A Igreja Mártir do Presente
TORTURADO POR AMOR A CRISTO
Narrativa dos sofrimentos e do testemunho da IGREJA
SECRETA
nos países atrás da Cortina de Ferro.
RICHARD WURMBRAND - Tradução Rev. Israel Gueiros
Filho.
1976 Publicação da "VOZ DOS MÁRTIRES"
Digitalizado por: Dimas Silva
Digitalizado com exclusividade para:
Richard Wurmbrand
O playboy que se tornou pregador — esteve
preso durante 14 anos em cadeias comunistas.
Os guardas tentaram forçá-lo a
confessar que pertencia a uma rede de espionagem imperialista.
Foi açoitado, torturado e obrigado a
ingerir drogas.
Apesar de tudo ele resistiu e ficou
firme.
Passou dois anos na "cela da
morte" — assim chamada por não ter voltado ninguém dali com vida.
Título do original em inglês
"Tortured for Christ"
1* Edição em português, junho de 1970
2* Edição em português, novembro de 1970
3* Edição em português, maio de 1972
4* Edição em português, junho de 1973
5* Edição em português, julho de 1976
especial ilustrada
Revisão da Equipe:
"VOZ DOS MÁRTIRES - BHF"
Composto e impresso na IMPRENSA
METODISTA
Índice
Quem é o autor
.................
Prefácio
............................
Introdução
........................
Oferecimento
...................
Capítulo I
...........................
Capítulo II
..........................
Capítulo III
........................
Capítulo IV
........................
Capítulo V............................
Capítulo VI
.........................
Capítulo VII .........................
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QUEM É O
AUTOR
O Rev. Richard Wurmbrand
é o ministro evangélico que passou 14 anos como prisioneiro dos comunistas,
torturado em sua própria terra, a Romênia. É um dos mais conhecidos líderes
evangélicos, autor e educador. Poucos nomes são mais conhecidos em sua terra
natal.
Em 1945, quando os
comunistas tomaram a Romênia e tentaram submeter às Igrejas aos seus
propósitos, Richard Wurmbrand imediatamente iniciou um ministério eficiente e
vigoroso, pelo processo chamado "subterrâneo", destinado à pregação
do Evangelho ao seu povo escravizado pelos soldados russos invasores. Foi preso
em 1948 com sua esposa Sabina. Durante três anos sua esposa trabalhou
escravizada e Richard Wurmbrand passou esse tempo numa prisão solitária — sem
ver qualquer pessoa, a não ser os seus torturadores comunistas. Depois de três
anos foi transferido para uma cela coletiva, onde as torturas continuaram
durante cinco anos.
Por causa de sua
liderança cristã internacional, diplomatas de embaixadas estrangeiras
indagaram ao governo comunista sobre sua segurança. A resposta foi que ele
havia fugido da Romênia. Elementos da polícia secreta, passando como
ex-companheiros de prisão, disseram à sua esposa que assistiram ao seu funeral
no cemitério da prisão. Sua família na Romênia e seus amigos de outros países
foram avisados que deveriam esquecê-lo em vista de já estar morto.
Depois de oito anos foi
solto e imediatamente reassumiu seu trabalho na Igreja Subterrânea. Dois anos
depois, em 1959, foi outra vez preso e condenado a 25 anos de reclusão.
Foi solto em 1964 por
uma anistia geral e mais uma vez prosseguiu em seu ministério secreto. Levando
em consideração o grande perigo de um terceiro período na prisão, crentes da
Noruega negociam com as autoridades comunistas sua permissão para deixar a Romênia.
O governo comunista havia iniciado a "venda" dos seus presos
políticos. O preço da libertação de um prisioneiro era de 800 libras, mas o
preço de Wurmbrand foi fixado em 2.500 libras!
Em maio de 1966
testemunhou ele em Washington perante a Subcomissão de Segurança Interna do Senado
Americano, ocasião em que tirou a camisa para mostrar aos presentes dezoito
profundas cicatrizes provocadas pelas torturas físicas recebidas.
Sua história foi levada
a todo o mundo pela imprensa livre dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. Em
setembro de 1966 foi advertido que o regime comunista da Romênia decidira
eliminá-lo. Apesar disso não silenciou e continua a dar seu testemunho. Tem
sido chamado "a voz da Igreja Subterrânea". Líderes cristãos têm-no
considerado o "Mártir Vivo" e o "Paulo da Cortina de
Ferro".
PREFÁCIO
Rev. W.
Stuart Harris, F.R.G.S. Diretor Geral da Missão Cristã Européia
Foi em dezembro de 1964
que entrei pela primeira vez na Romênia. A não ser a Albânia, a Romênia era o
único país na Europa onde eu não havia estado. Por alguns meses vinha tendo uma
clara indicação de Deus de que deveria ir lá, e assim na companhia do Rev. John
Moseley atravessei a fronteira entre a Hungria e a Romênia. Imediatamente
descobrimos que estávamos em um país comunista onde éramos observados
cuidadosamente pelas autoridades. Apesar disso os crentes nos fizeram boa
recepção e no domingo à noite, primeiro do Advento, fomos à Igreja Batista
Alemã de Bucareste. Ambos fomos convidados a fazer saudações e a dar
testemunhos. Quando a reunião terminou, muitos falaram conosco, incluindo um
cidadão alto, de olhar ansioso e rosto pálido, que nos perguntou se poderia
falar conosco. Disse-nos que assumiria o risco se fôssemos até a sua casa.
Então, às 10:00 daquela mesma noite, conseguimos chegar a casa na qual Richard
Wurmbrand, sua esposa e o filho do casal, Mihai, viviam em uma pequena sala no
sótão.
Entramos quietamente e
então o pastor, do qual havíamos ouvido falar tanto no Ocidente, nos relatou os
acontecimentos de suas experiências maravilhosas e dos seus livramentos durante
os 14 anos de prisão. Primeiro o filho e depois Sabina, sua esposa, olharam a
rua e ambos disseram que a casa estava cercada pela polícia, cujo carro estava
do outro lado da rua. Quanto tempo iriam eles observar a casa? Qual seria o resultado?
Richard Wurmbrand terminou a sua história e então oramos. Aquela foi uma
inesquecível reunião de oração na qual rogamos a Deus pela proteção de seus
servos. '
Havíamos visto as marcas
das torturas em seu corpo e havíamos sentido como nunca os horrores daqueles anos.
Apesar disso brilha, através dessa triste história de encarceramento e
sofrimento, uma luz de glória e de amor. Deus ouviu as nossas orações e quando
finalmente saímos, a polícia havia ido embora.
Tínhamos encontrado pela
primeira vez essa família de Deus com um testemunho tão heróico por Jesus
Cristo, que ambos sentimos que jamais poderíamos ser o que fomos antes. Assim,
sinto-me honrado por me haverem pedido a apresentação deste livro, e o faço com
uma fervorosa oração: que Deus toque em muitos corações no sentido de amarem
aos povos da Europa Oriental, a fim de que uma resposta magnânima possa
resultar em ajuda substancial àqueles que sofrem por amor de Jesus Cristo,
suprindo eles dessa forma na própria carne o que falta às Suas aflições, por
amor do Seu corpo místico, a Igreja.
INTRODUÇÃO
Por que escrevo este
livro
Trago para cada crente
livre uma mensagem da Igreja Subterrânea que está atrás da Cortina de Ferro.
A Igreja Subterrânea que
eu dirigi por muitos anos resolveu que eu deveria fazer todo o possível para
chegar ao mundo livre e trazer-lhe uma urgente mensagem. Por um milagre
sobrevivi às misérias que o leitor vai ler e consegui chegar ao mundo livre.
Neste livro trago a mensagem da qual fui incumbido pela fiel e sofredora Igreja
Subterrânea dos países comunistas. Assim, para que a mensagem da Igreja
Subterrânea receba da parte do leitor completa e urgente consideração, dou, em
primeiro lugar, o meu próprio testemunho e narrarei a seguir a obra da
referida Igreja.
OFERECIMENTO
Ao Reverendo W. Stuart
Harris, Diretor Geral da Missão Cristã Européia, em Londres, que, quando saí da
prisão em 1964, veio à Romênia como o primeiro mensageiro dos crentes
ocidentais. Vindo ao nosso lar tarde da noite, depois de havermos tomado muitas
medidas de precaução, trouxe-nos as primeiras palavras de amor e conforto, bem
como a primeira ajuda para famílias de mártires cristãos. Em seus nomes aqui expresso
a nossa gratidão.
CAPÍTULO I
Um Ateu
encontra Cristo
Fui criado em um lar
onde religião nenhuma era admitida. Durante minha infância não recebi qualquer
educação religiosa e com a idade de 14 anos já me considerava ateu. Fora este o
resultado de uma infância rude. Fiquei órfão nos meus primeiros anos e conheci
o que é ser pobre durante a Primeira Guerra Mundial. Aos 14 anos estava eu tão
convencido do ateísmo como os comunistas hoje. Havia lido livros ateus e não
era apenas uma questão de não crer em Deus ou em Jesus Cristo... Eu odiava tais
noções, considerando-as maléficas à mente humana. Assim cresci com ódio à religião.
Mas, como vim a entender
posteriormente, tive a graça de ser um dos escolhidos de Deus por motivos que
não estão ao meu alcance. Tais motivos nada tinham a ver com o meu caráter, pois
era muito mau.
Apesar de ateu, alguma
coisa inexplicável sempre me atraía às Igrejas. Era-me difícil passar por um
templo sem que lá entrasse. Entretanto, nunca entendi o que se passava em tais
igrejas. Prestava atenção aos sermões, contudo eles não apelavam ao meu
coração. Tinha certeza de que não havia Deus. Odiava a idéia de Deus como
Senhor a quem eu tinha de obedecer. Odiava a noção errada dEle, que tinha em
minha mente. Gostaria, porém, imensamente de saber da existência de um coração
meigo em algum lugar no centro do universo. Conhecia pouco dos prazeres da
infância e da mocidade. Mas suspirava por um coração bondoso, palpitando por
mim, em algum lugar.
Sabia que não existia
Deus, porém sentia-me triste com a idéia de que tal Deus de amor não existisse.
Certa vez, em minha íntima luta espiritual, entrei em uma Igreja Católica: vi
ali gente de joelhos, dizendo alguma coisa. Então pensei em ajoelhar-me junto
a eles, tentando entender o que eles estavam dizendo, e repeti as rezas para
ver se algo me aconteceria. Eles rezavam à Santa Virgem: "Ave Maria, cheia
de graça". Repeti as palavras com eles muitas vezes, olhei para a estátua
da Virgem Maria, porém nada me aconteceu. Piquei muito triste com Isso.
