A Bíblia e os Usos e Costumes
A questão dos usos e
costumes entre os evangélicos brasileiros, e principalmente entre os
pentecostais, não é matéria pacífica. As questões suscitadas, são geralmente
vinculadas ao uso de brincos, braceletes, colares, jóias, roupas,batons, etc.,
os quais são tidos por algumas denominações, instrumentos incompatíveis com a
santidade de uma mulher evangélica, pois, são elas as mais visadas.
É verdade que algumas denominações
pentecostais, mais antigas no Brasil, e que durante vários anos não toleravam
seus membros de usarem estes utensílios, vêm repensando tais concepções e
tolerando algumas práticas, permanecendo, contudo, a concepção geral de que os
ensinos bíblicos condenam estes usos e costumes.
A prática evangélica tem demonstrado que
nem sempre é fácil separar doutrina e costume. A primeira, de caráter
permanente, ou seja, são verdades reveladas por Deus aos homens, imutáveis no
tempo; a segunda, transitória, passível de mudanças.
Considerando a importância do tema e
desejoso de trazer-lhes um ensino bíblico maduro, propus no meu coração,
examinar alguns usos e costumes vivenciados pelos israelitas no decorrer de sua
história, bem como, os ensinos do Novo Testamento acerca da questão, a fim de
contribuir na edificação da Igreja do Senhor Cristo.
USOS E COSTUMES ENTRE OS
ISRAELITAS
O que a bíblia diz sobre jóias e brincos?
O uso de tais adereços impede a comunhão com Deus?
Examinado o livro de Êxodo 3.21 a 22,
encontramos o povo de israel saí do Egito com utensílios de ouro e prata, como
determinação do próprio Deus: "EU darei mercê a este povo aos olhos dos
egípcios; e, quando sairdes, não será de mãos vazias" - "Cada mulher
pedirá à sua vizinha e à sua hóspeda, jóias de prata, e jóias de ouro, e
vestimentas; as quais porei sobre vossos e filhos e sobre vossas filhas; e
despojareis os egípcios".Ora, o texto trás uma verdade bíblica, qual seja,
era tradição dos israelitas utilizarem o ouro e a prata. Qual o uso que faziam
deles?
Encontramos em 1Cr 29.1- 9, o rei Davi
oferecendo ouro e prata de sua propriedade particular a serem utilizados no
futuro templo de Jerusalém, e não apenas o rei Davi, mas o povo contribuiu com
com suas pedras preciosas. Avançando na questão, veremos o uso do ouro e da
prata pelas mulheres israelitas como peças de adornos pessoais:
"Disse-lhes Arão; tirai as argolas de ouro das orelhas de vossas mulheres,
vossos filhos e vossas filhas e trazei-mas". "Então, todo o povo
tirou das orelhas as argolas e as trouxe a Arão"(Êx 32.2-3). O texto
citado evidencia o uso de argolas ou brincos pelos israelitas, como parte da
tradição hebraica.
Disto decorre que a obediência do povo
israelita a Deus não condicionava-se ao uso jóias de ouro e prata, usos de
brincos, braceletes, etc.
Vejamos mais um exemplo bíblico do
relacionamento de Deus com seu povo e a questão dos costumes das mulheres
israelitas. Ez 16. 11-12, faz menção da mensagem trazida pelo profeta da parte
de Deus a Israel. Nesta passagem o próprio Deus assume a posição de um homem
israelita e compadece-te de uma mulher e a toma para si, dando-lhe presentes.
Citemos na íntegra esta passagem para que não paire dúvidas concernentes as
declarações aqui expostas.
"Também te adornei com enfeites e te
pus braceletes nas mãos e colar à roda do teu pescoço".
"Coloquei-te um pendente no nariz(ou
testa, em outra versão),arrecadas nas orelhas e linda coroa na cabeça".
As citações referem ao entendimento já
exposto, qual seja, os usos e costumes praticados pelos israelitas não eram
empecilhos à comunhão com Deus, fazendo parte da cultura israelita o usos de
tais adornos pessoais.
Há quem justifique uma postura mais
conservadora concernente ao tema, fundamentado em Is 3.20. Quanto a esta
passagem bíblica, o contexto da mensagem a partir do capítulo III, demonstra
que Deus não está preocupado com os usos e costumes das mulheres israelitas e
sim com a situação espiritual do povo, os quais estão distantes da vontade de
Deus, preocupados com seus próprios interesses, decorrendo disto uma profecia
de julgamento sobre todo Israel e Jerusalém. As mulheres israelitas também
serão julgadas por Deus, não pelo uso de braceletes, enfeites, etc., mas pela
indiferença face a vontade de Deus. Esta profecia foi cumprida quando Israel
foi levado cativo à Babilônia e Jerusalém destruída.
OS USOS E COSTUMES E O NOVO
TESTAMENTO
Não há no Novo Testamento uma doutrina a
respeito de usos e costumes. Encontramos algumas considerações dos apóstolos
Pedro e Paulo sobre o assunto, à título de princípios norteadores às igrejas.
O Apóstolo Pedro em sua primeira carta
escreve: "Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de
cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário". "Seja, porém, o
homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e
tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus". Pois foi assim também
que a si mesma se ataviaram outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus,
estando submissas a seu próprio marido"(1Pe 3.3-5).
Ora, o apóstolo está dirigindo uma
palavra específica as mulheres casadas e em nenhum instante do texto, há uma
ordem direta de proibição. Os usos e costumes citados servem para
demonstrar a superioridade dos valores espirituais em relação a aparência
exterior, de caráter transitório.
O ensino de Pedro harmoniza-se com as
admoestações de Paulo(1Tm 2.9). Este recomenda que as mulheres usem trajes
decentes e se ativiem com modéstia e bom senso.
Assim, as expressões modéstia e bom
senso, sintetizam a concepção neo-testamentária.
JESUS E OS USOS E COSTUMES
A preocupação de Jesus em seu ministério
foi de fazer conhecida a vontade Deus, realizando o plano da salvação. Seu
ministério era tríplice: pregação do reino de Deus, ensino da palavra, cura
espriritual e física. Jesus Cristo não estava preocupado em criar obstáculos ao
crescimento do reino de Deus, estabelecendo normas sobre costumes a serem
seguidos pelos seus discípulos, pelo contrário, em Mt 15.1-20 e Mc 7.13, Ele
censura os fariseus que queriam com suas tradições invalidar a palavra de Deus,
através de seus legalismos.
CONCLUSÃO
Em face das considerações apresentadas
conclui-se:
1. Era prática comum entre as mulheres
israelitas o uso de jóias de ouro, prata, brincos, braceletes, véus, e outros
adereços semelhantes. Esta prática fazia parte da cultura hebraica e não
constituía empecilho a comunhão com Deus.
2. Os ensinos apostólicos,
especificamente de Pedro e Paulo, fazem algumas restrições à prática de
determinados usos e costumes à época, mas o essencial da mensagem é o princípio
neo-testamentário de uso de modéstia e bom senso nos usos e costumes.
3. Jesus Cristo durante seu ministério
não faz menção de proibições sobre os usos e costumes, suas críticas às
tradições dos fariseus, evidenciam a preocupação em não criar empecilho ao
crescimento do seu reino, o que pode ser aplicável à Igreja atual.
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