de Spafford deram errado e sua riqueza pessoal acabou.

Spafford havia prometido à sua família uma viagem à Europa. Mandou que sua esposa e suas quatro filhas viajassem enquanto ele tentava salvar alguns de seus investimentos. No dia em que o navio delas zarpou de Nova Iorque, o negócio que queria fechar não deu certo. Ele poderia ter viajado com elas, mas naquele momento não sabia disso. O Ville du Havre,navio em que viajava sua família, foi abalroado por outro navio no Oceano Atlântico e afundou em doze minutos. A senhora Spafford correu ao convés com suas filhas, mas enquanto o navio afundava as crianças foram arrancadas de seus braços e se afogaram. Ela perdeu a consciência e acordou em um barco de salvamento. Foi uma das poucas resgatadas das águas geladas. Quando o navio de socorro chegou à Europa, ela enviou ao seu marido um telegrama em que descrevia a tragédia com duas palavras muito expressivas: “Salva sozinha”.

Compare os problemas que você enfrenta com os de Horatio Spaf­ford. Seus prejuízos financeiros não eram nada se comparados à sensação de perda que deve ter sentido quando ficou sabendo da morte de suas filhas. Spafford foi imediatamente a Nova Iorque e tomou o primeiro navio para encontrar sua esposa. Certa noite, o capitão dirigiu-se a ele e disse que se encontravam perto do local onde o “Ville” naufragara. Como você teria reagido no meio de tanta dor? A reação de Horatio Spafford foi realmente admirável, e duas fontes históricas preservaram o registro do que se passou em seu coração nesse momento.

Em uma carta a sua irmã Rachel, ele descreveu seus sentimentos:


Na quinta-feira passamos perto do local onde (o navio) naufragou: no meio do oceano, a água tem 3 milhas de profundidade. Mas quando penso nas nossas pequenas queridas, não as vejo ali. Elas estão seguras e abrigadas, as queridas ovelhinhas, e em breve também estaremos lá. Nesse meio tempo,graças a Deus, temos a oportunidade de louvá-lO e de agradecer por Seu amor e Sua misericórdia por nós e pelos que amamos. “Eu O louvarei enquanto viver”. Que todos nos ergamos, deixando tudo e seguindo-O.

A mim impressiona sua profunda fé. A reação de Horatio Spafford também está descrita em um hino escrito nessa época. Na parede de meu escritório tenho uma cópia litográfica desse poema. A melodia que o acompanha foi composta mais tarde (por Philip Bliss). O texto foi escrito em papel de carta do hotel Brevoort House. Infelizmente, esse prédio não existe mais. Há marcas de dobras na folha, pelo visto muito manuseada e manipulada, pois as marcas aparecem nitidamente tanto na cópia litográfica como no original, exposto no American Colony Hotel em Jerusalém (Spaf­ford foi um dos fundadores da American Colony). As palavras da primeira estrofe são encontradas em nossos hinários quase exatamente como foram escritas:


Se paz a mais doce me deres gozar,
Se dor a mais forte eu sofrer,
Oh! seja o que for, Tu me fazes saber
Que feliz com Jesus sempre sou![1]


Fico impressionado com essas palavras grandiosas, mas como foi que Horatio Spafford podia ter tamanha confiança, tamanha fé e tão profunda esperança? Não consegui responder a essas perguntas até que observei mais atentamente a última estrofe. Foi ela que custou mais a Spafford. Em alguns lugares ele raspou palavras do antigo papel de carta e escreveu outras por cima. Substituiu completamente algumas linhas. É como se ele tivesse se esmerado de forma especial para encontrar as palavras certas para sua última estrofe. Que palavras Spafford escolheu?


And Lord, haste the day when my faith shall be sight,
The clouds be rolled back as a scroll,
The trump shall resound, and the Lord shall descend,
“Even so” – it is well with my soul.

Em português, essa estrofe foi traduzida livremente:


A vinda eu anseio do meu Salvador;
Em breve virá me levar
Ao céu, onde vou para sempre morar
Com remidos na luz do Senhor![1]

Por que Spafford manteve-se fiel à sua fé? Cada linha da última estrofe demonstra que seu olhar estava voltado para o futuro. Ele sabia que o Senhor reina e que um dia tudo ficará bem. Spafford iria rever suas filhas no céu, essa era sua convicção. Suas perguntas estariam respondidas. Deus enxugaria dos seus olhos toda lágrima. Sua esperança de futuro dava-lhe firmeza para viver no presente. Spafford alegrava-se com o Dia em que Jesus viria buscá-lo para o céu.

Mas a última estrofe continuava me intrigando. Spafford encerrou com a frase meio misteriosa (no original): “Even so – it is well with my soul”. Quando a li pela primeira vez, me parecia que Spafford queria dizer algo como: “Jesus voltará, sim, está bem”. Mas de repente reconheci o que não entendera até então. Analisei bem a última estrofe. Quando Spafford finalmente tinha formulado o verso como ele queria que ficasse, acrescentou a expressão “certamente”! Em toda a última estrofe Spafford alude a passagens e termos bíblicos relacionados com a volta de Cristo. “Certamente” é uma alusão a uma passagem bíblica, e ele esperava que seus leitores conhecessem e completassem o texto do penúltimo versículo do Apocalipse (Ap 22.20). Na versão King James em inglês, que Spafford usava, Jesus disse:“Surely I come quickly” – “Certamente, cedo venho”. E a resposta do apóstolo João foi:"Amen. Even so, come, Lord Jesus” – “Amém. Ora vem, Senhor Jesus”.[2] Os leitores deveriam complementar esse verso, declarando sua confiança em Deus e testificando que Ele cumprirá Sua promessa de voltar e de levar Seus filhos aos céus, finalizando Seu programa para as eras. Conhecer essa verdade foi o que possibilitou a Spafford afirmar com toda a convicção: “Sou feliz com Jesus, meu Senhor!”