Um dia, mesmo sendo ateu
muito convicto, orei a Deus. Minha oração foi mais ou menos assim: "Deus,
eu sei com certeza que Tu não existes. Porém, se por acaso Tu existires, o que
eu duvido, não é minha obrigação acreditar em Ti; é tua obrigação Te revelares
a mim". Eu era ateu, porém o ateísmo não dava paz ao meu coração.
Foi nessa hora de
tormenta íntima — como vim a descobrir depois — que em uma vila nas montanhas
da Romênia, um velho carpinteiro orava assim: "Meu Deus, eu Te servi na
terra e desejava ter minha recompensa tanto na terra como nos Céus. E a minha
recompensa deve ser que eu não morra antes de ter trazido um judeu para
Cristo, porque Jesus era do povo judeu. Porém eu sou pobre, velho e doente. Não
posso ir em busca de um judeu. Em minha vila não há judeu algum. Traze um judeu
à minha vila e eu farei o melhor que puder para levá-lo a Cristo".
Algo irresistível
levou-me àquela vila. Nada tinha para fazer ali. A Romênia tem doze mil vilas.
Porém eu fui àquela vila. Vendo que eu era judeu, o carpinteiro me cortejou
como nunca uma bela jovem havia sido cortejada. Ele viu em mim uma resposta às
suas orações e deu-me uma Bíblia para ler. Eu a havia lido antes várias vezes
por motivos culturais. Porém a Bíblia que ele me havia dado era de um tipo
diferente. Como me disse depois, ele havia orado horas a fio, juntamente com
sua esposa, pela minha conversão e a da minha senhora. E a Bíblia que ele me
deu fora escrita, não tanto com letras, mas com chamas de amor ateadas por suas
orações. Eu mal podia lê-la. Apenas chorava sobre ela, comparando minha
vida má com a vida de Jesus; minha impureza com Sua pureza; meu ódio com Seu
amor; e Ele me aceitou para ser um dos Seus!
Logo depois minha esposa
também se converteu. Ela trouxe outras almas para Cristo e estas outras almas
trouxeram ainda mais almas para Cristo e então uma nova Congregação Luterana
estabeleceu-se na Romênia.
Chegou então o tempo do
Nazismo. Tivemos muito que sofrer. Na Romênia, o Nazismo tomou a forma de
ditadura com elementos de ortodoxia extremista, os quais perseguiam tanto os grupos
protestantes como os judeus.
Mesmo antes da minha
ordenação e antes de estar preparado para o ministério, eu era realmente o
líder dessa Igreja, sendo o seu fundador. Eu era responsável por ela. Minha
esposa e eu fomos muitas vezes presos, açoitados e levados à presença de juizes
nazistas. O terror nazista era enorme, porém era apenas uma amostra daquilo
que haveria de vir sob o regime comunista. Tivemos de dar ao nosso filho um
nome não judaico, para preservá-lo com vida.
Tais dias sob o Nazismo
nos trouxeram uma grande vantagem. Eles nos ensinaram que açoites físicos poderiam
ser suportados; que o espírito humano com a ajuda de Deus pode sobreviver a
horríveis torturas. Essa época também nos ensinou as técnicas de um trabalho
cristão secreto que era uma preparação para uma prova muito pior que haveria de
vir, prova que estava diante de nós.
Meu
Ministério entre os Russos
Por causa do meu remorso
de ter sido ateu, ansiava, desde o primeiro dia da minha conversão, poder testemunhar
aos russos. Os russos são um povo educado, desde a meninice, no ateísmo. Meu
desejo de testemunhar aos russos já foi consumado. Sua realização começou nos
tempos nazistas, porque tínhamos na Romênia muitos milhares de russos como
prisioneiros de guerra e podíamos fazer trabalho evangelistico entre eles. Era
um trabalho dramático e muito comovente. Nunca me esquecerei do meu primeiro
encontro com um prisioneiro russo. Ele me havia dito que era engenheiro. Perguntei-lhe
se cria em Deus. Se ele houvesse dito "não", jamais me incomodaria
tanto. É direito de cada homem crer ou descrer. Porém quando lhe perguntei se
cria em Deus, ele levantou os olhos para mim, sem me entender, e disse:
"Não tenho ordem militar para crer. Se eu tiver uma ordem, crerei".
Lágrimas correram no meu
rosto. Senti meu coração quebrantado. Diante de mim estava um homem com uma
mente morta, um homem que havia perdido o maior dom que Deus dera à humanidade
— o de ser um indivíduo. Ele havia passado por uma lavagem cerebral e se
tornado um instrumento nas mãos dos comunistas, preparado para crer ou não em
uma ordem. . Não podia mais pensar por si próprio. Era um russo típico depois
de todos esses anos de domínio comunista! Depois do choque de ver o que o
Comunismo tem feito com a pessoa humana, prometi a Deus dedicar a minha vida a
estes homens, para trazer-lhes de volta sua personalidade e dar-lhes fé em
Deus e em Cristo.
Não foi preciso ir à
Rússia para pregar aos russos.
A partir do dia 23 de
agosto de 1944, um milhão de soldados russos entraram na Romênia e logo após os
comunistas assumiram o poder do nosso país. Então começou um pesadelo que fazia
o sofrimento sob o Nazismo parecer nada.
Naqueles dias, na
Romênia que tinha uma população de 18 milhões, o Partido Comunista possuía
apenas 10 mil membros. Entretanto, Vishinsky, Secretário do Exterior da União
Soviética, intempestivamente entrou no gabinete do nosso mui querido Rei Miguel
I e, esmurrando a mesa, disse: "Você tem de nomear comunistas para o
Governo". Nosso exército e polícia foram desarmados e, desta maneira,
através da violência e odiados por quase todos, os comunistas assumiram o
poder. Isso não se deu sem a cooperação dos governantes americanos e
britânicos daqueles dias.
Os homens não são
responsáveis perante Deus apenas por seus pecados pessoais, mas igualmente
pelos seus pecados cometidos no plano nacional. A tragédia de todas essas
nações cativas é uma responsabilidade dos corações de crentes americanos e
britânicos. Os americanos devem saber que têm ajudado, involuntariamente, os
russos a estabelecer sobre nós um regime de assassínio e terror. Devem expiar
sua falta, agora, ajudando os povos cativos a vir à luz de Cristo.
São a
mesma, a linguagem do Amor e a da Sedução
Desde que os comunistas
assumiram o poder, cuidadosa e astutamente para os seus propósitos têm seduzido
a Igreja. A linguagem do amor e a da sedução não diferem. Quem deseja uma jovem
para ser sua esposa e quem a deseja por apenas uma noite, para depois a
desprezar, ambos dizem "eu te amo". Jesus ensinou-nos a distinguir a
linguagem da sedução da do amor, bem como a distinguir entre os lobos vestidos
de ovelhas e as ovelhas de verdade.
Quando os comunistas
assumiram o poder, milhares de padres, pastores e ministros não sabiam como distinguir
as duas vozes.
Os comunistas
organizaram um Congresso de todos os grupos cristãos no edifício do nosso
Parlamento. Ali estavam quatro mil padres, pastores e ministros de todas as
denominações. Esses quatro mil padres e pastores escolheram Joseph Stalin como
presidente honorário do Congresso. Ao mesmo tempo era presidente do Movimento
Mundial dos Ateus e assassinos dos cristãos. Um após outro, bispos e pastores
se levantou no nosso Parlamento e declararam que Comunismo e Cristianismo são
fundamentalmente a mesma coisa e podiam muito bem coexistir. Um após outro, os
ministros ali presentes pronunciaram palavras laudatórias ao Comunismo e
asseguraram ao novo governo a lealdade da Igreja.
Minha esposa e eu
estávamos presentes. Ela, sentada junto a mim, dizia-me: "Ricardo,
levanta-te e lava esta vergonha que estão atirando à face de Cristo! Eles estão
cuspindo no Seu rosto". Respondi-lhe: "Se eu assim proceder, você
perderá seu marido". Ela atalhou: "Não quero ter um marido
covarde".
Então me levantei e
falei ao Congresso, exaltando não aos matadores de cristãos, mas a Cristo e
Deus, e afirmei que nossa lealdade é devida em primeiro lugar ao Senhor. Os
discursos nesse Congresso estavam sendo irradiados; por todo o país se ouvia a
proclamação do Evangelho, feita da tribuna do Parlamento comunista! Depois tive
de pagar por isto, mas valeu a pena!
Ortodoxos e protestantes
disputavam entre si a entrega de cada um ao Comunismo. Um bispo ortodoxo
colocou em sua batina a foice e o martelo, pedindo aos seus subalternos que não
mais o chamassem de "Sua Graça", mas de "Camarada Bispo".
Assisti ao Congresso dos batistas na cidade de Resita — congresso sob a
bandeira vermelha — que o hino da União Soviética foi entoado por todos os
presentes de pé. O presidente dos batistas afirmou que Stalin o que fez foi
realizar a vontade de Deus e também o elogiou como um grande professor de
Bíblia! Padres ortodoxos como Patrascoiu e Rosianou foram mais específicos.
Tornaram-se agentes da Policia Secreta. Rapp, bispo representante da Igreja Luterana
da Romênia, começou a ensinar no Seminário Teológico que Deus deu três
revelações: uma por Moisés, outra através de Jesus e a terceira através de
Stalin, esta última superando a anterior.
Deve ficar entendido que
os verdadeiros batistas, aos quais muito amo, não concordaram com isso e permaneceram
fiéis a Cristo, pelo que muito sofreram. Entretanto, os comunistas
"elegeram" seus líderes e eles não tiveram outra alternativa senão
aceitá-los. A mesma situação continua hoje com a mais alta liderança religiosa.
Aqueles que se tornaram
servos do Comunismo, em lugar de servos de Cristo, começaram a denunciar os
irmãos que os não acompanhavam.
Da mesma forma como os
cristãos russos criaram uma Igreja Subterrânea depois da Revolução no seu país,
a ascensão do Comunismo e a traição praticada por muitos líderes oficiais da
igreja compeliram-nos a criar também na Romênia uma Igreja Subterrânea, que
fosse fiel à evangelização, à pregação do Evangelho e que atraísse as crianças
para Cristo. Os comunistas proibiram tudo isso e a igreja oficial concordou.
