Vodu
Entre as
manifestações religiosas da tradição afro-americana -- macumba, candomblé e
outros --, o vodu do Haiti transcendeu os círculos em que se desenvolve, uma
vez que é explorado como recurso turístico naquele país antilhano.
O vodu é um
culto religioso popular de caráter sincrético. Incorpora aspectos do ritual
católico-romano, datados da colonização francesa e originados de uma
interpretação anômala dos ensinamentos derivados de um batismo muitas vezes
imposto, assim como elementos religiosos e mágicos africanos trazidos pelos
escravos das etnias ioruba, fon e outras. O termo deriva de vodun,
"deus" ou "espírito" na língua dos fons. O culto tornou-se
espécie de religião oficial da comunidade camponesa do Haiti.
Embora os
praticantes do vodu professem a crença num distante Deus supremo, as divindades
efetivas são grande número de espíritos denominados loa, que podem ser
aparentados a santos católicos, ancestrais deificados ou deuses africanos.
Muitos adeptos urbanos acreditam que os loas podem ser benévolos, os loas Rada,
os quais se ligam aos indivíduos ou famílias como anjos da guarda, guias e
protetores, ou mesmo malévolos, os loas Petro. Essas divindades comunicam-se
com os fiéis por meio de sonhos ou deles tomam posse durante cerimônias rituais.
A presença do espírito é revelada por um estado de transe numa dança estilizada
ou por certas características especiais. Cada grupo de praticantes tem seu
local para realizar as cerimônias, que envolvem cantos, toque de tambores,
danças, preces, preparo de alimentos e o sacrifício ritual de animais. O
santuário ou houmfo é presidido por um hougan, celebrante masculino, ou mambo,
sacerdotisa, que age como conselheiro, curandeiro e protetor.
Com o tempo, o vodu perdeu seus traços
ancestrais e adotou caráter nacional, com a criação de formas típicas
haitianas. Durante décadas a Igreja Católica condenou o vodu no Haiti, mas como
essa crença se tornou a religião principal da maioria da população, no final do
século XX os católicos resignaram-se à convivência com o culto.
Estudo sobre o Vudu
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Como em muitas religiões, o vodu também possui um templo. Mas o que caracteriza o santuário é uma coluna chamada poteau-mitan. Localizada no centro do templo, essa coluna é considerada sagrada pelos seguidores e é em sua volta que as cerimônias de comunicação com as divindades são realizadas. Ao redor da poteau encontram-se desenhos decorativos chamados vevers. São representações heliográficas de diversas
entidades adoradas no vodu. Aliás, entidades é que não faltam no vodu, que possui um grande panteão.
Os nomes das divindades se alteram, dependendo da região onde o ritual é praticado, mas a maioria dos adeptos dessa prática considera que o panteão veio do Oeste africano. As entidades desses panteões, por muitas vezes, são consideradas pelos adeptos como espíritos de pessoas que já morreram homens que tiveram importância
dentro da comunidade religiosa, príncipes ou sacerdotes. Esses espíritos levam o nome de loas, e podem ser classificados em entidades de dois grupos:
Rada:: entidades transmitidas por Daomé.
Petros : entidades que, ao longo do tempo, infiltraram-se na prática religiosa vodu.
Segundo a crença vodu, as manifestações dos grupos petros e rada têm personalidades e sensibilidades definidas e procuram sempre seguir uma família específica de adeptos. Outras divindades são públicas, manifestando-se em qualquer pessoa.
Hungans e mambos.
A maioria das religiões possui líderes que conduzem seus cultos e rituais. No vodu isso também existe, eles são conhecidos por hungans. A mulher também tem a sua participação, porém, a terminologia a ela conferida é mambo.
Existem algumas informações que apontam o voduísmo como uma religião matriarcal, na qual a mamboé conhecida também como rainha, porém, é o hungan que preside o hunfort, o santuário religioso.
O sacerdote vodu possui várias posições: atua como curandeiro, adivinho e exorcista. Nas comunidades em que se observa a falta do sacerdote, a mulher toma a frente, sendo considerada a maior autoridade religiosa.Cerimoniais vodu Geralmente, as cerimônias são realizadas no período noturno. Fazem parte do ritual: bebidas de rum, frutas e jarros de barros. As bebidas e comidas são erguidas e oferecidas aos loas, para invocá-los. No intuito de alegrar essas entidades, os voduístas lhes oferecem também sacrifícios de aves, porcos, galinhas, bodes e afins. Após as oferendas com danças, os loas possuem os corpos de seus súditos. É interessante
que nas possessões os indivíduos não possuem consciência daquilo que fazem e, conseqüentemente, não se lembram de nada após o término do ritual.
No vodu, mais ou menos como ocorre na Umbanda, as danças em volta da ponteau-mitan são de suma importância, pois servem para se obter a espiritualidade: as pessoas que envolvem com a dança são mais rapidamente possuídas. Para cada divindade existe um tipo de música, instrumento e ritmos específicos, segundo o gosto de cada loa, que exige que tudo seja purificado e consagrado para o ritual. Na Umbanda, os atabaques também são consagrados para fazer que os orixás de Aruanda e
Orum se manifestem.
As serpentes também fazem parte de alguns cerimoniais. No ritual chamado mambo, o réptil é retirado de um cesto e posto bem próximo do rosto da sacerdotisa que, ao tocar no animal, recebe, supostamente, visão especial e poderes sobrenaturais.
Segundo a crença vodu, os primeiros homens criados eram cegos e foi justamente a serpente que conferiu visão à espécie humana.
Boneco vodu Sem dúvida, o boneco vodu é o primeiro elemento que vem à mente dos leigos quando se fala em voduísmo.
Tal objeto é empregado para invocar os poderes dos deuses do vodu e recebe o nome de fetiche, que significa feitiço. O fetiche é confeccionado por quem irá realizar o trabalho de magia e, enquanto é feito, a pessoa tem de mentalizar os objetivos que quer alcançar com o ritual e “transmitir” sua energia ao boneco.
O fetiche deve ser feito com a semelhança anatômica de uma pessoa: cabeça, tronco e membros.
Partes indispensáveis para a “eficácia” da magia são os órgãos genitais masculinos ou femininos. O boneco precisa ser batizado com o nome da pessoa que irá representar e, geralmente, é feito de massa de modelar, nunca de pano ou outro material.
Segundo as sacerdotisas, tais bonecos são feitos para realizar o bem, para se alcançar prosperidade e curas. O que pessoa precisa fazer é perfurá-los com espetos ou alfinetes. Mas na prática as intenções nem sempre são essas.
Zumbis
Outro elemento do culto vodu é o zumbi. O cinema norte-americano popularizou esses “personagens” em seus filmes. Todavia, os seguidores do vodu dizem o seguinte: “Aquilo que o cinema mostra é totalmente diferente do que é feito na prática vodu. Os zumbis não são pessoas mortas, como divulga o cinema”.
Na verdade, segundo os ensinos vodus, o processo para se chegar a ser um zumbi é feito por meio de ervas que contêm substâncias capazes de deixar a pessoa em um estado de “morto-vivo”. Para o médico Carlos Alberto Serafim, especialista em cardiologia, esses compostos de ervas deixam o batimento cardíaco mais lento.
As ervas utilizadas pelos sacerdotes têm a capacidade de dilatar as pupilas, fazendo a pessoa perder a sensibilidade à luz e deixando-a em um estado de transe, o que facilita o processo de ritual feito pelo sacerdote, uma vez que o candidato torna-se totalmente manipulável.
O pesquisador e antropólogo do museu botânico da universidade de Harvard, Estados Unidos, Wade Davis, que se envolveu com a sociedade secreta do Haiti, foi procurado há algum tempo por dois psiquiatras que acreditavam existir uma poderosa droga capaz de transformar uma pessoa em zumbi. Davis explicou o seguinte:
“O ritual se dá por meio da magia negra [...] a vítima tem todo o indício de morte aparente, quase não respira, tem a pele fria, quase não tem pulsação e, mesmo assim, está viva”.
Isto se deve ao fato de a pessoa ficar horas sem oxigenação no cérebro, o que reduz o seu nível de consciência.
O curioso é que entre os componentes da fórmula utilizada pelos feiticeiros podem ser encontrados narcóticos, tetradotoxina, veneno neurotóxico e até veneno de rãs.
O feitiço do zumbi Dentro do sistema de crenças vodus, o zumbi é um dos feitiços mais temidos. Muito mais do que a magia dos bonecos.
O bokor, praticante de magias e feitiços, possuído por uma entidade chamada Baron Samedi, fornece as diretrizes para a pessoa que deseja praticar a magia. O “cliente” tem de ir ao cemitério, à meia-noite, e ali
apresentar ofertas especiais às divindades. Dali, ele deve tomar um punhado de terra para cada pessoa que deseja matar (esta é considerada uma magia negra para a morte). Após pegar a terra, o praticante deve espalhá-la pelos lugares em que suas vítimas costumam passar. Depois, retira algumas pedras de um túmulo, as quais servirão como instrumentos para realizar o designo maligno. Quando o praticante joga a pedra na porta da casa da pessoa para qual a magia foi direcionada, a vítima começa a adoecer e a
emagrecer, chegando à morte em um curto espaço de tempo.
Mas, segundo a crença vodu, o feitiço pode ser desfeito. Se por acaso esta pessoa for diagnosticada a tempo de que recebeu o tal feitiço, ela deve procurar um hungan rapidamente para retirar-lhe a magia e expulsar os maus espíritos.
Biblicamente, sabemos que o crente não precisa se preocupar com feitiços de nenhuma espécie, por mais assustadores que sejam. A palavra de ordem para que o cristão não seja alvo destes e de outros dardos do diabo é temer a Deus: “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Sl 34.7). Em nossas vidas, a maldição sem causa não se cumpre (Pv 26.2).
Magia do bem ou do mal?
Apesar de tudo isso, existe certa militância por parte de alguns voduístas em insistir que a magia vodu trabalha para o bem. No vodu, a idéia de distinção entre a magia do bem e do mal é difundida com esmero, pois a sacerdotisa ou o sacerdote geralmente recusa-se a realizar magia negra que, segundo eles, se destinaria apenas aos bokors – oficiantes do ritual com fins maléficos. Assim, hungans e manbos realizam rituais para o “bem” e os bokors, para o mal.
Analisando algumas manifestações afro-brasileiras, vemos que existe também uma grande preocupação em não macular sua prática religiosa, a fim de que seus conceitos e propósitos não sejam confundidos. Os umbandistas, por exemplo, se esforçam em pregar que sua religião desenvolve magias voltadas para o bem, enquanto que a Quimbanda, para o mal. Todavia, ao verificarmos as práticas observadas pelos dois
segmentos, constatamos que seus elementos ritualísticos são rigorosamente idênticos. Por exemplo, as oferendas com sacrifícios de animais e os toques dos tambores e danças são partes peculiares dos cultos afros. Semelhantemente, isso ocorre também no Candomblé, onde a prática de sacrifícios de animais é “exigida” pelas entidades por ocasião das possessões dos espíritos.
Contra o vodu A prática vodu é feitiçaria sem maquilagem. A Bíblia identifica tais práticas como cultos demoníacos. A história relata que a igreja primitiva teve de ser submetida a constantes advertências por parte dos apóstolos porque os cristãos daquele tempo eram seduzidos a buscar nos feitiços e magias a “felicidade”. Hoje em dia, é isso o que
constatamos entre aqueles que não têm suas vidas regidas pela Palavra de Deus. A Bíblia é expressa em apresentar sua oposição aos sacrifícios dos cultos afro-brasileiros ou voduístas: “Que digo pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles
sacrificam é a demônios que a sacrificam e não a Deus...” (1Co 10.19,20).
Para que possamos alcançar bênçãos, curas e outros benefícios, seja para nós ou para nossos amigos, parentes ou irmãos, não precisamos confeccionar nem “energizar” nenhum objeto, principalmente bonecos. Tampouco
devemos ter medo de magias, pois a Bíblia nos assegura que contra os crentes o encantamento é inválido, não tem eficácia (Nm 23.23).
Quando precisarmos de algo, devemos recorremos ao Senhor nosso Deus, colocando diante dele nossas necessidades (Mt 21.22; Mc 11.24). Somos purificados pela luz divina e não por meio de rituais tenebrosos.
Para tanto, devemos apenas andar na presença de Deus, mantendo comunhão uns com os outros. Agindo assim, o sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado (1Jo 1.7).
Muitos brasileiros (inclusive alguns crentes, infelizmente) possuem certa tendência ao misticismo, o que os leva a assediar o oculto, e isso, muitas vezes, os torna vítimas de seus próprios desejos. Aos crentes com essa tendência, devem, a todo custo, resistir a tais ensinos e seguir a receita básica diária para a sua vida espiritual: leitura bíblica,
oração, testemunho e santificação. Somente assim conseguirão sair vitoriosos diante das setas inflamadas do diabo.
Um homem com duas almas
Os haitianos praticantes do vodu acreditam que o homem possui duas almas:
Gros bon ange: cuja tradução é: “grande anjo bom”. Essa alma, segundo acreditam os haitianos, tem a capacidade de sair do corpo enquanto a pessoa dorme. E, se não retornar, a pessoa morre.
Petit bon ange: traduzido quer dizer “pequeno anjo bom”. Essa alma, segundo crêem, proteger e guiar o adepto. Quando a pessoa morre, ela permanece por alguns dias guardando o corpo. Somente após um período de nove dias, contando a partir do sepultamento, é realizado um ritual para afastá-la.
Como a reencarnação faz parte da crença vodu, seus praticantes acreditam que a petit bon ange se transforma em algum objeto ou animal, geralmente uma grande serpente. Após a transformação, se aos rituais de sacrifícios e cerimônias, sob a responsabilidade dos parentes, forem negligenciados, a vingança
da petit bon ange se volta contra eles.
Vodu haitiano
Nas colônias das Américas, o vodu africano se tornou o que conhecemos hoje como vodu haitiano. Em 1492, Cristóvão Colombo desembarcou em uma ilha que era conhecida por seus habitantes (a tribo taino) como Ayiti, ou "Terra das Montanhas". Colombo mudou o nome da ilha para Hispaniola, ou "Pequena Espanha". Os primeiros colonos começaram a criar plantações que se tornaram fontes importantes de safras como açúcar, café e indigo. Para tornar lucrativas essas plantações, os colonizadores dependiam pesadamente de mão-de-obra escrava. Hispaniola seria depois dividida entre dois países, o Haiti e a República Dominicana.
-Os nomes dos santos católicos se tornaram nomes de loas. Em muitos casos, o papel de um loarefletia o do santo correspondente. Por exemplo, São Pedro detém as chaves para o reino dos céus, e corresponde ao loa Papa Legba, o guardião dos portais do mundo dos espíritos;Muitos dos escravos levados à Hispaniola do centro e norte da África nos séculos 16 a 18 praticavam o vodu. Mas o código de escravatura da ilha exigia que todos os escravos fossem batizados como cristãos. A conversão forçada teve grande influência sobre o vodu. Já que os escravos ficaram proibidos de observar abertamente os costumes de sua religião, tomaram de empréstimo diversos elementos do catolicismo a fim de proteger suas práticas espirituais. O processo, conhecido como sincretização, influenciou fortemente o vodu do Haiti:
-Os feriados religiosos católicos se tornaram feriados vodus para os loas correspondentes. Por exemplo, a celebração de uma família de espíritos conhecidos como Gedes, personificações de ancestrais mortos, ocorre no Dia de Todos os Santos e Dia dos Mortos;
- As cruzes cristãs se tornaram símbolos das encruzilhadas, que representam escolhas que mudam a vida e marcos no percurso espiritual dos seguidores do vodu;
- Os hinos e orações católicos se tornaram parte dos rituais do vodu.
Diversas outras influências também afetaram o vodu, entre as quais as tradições das tribos taino locais.
A forma resultante de vodu é uma religião em forma creole, que abarca influências de diversas outras religiões. Mas, a despeito desses acréscimos, o vodu haitiano se assemelha fortemente ao vodu africano. As sacerdotisas, conhecidas como mambos, e os sacerdotes, conhecidos como houngans, conduzem serviços religiosos e oferecem medicamentos folclóricos tradicionais. As pessoas que desejam se tornar mambos ouhoungans muitas vezes iniciam um aprendizado como iniciados orientados por outros líderes, em lugar de por meio de estudos em um centro religioso de maior escala. Muitas das cerimônias acontecem em uma estrutura conhecida como honfour, que serve como templo ou santuário.
Como na África, a possessão é parte importante do vodu haitiano. A pessoa que está sendo possuída é muitas vezes definida como um cavalo, que é montado pelo loa que está se manifestando. A pessoa possuída pode se mover de maneira estranha, falar línguas incompreensíveis ou fazer declarações claras e diretas a outros dos fiéis. O sacrifício também é importante, e muitas cerimônias envolvem o sacrifício de cabras, galinhas e outros animais. Em muitos casos, a combinação entre possessão, sacrifício animal, dança e música, rituais que as acompanham, pode parecer dramática ou até assustadora para observadores não-familiarizados.
O vodu haitiano também incorpora indumentárias, objetos e decorações para invocar ou demonstrar respeito aos loa. Os chamados pacotes congo, ou pacotes medicinais, contêm ervas e implementos medicinais e curativos. Os devotos levam com eles bandeiras chamadas drapo, quando vão às áreas de culto, a fim de demonstrar veneração e respeito pelos espíritos. Para invocar e apelar aos loas, as pessoas tocam diversos tipos de tambores, sinos e chocalhos. Os altares abrigam diversos objetos rituais, tais como garrafas decoradas, bonecas e kwi, ou cabaças repletas de oferendas de comida. Os devotos usam as bonecas como forma de contactar loas específicos, ou o mundo espiritual em geral, e não para infligir dor e sofrimento a terceiros. Hoje, muitos dos objetos se tornaram parte da arte e do artesanato haitiano. Alguns artistas haitianos, por exemplo, se concentram na criação de efígies de diferentes loas, drapos elaborados ou objetos rituais suntuosamente decorados.
Como no vodu africano, mambos e houngans em geral não amaldiçoam ou causam mal a terceiros. Mas alguns devotos acreditam que bokors, ou feiticeiros, têm a capacidade de usar mágica para causar infortúnios ou ferimentos. Os bokors também são parte do folclore relacionado a zumbis - há quem acredite que umbokor pode usar venenos e capturar a alma de uma pessoa, a fim de criar um zumbi. Leia Como funcionam os zumbis para aprender mais sobre essas teorias.
O vodu é parte importante das vidas cotidianas de muitos haitianos. As estimativas variam, mas em geral os antropólogos acreditam que mais da metade dos haitianos praticam o vodu. A religião também desempenhou papel importante na história haitiana. A Revolução Francesa de 1789 deflagrou revoluções em diversas outras regiões do mundo, por exemplo diversas colônias na América. Em 1797, um sacerdote vodu realizou uma cerimônia em Bois Caiman, nas montanhas do Haiti. A cerimônia prefaciou uma revolta de escravos que durou até 1804, e o povo haitiano combateu exércitos enviados pela Espanha, França e Reino Unido. Por fim, o Haiti se tornou a primeira colônia negra a conquistar a liberdade na América. A cerimônia em questão e sua importância para o levante causam certas controvérsias, mas elas se tornaram parte do folclore haitiano.
O vodu é praticado de maneira ampla e aberta no Haiti. Também existe em diversas formas em Nova Orleans e no sudeste dos Estados Unidos. Em certos casos, o vodu praticado em outras partes do hemisfério ocidental se combina a tradições diferentes mas assemelhadas, práticas pagãs ou outros costumes. No entanto, em algumas regiões práticas conhecidas como hoodoo sobrepujaram o vodu, aos olhos do público. Acredita-se que os praticantes de hoodoo usem magia negra, conhecida como bad juju, para prejudicar outras pessoas. Poções de amor, maldições e métodos de vingança em geral são práticas relacionadas ao hoodoo e não têm qualquer relação com o vodu.
O VODU E OS VODUNISTAS
1 - O Que é o Vodu ?
Vodu é uma tradição espiritual originada no Haiti durante o período de escravidão colonial francesa. Africanos de muitas linhagens étnicas foram transportados à força para o Haiti, para servirem principalmente como escravos agricultores. Os povos nativos das ilhas, os Taino e os Carib, foram exterminados pelos espanhóis durante as primeiras invasões.
Durante este período histórico, europeus da França e de outros países, incluindo deportados pro-Stuart da Escócia, radicaram no Haiti. Devido à tantas linhagens estarem representadas, nenhum culto africano poderia satisfazer todos os participantes, pois a reverência aos ancestrais era muito importante. Entretanto, cada "nação" tomaria sua vez num encontro. Essa alternância de cultos eventualmente evoluiu para a ordem cerimonial da liturgia Vodu. Durante este período formativo é que foram adotadas também entidades européias pré-cristãs, como Brigid, ou Maman Brigitte na tradição vodu. Também houve uma pequena influência das populações restantes de Tainos e Caribs.