Juntamente com outros,
comecei um trabalho subterrâneo. Fora, eu tinha uma posição social muito respeitável,
que nada tinha a ver com o meu trabalho secreto e que servia apenas de
cobertura. Era pastor da Missão Luterana Norueguesa e ao mesmo tempo trabalhava
na representação do Concilio Mundial de Igrejas na Romênia. (Na Romênia não
tínhamos a menor idéia de que esta organização cooperasse com os comunistas.
Naquela época em nosso país o Concilio Mundial não fazia coisa alguma a não ser
o trabalho de assistência social). Estes dois títulos davam-me boa posição
perante as autoridades que não sabiam de minhas atividades secretas.
Elas tinham dois ramos.
O primeiro era nosso
trabalho secreto entre um milhão de soldados russos.
O segundo era o nosso
ministério secreto entre o povo escravizado da Romênia.
Russos — um Povo de Alma
Sedenta
Pregar o Evangelho aos
russos é o mesmo que experimentar o céu na terra. Já preguei a homens de
muitas nações, porém nunca vi gente para absorver o Evangelho como os russos.
Eles de fato têm almas sedentas.
Um padre da Igreja
Ortodoxa, muito amigo meu, telefonou-me e contou-me que um oficial russo o
havia procurado para se confessar. Meu amigo, porém, não conhecia a língua
russa. Sabendo que eu falava esse idioma, deu meu endereço ao oficial. No dia
seguinte, ele veio ao meu encontro. Amava a Deus e O buscava, mas nunca havia
visto uma Bíblia. Nunca assistira a trabalhos religiosos. (Igrejas na Rússia são muito raras). Não tivera nenhuma educação religiosa, porém
amava a Deus sem ter o menor conhecimento dEle.
Comecei a ler para ele o
Sermão da Montanha e as parábolas de Jesus. Depois de ouvi-las dançou ao redor
da sala com grande alegria, exclamando: "Que beleza maravilhosa! Como é
que eu poderia viver sem conhecer este Cristo!" Foi a primeira vez que vi
uma pessoa tão arrebatada de alegria no Senhor.
Prosseguindo, cometi um
erro. Li para ele a narrativa da Paixão e da Crucificação de Jesus, sem tê-lo
ainda preparado para tanto. Ele não esperava, e quando ouviu do sofrimento de
Cristo, como foi crucificado e finalmente morreu, caiu em uma poltrona e
começou a chorar amargamente. Havia crido em um Salvador e agora este estava
morto.
Olhei para aquele homem
e fiquei envergonhado por me haver chamado de Crente e Pastor, mestre do
rebanho e nunca haver partilhado dos sofrimentos de Cristo, como este oficial
russo agora fazia. Ao vê-lo, senti como se estivesse a ver Maria Madalena
chorando ao pé da cruz, e mesmo quando Cristo já era cadáver no túmulo.
Então li a história da
Ressurreição. Ele não sabia que Cristo havia ressuscitado dos mortos. Quando ouviu
tão maravilhosas novas, bateu em seus joelhos e proferiu palavras não muito
dignas, porém, eu as considerei de grande valor, pois esta era a sua rude maneira
de se expressar! Mais uma vez se alegrou. Gritou de alegria: "Ele está
vivo!". Novamente dançou ao redor da sala, transbordante de alegria.
Disse-lhe: "Oremos!"
Ele não sabia como orar. Não sabia as nossas frases sagradas. Ajoelhamo-nos e
suas palavras foram: "Oh Deus, que camaradão Tu és! Se eu fora Tu e Tu
fosses eu, nunca Te perdoaria os Teus pecados. Porém Tu és realmente um
camaradão! Eu Te amo de todo o meu coração".
Penso que todos os anjos
nos céus pararam para ouvir esta sublime oração de um oficial russo. O homem
havia sido vencido por Cristo!
Certa vez encontrei em
uma loja um capitão russo com uma senhora, também oficial. Estavam comprando
multas coisas e tinham dificuldade em falar com o vendedor que não entendia russo.
Ofereci-me como intérprete e fizemos amizade. Convidei-os para almoçar em
nossa casa. Antes de começarmos a refeição, eu lhes disse: "Vocês estão em
uma casa cristã e aqui temos o hábito de orar". Orei em russo. Com
surpresa para mim largaram os garfos e facas e não se interessaram mais pela
comida. Começaram a fazer-nos pergunta após pergunta a respeito de Deus, de
Jesus Cristo e da Bíblia. Não sabia de
coisa alguma.
Não foi fácil
falar-lhes. Contei-lhes a parábola do homem que tinha cem ovelhas e perdeu uma.
Não entenderam. Perguntaram: "Como é que ele tem cem ovelhas? Porventura
a fazenda comunista ainda não as tomou?" Afirmei-lhes que Jesus é um Rei.
Responderam-me: "Todos os reis foram homens ruins que tiranizaram o povo e
Jesus também deve ter sido um tirano". Quando lhes contei a parábola dos
trabalhadores na vinha, disseram: "Bem, estes fizeram muito bem em se
rebelar contra o dono. A vinha tem de pertencer à coletividade". Tudo lhes
era novo. Quando lhes contei a respeito do nascimento de Jesus, perguntaram-me:
O que na boca de um ocidental seria uma blasfêmia: "Era Maria a esposa de
Deus?" E assim entendi pela conversa com eles e muitos outros que para
pregar o Evangelho aos russos, depois de tantos anos sob o Comunismo, devemos
usar uma linguagem totalmente nova.
Missionários que foram à
África, tiveram dificuldades em traduzir as palavras de Isaías, "Ainda
que os teus pecados sejam vermelhos como a escarlata eles se tornarão mais
alvos que a neve." Ninguém na África Central jamais viu neve. Não tinham
palavra para neve. Tiveram que traduzir: "Vossos pecados se
tornarão mais alvos que a polpa de coco seco".
Dessa forma tínhamos que
traduzir o Evangelho para a linguagem marxista, para torná-lo compreensível a
eles. Isso era algo que não podíamos
fazer sozinhos, mas o Espírito Santo fez Seu trabalho por nosso intermédio.
O capitão e a oficial se
converteram no mesmo dia. Depois nos ajudaram muito em nosso ministério subterrâneo
entre os russos.
Secretamente imprimíamos
milhares de Evangelhos e outros tipos de literatura cristã e distribuíamos
entre os russos. Através dos soldados russos convertidos podíamos
contrabandear para a Rússia, muitas Bíblias e porções bíblicas.
Outra técnica também
empregávamos para fazer chegar tal literatura às mãos dos russos. Os soldados
russos estavam lutando havia vários anos e muitos deles tinham deixado
crianças, às quais não viam por todo esse tempo. (Os russos têm grande afeição
por crianças). Meu filho Mihai, juntamente com outras crianças de menos de dez
anos, ia aos soldados russos nas ruas e parques, levando consigo muitas
Bíblias, Evangelhos e panfletos religiosos em seus bolsos. Os soldados russos acariciavam-lhes
as cabeças e com eles falavam carinhosamente, pensando em seus filhos que não
viam por tantos anos. Davam chocolates ou doces e as crianças, por sua vez,
davam-lhes alguma coisa: Bíblias e Evangelhos que eram recebidos com
ansiedade. De fato, o que nos era muito perigoso fazer abertamente, nossos
filhos faziam em completa segurança. Eles eram "pequenos
missionários" a serviço dos russos. Os resultados eram excelentes. Muitos
soldados receberam o Evangelho dessa maneira, quando não existia outro meio
para fazê-lo.
Pregando
em Acampamento Russo
Trabalhamos com os
russos não somente através do testemunho pessoal. Foi-nos possível, também, trabalhar
em pequenas reuniões.
Os russos eram maníacos
por relógios. Roubavam-nos, de todo o mundo. Paravam os homens nas ruas, os
quais tinham de lhes entregar seus relógios. Podiam se ver russos com vários
relógios em cada braço. Era possível
ver uma oficial russa com um despertador pendurado ao pescoço. Nunca tinham
tido relógios anteriormente e não podiam contentar-se com poucos. Os romenos
que desejassem um relógio tinham que ir ao acampamento soviético para comprar
um roubado, algumas vezes comprando o seu próprio relógio. Desta maneira era
comum romenos entrarem no acampamento russo. Nós da Igreja Subterrânea
tínhamos um bom pretexto — o de comprar relógios — para também podermos entrar.
Escolhi como minha
primeira tentativa para entrar e pregar no acampamento russo um dia festivo
para a Igreja Ortodoxa: o dia de São Pedro e São Paulo. Entrei na base militar
como que pretendendo comprar um relógio. Disse que um estava caro, outro muito
pequeno, outro grande demais. Muitos soldados me rodearam tentando vender-me
algo; então, em tom de brincadeira, perguntei-lhes: "Alguém aqui se chama
Pedro ou Paulo?" Alguns tinham estes nomes. Então lhes disse: "Vocês
sabem que hoje é o dia em que a sua Igreja Ortodoxa homenageia São Paulo e São
Pedro?" (Alguns dos mais idosos sabiam disto.) E continuei: "Vocês
sabem quem eram Pedro e Paulo?" Ninguém sabia. Comecei a contar acerca
desses apóstolos. Um dos soldados mais velhos me interrompeu e observou:
"Você não veio comprar relógios. Você veio nos falar sobre a fé. Sente-se
aqui conosco e nos fale! Mas seja muito cauteloso! Sabemos de quem nos
precaver. Estes ao meu redor são todos de confiança. Quando eu colocar a mão no
seu joelho, deve falar unicamente sobre relógios. Quando removê-la, pode
recomeçar sua mensagem". Uma turma grande estava ao meu redor e lhes
contei a respeito de Paulo e de Pedro, a respeito de Cristo, por quem esses
apóstolos morreram. De vez em quando entrava uma pessoa em quem não tínhamos
confiança. O soldado colocava a mão no meu joelho e imediatamente começávamos a
falar sobre relógios. Quando aquela pessoa saía, continuava pregando a respeito
de Cristo. Esta visita foi repetida muitas e muitas vezes com o auxílio dos
soldados russos crentes. Muitos dos
seus camaradas encontraram a Cristo como Salvador pessoal. Milhares de
Evangelhos foram distribuídos secretamente.
Muitos de nossos irmãos
e irmãs da Igreja Subterrânea foram presos e açoitados rigorosamente por isto,
mas apesar de tudo nunca traíram a nossa organização.
Durante este trabalho
tivemos o prazer de nos encontrar com irmãos da Igreja Subterrânea russa e
ouvir suas experiências. Acima de tudo víamos nelas os feitos de grandes
santos. Tinham eles passado através de tantos anos de doutrinação comunista!
Alguns haviam passado pelas universidades comunistas, mas como o peixe vive em
água salgada e apesar disso não se torna também salgado, assim eles passaram
pelas escolas comunistas, conservando suas almas limpas e puras em Cristo.
Estes crentes russos
tinham almas tão belas! Eles diziam: "Sabemos que a estrela com o martelo
e a foice que usamos em nossos gorros é a estrela do anticristo". Diziam
isto com grande tristeza. Muitos nos ajudaram a divulgar o Evangelho entre os
outros soldados russos.
Podíamos dizer que eles
tinham todas as virtudes cristãs, menos a da alegria. Esta eles tiveram apenas
na conversão. Depois desapareceu. Preocupava-me muito a este respeito. Até que
perguntei a um batista: "Como é que você não demonstra alegria?"
Respondeu: "Como posso ser alegre quando tenho de esconder do pastor da
minha igreja que sou um verdadeiro crente, que vivo de oração e tento ganhar
almas para Cristo? O pastor da Igreja é um informante da polícia secreta. Somos
espionados uns pelos outros, e os pastores traem o rebanho. Existe bem profunda
em nossos corações a alegria da salvação, mas esta alegria externa, que você
tem, não mais podemos tê-la".
"O Cristianismo
tornou-se dramático entre nós. Quando vocês do mundo livre conquistam uma alma
para Cristo, ganham um membro para uma igreja que vive tranqüila. Nós, quando
vemos um aceitar a Cristo, sabemos que ele pode muito bem ser preso e que seus
filhos podem tornar-se órfãos". A alegria de trazer alguém a Cristo sempre
se mescla com a preocupação de que um preço há de ser pago.
Encontramos nos crentes
da Igreja Subterrânea um tipo de todo diferente.
Aqui tivemos muita
surpresa.
Como existem muitos que
pensam ser crentes, quando na realidade,não o são, assim encontramos entre os
russos muitos que pensam ser ateus, quando realmente não o são.
Encontrei-me com um
casal de escultores russos e quando lhes falei a respeito de Cristo,
responderam-me: “Não, Deus não existe”. Nós somos 'Bezboshniki' — ateus.
Entretanto vamos contar-lhe uma coisa interessante que nos aconteceu.
Estávamos trabalhando em
uma estátua de Stalin. Durante o trabalho minha esposa perguntou: "Marido
e que dizer do polegar? Se não pudéssemos colocar o polegar de encontro aos
outros dedos — se os dedos da mão fossem como os dos pés — não poderíamos segurar
um martelo, um macête, ferramenta alguma, um livro ou um pedaço de pão. A vida
humana seria impossível sem este pequeno polegar. Agora, quem foi que fez este
polegar? Ambos aprendemos Marxismo na escola e sabemos que o céu e a terra
existem por si mesmos. Não foram criados por Deus; desta forma aprendi e assim
creio. Mas se Deus não criou o céu e a terra, bastaria que tivesse criado só o
polegar, para ser digno de louvor por esta coisinha diminuta".
"Louvamos Edison,
Bell e Stephenson, que inventaram a lâmpada elétrica, o telefone, o trem e
outras coisas, mas por que não devíamos louvar aquele que inventou o polegar?
Se Edison não tivesse polegares, nunca teria inventado nada. Logo, só pode ser
justo adorar a Deus que fez os polegares".
O marido zangou-se, como
os outros muitas vezes ficam quando as esposas são mais espertas que eles.
"Não diga asneira! Você aprendeu que não existe Deus. Você nunca poderá
saber se nosso lar está sendo invadido e se cairemos ou não em dificuldades.
Ponha em sua cabeça uma vez por todas que não existe Deus. No céu o que há é
ninguém!"
Ela respondeu:
"Isto é mais interessante ainda, Se no céu existisse o Deus onipotente no
qual, pela sua estupidez, nossos antepassados creram, seria natural que
tivéssemos polegares. Um Deus todo-poderoso pode fazer todas as coisas, logo
Ele pode fazer polegares também. Mas se há ninguém no céu, de minha parte estou
decidida a adorar de todo o meu coração esse "Ninguém" que fez os
polegares".
Desta forma tornaram-se
adoradores desse "Ninguém". Sua fé nEle aumentou com o tempo, crendo
que Ele era o criador não somente dos polegares, como também das estrelas,
flores, crianças e tudo quanto é belo na vida.
Exatamente o que
acontecia com atenienses do tempo de Paulo, que adoravam o "Deus
desconhecido".
Esse casal ficou muito
contente ao ouvir de mim que sua fé era correta, que no céu não existe mesmo
uma pessoa, em carne, e sim Deus, que é Espírito: Espírito de Amor, Sabedoria,
Verdade e Poder, que os amou de tal maneira que mandou Seu único Filho para Se
sacrificar por eles na cruz do Calvário.
Eles sem o saber eram
crentes em Deus. Apenas tive o grande privilégio de conduzi-los a um degrau
mais elevado — a experiência da Salvação e Redenção.
Certa ocasião ao
encontrar uma oficial russa na rua aproximei-me dela e pedi desculpa: "Eu
sei que é falta de educação alguém aproximar-se de uma senhora desconhecida na
rua e lhe falar, entretanto, sou um pastor e minhas intenções são sinceras. Desejo
falar-lhe acerca de Cristo". Ela me perguntou: "Você ama a
Cristo?" Eu disse: "Sim! De todo o coração!" Então ela me
abraçou e me beijou muitas vezes. Como pastor foi para mim uma situação
desagradável. Beijei-a também esperando que as pessoas que estavam vendo esta
cena pensassem que éramos parentes. Ela exclamou: "Eu também amo a
Cristo!" Levei-a para nossa casa. Lá descobri com surpresa que ela nada
sabia acerca de Cristo. Absolutamente nada, com exceção do nome. Assim
mesmo ela O amava. Não sabia que Ele era o Salvador, nem o que significava a
salvação. Não sabia onde e quando Ele viveu e morreu. Não conhecia Seus
ensinamentos, Sua vida e Seu ministério. Ela era para mim uma curiosidade
psicológica. Como se pode amar alguém quando apenas o nome é conhecido?
Quando lhe perguntei,
ela respondeu-me: "Quando criança fui ensinada a ler por figuras. Para a
letra "A" havia um abacate, para o "B", uma beterraba, para
o "C", um cachorro, e assim por diante. Quando entrei no Ginásio,
foi-me ensinado o dever santo de defender minha pátria comunista. Ensinaram a
respeito da moral comunista. Porém não sabia o que fosse um "santo
dever", ou "moral". Necessitava de uma figura para expressá-los.
Eu sabia que nossos antepassados tinham tido uma figura para cada coisa bela,
adorável e verdadeira na vida. Minha avó sempre se prostrava diante de
uma figura, dizendo que ela era a de alguém chamado "Cristo". Então
aprendi a amar este nome só por si. Este nome tornou-se tão real para mim! Só
pronunciá-lo dava-me muita alegria".
Ouvindo-a falar
lembrei-me do que está escrito em Filipenses, que a "Seu nome todo joelho
se dobrará". Talvez por algum tempo o anticristo possa tirar do mundo o
conhecimento de Deus. Mas há poder no simples nome de Cristo e Este levará
homens à luz.
Ela alegremente
encontrou a Cristo em minha casa, e agora aquele nome que amava, vive em seu
coração.
Toda cena que vivi com
os russos foi cheia de poesia e de profunda significação.
Uma irmã que divulgava o
Evangelho em estações ferroviárias deu meu endereço a um oficial russo.
Certa noite ele entrou
em minha casa. Era um tenente, alto e simpático.
Perguntei-lhe: "Em
que lhe posso ser útil?”.
Respondeu-me: "Vim
à procura de luz!”.
Comecei a ler-lhe as
partes mais essenciais das Escrituras. Ele, colocando a mão sobre a minha,
disse: "Peço-lhe de todo o meu coração, não me leve pelo caminho errado.
Pertenço a um povo que se tem conservado na escuridão. Diga-me, por favor, é
esta a verdadeira palavra de Deus?" Assegurei-lhe que era. Ouviu com
atenção durante horas... e aceitou a
Cristo.
Os russos não são
superficiais em assuntos religiosos. Se combatem a religião, ou se são a favor
e procuram Cristo, nisso colocam toda a alma.
Por conseguinte, todo
crente na Rússia é um Missionário conquistador de almas para Cristo. Desta maneira
posso afirmar que nenhum outro país do mundo está mais preparado e mais promete
para o trabalho evangélico. Os russos contam-se entre os povos da terra mais
religiosos por natureza. O curso do mundo pode ser modificado se agressivamente
lhes dermos o Evangelho.
É uma tragédia que a
Rússia e os países satélites, tendo assim ardente sede da Palavra de Deus,
pareçam ter sido esquecidos por quase todos os outros povos.
Um oficial russo
sentou-se num trem defronte de mim e depois de lhe haver falado de Cristo por
alguns minutos, veio-me com uma onda de argumentos ateísticos. Citações de
Marx, Stalin, Voltaire, Darwin e outros contra a Bíblia foram apresentadas.
Não me dava oportunidade de contradizê-las. Falou por quase uma hora para
convencer-me de que não existia Deus. Quando acabou, perguntei-lhe: "Se
não há Deus, por que é que o senhor ora quando está em dificuldades?" Como
um ladrão surpreendido a roubar, respondeu-me: "Como sabe que oro?"
Não lhe permiti escapar. "Fiz minha pergunta primeiro. Perguntei por que o
senhor ora. Por favor, responda-me". Baixou a cabeça e admitiu: 'Na linha
de frente, quando estávamos cercados pelos alemães, todos orávamos!' Não
sabíamos como fazê-lo. Então dizíamos: 'Deus é espírito de mãe'. Oração com
certeza muito boa à vista dAquele que vê o coração!"
Nosso ministério entre
os russos tem dado muitos frutos.
Lembro-me de Piotr
(Pedro). Ninguém sabe em que prisão russa veio a falecer. Era tão jovem! Talvez
com vinte anos. Tinha vindo à Romênia com o exército russo. Converteu-se em uma
reunião subterrânea e me pediu que o batizasse.
Depois do batismo,
perguntei-lhe qual havia sido o verso bíblico que o impressionara mais e o
havia levado a aceitar a Cristo.
Disse-me que tinha
ouvido muito atentamente, em uma das nossas reuniões secretas, quando li em
Lucas 24 a história de Jesus encontrando os discípulos que iam para Emaús.
Quando se aproximaram, Ele fez como se fosse mais adiante". Piotr afirmou:
"Piquei a pensar por que Jesus fez isso. Certamente queria permanecer com
Seus discípulos. Por que então deu a entender que desejava ir adiante?