Também há sectos no Vodu, assim como em tantas outras religiões. O primeiro e mais amplamente conhecido é o Vodu Ortodoxo. Nesta seita, o Rito Dahomeano tem posição de primazia e as iniciações são conduzidas com base principalmente no modelo dahomeano. Um sacerdote ou sacerdotisa recebe o asson, um chocalho ritual, como símbolo do sacerdócio. Neste rito, um sacerdote é chamado de Houngan, ou às vezes de Gangan; uma sacerdotisa é conhecida como Mambo. No vodu ortodoxo, as linhas Iorubás também têm certa proeminência.
Outras "nações" ou linhagens que não a Dahomeana são vistas com menor importância, como subtítulos na ordem cerimonial. Este rito é amplamente representado no Haiti, e concentrado em Port Au Prince e no sul do Haiti.
O segundo secto é chamado de Makaya. Neste rito, as iniciações são menos elaboradas e o sacerdote ou sacerdotisa não recebem o asson. Um sacerdote makaya é chamado de Bokor e uma sacerdotisa é às vezes chamada de Mambo, às vezes de sorcière. Os termos bokor e sorcière são pejorativos no vodu ortodoxo e o termo bokor pode também servir para classificar um especialista em magia maléfica não iniciado, também chamado de malfacteur.
Tais indivíduos não são clericais em qualquer seita. A liturgia makaya é menos uniforme de peristilo ("terreiro") para peristilo do que a do vodu ortodoxo e há uma ênfase maior na magia do que na religião. Este rito está presente em Port Au Prince e é fortemente representado no Vale Artibonite, no Haiti central.
Um terceiro secto é o Rito Kongo. Como o próprio nome já diz, é quase que exclusivamente representante da tradição do Kongo. A iniciação é baseada no modelo kongo; o sacerdote e a sacerdotisa são ambos chamados de Serviteur. No vodu ortodoxo, um(a) serviteur é apenas o iniciado que serve o Loa (deidade do vodu). Este rito está concentrado perto de Gonaives, no centro do Haiti e um grande festival anual dos Kongo é realizado perto em Sucrie, perto de Gonaives.
Todas estas tradições têm pontos em comum :
- Há apenas um Deus, chamado de Gran Met, o Grande Mestre; e também de Bondye, do francês Bon Dieu, o Bom Deus.
- Há entidades menores, chamadas de Loa (singular). Elas são consideradas acessíveis de imediato através do mecanismo de possessão. Tal estado é considerado normal e natural dentro do contexto duma cerimônia vodu e também altamente desejável, havendo entretanto uma certa "etiquette" para a mesma ocorrer, que será discutida em lições mais avançadas.
- Todos os ritos empregam orações, cânticos, percussão, roupas específicas e danças durante as cerimônias.
2 - Quem pode participar do Vodu ?
Qualquer um pode participar dos ritos. Não há qualquer requisito de sexo, raça, idade, opção sexual ou origem nacional. Muito menos é pedido para se abandonar crenças e afiliações religiosas anteriores. No Haiti, a vasta maioria de praticantes é também católica romana.
Há vários níveis de participação, é claro, como em quase todas as outras religiões. Uma cerimônia vodu é pública e qualquer um pode entrar no peristilo, ou templo, e observar. Participação na cantoria e na dança são encorajadas. Porque não há qualquer hierarquia centralizada, pagando salário para houngans e mambos, e porque o templo é propriedade privada, é considerada normal uma pequena doação em dinheiro. Este dinheiro é normalmente empregado para pagar os percussionistas, as comidas que
são oferecidas aos participantes, para a manutenção do peristilo e dos sacerdotes envolvidos. Isto é freqüentemente difícil de entender para pessoas criadas em tradições judaico-cristãs, onde padres, pastores e rabinos são profissionais assalariados.
Indivíduos que tenham um grau iniciático podem participar de cerimônias privadas relativas à outros indivíduos de seu próprio grau ou mais baixo. Pessoas com graus mais baixos não podem participar de cerimônias aferidas a graus mais altos porque o conhecimento ali presente é secreto e elas não seriam competentes para lidar com a mesma.
Houve algumas controvérsias nos últimos anos nos EUA sobre afiliação e participação étnica em religiões afroamericanas. Alguns houngans e mambos inescrupulosos enganam estrangeiros desavisados, realizando cerimônias falsas e cobrando taxas exorbitantes. Outros têm um certo entendimento silencioso de que eles não revelarão o conhecimento "secreto" do Vodu, isto é, informação e iniciação corretas, a pessoas que não sejam pretas e que não sejam haitianas. Entretanto, outros houngans e mambos têm a visão que as pessoas são escolhidas pelos loa, e não de outra maneira, e que qualquer sacerdote que recuse iniciar e treinar um estrangeiro enviado por um loa irá sofrer graves conseqüências. A iniciação requer um período significante de estudo e o compromisso mostrado por um estrangeiro será o suficiente para qualquer sacerdote/sacerdotisa oficiante. Eu inclusive vi um houngan defender vigorosamente seu candidato não haitiano e refutar quaisquer opiniões que invalidassem o iniciante.
Eu ressalvo que o respeito pelos negros de qualquer parte do mundo é imanente às tradições vodu. Nunca devemos esquecer que incontáveis negros foram arrancados de suas terras, estuprados, torturados, castrados e queimados vivos num esforço para erradicar o vodu. O Vodu deu suporte ao ímpeto de resistência à escravidão colonialista e foi combustível para a única rebelião de escravos de sucesso real na América, sendo responsável pela formação da primeira república independente negra americana. Mesmo recentemente na ocupação militar ianque no Haiti, de 1915 a 1934, foi realizado um esforço sistemático para a erradicação do vodu.
Templos foram destruídos, tambores ancestrais sem preço foram queimados e houngans e mambos foram surrados, presos e assassinados.
3 - Nomes e Graus dos Níveis Iniciatórios do Vodu
Há uma série de níveis iniciatórios no vodu ortodoxo, que são atingidos seqüencialmente conforme o indivíduo cresce em conhecimento e permanência na comunidade vodunista. Todos os graus de iniciação estão abertos tanto para os homens como para as mulheres.
Uma pessoa não iniciada que freqüenta as cerimônias, recebe aconselhamento e tratamento medicinal do houngan ou da mambo e toma parte nas atividades do vodu é normalmente chamada de vodunista. Este é um termo geral, assim como 'cristão' ou 'budista'.
Um não iniciado que está associado a um peristilo em particular, freqüenta as cerimônias regularmente e aparenta estar sendo preparado para a iniciação é classificado como hounsi bossale. Hounsi é da linguagem Fon dos Dahome e significa "noiva do espírito", embora o termo no Haiti seja utilizado para homens e mulheres. Bossale significa "selvagem" ou "indomado", no sentido de um cavalo selvagem.
O primeiro grau de iniciação confere o título de hounsi kanzo. Kanzo, também do Fon, refere-se ao fogo, e a cerimônia do fogo, também chamada de Kanzo, empresta seu nome a todo o ciclo iniciático. Indivíduos que são kanzo podem ser comparados a batizados numa seita cristã. Numa cerimônia vodu, os hounsi kanzo vestem-se com uma roupagem branca, formam o coro e são prováveis candidatos de possessão pelos loa.
O segundo grau é chamado de si puen, sur point em francês, isto é, 'no ponto', 'sobre o ponto'. Este termo se refere ao fato de que o iniciado passa por cerimônias "no ponto" ou apadrinhado por um loa em particular.
Essa pessoa é então considerada um houngan ou uma mambo e lhes é permitido o uso do asson, sagrado chocalho emblema do sacerdócio. Indivíduos que são si puen podem ser comparados a pastores de seitas cristãs. Numa cerimônia eles conduzem orações, cânticos e rituais e são candidatos quase inevitáveis para possessão. Uma vez iniciados como sur point eles podem realizar iniciações de hounsi kanzo e de si puen.
O terceiro e último grau de iniciação é o asogwe. Houngans e mambos asogwe podem ser comparados aos bispos das seitas cristãs, pois podem consagrar outros sacerdotes. Indivíduos que são asogwe podem iniciar outros em kanzo, si puen e em asogwe. Numa cerimônia eles são a autoridade final sobre os procedimentos, a menos que um loa esteja presente e manifesto através do mecanismo de possessão. Eles são também o último recurso quando a presença de um loa específico é requerida. É dito que um asogwe "tem o asson", referindo-se à capacidade do asogwe de conferir um outro iniciado com o asson, elevando então o grau deste a asogwe.
Mesmo um houngan ou mambo asogwe deve submeter-se à opinião do houngan ou da mambo que o iniciou, dos que foram iniciados em asogwe antes dele, do houngan ou mambo que iniciou seu iniciador, dos iniciadores deste e por aí vai. Estas relações podem se tornar realmente complexas e há um ponto na cerimônia do vodu ortodoxo onde todos houngans e mambos, sur point e asogwe, participam duma série de gestos e abraços rituais que servem para elucidar e regular estas relações.
OS ANCESTRAIS
Parte 1 - Os Ancestrais e a Maneira Vodu de Recuperação dos Mortos
Os ancestrais, zanset yo no Creole haitiano, estão sempre com um vodunista. Ele vive, age, respira com a consciência de sua presença. O hino nacional do Haiti começa assim " Pelo país e pelos ancestrais, nós andamos unidos..."
No interior do Haiti, cada aglutinado familiar tem seu cemitério familiar. As tumbas dos familiares são tão elaboradas quanto possível.
Algumas lembram casas nas quais a cripta é subterrânea. As estruturas construídas para as famílias ricas podem até conter pequenas salas de estar, com um retrato do falecido e boas cadeiras. Quando um visitante adentra as terras de uma família para uma visita extensa, a cortesia requer que ele faça uma pequena libação de água nas tumbas para que os ancestrais o recebam bem. Membros da família e convidados podem também, a qualquer momento, fazer uma "iluminação". Velas ou fitas de cera de abelha são acesas, colocadas nas tumbas e então uma pequena prece é dita.
Na cidade, a lei requer que se enterre no cemitério da cidade. Novamente, as estruturas podem ser bem elaboradas e grandes cadeados e outros meios de segurança são usados para evitar que violadores de tumbas roubem metais, ossos e outros artigos da pessoa morta. Os ossos de indivíduos mortos são considerados de grande poder mágico, especialmente se a pessoa morta fosse um houngan ou uma mambo ou fosse de alguma maneira notável e distinta, para o bem ou para o mal.
Um vodunista é enterrado com uma cerimônia católica romana e uma vigília é feita durante nove dias após a morte. A nona noite é chamada de denye priye, a última prece. Após a última prece, a parte católica do funeral é encerrada.