Minha explicação foi que
Jesus é delicado. Queria saber com toda a certeza se era desejado. Quando viu
que era bem-vindo, alegremente entrou na casa deles. Os comunistas são
indelicados. Entram com violência em nossos corações e nossas mentes.
Obrigam-nos a dar-lhes ouvido desde o amanhecer até tarde da noite. Fazem isto
através de escolas, rádios, jornais, cartazes, cinema, reuniões ateísticas e
por toda parte para onde o senhor se voltar. O senhor tem de ouvir
continuada-mente a propaganda ateística quer queira, quer não. Jesus respeita
nossa liberdade. Gentilmente bate à porta. Ele me conquistou por Sua
delicadeza. Esta diferença brusca, entre o Comunismo e Cristo, convenceu-o.
Não foi esse o único
russo que se impressionou com esse aspecto do caráter de Jesus. (Como pastor eu
nunca havia pensado dessa maneira).
Depois de sua conversão,
Piotr arriscou sua liberdade e sua vida muitas vezes contrabandeando
literatura cristã e auxílio que a Igreja Subterrânea da Romênia mandava para a
da Rússia. Finalmente foi apanhado. Sei que em 1959 ainda estava preso. Terá
morrido? Será que já se encontra no céu, ou está continuando o bom
combate na terra? Não sei. Somente Deus sabe onde ele hoje está.
Como ele, muitos outros
não acenas se converteram. Nunca devemos parar ao conquistarmos uma alma para
Cristo. Por esse meio a gente fez apenas metade do trabalho. Cada alma
conquistada para Cristo deve ser transformada em uma conquistadora de outras.
Os russos não apenas se convertiam como se tornavam "missionários" da
Igreja Subterrânea. Eram arrojados e afoitos por Cristo. Sempre diziam que era
muito pouco o que podiam fazer por Cristo, que por eles morrera.
Nosso Ministério Subterrâneo
em uma Nação Escravizada
O segundo aspecto do
nosso ministério era o trabalho missionário subterrâneo entre os próprios
romenos.
Cedo os comunistas
desafivelaram a máscara. A princípio utilizavam-se da sedução para conquistar
os líderes religiosos para o seu lado, mas logo começou o terror. Milhares
foram presos. Levar uma alma ao conhecimento de Cristo tornou-se para nós
também uma coisa dramática, como de há muito fora para os russos.
Mais tarde eu próprio
estive na prisão com pessoas que Deus me havia ajudado a conquistar para
Cristo. Estive na mesma cela com um que havia deixado seis crianças em casa e
estava preso por causa de sua fé em Cristo. Sua esposa e filhos estavam
passando fome. Podia ser que nunca mais os visse. Perguntei-lhe: "Você tem
qualquer ressentimento contra mim por havê-lo trazido a Cristo e por esta razão
sua família estar em tal apertura?" Respondeu: "Não tenho palavras
com que possa expressar minha gratidão pelo fato de você ter-me trazido ao
Maravilhoso Salvador. Nunca Isso aconteceria de outro modo".
A pregação de Cristo sob
essas novas condições não era fácil. Conseguimos imprimir vários panfletos evangélicos,
passando-os através da severa censura dos comunistas.
Apresentamos ao censor
comunista um livreto que na primeira página trazia um retrato de Karl Marx, o
fundador do Comunismo. Os livros tinham por título "Religião, ópio do
povo", ou outros semelhantes. O censor pensou tratar-se de livros
comunistas e neles colocou o selo de sua aprovação. Nesses livros, depois de umas
poucas páginas cheias de citações de Marx, Lenine e Stalin, as quais agradavam
ao censor, dávamos nossa mensagem a respeito de Cristo.
A Igreja Subterrânea é
apenas parcialmente oculta. Como um "iceberg", pequena parte de seu
trabalho se faz publicamente. Fomos às passeatas comunistas e distribuímos
esses livretos "comunistas". Vendo o retrato de Marx, disputavam
entre si a compra deles. Quando chegavam à página 10 e descobriam que era tudo
a respeito de Deus e Jesus, nós já estávamos bem longe.
Pregar sob essas novas
condições não era fácil. Nosso povo estava muito oprimido. Os comunistas
apreendiam tudo de todos. Ao fazendeiro tomavam seus campos e ovelhas. Ao
barbeiro e alfaiate tiravam suas pequenas lojas. Não apenas os capitalistas
foram desapropriados. Os pobres também sofreram muito. Quase toda família tinha
alguém na prisão e a pobreza era extrema. Os homens perguntavam: "Como é
que um Deus de amor permite o triunfo do mal?”.
Os primeiros apóstolos
também não encontraram facilidade para pregar a Cristo na sexta-feira da Paixão,
quando Ele havia morrido na cruz proferindo as palavras: "Deus meu, Deus
meu, por que me desamparaste?”.
Mas o fato de o trabalho
ter sido feito prova que isso veio de Deus e não de nós. A fé cristã tem uma
resposta a tal pergunta. Jesus conta-nos a respeito do pobre Lázaro, oprimido
naquela hora — como éramos oprimidos — moribundo, faminto, suas feridas sendo
lambidas pelos cães — mas no final os anjos o levaram para o seio de Abraão.
Como o trabalho da
Igreja Subterrânea era parcialmente feito às claras
A Igreja Subterrânea
reunia-se em casas particulares, nas matas, em porões, em qualquer lugar onde
se pudesse reunir. Aí, secretamente, muitas vezes planejava o trabalho a ser
feito à vista de todos. Sob os comunistas descobrimos um plano de fazer Cultos
ao ar livre, o que com o decorrer do tempo tornou-se muito arriscado. Mas por
este meio conseguimos conquistar muitas almas que, de outro modo, jamais
poderíamos alcançar. Minha esposa era muito ativa neste trabalho. Alguns
crentes se reuniam em uma esquina sem serem percebidos e começavam a entoar
hinos. O povo os rodeava para ouvir os belos hinos e minha esposa falava. Saíamos do local antes que o polícia
chegasse.
Certa tarde, enquanto eu
trabalhava em outro local, minha esposa falou, ante milhares de trabalhadores
na entrada da grande fábrica MALAXA, na cidade de Bucareste, acerca de Deus e
da Salvação. No dia seguinte muitos daqueles operários foram executados por se
rebelarem contra as injustiças do Comunismo. A mensagem do Evangelho eles a
ouviram no tempo exato!
Na realidade éramos uma
Igreja Subterrânea, mas, como João Batista, falávamos abertamente ao povo e às
autoridades acerca de Cristo.
Certa vez nas escadarias
de um edifício do Governo, dois irmãos conseguiram chegar ao nosso primeiro ministro
Gheorghiu Dej. Nos poucos momentos de que dispuseram, deram-lhe o testemunho de
Cristo, admoestando-o a deixar seus pecados e perseguições. Ele os mandou
prender por aquele ousado testemunho.
Anos depois, quando o mesmo primeiro ministro estava muito doente, a
semente do Evangelho que eles haviam plantado e pela qual sofreram bastante,
frutificou. Na hora propícia lembrou-se das palavras que lhe haviam sido
ministradas, as quais, como a Bíblia afirma, foram "vivas e eficazes, mais
penetrantes do que espada de dois gumes". Entraram naquele coração
endurecido, que entregou sua vida a Cristo. Confessou seus pecados, aceitou o
Salvador e começou a servi-lo em sua doença. Pouco depois veio a falecer, mas
foi para o seu Salvador recém-encontrado; tudo por causa daqueles dois crentes
que se dispuseram a pagar o preço. Esses dois crentes são exemplos dos crentes
corajosos das terras comunistas de hoje.
Como foi dito; a Igreja
Subterrânea não trabalha apenas em reuniões secretas e atividades clandestinas,
mas corajosa e livremente proclamando o Evangelho nas ruas e a líderes
comunistas. Houve um preço a ser pago. Estávamos preparados para pagá-lo. E a
Igreja Subterrânea ainda hoje está preparada para tal.
A polícia Secreta
perseguia muito a Igreja Subterrânea, porque reconhecia nela a única
resistência efetiva ainda existente, de fato, a resistência espiritual,
a qual se fosse deixada livre, sem impedimento, minaria suas idéias
ateísticas. Reconhecia nela, como unicamente o diabo faz, um perigo imediato
para si própria. Sabia que um homem, por crer em Cristo, jamais abdica de
sua inteligência, nem se submete prazerosamente. Sabia que poderia
prender homens, porém não prender a Fé em Deus. Por essa razão a
Polícia Secreta perseguia a Igreja Subterrânea com todo o rigor.
A Igreja Subterrânea,
porém, tem seus admiradores ou membros até no Governo Comunista e na Polícia Secreta.
Aconselhávamos aos
crentes a entrar nela vestindo o mais odiado dos uniformes em nosso País, para
que pudessem relatar as atividades da mesma para a Igreja. Vários irmãos da
Igreja Subterrânea o fizeram, conservando sua fé escondida. Não é fácil alguém
ser desprezado por sua própria família e amigos, pelo motivo de estar usando o
uniforme comunista e não lhes declarar sua verdadeira missão. Apesar disso
eles assim fizeram. Tão grande era seu
amor por Cristo.
Quando fui raptado na
rua e conservado durante anos o mais escondido possível, para me encontrarem,
um médico crente tornou-se membro da Polícia Secreta! Como médico, tinha acesso
a todas as celas e esperava descobrir-me. Todos os seus amigos afastaram-se
dele pensando ter-se tornado comunista. Para sair em uniforme de torturador é
um sacrifício que se faz pelo amor de Cristo, maior do que vestir um uniforme
de prisioneiro.
O médico encontrou-me em
uma cela funda e escura, e avisou aos amigos que eu ainda estava vivo. Foi o
primeiro amigo que me descobriu durante esses oito e meio anos de prisão! Por
sua causa a notícia espalhou-se que eu ainda vivia, e quando prisioneiros foram
soltos em 1956, durante as conversações Eisenho-wer-Kruschev, os crentes
clamaram por minha soltura, pelo que fiquei em liberdade por pouco tempo.
Se não fora o médico
crente, que entrou na Polícia Secreta especialmente para me encontrar, nunca
teria sido solto. Ainda hoje estaria recluso, ou mesmo enterrado.
Utilizando-se de sua
posição na Polícia Secreta, esses membros da Igreja Subterrânea muitas vezes
nos fizeram advertências que foram de grande proveito. Essa Igreja ainda tem
gente na dita Polícia, que protege e avisa os crentes de perigos iminentes.