Em algum ponto, antes ou após a cerimônia católica, a cerimônia de vodu "desounin" é realizada. Neste rito, as partes componentes da alma e da força de vida da pessoa e o loa primário na cabeça da pessoa são separados e enviados para seus destinos corretos. O desounin de um houngan famoso e altamente respeitado pode ser assistido por centenas de enlutados lamentosos vestidos de robes brancos. É neste momento que o herdeiro de qualquer loa familiar libertado do falecido é normalmente revelado, ficando o indivíduo escolhido brevemente possuído. Um ano e um dia após a morte do indivíduo pode ser feita a cerimônia mo nan dlo (tirar o morto da água). O espírito da pessoa é chamado através de um vaso com água, que é coada por um lençol branco para um pote de barro limpo chamado govi, onde é ritualisticamente instalado. A voz do morto pode ser ouvida através do govi ou através de uma pessoa brevemente possuída para o propósito. O govi é reverentemente colocado no djevo, ou salão interno do templo.
Algumas vezes o espírito de um ancestral pode retornar por sua própria vontade como um loa Ghede.
Parte 2 - Os loas ancestrais : Baron, Maman Brigitte e os loa Ghede
BARON - O cabeça da família de ancestrais loa é o Baron (barão). Ele é mestre do cemitério e guardião do conhecimento ancestral. Ele tem vários aspectos incluindo Baron Samedi, Baron Cemetiere, Baron la Croix e Baron Criminel. Em todos seus aspectos ele é um loa masculino com uma voznasal, carrega um cajado ou baton, usa impropérios livremente e se veste de negro ou púrpura. Ele é considerado o último recurso para mortescausadas por magia, porque mesmo se um feitiço trouxer uma pessoa paraperto da morte, se o Baron se recusar a "cavar a cova", a pessoa não morre.
Baron, com sua esposa Maman Brigitte, é também responsável por recuperar as almas dos mortos e transformá-las em loa Ghede. Baron pode ser invocado para casos de esterilidade e ele é o juiz divino para o qual as pessoas podem trazer seus pedidos, cantando :
Ó kwa, Ó jibile ! 2x (Ó cruz, Ó júbilo !)
Ou pa we m inosan ? (Não vês que sou inocente ?)
O túmulo do primeiro homem enterrado em qualquer cemitério do Haiti, quer a pessoa em vida participasse do Vodu ou não, é dedicado para o Baron (não Ghede) e uma cruz cerimonial é erigida no ponto. Em terrenos familiares no interior, uma família pode erigir uma cruz para o Baron de sua linhagem e nenhum peristilo é completo sem sua cruz para Baron.
Baron pode ser invocado a qualquer momento e ele pode aparecer sem ser chamado, tão poderoso é ele. Ele bebe rum no qual vinte e uma pimentas vermelhas foram pisadas, bebida que mortal algum pode suportar.
Suas comidas cerimoniais são café preto, amendoim grelhado e pão. Ele dança extraordinariamente banda improvisada e às vezes coloca seu bastão no meio das pernas, representando assim o falo. Baron é um loa muito masculino.
O Festim dos Ancestrais, Fet Ghede, é considerado o final do velho ano e o começo do novo, tal qual na tradição européia Wicca. Quaisquer débitos com Baron, Maman Brigitte ou Ghede devem ser pagos nesta festa. O Baron Criminel canta para seus devedores :
Bawon Criminel, map travay pou ve de te yo, m pa bezwenn lajan ! 2x
Bawon Criminel, Ó! Lane a bout o, map paret tan yo ! "Barão Criminal, estou trabalhando para os vermes da terra (pessoas pobres), eu não preciso de dinheiro ! 2x " " Barão Criminal, Ó ! O ano terminou, eu aparecerei para esperá-los (para pagarem-me) ! "
MAMAN BRIGITTE
Maman Brigitte, surpreendentemente para um loa de Vodu, é britânica em origem, descende de Brigid/St. Brigit, a deusa tripla celta de poesia, forjaria e cura. Ela deve ter entrado para o Haiti nos corações dos escravos deportados escoceses e irlandeses. Há uma canção que nós cantamos em cerimônias :
"Maman Brijit, nan anglete de soti de li,
Maman Brigitte, ela é da Inglaterra..." (Eu penso que Brigid era escocesa, não inglesa, mas talvez no Haiti a palavra anglete represente todas as Ilhas britânicas.)
Hoje em dia, Maman Brigitte é considerada esposa do Baron, mestre do cemitério e chefe de todos os ancestrais, conhecidos como loa Ghede. O túmulo da primeira mulher enterrada em qualquer cemitério no Haiti é consagrado a Maman Brigitte e lá é erigida a cruz cerimonial dela.
Ela, também como o Baron, é invocada para "elevar o morto ", significando curar e salvar os que estão no ponto de morte por enfermidade causada por magia. Aqui está uma canção muito famosa sobre Maman Brigitte cantada em cerimônias de Vodu:
Mesye la kwa avanse pou l we yo!
Maman Brigitte malad, li kouche sou do,
Pawol anpil pa leve le mo (morts de les, Fr.)
Mare tet ou, mare vant ou, mare ren ou,
Yo prale we ki jan yap met a jenou.
Cavalheiros da cruz (os antepassados falecidos) avancem para ela vê-los!
Maman Brigitte está doente, ela se deita de costas,
Muita conversa não elevará a morta,
Amarre sua cabeça, amarre sua barriga, amarre seus rins,
Eles verão como eles ajoelharão.
(Significando, arregace as mangas para se preparar, nós faremos para as pessoas que fizeram este feitiço maléfico ajoelharem-se, implorar perdão e receber o castigo delas.)
Maman Brigitte, como o resto da constelação Ghede é um loa boca-dura que usa muitas obscenidades. Ela bebe rum com pimenta, tão quente que uma pessoa não possuída por um loa nunca poderia beber isto. Ela Também é conhecida por passar pimentas haitianas quentes na pele dos órgão genitais do cavalo e este é o teste para o qual são sujeitadas as mulheres suspeitas de falsa possessão . Ela dança a banda sexualmente sugestiva e artística e seu virtuosismo na dança é legendário.
Maman Brigitte e Baron são a mãe e o pai que recuperam os mortos e os transformam em loa Ghede e os removem das águas místicas onde eles estavam sem conhecimento da própria identidade, nomeando-os.
Há uma canção melancólica sobre a condição das almas nas águas místicas que também é cantada quando um iniciado está preparando-se para o período de exclusão, morte ritual e renascimento do ciclo de
iniciação:
Dlo kwala manyan, nan peyi sa maman pa konn petit li,
Nan peyi sa, fre pa konn se li, dlo kwala manyan.
Água manyan de kwala (palavras não creole), naquele país uma mãe não conhece a própria criança.
Naquele país um irmão não conhece sua irmã, água manyan de kwala.
O LOA GHEDE
Os loa Ghede são uma família enorme de loa, tão numerosos e variados como eram as almas das famílias das quais eles se originaram. Desde que eles são todos membros da mesma família, as crianças espirituais de Baron e Maman Brigitte, eles têm todos o mesmo sobrenome - La Croix, a cruz. Não importa outros nomes que eles possam vir a carregar, a assinatura deles sempre é La Croix.
Algum os nomes de Ghede incluem: Ghede Arapice Croix, Brav Ghede de la Croix, Ghede Secretaire de la Croix, Ghede Ti-Charles la Croix, Makaya Moscosso de la Croix; e nomes tristes e degradantes como
GhedeTi-Mopyon la de Deye Croix (Ghede Pequeno Piolho de Caranguejo Atrás da Cruz), Ghede Fatra de la Croix (Lixo Ghede da Cruz), Ghede Gwo nan de Zozo CrekTone de la Croix (Ghede Pinto na Buceta Trovão da Cruz) e por aí vai.. Há uma razão para estes nomes estranhos que ficará clara mais à frente.
A vasta maioria de Ghedes é masculina. Ghede pode possuir qualquer um, a qualquer hora, até mesmo os protestantes (para enorme vergonha deles.) No Haiti eu tenho uma amiga que um dia estava observando um grupo de mulheres possuído por Ghede dançando a banda. Ela disse algo como, "Olhe as prostitutas nojentas, elas não têm nenhum respeito por si mesmas". Naquele mesmo lugar, a Ghede possuiu minha amiga, a lançaram ao solo, prostraram-na e declararam que ela iria se juntar aos ancestrais! Súplicas e intercessões dos familiares finalmente pacificaram o Ghede que prometeu ceder - com a condição de que a Mulher se tornasse Mambo! Mambo Delireuse agora pratica em uma área rural próximo del'Artibonite de Riviere Delicada, no Haiti central!
Os Ghedes são figuras muito transitivas, existindo entre a vida e a morte, entre os antepassados em Guiné e entre os homens e mulheres vivos do Haiti. Talvez é por isto que eles sejam homenageados a meio caminho da plena cerimônia de Vodu ortodoxa, depois do Rada (Dahomean e Iorubá) e antes do Petro.
O Ghedes vestem-se quase como seu pai Baron - roupas negras ou púrpuras, chapéus elaborados, óculos escuros, às vezes sem uma lente, um cajado ou baton. Eles também dançam a banda, mas eles retêm mais da personalidade da pessoa de quem eles se originaram.
A família de Ghede, incluindo o pai e a mãe, o Baron e a Maman Brigitte, são absolutamente notórios no uso de baixarias e termos sexuais. Há uma razão para isto - os Ghede estão mortos, além de qualquer castigo. Nada mais pode ser feito a eles, assim o uso de profanidades normalmente entre os haitianos um pouco formais são um modo de declaração, "Eu não me preocupo! Eu passei além de todo o sofrimento, eu não posso ser ferido". Num país onde desrespeito para com figuras de autoridade era até recentemente punido com tortura ou morte, esta é uma mensagem poderosa. Porém, esta profanidade nunca é usada de modo maligna ou abusiva, para amaldiçoar alguém. Sempre é humorístico, até mesmo quando há uma forte mensagem envolvida.
Há algumas canções muito imponentes e dignas cantadas para Ghede, particularmente o mais velho, raciais ou aspectos raiz, como Brav Ghede. Hoje em dia, entretanto, a ênfase está no humor sexual e obsceno promovido pelos loa Ghede. Aqui está uma canção popular cantada para Ghede em peristilos de Vodu e em celebrações públicas:
Si koko te gen dan li tap manje mayi griye,
Se paske li pa gen dan ki fe l manje zozo kale!
Se vagina tivesse dentes, comeria milho assado,
É porque não tem nenhum dente que come pênis descascado !
Da mesma maneira, é dito que um ghede é um ladrão. É verdade que ele se apropria do que quiser de vendedores de rua, mas uma vez que este ceda às demandas do loa, este se limita a pegar um pouco de coco ou de milho de assado. Na Fet Ghede, a maioria dos terreiros cozinham especialmente comida para as centenas de Ghedes que aparece vagando pelas ruas. Aqui está uma canção que uma multidão de Ghedes cantou enquanto iam para a casa de uma Mambo famosa e particularmente generosa da área de Port au
Prince :
Ting ting ting ting kay Lamesi,
Whoi mama,
Kay la Mesi gen yon kochon griye,
Whoi mama!
Ting ting ting ting a casa de Lamesi
Mamãe de Whoi,
A casa de Lamesi tem uma porca inteira assada,
Mamãe de Whoi!
FET GHEDE NO HAITI ATUALMENTE
Dois de novembro, Dia dos Mortos, normalmente chamado de Fet Ghede(pronuncia-se guêdei)é um feriado nacional no Haiti. Católicos assistem missa de manhã e então vão para o cemitério, onde eles rezam e fazem consertos nas tumbas de familiares. A maioria dos católicos haitianos também são voduistas, e vice-versa, de modo que no caminho para o cemitério muitas pessoas mudam de roupas, do branco que eles vestem para ir à igreja para o púrpura e negro dos loa Ghede, os espíritos de antepassados.
No meio da manhã as ruas de Port Au Prince estão atulhadas de milhares de pessoas. Dúzias já estão possessas por um Ghede e suas vozes nasais, piadas obscenas e giros da dança banda os fazem inconfundíveis.
Grand Cemetiere, o cemitério principal de Port Au Prince, é lotado por pessoas. Multidões apertam-se ao redor da cruz cerimonial de 8 metros de Baron e da cruz menor de Maman Brigitte. Muitos trazem oferendas de café e rum que eles vertem ao pé das cruzes. Eles também oferecem pão, amendoim grelhado, milho assado e às vezes comida apimentada.
Ocasionalmente uma pessoa, normalmente um Houngan ou Mambo, sacrificam uma galinha ou um par de pombos. As oferendas são rapidamente consumidas pelos mendigos que se amontoam pelo cemitério. Algumas pessoas vendem velas, fitas de cera de abelha e imagens religiosas de santos para representar o Baron, Maman Brigitte e os Ghedes.
Imagine uma Mambo em saias volumosas de negro e lavanda, um babado das mesmas cores, vários lenços de seda amarrados ao redor de sua cabeça e fios de contas ao pescoço dela; ela aproxima-se da cruz de Maman Brigitte com seus hounsis (os que receberam a primeira iniciação.) Ela leva fitas de cera de abelha pegajosa que ela afixa a cada braço da cruz e ao centro. Então ela retira uma galinha preta de seu saco de palha e a passa em cima dos corpos dos hounsis, removendo todas as más influências. Depois da oração, ela mata a galinha rapidamente da mesma maneira que ela faria para uma refeição ordinária. O sangue jorra na cruz e ela doa a galinha a uma mendiga faminta
espera. A Mambo é possuída por Maman Brigitte e profetiza os eventos do próximo ano. Um do hounsis que se comportou mal é castigado com alguns tapas gentis e um que está doente recebe uma receita para um tônico de ervas. Então Maman Brigitte encharca a cruz dela com rum, canta e dança a banda com grande virtuosismo para alegria dos presentes. Alguns momentos depois ela sai da cabeça da Mambo, que ,novamente consciente, recompõe-se a e deixa o cemitério com dignidade extrema.
Pela cidade, no cemitério de Drouillard, onde é enterrado o mais pobre dos pobres, as pessoas do bairro Cite de Soleil, a adoração é ainda mais intensa. Filas de vodunistas de vários peristilos marcham cantando atrás de times de percussionistas, com cada vez mais pessoas sofrendo possessões conforme eles se aproximam do cemitério. Os que permanecem conscientes visitam os sepulcros de amigos e parentes e falam a eles como se pudessem ouvir debaixo do solo.
"Olhe, Papai, " diz uma mulher, "eu trouxe comida para você".
"Irmão mais velho," lamenta um homem jovem, "o Exército o matou, nós achamos seu corpo em pedaços, mas todos eles estão aí, irmão, não estão? Você não tocará os tambores novamente para nós, querido irmão.... Mamãe sente saudades, ela quis vir mas ela está doente. Veja o rum que eu trouxe para você"!
Os loa Ghede varrem o cemitério gritando piadas obscenas e cantando canções obscenas com todo o ar de seus pulmões. Aqui está uma canção popular entre os Ghedes ano passado no cemitério de Drouillard:
Zozo, tone! A la yon bagay ingra, (repita)
Koko malad kouche, zozo pa bouyi te ba l bwe ,
Koko malad kouche, zozo pa vine we l.
Pênis, pelo trovão! Que coisa ingrata, (repita)
Vagina está doente e cansada, pênis não ferve chá para ela,
Vagina doente e cansada, pênis não vem a ver.
Ano passado eu, uma Mambo americana, deixei um peristilo com um Houngan e nossa congregação. O Houngan teve em sua cabeça um Baron poderoso chamado Secretaire de la Croix, mas Secretaire estava recusando-se a possuir o Houngan, porque o Houngan tinha pego algum dinheiro dado para o Fet Gede e tinha usado para seus próprios propósitos. O Houngan foi muito humilhado, e decidiu ir diretamente para o cemitério pedir perdão.
Eu fiz uso de um caminhão, assim nós o enchemos de membros de nosso peristilo e rumamos pelas ruas sufocadas para o cemitério. Nós ficamos presos no tráfego e como esperamos demais, Baron Secretaire de la Croix ficou impaciente e me possuiu!
Até onde me foi falado, havia um carro na pista da contramão, também parado. Secretaire abriu a janela do motorista da pickup e começou a falar com os ocupantes do carro, muito surpreendidos por ver um Baron na cabeça de uma Mambo estrangeira! Duas senhoras muito ricas sentadas na parte de trás do carro foram para quem Baron prestou honra especial.
"Boa noite, senhoras." Baron disse.
"Boa noite, Baron, Papai." elas deram risada.
"E como estão seus clitóris hoje ?" o Baron inquirindo muito seriamente.
"Se seus clitóris não estiverem bem, vocês podem me falar e eu direi para esses dois grandes pênis velhos na frente do carro para entrarem em ação!"
As mulheres que em qualquer outra circunstância teriam ficado furiosas, riram, como fizeram os dois homens na frente do carro. As velhas apoiaram na janela e responderam ao Baron.
"Nossos clitóris estão muito bem, Papai Baron. Muito obrigado !"
E em alguns momentos cessara o trânsito intenso e o Baron me lançou da possessão e me deixou dirigir a pickup até o cemitério e lidar com a vergonha de nossos membros do peristilo rirem histericamente,
Relatando o incidente para mim!
À noite, cada peristilo faz uma dança em honra de Baron, Maman Brigitte, e dos Ghedes. As pessoas que vêm devem estar todas alimentadas e os loa que aparecem também são festejados com caldeiras de comida especialmente preparadas para eles. A dança segue ao longo na noite, mesmo até a alvorada. O talento artístico dos loa é incomparável e até mesmo não-vodunistas vêm assistir. Então os adoradores exaustos voltam para casa, esperar o próximo Fet Ghede do ano seguinte.
Parte 1 - Características Gerais dos Loa
O Vodu é mal entendido freqüentemente como sendo politeísta, sincrético e animista. Estes conceitos errados serão clareados conforme nós discutirmos as características dos loa. Vodunistas acreditam em um Deus, Gran Met, ou Grande Mestre. Este Deus é todo poderoso, onisciente, mas lamentavelmente ele é considerado algumas vezes distante e destacado de negócios humanos. Ele é não obstante presente na fala diária dos haitianos que nunca dizem "Até amanhã", sem que somem "se Deus quiser".
Os loa são entidades menores, mas mais prontamente acessíveis. À parte de um amor generalizado para com os descendentes de africanos, os loa requerem uma relação mútua com o adorador. Os loa servem aqueles que os servem. Os Loa têm características bem definidas, incluindo números sagrados, cores, dias, comidas cerimoniais, maneirismos de fala e objetos rituais. Então, um loa pode ser servido usando-se roupas das cores do loa, fazendo oferendas de comidas preferidas e observando os dias sagrados para o loa.
Muitos loa são figuras arque típicas representadas em muitas culturas. Por exemplo, Erzulie Freda é uma deusa de amor comparável a Vênus, Legba é um loa da comunicação comparável a Hermes ou Mercúrio. Estas correspondências, e às vezes pura coincidência, levou os haitianos a comparar aspectos de loa e imagens de santos católicos como eles eram representados em litografias populares. Durante os dias do Colonialismo francês, quando a maioria de pessoas pretas no Haiti eram escravas que haviam nascido na África, a adoração dos santos proveu uma cobertura conveniente para os rituais de deuses africanos. Até mesmo o priere Guiné, uma oração longa recitada perto do começo de cerimônias de Vodu ortodoxas, incorporam versos sobre a Virgem Maria e vários santos.
Isto não significa, porém, que os loa foram sincretizados com os santos católicos. Ninguém confunde Ogoun Feraille com São James, o Grande, simplesmente a imagem que é usada. Se São James é invocado, ele é considerado diferente de Ogoun. Embora o priere Guiné incorpore versos sobre santos católicos, ninguém confunde uma cerimônia de Vodu realizada num peristilo com uma missa católica. John Murphy, em seu livro "Santeria", propõe simbiose como um termo mais preciso que sincretismo.
Os Loa às vezes são considerados residentes em árvores, pedras ou raramente em animais. Porém, o loa na árvore não é o loa da árvore e cerimônias realizadas ao pé da árvore são dirigidas ao loa, não a qualquer princípio animista de energia vital pertencente à árvore.
Os Loa do Vodu manifestam sua vontade através de sonhos, incidentes incomuns e através do mecanismo de possessão. A possessão é considerada normal, natural e desejável no contexto de uma cerimônia de Vodu e sob outras circunstâncias. Lwa que se manifestam por possessão cantam, dançam, contam piadas, curam doentes e dão conselhos.
Parte 2 - Que grupos de loa são reconhecidos ?
Em uma cerimônia de Vodu ortodoxo, seguinte ao priere Guiné e às saudações para a assembléia e à energia espiritual dos tambores e percussionistas, os loa são honrados em seqüência. A sua vez, são
oferecidas canções para cada loa e em casos específicos, oferendas de comida ou sacrifícios de animais. Um iniciado tem que memorizar esta seqüência como uma parte do seu treinamento e um Houngan ou Mambo
devem poder observar esta ordem quando administrando uma cerimônia. Um mínimo de três canções são cantadas para cada loa e cada canção é repetida pelo menos três vezes.
No rito de Vodu ortodoxo, há três grupos principais de loa : o Rada, o Ghede e o Petro.