Alguns estão nos altos círculos comunistas, mantendo sua fé em Cristo
secretamente e nos ajudando muito. Algum dia nos céus eles poderão proclamar a
Cristo abertamente, a Quem presentemente servem em segredo.
Apesar dessa ajuda,
muitos membros da Igreja Subterrânea eram descobertos e encarcerados. Tínhamos
nossos "Judas" também, que nos delatavam à Polícia. Por meio de
surras, entorpecentes, ameaças e chantagens, os comunistas buscavam encontrar
pastores e leigos que delatassem as atividades de suas ovelhas.
CAPÍTULO
II
Na época em que fui
raptado, dia 29 de fevereiro de 1948, trabalhava de duas maneiras, oficialmente
e secretamente. Era domingo — um belo domingo. Nesse dia, a caminho da Igreja,
fui seqüestrado pela Polícia Secreta.
Muitas vezes havia
excogitado o que significava "roubo de homens", várias vezes referido
na Bíblia. Isto o Comunismo nos ensinou.
Muitos outros foram
seqüestrados de igual modo. Um carro da Polícia Secreta parou à minha frente,
quatro homens desceram e jogaram-me dentro dele. Deram-me sumiço por muitos
anos. Por mais de oito anos ninguém sabia se eu estava vivo ou morto. Minha
esposa foi visitada pelos homens da Polícia Secreta, que se fingiram
ex-companheiros meus de cela. Disseram-lhe que assistiram ao meu funeral. Ela
ficou consternada. Milhares de membros de Igrejas, de todas as denominações,
foram encarcerados naquela época, não apenas clérigos, mas homens do povo,
rapazes e moças que davam testemunho de sua fé. As prisões ficaram repletas e,
na Romênia como em todos os países comunistas, estar na prisão significa ser
torturado.
As torturas eram muitas
vezes horríveis? Prefiro não falar muito a respeito daquelas por que passei.
Quando o faço, não consigo dormir à noite. É muito doloroso.
Em outro livro, "No
Subterrâneo de Deus" (In God's Underground), relato com abundantes
detalhes todas as nossas experiências com Deus no cárcere.
Torturas Indescritíveis
Um pastor, chamado
Florescu, foi torturado com atiçadores de ferro em brasa, e com facas. Foi
açoitado horrivelmente. Ratos famintos eram introduzidos em sua cela através de
um cano grosso. Ele não podia dormir, pois tinha de se defender o tempo todo.
Se descansasse um só momento, os ratos o atacariam.
Foi forçado a ficar de
pé por duas semanas, dia e noite. Os comunistas queriam forçá-lo a trair seus
irmãos, porém não o conseguiram. Por fim trouxeram seu filho de 14 anos e
começaram a açoitá-lo na presença do pai, dizendo que continuariam a bater até
que o pastor dissesse o que eles queriam. O homem, coitado, Já estava quase
louco. Suportou até onde pôde. Por fim, gritou para o filho: "Alexandre,
tenho de dizer o que eles querem! Não posso mais suportar o que lhe estão
fazendo!" O filho respondeu: "Papai, não me faça a injustiça de ter
um traidor por pai! Resista! Se me matarem, morrerei com as palavras “Jesus é
minha terra natal!”A fúria dos comunistas caiu sobre o menino, em quem bateram
até matá-lo, vendo-se manchas do seu sangue pelas paredes da cela”. Morreu
louvando a Deus. Nosso querido irmão Florescu nunca mais foi o mesmo, depois do
que presenciou.
Eram colocadas algemas
em nossos pulsos as quais tinham lâminas afiadas na parte interna. Se
ficássemos totalmente parados, elas não nos cortavam. Mas nas celas muito
frias, quando tremíamos, nossos pulsos eram cortados pelas lâminas.
Crentes eram pendurados
em cordas, de cabeça para baixo, e açoitados tão severamente que seus corpos balançavam
de um lado para o outro sob a força das pancadas. Eram colocados em
refrigeradores, "celas refrigerantes", tão frias que se formava uma
camada de gelo na parte interna. Eu próprio fui jogado em uma dessas celas, com
bem pouca roupa. Médicos da prisão observavam-nos através de uma abertura, até
verem sintomas de morte por congelamento. Nesse ponto davam sinal e os guardas
nos tiravam e então éramos aquecidos. Quando já estávamos adquirindo calor, éramos
imediatamente colocados de novo nas celas congeladoras, e isto repetidamente!
Descongelar depois congelar até um ou dois minutos antes da morte, e então
descongelar novamente. Isso continuava indefinidamente. Até hoje algumas vezes
não suporto abrir um refrigerador.
A
"LÁ CABANA"! — Este é o já familiar e aterrador aspecto do interior
da famigerada prisão "LÁ CABANA" de Cuba, onde centenas de milhares
de prisioneiros vivem em permanente estado de inanição. (Veja outras
informações no verso).
Na prisão chamada "DE
BONIFÁCIO", os comunistas fraturaram a cabeça de prisioneiros cristãos
com macetes e espancaram outros com barras de ferro. O resultado: 70 feridos
gravemente e 2 mortos. Um dos mortos foi o pregador GERALDO ALVAREZ. Suas
últimas palavras foram: "Pai, perdoe-lhes, porque não sabem o que
fazem". Um de seus companheiros, HENRIQUE CORRÊA tentou ajudá-lo, mas foi
atingido por uma rajada de metralhadora, morrendo também no local! (Comitê de
Informação sobre Cuba — 1976).
Todo o mundo livre está sob a ameaça
eminente da ocupação pelos comunistas. Angola, antiga colônia portuguesa e um
dos mais ricos países africanos que nos últimos 8 anos triplicou suas
exportações, e Moçambique, além de uma dezena de outras nações africanas caíram
nas mãos dos guerrilheiros comunistas financiados e ajudados por modernas
armas russas. Em Angola, 12 a 15 mil soldados cubanos assassinaram 20 mil
negros em apenas 5 dias.
Nunca os estados colonialistas
cometeram tal morticínio em massa. (Ação Cristã de Fev. 1976).
Até quando os povos chamados
"livres" assistirão impassíveis este avanço do comunismo?
Nós, crentes, éramos
colocados em caixões apenas um pouco maiores do que nós. Não havia lugar para
qualquer movimento. Muitas dúzias de pregos com suas pontas afiadas como
giletes eram colocadas por todos os lados. Enquanto estávamos perfeitamente
quietos, tudo ia bem. Éramos forçados a permanecer nessas caixas horas a fio.
Quando, porém, nos fatigávamos e tombávamos de cansaço, os pregos entravam em
nosso corpo. Se nos movêssemos, ou estremecêssemos um músculo — ali estariam os
horríveis pregos.
O que os comunistas têm
feito aos crentes ultrapassa qualquer possibilidade de entendimento da mente humana!
Já vi comunistas
torturando crentes. Os torturadores demonstravam pelo rosto uma alegria imensa.
Enquanto torturavam, bradavam: "Nós somos o diabo".
Lutamos não contra a
carne e o sangue, mas contra os principados e potestades do mal. Vimos que o Comunismo
não provém dos homens, mas do diabo. É uma força espiritual — uma força do mal
— e só pode ser enfrentada por uma força espiritual mais poderosa — o Espírito
de Deus.
Muitas vezes perguntei
aos torturadores: "Vocês não têm piedade no coração?" Comumente
respondiam com uma citação de Lenine, de que "não se pode fazer omelete
sem primeiro quebrar os ovos, e não se corta madeira sem fazer os pedaços dela
voarem". Eu replicava: "Eu também conheço tal citação de Lenine. Há,
porém, uma diferença. Quando se corta um pedaço de madeira, ela não sente nada.
Mas vocês estão lidando com seres humanos. Cada açoite produz dor e há mães que
choram". Era em vão. Eles são materialistas. Para eles nada existe além
da matéria, e o homem é para eles como madeira ou casca de ovo. Com tal crença
eles se enterram na incrível profundeza de sua crueldade.
A crueldade do ateísmo é
difícil de se acreditar. Quando o homem não crê na recompensa do bem ou no
castigo do mal, não vê razão para ser humano. Não há como reprimir a ação do
mal profundamente enraizada no homem. Os torturadores comunistas muitas vezes
afirmavam: "Não há Deus nem vida futura, nem castigo pelo mal. Podemos
fazer o que queremos". Já ouvi um até dizer: "Dou graças a Deus, em
quem não creio, que vivi até hoje para manifestar toda a maldade do meu
coração". Ele a manifestava com incrível brutalidade e torturas infligidas
aos prisioneiros.
Sinto muito se um
crocodilo devora uma pessoa, porém não posso repreendê-lo. É um crocodilo. Não
é um ser moral. De igual modo nenhuma repreensão pode produzir efeito nos
comunistas, visto que o Comunismo destruiu neles todo e qualquer senso moral. Por
isso se gloriavam abertamente por não terem piedade.
Aprendi uma lição com
eles. Assim como não deixavam lugar algum para Cristo em seus corações, também
decidi não deixar nenhum lugar no meu para Satanás.
Dei meu testemunho
perante o Sub-Comitê de Segurança Interna do Senado norte-americano. Ali descrevi
coisas horríveis, tais como crentes amarrados em cruzes por quatro dias e
quatro noites. A seguir eram as cruzes colocadas no chão e centenas de
prisioneiros tinham de atender suas necessidades fisiológicas em cima dos
rostos e dos corpos dos que estavam crucificados. Depois as cruzes eram de novo
levantadas e os comunistas escarneciam: "Olhem para o Cristo de vocês!
Que bonito ele é! E que fragrância traz dos céus!" Descrevi como, depois
de ficar quase louco pelas torturas, um padre ortodoxo foi obrigado a consagrar
fezes e urina humana para dar em comunhão aos cristãos. Isso aconteceu na
prisão de Pitesti, na Romênia. Depois perguntei ao padre porque ele não
preferiu morrer a participar dessa zombaria. Respondeu-me: "Não me
julgue, por favor! Sofri mais que Cristo!" Todas as descrições bíblicas do
inferno e as dores referidas no Inferno de Dante, não são comparáveis às
torturas em prisões comunistas.
Isto é apenas uma
pequena amostra do que aconteceu em um e mais domingos, na prisão de Pitesti.
Outras coisas não podem
ser ditas aqui. Meu coração não suportaria repeti-las. Tão horripilantes e
obscenas para serem escritas. É isso, leitor, o que os seus irmãos em Cristo
passaram e estão passando hoje!
O pastor Milan
Haimovici, foi realmente um grande herói da fé.