Os loa do Rada são principalmente mas não exclusivamente Dahomeanos em origem. Suar cor cerimonial é branca, com a qualificação que loas individuais dentro deste grupo podem ter suas próprias cores. Eles são considerados misericordiosos e em alguns casos tão antigos por serem vagarosos e desprendidos no agir. Os ritmos dos loas de Rada são batidos em tanbou kon, tambores com tiras de madeira que seguram o couro estirado em cima da cabeça de tambor. A pele do tambor maior, o maman, é couro de vaca, o outro de couro de cabra. Os tambores são tocados com baquetas. Esta parte da cerimônia é disciplinada, concentrada, meticulosa e cerebral.
Os loa Rada, em ordem cerimonial, são como segue: Legba, Marassa, Maluco, Aizan, Damballah e Aida Wedo, Sobo, Badessy,Agassou, Silibo, Agwe e La Sirene, Erzulie, Bossu, Agarou, Azaka, o grupo Ogoun (St. Jacques de Ogoun, Ossange, Ogoun Badagri, Ogoun Feraille, Ogoun Fer, Ogoun Shango, Ogoun Balindjo, Ogoun Balizage, OgounYemsen).
Seguindo os loa Rada, vêm a família Ghede incluindo Baron e Maman Brigitte. Não há nenhuma ordem particularde aparição destes loa dentro do seu próprio grupo. Suas cores cerimoniais são o violeta e o negro.
O grupo dos Ghede é obsceno e lascivo, e eles provêem boas risadas para segurar o intenso e disciplinado esforço da seção Rada. Os Barons e Brigittes são muito místicos. Os Ghede estão sempre ansiosos para contar piadas e dar conselhos.
Depois do Rada e do Ghede resta uma parte da cerimônia dedicada para os loa do grupo Petro. Estes loa são predominantemente do Congo e de origem ocidental. Sua cor cerimonial é vermelha. Eles são considerados ferozes, protetores, mágikos e agressivo para com os adversários. O ritmo dos loa Petro é batido em tanbou fey, tambores com aro de corda que segura o couro estirado em cima da cabeça do tambor. A cabeça deste tambor é exclusivamente de couro de cabra e é batido com as palmas das mãos. Esta parte da cerimônia é quente, de ritmo rápido e excitante.
Os loa Petro, em ordem cerimonial, são como segue: Legba Petro, Marassa Petro, Wawangol, Ibo, Senegal, Kongo, Kaplaou, Kanga,Takya, Zoklimo, Simbi Dlo, Gran Simba, Carrefour, Cimitiere, Gran Bwa, Kongo Savanne, Erzulie Dantor (também conhecida como Erzulie Je Rouge), Marinette, Don Petro, Ti-Jean Petro, Gros Point, Simbi Andezo, Simbi Makaya.
Quando as três repetições da canção final para Simbi Makaya são terminadas, a cerimônia acaba. Às vezes participantes que são especificamente entusiasmados continuarão a cantar canções populares
que, embora relacionadas aos loa, necessariamente não são parte da ordem cerimonial. Tais canções são parte da música popular haitiana, feita por artistas haitianos. Uma vez que os participantes estejam satisfeitos, os tambores são deitados e todos vão descansar em esteiras de talos de bananeira até o alvorecer.
Parte 3 - Os loa chamados Djab
A palavra djab no Crèole haitiano é derivada do francês diable (diabo), mas o termo no contexto do Vodu haitiano leva conotação diferente.
Certos loa são individuais e sem igual, servidos por só um indivíduo, às vezes uma Mambo ou um Houngan e são considerados quase propriedade do indivíduo. Estes loa não se ajustam facilmente na liturgia de Vodu ortodoxo, em qualquer dos três grupos. Tais loa, e mesmo loa mais comuns, como os loa Makaya, são comumente chamados djab, mas aqui na significação arcaica de espírito, não necessariamente bom ou ruim.
A função destes djab é mágika ao invés de religiosa. Um djab é freqüentemente conjurado por um Houngan, Mambo ou Bokor, em nome de um cliente, para entrar em ação agressiva contra o inimigo do cliente ou concorrente do mesmo. Um djab requer pagamento do cliente por seus serviços, normalmente na forma de sacrifício animal regularmente realizado.
Um Houngan ou Mambo que servem um djab são normalmente protegidos de possíveis atos de agressão fortuita pelo djab; geralmente por um garde, uma proteção mágika efetuada esfregando ervas secas especialmente preparadas em cortes pequenos feitos cerimonialmente na pele do indivíduo. O garde é anualmente renovado no solstício de inverno, quando os membros se reúnem para preparar ervas.
As leves cicatrizes do garde formam um padrão peculiar para a sociedade, e podem servir como uma marca identificando membros. Por exemplo, eu tenho em meu ombro esquerdo um garde conferido a mim pelo Houngan Sauvert Joseph que ajudou a minha iniciação. No encontro anual de sua sociedade, eu recebi o garde do djab Kita Maza, um djab protetor afável mas agressivo e a forma da cicatriz, uma cruz dupla semelhante em forma a um jogo-da-velha, é distinguível para Kita Maza e para a sociedade do Houngan Sauvert Joseph.
Djabs também pode ser específicos para um determinado lugar. Nas cavernas de Bodde perto de Trouin no sul do Haiti, acredita-se que resida um djab de nome Met Set Joune, Mestre Dos Sete Dias. Até mesmo se uma Mambo, Houngan ou Bokor sirva este djab em um peristilo localizado em outro lugar, as cavernas permaneceram a casa do djab.
Certos djabs particularmente amorais podem ser invocados, drenar a energia vital de uma pessoa e efetuar seu falecimento. Quando um djab é responsável pela morte de uma pessoa, o dito crèole não é "o djab matou a pessoa", mas ao invés, djab la manje moun nan, "o djab comeu a pessoa". Isto não significa que a carne da pessoa é comida canibalisticamente pelo Houngan, Mambo ou Bokor possuído pelo djab,
somente que o djab consome a força vital da pessoa.
Um Houngan ou uma Mambo ortodoxos estão sob juramento de nunca ferir alguém, embora as invocações de djabs são mais freqüentes no caso de Bokors. Porém um iniciado de Vodu ortodoxo pode invocar um djab e até mesmo dirigi-lo para matar uma pessoa, se a pessoa é uma assassina, um ladrão profissional ou um seqüestrador profissional.
Mambo Marinette invocou uma loa Petro freqüentemente chamada de djab, Erzulie Dantor, e executou o sacrifício de um porco selvagem, à cerimônia de Bwa Caiman em 1794, o que começou a revolução haitiana. Durante a revolução, djabs haitianos eram muito importantes e acreditava-se que conferiam imunidade contra as balas desferidas pelo escravizador francês branco. Até mesmo a morte da maioria dos membros da força expedicionária do Gel. LeClerc devido a febre amarela foi devida ao resultado do trabalho de djabs.
SEU ALTAR E PRIMEIRA OFERENDA AOS ANCESTRAIS
Parte 1 - Construindo um Altar
Pessoas de muitas fés diferentes constróem altares. Até mesmo pessoas que não pertencem a qualquer fé particular podem reservar um canto de um quarto onde eles se sentam e pensam, meditam e rezam, fazem yôga ou tocam um tambor africano. Muitas vezes eles criam altares improvisados que incluem muitos destes objetos - flores, pedras e cristais, símbolos sagrados, fotografias ou imagens dos antepassados do indivíduo ou de personagens importantes, incensos, instrumentos musicais, velas, livros espiritualistas.
Conscientemente ou inconscientemente, quando nós construímos altares nos comprometemos num esforço em abrir a mais enigmática de todas as portas - a porta entre o mundo humano e o mundo espiritual. Um altar é uma representação da mesma porta em termos materiais - o altar é a porta. Quando você se senta na frente de seu altar, você está convidando as forças espirituais do outro lado desta porta para te notarem, te visitarem e agirem sobre você.
Considerando que a maioria das pessoas que moram no Brasil não podem começar a prática desta religião assistindo cerimônias de Vodu, uma das primeiras coisas que se pode fazer é construir um altar. Os altares de Vodu são tão variados quanto os indivíduos que praticam o mesmo. De certo modo, um peristilo é um altar, grande o bastante para os adoradores dançarem ao redor do centro, tocar tambor, executar
sacrifícios, sofrer possessão - em resumo, representar cada aspecto do drama cósmico. Dentro do peristilo há áreas dedicadas a um loa específico - a cruz do Baron ou uma barraca de folhas de palmeira para Erzulie. Junto ao peristilo existem salas menores chamadas djevo ou bagi nas quais são mantidos os objetos cerimoniais de uma sociedade de Vodu.
Porém, estes objetos que incluem chocalhos sagrados, garrafas vazias para oferendas de bebida, tetes dados durante a iniciação e potes de barro chamados govi, não têm uso algum para quem não seja iniciado.
Um modelo melhor é achado no kay myste (do francês caille des mysteres, casa de mistérios). Estas são casas pequenas, freqüentemente não maiores do que 5 a 7 metros, nas quais são construídos altares individuais para cada loa que o dono da kay myste serve . Estes altares incorporam muitos materiais comuns, facilmente disponíveis em todos lugares no mundo. Eles são notáveis por sua individualidade e beleza.
Freqüentemente são construídos altares no Haiti num chão sujo. Sua kay myste pode consistir em uma área pequena em seu quarto ou sala, embora o sentimento no Haiti é que não é bom dormir no mesmo lugar com objetos consagrados ao loa, especialmente com uma pessoa do sexo oposto; exceto durante a iniciação, quando o sexo é proibido de qualquer maneira. Você pode separar esta área com uma cortina ou separar um quarto inteiro para o serviço ao loa. As instruções que seguem lhe darão sugestões para construir um tipo de altar muito básico que pode ser então ser elaborado para o serviço a qualquer loa específico que você deseje.
Sugestões para construir um altar básico:
No Haiti, quando um Vodunista deseja fazer um altar em casa para um aspecto determinado de Deus, um santo, ou um loa, eles freqüentemente compram certos objetos religiosos identificados com qualquer princípio que eles queiram servir e então um Houngan ou Mambo monta e consagra o altar. Alguns são feitos por definição em um chão sujo, outros são construídos em plataformas de tábuas ou mais freqüentemente de concreto.
Aqui está um possível método para montar um altar básico em lugar fechado, sem ser em chão sujo. Adquira um pano branco e lave em água com sua primeira urinada da manhã. Você pode substituir a urina por vinagre. Deixe o lençol secar ao ar livre, ao sol se possível. Cubra sua mesa de altar com ele e então borrife-o levemente com seu perfume favorito.