As prisões estavam
superlotadas e os guardas não nos conheciam pelo nome. Chamavam por aqueles que
haviam sido sentenciados a levar 25 chicotadas por haverem quebrado algum
regulamento da prisão. Inúmeras vezes o pastor Milan Haimovici foi no lugar de
outro receber o castigo. Com isso conquistou o respeito dos outros prisioneiros
não apenas para si, mas também para Cristo, a quem representava.
Se eu continuasse a
contar todos os horrores dos comunistas e sacrifícios pessoais dos crentes,
nunca acabaria. Não apenas as torturas eram conhecidas. Os feitos heróicos
também o eram. Os exemplos de heroísmo daqueles presos inspiraram grandemente
os irmãos que ainda estavam livres.
Uma de nossas obreiras
era uma jovem da igreja Subterrânea. A polícia comunista descobriu que ela distribuía
literatura cristã e ensinava as crianças acerca de Cristo. Resolveram
prendê-la. Mas para tornar essa prisão a mais agonizante e a mais dolorosa possível,
resolveram adiá-la por mais algumas semanas, até o dia do casamento da jovem.
Nesse dia lá estava ela vestida de noiva. O dia mais maravilhoso na vida de uma
moça! De repente a porta foi empurrada e a Polícia Secreta invadiu.
Quando a noiva os viu,
estendeu-lhes os braços para serem algemados. Mal haviam colocado as algemas
nos pulsos, ela voltou os olhos para seu amado, depois beijou os grilhões e
disse: "Agradeço ao meu Noivo Celestial estas jóias com que me presenteou
no dia do meu casamento. Agradeço-lhe por ser digna de sofrer por Ele".
Foi arrastada deixando para trás os crentes e seu noivo a chorar. Estes sabiam o que acontece a moças crentes
nas mãos dos guardas comunistas. Depois de 5 anos foi libertada — uma mulher
alquebrada e destruída, aparentando ter uns trinta anos. Seu noivo ainda a
esperava. Ela afirmou que era o mínimo que poderia fazer por seu Cristo. Tão
belos crentes se encontram na Igreja Subterrânea.
O que é Lavagem Cerebral
Ocidentais provavelmente
já ouviram falar de lavagem cerebral na guerra da Coréia e agora no Vietnam.
Eu próprio já passei por esse processo. É a mais horrível das torturas.
Por anos a fio tínhamos
de nos sentar durante 17 horas, diariamente, escutando:
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Cristianismo é uma
estupidez!”
“O Cristianismo é uma
estupidez!”
“O Cristianismo é uma
estupidez!”
“Desista!”
“Desista!”
“Desista!”
“Desista!”
Durante 17 horas
diariamente — por dias, semanas e meses a fio.
Vários crentes me
perguntaram como pudemos resistir à lavagem cerebral. Há apenas um método de
resistência a ela. É a "lavagem do coração" Se o coração estiver
purificado pelo amor de Jesus Cristo e se O ama, pode-se resistir a toda e
qualquer tortura. Que não faria uma noiva por seu noivo? Que não faria uma mãe
por seu filho? Se você ama a Cristo, como Maria O amava, ela que o teve como
criança em seus braços; se você, leitor, ama a Jesus, como uma noiva ao seu
noivo, pode resistir a tais tormentos.
Deus nos julgará não de
acordo com quanto pudemos suportar, mas de acordo com quanto pudemos amar. Sou
testemunha dos crentes em prisões comunistas, de que eles puderam amar.
Puderam amar a Deus e aos homens.
Os suplícios e
brutalidades continuavam sem interrupção. Quando eu perdia os sentidos, ou
ficava tão entorpecido para dar aos torturadores qualquer esperança de
confissão, era conduzido à minha cela. Ali era atirado sem nenhuma consideração
e quase morto para me reanimar um pouco, a fim de que pudessem voltar a trabalhar
em mim. Muitos morreram nesse ponto, mas de alguma maneira minhas forças
voltavam. Nos anos seguintes, em várias prisões, quebraram-me quatro vértebras
e muitos outros ossos. Golpearam-me em uma dúzia de lugares. Recebi queimaduras
no corpo e dezoito ferimentos penetrantes.
MINI-MAOISTAS
— Ninguém escapa à lavagem cerebral ideológica. Na foto vemos pigmeus da África
sendo doutrinados por instrutores da China Vermelha. Numa das mãos vê-se a
"Bíblia Vermelha" de Mao-Tsé-Tung, e com a outra a conhecida saudação
ido punho cerrado. Nossa missão esforça-se no sentido de alcançá-los,
transportando clandestinamente milhares de evangelhos.
Médicos em Oslo,
Noruega, vendo tudo isto e as cicatrizes da tuberculose, que também tive,
declararam que o fato de estar vivo hoje é um puro milagre. Segundo seus
livros de Medicina, deveria eu estar morto há anos. Eu próprio reconheço ser um
milagre. Deus é um Deus de milagres.
Creio que Deus operou
esta maravilha para que muitos pudessem ouvir a minha voz bradar em favor da
Igreja Subterrânea de trás da Cortina de Ferro. Permitiu que eu saísse vivo
para fazer soar bem alto a mensagem do sofrimento de vocês, fiéis irmãos.
Breve período de
liberdade — depois nova prisão
O ano de 1956 chegou. Havia
estado na prisão por oito anos e meio. Perdera muito peso, adquirira
"horríveis'' cicatrizes, fora brutalmente espancado, recebera pontapés,
fora ridicularizado, passara fome, fora pressionado e interrogado 'ad nauseam",
ameaçado e posto de lado. Nada disso havia dado o resultado que meus
capturadores desejavam. E, assim,
desencorajados, soltaram-me. Além disso, estavam recebendo protestos por me
haverem prendido.
Foi-me permitido voltar
à minha posição anterior por apenas uma semana. Preguei dois sermões. Chamaram-me
e disseram-me que não poderia continuar pregando, nem participar de nenhuma
atividade religiosa. Que havia eu dito? Aconselhei meus paroquianos a ter
"paciência, paciência e mais paciência". "Isto significa que
você está dizendo a eles que tenham paciência e os americanos virão e os
livrarão" — era o que a polícia gritava para mim. Também eu havia dito que
"o mundo dá muitas voltas e os tempos mudam". "Você está querendo
dizer que os comunistas não vão continuar a dominar! São mentiras
contra-revolucionárias!" — berravam eles. Assim foi que chegou ao fim meu
ministério público.
Provavelmente as
autoridades criam que eu estivesse com medo de desafiá-las e de voltar ao
evangelismo subterrâneo. Nisso é que estavam enganadas. Secretamente voltei ao
trabalho que fazia antes. Minha família sustentou-me moralmente.
Outra vez
testemunhávamos a grupos escondidos, indo e voltando como uma assombração, sob
a proteção daqueles em quem se podia confiar. Desta vez eu tinha as cicatrizes
em que apoiar minha mensagem a respeito do mal do ponto de vista atpístico e
para encorajar alguma alma hesitante a crer em Deus e a ser valente. Dirigi
uma rede secreta de evangelistas, que se empenhavam na divulgação do Evangelho
sob os olhos providencialmente cegos dos comunistas. Afinal, se alguém pode
ser tão cego ao ponto de não ver a mão de Deus a agir, poderá também não ver um
evangelista em ação.
Finalmente o interesse
incessante da polícia em minhas atividades e em saber por onde eu andava
findou. Fui descoberto outra vez e novamente preso. Por alguma razão, desta vez
não prenderam minha família, talvez por causa da publicidade feita a meu
respeito. Tivera oito anos e meio de
prisão e três anos de liberdade relativa.
Agora ia ser preso por mais cinco anos e meio.
Minha segunda prisão
foi, sob muitos aspectos, pior que a primeira. Sabia perfeitamente o que estava
para vir. Minha condição física tornou-se péssima quase que imediatamente. Mas
continuávamos o trabalho subterrâneo da Igreja Subterrânea nas prisões subterrâneas
comunistas.
Fizemos um acordo — Nós
pregávamos eles nos batiam!
Proibiram-me
terminantemente de pregar a outros prisioneiros. Ficou entendido que quem fosse
apanhado pregando, receberia uma tremenda surra. Vários de nós resolvemos pagar
o preço do privilégio de pregar; portanto, aceitamos as condições deles. Era
um acordo: nós pregávamos e eles nos batiam. Éramos felizes pregando. Estavam
felizes em nos espancar. Por conseguinte, todos estavam felizes.
A cena que vou descrever
repetiu-se mais vezes de quantas me é possível lembrar: um irmão estava pregando
a outros presos quando os guardas repentinamente entraram, surpreendendo-o na
metade de uma frase. Arrastaram-no pelo corredor até a "sala de
surras". Depois do que parecia uma surra que não acabava mais, traziam-no
de volta e o jogavam — moído e sangrento — no chão do cárcere. Vagarosamente se
reanimava. Doloridamente ajeitava a roupa e dizia: "Agora, irmãos, em que
ponto estava quando fui interrompido?" E continuava a sua mensagem do
Evangelho.
Já presenciei coisas
belas assim!
Algumas vezes os
pregadores eram leigos. Homens simples, inspirados pelo Espírito Santo, muitas
vezes pregavam maravilhosamente. Punham todo o seu coração no que diziam,
pois, pregar sob tais circunstâncias de castigo não era coisa fácil. Os guardas
vinham, levavam o pregador e o esbordoavam até quase morrer.
Na prisão de Gherla, um
crente de nome Grecu foi sentenciado a apanhar até morrer. Nisso tiveram de
gastar algumas semanas. Ia sendo espancado vagarosamente. Uma vez na sola dos
pés com um cassetete de borracha e deixado para um lado. Depois de alguns minutos,
outro golpe, alguns minutos mais, ainda outro. Levou pancada nos testículos.
Veio o médico aplicar-lhe uma injeção. Recuperou os sentidos e lhe deram boa
alimentação para recobrar as forças e então foi espancado outra vez até
morrer sob essa pancadaria vagarosa e repetida. Um dos que presidiu a esse
suplício chamava-se Reck, membro do Comitê Central do Partido Comunista.
Em dado momento esse
Reck disse uma frase que os comunistas costumavam dizer aos crentes:
"Sabe, eu sou Deus. Tenho poder de vida e morte sobre você. O que está no
céu não pode resolver conservá-lo com vida. Tudo depende de mim. Se eu
quiser você viverá se não quiser você morrerá. Eu sou Deus!" Dessa
forma zombavam dos cristãos.