Logo, consiga quatro pedras pequenas que encontre próximas à sua casa, limpe-as deixando-as de molho com sal grosso e enxaguando bem, então coloque uma pedra em cada canto de seu altar. Limpe uma garrafa de vinho, uma tigela de vidro ou outra vasilha e encha de água. Não use metal ou louça - apenas vidro ou cristal. Coloque-a no centro de seu altar e adicione três de porções de anisete ou rum branco assim que você abençoar a água.
É comum no Vodu a prática de batizar objetos rituais, quer dizer, dar nomes a eles. Você pode levar um maço de manjericão e pode ungir o batismo sobre seu vidro de água que agora será uma passagem poderosa para energia espiritual. Você pode nomear quase qualquer coisa apropriado, de maneira fantástica e positiva - "Água da Vida" ou "Gargarejo da Mamãe Que Traz Espírito" ou o que quer que seja!
Em um castiçal de vidro, coloque um pouco de terra de próximo da sua casa e uns grãos de sal grosso. Pegue uma vela branca e com algum óleo vegetal puro esfregue do meio até o topo e então do meio até a base. Enquanto você lubrifica a vela, dirija sua energia para suas mãos e ore por consciência espiritual. Ponha firmemente na frente a vela no castiçal e coloque tudo na frente da vasilha de água. Não acenda a vela ainda.
Ao redor do altar você colocará outros objetos de acordo com os princípios divinos que você deseja servir. Um santuário de ancestrais terá imagens de antepassados mortos, o altar de Ogoun terá um machete e um lenço vermelho, o santuário de Erzulie Freda terá flores e jóias, e assim por diante.
Parte 2 - Realizando um Festim Ancestral
Agora que você construiu um altar básico, você está pronto para o primeiro passo na prática do Vodu - reverência aos seus ancestrais. Não importa como tenha feito seu altar, sempre se lembre que é uma porta entre o mundo humano e o mundo dos antepassados e dos loa. Deixe-o empoeirado, deixe que a água fique escura e envelheça, use-o como um local conveniente para deixar chaves e lápis; ignore-o, e você se achará cansado, drenado, azarado e não-inspirado. Trate-o com respeito, mantenha-o imaculado, limpo, visite-o freqüentemente e você será recompensado com crescimento espiritual, energia, vitórias pessoais e coincidências notáveis.
Seus antepassados o amam. Eles virão e o visitarão, aceitarão suas oferendas. Eles o instruirão, protegerão você, lutarão por você e o curarão. Eles lhe trarão mensagens através da intuição e dos sonhos.
Obtenha uma foto ou figura de um parente falecido seu cujo amor para com você está além da dúvida. Se você não tem nenhum parente falecido de quem você se lembre bem, ou de sangue ou por adoção, você pode escolher uma imagem de uma pessoa que representa a você sabedoria e amor ancestrais e dê um nome a esta pessoa. Você também pode obter imagens que lhe agradem de antepassados de todas as raças humanas.
Coloque estas imagens atrás da vasilha de água em seu altar, em qualquer tipo de porta-fotos ou prenda-as na parede atrás de seu altar.
Esta parede também pode ser coberta com um pano branco e as imagens fixadas nele. Arrume as imagens até que você sinta como elas devem estar ordenadas. Você pode escolher trabalham com uma imagem ou muitas.
Sente-se na frente de seu altar. Você pode soar um sino pequeno ou pode balançar um chocalho cerimonial para sinalizar o começo de sua meditação. Acenda a vela branca do seu altar e se possível acenda algum incenso de coco ou baunilha. Amarre um pano branco em volta de sua cabeça se quiser. Contemple a água no cálice central. Relaxe e faça qualquer exercício mágico com o qual você está familiarizado. Respire fundo, em contagem regressiva de dez até zero ou trabalhando com os chakras, tanto faz. Pense em seu antepassado escolhido. Se possível, relembre e visualize cenas do passado no qual você viveu com aquele antepassado. Sinta o amor entre vocês, que os conecta. Imagine o amor que brilha de seu coração como um raio de luz que atravessa a água e vai para a imagem do antepassado. Convoque o nome de seu antepassado em voz alta, repetidamente. Fale para o antepassado que você o ama e que você quer trabalhar junto com ele. É um princípio básico do Vodu que o vivo e o morto trabalham juntos ajudando-se mutuamente.
Quando você sentir a presença dos antepassados, verta no chão um pouco da água três vezes para lhes dar boas-vindas. Faça freqüentemente esta meditação, até que seja uma rotina confortável. Dentro de uma semana ou duas de prática regular e eficaz, você deverá fazer um festim ancestral para oferecer a seus antepassados. É um banquete que deve incluir comidas favoritas de seus antepassados em vida, com a exceção que a comida não deve ser salgada. Oferendas de "ancestrais genéricos" (aqueles que você não conheceu vivos) incluem milho grelhado, amendoim grelhado, coco fresco, comidas brancas como pudim de arroz, leite e bolos de massa com farinha.
Coloque cada tipo de comida em uma tigela e coloque uma vela branca entre as tigelas. Podem ser colocadas oferendas de líquidos em copos. Toque cada prato ou tigela na sua testa, coração e área genital e então cheire profundamente a comida (quase encoste-a no nariz). Fale com seus ancestrais, lembre-lhes que eles já foram parte do mundo dos vivos e que um dia você irá se unir a eles. Peça-lhes para afugentar todo mal como pobreza, enfermidade, desemprego, fadiga, discórdia, tristeza. Peça-lhes para trazer a você tudo aquilo é bom, inclusive amor, dinheiro, trabalho, saúde, alegria, amizade, riso.
Acenda as velas, ponha a comida no altar e deixe o quarto. Quando as velas terminarem de queimar, e de preferência na manhã seguinte, pegue a comida e jogue-a fora ao pé de uma árvore grande. Se isso não for possível, ponha-a em uma bolsa de lixo e jogue-a separadamente de qualquer outro lixo. Lave os pratos, tigelas e copos, esfregue-os com sal e separe-os. Não os use para qualquer outra coisa, nem mesmo para refeições comuns, apenas para outro trabalho de Vodu.
Parte 3 - A Experiência de uma Mambo.
Meu primeiro banquete ancestral aconteceu antes de que eu fosse ordenada como uma Mambo. Eu queria que tudo estivesse tão bonito quanto possível, assim eu limpei minha sala primeiro, então meu altar e todos os objetos do altar, cristais, panos do altar, etc. Eu borrifei o altar com perfume e pus velas novas nos castiçais.
Eu fiz tipos diferentes de comida. Havia galinha, arroz e feijão, verduras cozidas e frutas tropicais para meus antepassados africanos; salsicha, batatas cozidas, saurkraut e doces para meus antepassados europeus, amendoins tostados, milho fervido e "carne" de coco como comida genérica de antepassado. Havia cerveja, rum, leite, suco de fruta - em resumo, tudo eu pude pensar. Todo prato de comida teve sua própria vela. Eu apresentei as comidas e as bebidas para os antepassados, acendi as velas, meditei e deixei o quarto.
Aquela noite, eu tive alguns sonhos muito interessantes. De manhã, eu notei a condição das velas - toda vela foi queimada até o fim - nem uma gota de cera ou um fragmento de pavio permaneceu em qualquer dos pratos.
"Puxa", eu pensei, "esses antepassados realmente deviam estar famintos!" Eu recolhi a comida e coloquei tudo ao pé de uma árvore perto de um rio. Enquanto eu caminhava para casa, eu pensei, "qual de meus ancestrais ou loa virá me ajudar agora ?"
Era um dia bonito de primavera e eu estava caminhando só em uma estrada rural. Um pequeno fusca amarelo estava passando e buzinou. Eu pensei que a pessoa devia estar perdida e queria indicações, mas assim que olhei, não havia motorista no carro! Instintivamente eu notei a placa - 125 LOA!
Agora, você poderia pensar que alimentar e servir 125 loa deixaria minha conta do supermercado enorme. Mas de fato, a parte de cerimônias maiores, os serviços regulares para os antepassados consistem de um pouco de comida no jantar de segunda-feira, libações ocasionais e a observância correta do Festim dos Mortos (Fet Ghede) a cada 2 de novembro.
Haiti: vítima da velha magia negra de Clinton
por Lowell Ponte em 10 de março de 2004
© 2004 MidiaSemMascara.org
Depois de ter sido removido por um golpe militar em 1991, o Presidente Bill Clinton mandou 20.000 soldados para o Haiti em 1994, para recolocar no poder este ex-padre católico, ligado à esquerdista Teologia da Libertação, que já chamou o ditador marxista de Cuba, Fidel Castro, de seu “grande herói pessoal”.(foto: Aristide e Clinton na Casa Branca)
O atual Secretário de Estado, Colin Powell, declarou na última terça-feira que “não há francamente nenhum entusiasmo” em mandar novamente tropas americanas para apoiá-lo. Na quinta-feira, os EEUU anunciaram planos para enviar somente uma pequena tropa para dar segurança à Embaixada americana.
O governo Francês tentou oferecer a ajuda de 4.000 soldados treinados como pacificadores humanitários que se encontram em outras ilhas caribenhas. Mas devem existir outras forças mais profundas e mais ocultas atuando por lá, e que não são noticiadas pela imprensa internacional. Podemos estar assistindo a uma luta de “hierarquia e poderes”. Tais forças sinistras têm suas raízes nas próprias origens do Haiti como uma nação independente e podem ter-se entranhado com os interesses de Bill Clinton e do atual candidato Democrata John F. Kerry.
Neste mundo pós-moderno e desconstrucionista, existe uma “leitura alternativa” ou “sub-texto” por trás das notícias convencionais que vêm do Haiti. Para que vocês também possam enxergá-las vou lhes contar uma história. Nós relatamos. Você decide.
Colombo foi o primeiro europeu a chegar a estas ilhas, onde os nativos canibais eram os índios Arawak. Ele a chamou de Hayti (“terra montanhosa”) e mais tarde a renomeou para “Hispaniola” (“Pequena Espanha”). Em 1697 a Espanha cedeu a parte oeste da ilha, então já chamada Haiti, para a França, mantendo a parte oriental, Saint-Domingue, atualmente República Dominicana. Depois que os Arawak foram exterminados, franceses e espanhóis importaram escravos africanos acostumados ao sol e ao calor dos trópicos. Lá por 1780 a colônia do Haiti, com suas ricas plantações de coco, cana de açúcar, algodão e café, tinha se tornado num dos lugares mais prósperos do planeta. Tal prosperidade derivava do trabalho de 500.000 escravos explorados e mantidos prisioneiros por 26.000 colonos franceses brancos e 30.000 alforriados de diversas etnias. Esta disparidade entre poder e números só podia terminar num banho de sangue.
Alguns desses escravos escaparam para as montanhas e criaram sua própria comunidade. Um deles era uma figura lendária, chamada Boukman, quase certamente um africano e certamente um houngan (“feiticeiro de práticas médicas”) de tamanho, força e carisma imensos. Na Capital do Haiti, Port-au-Prince, pode-se ver ainda hoje uma estátua de ferro de um porco para comemorar o ritual da religião africana que costumamos denominar Vodu, conduzido por Boukman em 14 de agosto de 1791. Matava-se ritualmente um porco naquele dia e os escravos fugitivos bebiam seu sangue ainda quente como parte de um pacto. Boukman obrigou-os a jurar por si e por seus filhos que serviriam aos deuses pagãos da ilha, inclusive o diabo, por exatamente 200 anos, depois de conseguida a independência dos franceses. Sete dias depois, os escravos do Haiti se rebelaram, embebendo o solo da ilha do sangue dos administradores franceses e dos proprietários das plantações que os tinham escravizado.
Em primeiro de janeiro de 1804, exatamente há 200 anos – e isto é um fato crucial para a história que eu estou contando – uma França derrotada reconhecia a independência do Haiti – e começava-se a contar o tempo deste Pacto.
Depois do golpe que o depôs em 1991, o exilado Jean-Bertrand Aristide fixou residência em Washington, D.C. Buscando ajuda política para retornar ao poder ele ligou-se ao círculo íntimo do futuro candidato Democrata a Presidente, Bill Clinton. De acordo com Joel A. Ruth ele fez Clinton contatar um feiticeiro Vodu. Este, de acordo com fontes haitianas, deu conselhos mágicos a Clinton sobre como deveria desenvolver sua campanha. (Um dos conselhos acatados por Clinton: não mudar suas roupas íntimas durante a última semana da campanha de 1992). O mesmo feiticeiro, mediante uma “alta soma de dinheiro” lançou uma “wanga” (“maldição”) contra seu rival, o candidato à reeleição George H. W. Bush, através da “manipulação de um boneco feito à imagem do Presidente”.
Durante uma visita ao Haiti, em 31 de março de 1995, já com Aristide de volta ao poder, Clinton, de acordo com o jornal Haiti Observateur tomou parte de uma cerimônia de iniciação Vodu para “fechar seu corpo” aos ataques dos Republicanos e garantir sua reeleição. Um dos relatos recebidos por Ruth referia que Aristide havia “consagrado” o local, antes da chegada de Clinton, com “o sangue de um recém-nascido, por gratidão aos deuses que ele acreditava terem-no reconduzido ao poder”. Meses antes, o ex-padre Aristide havia renunciado formalmente à sua fé Católica Romana e anunciado publicamente que retornara à fé Vodu de seus ancestrais. Em julho do mesmo ano Aristide organizou um Congresso Vodu no Palácio Nacional do Haiti. Entre os 300 participantes estavam incluídos feiticeiros e “bocors” (praticantes de magia negra), incluindo “líderes do temível culto Bizango, que praticam a “zumbificação” (transformação em mortos-vivos) e sacrifícios humanos.
[Cientistas documentaram o uso de veneno do peixe-bola do Caribe por parte de bruxos “curadores” como uma forma de simular a morte e então, em pequenas doses, fazê-los sair do túmulo como “mortos-vivos”, chamados “zumbis”, na tradição haitiana.]
No seu discurso ao referido Congresso, Aristide disse que o Vodu é uma “das grandes religiões do mundo, juntamente com Cristianismo, Islã e Judaísmo”. Anunciou a fundação de um templo nacional vodu a ser construído provavelmente com dinheiro dos contribuintes americanos através da administração Clinton. Um dos objetivos principais de Aristide seria o embarque de haitianos para os EEUU, especialmente para a Flórida, cujo litoral está a cerca de 600 milhas e onde, certamente, eles poderiam prejudicar os Republicanos. O Senador John F. Kerry (Democrata por Massachussets) pode ter tido os mesmo motivos de Aristide quando, em 1998, apoiou uma lei que concederia anistia para aproximadamente 125.000 haitianos que haviam recebido “asilo temporário” antes de 1996 por terem fugido do caos, do terror e da pobreza causados principalmente pelo próprio Aristide.
Enquanto isto, nos EEUU, o Presidente Bill Clinton ordenou aos militares que incluíssem capelães feiticeiros pagãos para atender a tais necessidades religiosas das tropas americanas. Hillary Clinton, como foi observado por agentes do FBI, decorou a árvore de Natal dos aposentos privados na Casa Branca com uma parafernália de sexo e drogas. Pressionou também o Serviço Postal a parar de usar imagens da Virgem Maria com Jesus na época de Natal. Defendeu ainda que a Comissão para a Igualdade de Oportunidade de Emprego deveria criar um novo conceito de crime comparável ao assédio sexual no trabalho. Este novo crime, “assédio religioso”, seria cometido por qualquer chefe ou gerente que usasse um crucifixo ou um solidéu, ou tivesse uma Bíblia em sua mesa - e seria punido por altíssimas multas.
De volta ao Haiti, era exigido pela Constituição Nacional que Aristide governasse através de alguém por alguns anos. Mas em 2000 ele exigiu o poder como Presidente numa burla eleitoral tão falsa que foi considerada uma fraude por todos os observadores internacionais. Depois disto uma ajuda internacional ao Haiti de 500 milhões de dólares foi cancelada e a resposta de Aristide aos críticos de seu comportamento irregular foi incrementar a violência e o terror. Seus seguidores colocaram as suas machetes no altar Vodu e juraram de morte seus inimigos. Aristide também utilizou a forma de “colar de fogo”, tão usada por Winnie Mandela na África do Sul, na qual se coloca no pescoço da vítima um pneu embebido em gasolina e toca-se fogo. Aristide declarou, após observar o uso do “colar” em vários de seus críticos, em 27 de setembro de 1991: “Que beleza de sistema!... Tem bom cheiro! Aonde quer que vá pode-se sentí-lo”, segundo a Associated Press. Prestem atenção na data.
Apesar de saber da atração de Aristide por usar o colar nos seus críticos e apesar de saber que o perfil psicológico da CIA o identificou como “um psicopata”, o Presidente Clinton, três anos depois, arriscou a vida de 20.000 soldados de elite americanos para remover um governo haitiano pró-americano e reinstalar o assassino psicopata Aristide como Presidente do Haiti.
Raymond Joseph, editor do Haiti Observateur escreveu que “Ele hoje é comparado com Francois ‘Papa Doc’ Duvalier, que usava seus Tontons-Macoute, uma força tipo Gestapo, para atacar, prender e matar seus oponentes”. “Os assassinos do Sr. Aristide são chamados de chimeres (quimeras, monstros lendários) e transformaram o Haiti num campo de morticínio”. Yves A Isidor, Professor da Universidade de Massachussets-Dartmouth, escreveu que “Aristide, que se considera um profeta ou messias, foi banhado no sangue de um haitiano morto, em Novembro de 2000, pela sacerdotisa Vodu Marie-Anne Auguste, mais conhecida como So An. O propósito deste banho, conforme um membro sênior do Partido Família Lavalas, de Aristide, era lançar uma maldição contra o então candidato Republicano George W. Bush, e fazer com que o candidato Democrata, o Vice-Presidente Al Gore, emergisse como vencedor naquelas eleições”. Mas a bruxaria vodu não foi capaz de ajudar ao zumbi Gore como tinha conseguido com Clinton.
O megalomaníaco Aristide falhou em todas as áreas na administração de seu País. Não melhorou o nível de vida, não uniu a Nação e, ao invés de proteger a democracia, a destruiu. Suas gangues de seguidores mataram jornalistas que criticaram seu regime e não sofreram qualquer punição pelos assassinatos. Cinco Missionários Cristãos foram trucidados, aparentemente por adeptos do Vodu. Nas últimas semanas, ele e seus auxiliares brutamontes, impediram opositores de organizar manifestações e passeatas contra ele. Não é de estranhar que em fevereiro cinco grupos de haitianos se revoltassem para removê-lo do poder outra vez.
Mas, no que parece ser a interminável tragédia do Haiti, muitos destes grupos são tão diabólicos e sangrentos quanto ele. É como se os demônios do inferno tivessem emergido e transformado a política da Nação numa“demonocracia”.
Em outubro de 2003, o jornal Christianity Today relatou que “no último mês de abril o Presidente Aristide, um ex-padre católico, declarou o Vodu como uma religião oficialmente reconhecida, num movimento que alguns Cristãos da paupérrima Nação de 7,5 milhões de habitantes, viram como um sinal nefasto”. “O governo disse que pretendia converter todo o País ao Vodu”, segundo soube Jean Berthony Paul, fundador da Missão Evangélica do Norte do Haiti.
[Como disse uma comentarista, “o povo do Haiti é tido como 95% cristão (predominantemente católico) mas, de acordo com o missionário Católico John Hoet, os haitianos são 100% Voduistas. Alguns são nominalmente Cristãos Católicos Romanos, mas quase todos praticam algum tipo de vodu e incorporam os santos Católicos ao panteão pagão de deuses africanos.].
Os Cristãos quase perderam o fôlego no Ano Novo de 2004. Aquele dia marcava o fim dos 200 anos do “Pacto com o Diabo” anunciado por Boukman. O dia em que se cumpria a exigência de 200 anos de submissão aos deuses do Vodu para conseguir a independência da França. Meses antes, o Presidente Aristide reuniu 400 sacerdotes Vodu, muitos vindos da África à custa dos contribuintes, para uma cerimônia. Os Cristãos temiam que esta reunião – em agosto de 2003 – servisse para ritualmente renovar e estender o Pacto Vodu com os demônios da ilha. Alguns Cristãos Evangélicos acreditam que foram suas preces que levaram tal reunião a acabar em brigas e confusões, antes que algum ritual de sangue fosse executado. Eles acreditam que salvaram a alma do Haiti. Mas será que Aristide não teria feito o mesmo no dia de Ano Novo? Não se conhece nenhuma confirmação desta suspeita.
Mas tal cerimônia, como aquela que ocorreu durante a visita de Bill Clinton à ilha, pode ter sido conduzida secretamente ou de forma a não deixar rastros. E isto pode ter acontecido porque Clinton, sem consultar o Congresso ou as Nações Unidas, sentira uma compulsão em derrubar o governo do Haiti para recolocar Aristide no poder com um rei Vodu numa ilha Vodu. Acredite se quiser.
Mas olhem as evidências e as conexões. O que vocês aprenderem pode ajudar a salvar a alma da América... e as suas.
(Publicado originalmente pelo Front Page Magazine em 20/02/2004)
Tradução: Heitor de Paola
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