O irmão Grecu, nessa
horrível situação, respondeu a Reck de um modo mui interessante, e que ouvi
posteriormente do próprio algoz: "Não sabes quão profundas palavras
disseste. És realmente Deus. Cada lagarta é na realidade uma borboleta, se desenvolver
devidamente. Não foste criado para ser torturador, para matar. Foste criado
para te tomares um ser à semelhança de Deus. Jesus disse aos judeus dos Seus
dias: 'Sois deuses'. A vida de Deus Pai está no teu coração. Muitos que foram
como tu és, muitos perseguidores, como o apóstolo Paulo, descobriram em dado
momento que é vergonhoso para o homem cometer tais atrocidades, quando podem
fazer coisas muito melhores. E tornaram-se participantes da natureza divina. Crê-me,
Sr. Reck, sua verdadeira missão é ser deus, semelhante a Deus, e não um
torturador".
Naquele momento Reck não
prestou muita atenção às palavras de sua vitima, como Saulo de Tarso não ligou
importância às belas palavras do testemunho de Estevão ao ser morto em sua
presença. Mas aquelas palavras
trabalharam em seu coração.
Posteriormente entendeu ser realmente aquela a sua vocação.
Grande lição aprendemos
com as surras, torturas e outros maus tratos dos comunistas: que o espírito
é senhor, dominador do corpo. Muitas vezes, quando atormentados,
sentíamos os tormentos, mas nos pareciam algo distantes e afastados do espírito
que estava embevecido na Glória de Cristo e com Sua presença em nós.
Quando nos era dada uma
fatia de pão por semana e uma sopa nojenta por dia, resolvemos que até em tais
circunstâncias daríamos fielmente o "dízimo". Cada décima semana
tomávamos a fatia de pão e a dávamos a um irmão mais fraco, como nosso
"dízimo" ao Senhor.
Um crente fora
sentenciado à morte. Antes de ser executado foi-lhe permitido ver a esposa.
Suas últimas palavras a ela foram: "Deves saber que morrerei amando
aqueles que me matam. Não sabem o que fazem e meu último pedido a você é que os
ame também. Não tenha ódio no coração por matarem seu amado. Nós nos •encontraremos
nos céus". Estas palavras impressionaram o oficial da Polícia Secreta
que estava presente à conversa entre os dois, o qual me contou a história na
prisão, onde havia sido colocado por se haver tornado crente.
Na prisão de Tírgu-Ocna
havia um jovem prisioneiro por nome Matchevici. Havia sido posto na prisão com
a idade de dezoito anos. Por causa das torturas estava muito doente,
tuberculoso. A família de alguma maneira o descobriu e lhe enviou um pacote com
100 tubos de Streptomicina, que poderiam restaurar-lhe a saúde. O oficial
político da prisão chamou-o e mostrou-lhe o pacote, dizendo: "Aqui está o
medicamento que pode salvá-lo. Mas não lhe é permitido receber pacotes de seus
familiares. Pessoalmente eu gostaria de ajudá-lo. Você é jovem. Não gostaria
de vê-lo morrer na prisão. Ajude-me a poder prestar-lhe assistência. Dê-me
informações de seus companheiros de prisão e isto me justificará ante meus
superiores por lhe haver entregue o pacote". Matchevici respondeu prontamente: "Não desejo permanecer vivo e me
envergonhar de olhar-me num espelho, porque verei o rosto de um traidor. Não
posso aceitar tal condição. Prefiro morrer". O oficial da Polícia Secreta
balançou a cabeça e disse: "Congratulo-me com você. Não esperava outra
resposta sua. Gostaria, porém de lhe fazer outra proposta. Alguns dos presos
tornaram-se nossos informantes. Afirmam ser comunistas e estão denunciando
você. Fazem um jogo duplo. Não temos confiança neles. Gostaríamos de saber até
que ponto são sinceros. São seus traidores. Estão-lhe fazendo muito mal aos nos
informarem de suas palavras e ações. Entendo que você não queira trair seus
amigos. Então dê-nos informações destes que se opõem a você, de maneira
que possa salvar a sua vida!" Mat-chevici respondeu tão prontamente quanto
da primeira vez: "Sou discípulo de Cristo. Ele nos ensinou que devemos
amar até aos nossos inimigos. Estes que nos traem fazem-nos muito mal, porém
não posso retribuir mal por mal. Não posso dar informação nem mesmo contra
estes. Tenho piedade deles, oro por eles e não desejo ter qualquer ligação com
os comunistas". Matchevicl voltou da entrevista com o oficial político e
morreu na mesma cela em que eu estava. Vi-o morrendo — a louvar a
Deus. O amor venceu até a sede natural pela vida!
Se uma pessoa muito
pobre ama realmente a música, dá seu último centavo para ouvir um concerto.
Depois vai ficar sem nada, mas não se sentirá frustrada. Ouviu músicas
belíssimas.
Não me sinto frustrado
por haver perdido tantos anos na prisão. Vi coisas belíssimas. Eu mesmo já
estive preso no meio de pessoas fracas e sem Importância, porém tive por outro
lado o privilégio de estar na mesma cela com grandes santos, heróis da fé, que
se igualavam aos cristãos do primeiro século. Alegremente marchavam para
morrer por Cristo. A beleza espiritual de tais santos e heróis da fé jamais
será possível descrever.
As coisas que relato
aqui não são excepcionais. O sobrenatural tornou-se natural para os crentes da
Igreja Subterrânea.
A Igreja Subterrânea é a
Igreja que voltou ao primeiro amor.
Antes de entrar na
prisão eu amava muito a Cristo. Agora, depois de ter visto a "noiva do
Senhor" — seu Corpo espiritual — no cárcere, quero afirmar que amo a
Igreja Subterrânea tanto quanto amo ao próprio Cristo. Vi a beleza dela e seu
espírito de sacrifício.
O que
aconteceu à minha esposa e ao meu filho
Fui levado para longe de
minha esposa. Não sabia o que lhe havia acontecido. Depois vim a saber que
também havia sido aprisionada. As mulheres crentes sofrem muito mais que os
homens, na prisão. As moças são violentadas pelos guardas brutais. A blasfêmia
e as obscenidades são horrveis. As mulheres eram obrigadas a trabalho forçado
em um canal que tinha de ser construído, e tinham de executar a mesma tarefa
que os homens. Removiam terra no inverno. Prostitutas eram colocadas como
supervisoras e rivalizavam com os guardas nas torturas aos fiéis. Minha esposa
teve que comer grama feito gado para poder sobreviver. Ratos e cobras eram
comidos pelos prisioneiros famintos nesse canal para não morrerem de fome. Uma
das diversões dos guardas aos domingos era empurrar mulheres para dentro do
Danúbio e depois pescá-las, para se rirem e ridicularizá-las quando viam seus
corpos molhados e jogá-las de volta ao rio para serem pescadas outra vez. Minha
esposa foi atirada ao Danúbio dessa maneira.
Meu filho fora deixado
em liberdade para vagar pelas ruas, quando a mãe e eu estávamos presos. Mihai
tinha sido desde criança muito religioso e muito interessado em assuntos
relacionados com a fé. Depois, com a idade de 9 anos, quando eu e a mãe fomos
arrebatados dele, passou por uma crise em sua fé cristã. Havia-se tornado
ríspido e duvidava de toda a sua religião. Tinha com essa tenra idade problemas
que as crianças em geral não têm.
Precisava pensar em ganhar o pão de cada dia.
Era crime ajudar as
famílias dos mártires cristãos. Duas senhoras que ajudaram meu filho foram
presas e apanharam tanto que até o presente estão aleijadas, depois de 15 anos.
Uma senhora, que arriscou a vida e levou-o para sua casa, foi condenada a oito
anos de prisão por esse crime de ter ajudado a família de um preso. Todos os
seus dentes lhe foram quebrados a pontapés. Seus ossos fraturados. Nunca mais
poderá trabalhar. Ela também ficará
aleijada para o resto da vida.
"Mihai, creia em
Jesus!"
Com a idade de 11 anos,
Mihai começou a ganhar sua manutenção, trabalhando habitualmente. Os sofrimentos
abalaram sua fé. Mas depois de dois anos de encarceramento de minha esposa,
foi-lhe permitido visitá-la. Dirigiu-se à prisão comunista e viu sua mãe por
trás das grades de ferro. Estava suja, magra, com as mãos calejadas, vestindo
esfarrapado uniforme de prisão. Mal a reconheceu. As primeiras palavras
dela foram: "Mihai, creia em Jesus!" Os guardas, com fúria
selvagem, tiraram-na da presença de Mihai e a levaram. O menino chorou ao ver
sua mãe ser arrastada. Esse minuto foi o momento de sua conversão. Ele sabia
que se Cristo pode ser amado sob tais circunstâncias, é realmente o verdadeiro
Salvador. Posteriormente afirmou: "Se o Cristianismo não tivesse outro
qualquer argumento em seu favor, além do fato de minha mãe crer nele, este
mesmo fato seria para mim suficiente". Aquele foi o dia em que aceitou a
Cristo completamente.
Na escola, Mihai tinha
uma batalha contínua pela sua existência. Fora bom aluno e como recompensa
recebera uma gravata vermelha — sinal de membro dos Jovens Pioneiros
Comunistas. Meu filho disse: "Jamais usarei a gravata daqueles que
aprisionaram meu pai e minha mãe". Foi expulso da escola por isto. Depois
de perder um ano, entrou na escola outra vez, escondendo o fato de ser filho de
um preso cristão.
Posteriormente teve de
escrever uma tese contra a Bíblia. E
escreveu: "Os argumentos contra a Bíblia são fracos e as citações contra
ela são inverídicas. Certamente o professor jamais leu a Bíblia. A Bíblia está
em harmonia com a ciência". Outra vez foi expulso. Agora teve de perder
dois anos escolares.
Conforme
noticias publicadas pela imprensa mundial, e exibição pela TV de diversos
paises, nossa missão conseguiu num filme autêntico (transportado
clandestinamente) mostrar o verdadeiro drama dos presos nos campos de trabalho
forçado da Rússia. O flagrante da foto mostra prisioneiros sendo transportados
sob rigorosa vigilância.
Por fim permitiram-lhe
entrar no Seminário. Aí lhe era ensinada "Teologia Marxista". Tudo
era explicado de acordo com os padrões de Karl Marx. Mihai protestou
publicamente em classe. Outros estudantes fizeram o mesmo. O resultado foi ser
expulso e não pôde terminar seu treinamento teológico.
Certa vez na escola,
quando o professor proferia uma conferência ateística, meu filho levantou-se e
o contradisse, afirmando que sobre ele pesava grande responsabilidade ao
levar tantos jovens pelo caminho errado. Toda a classe ficou ao seu lado. Foi
necessário que um tivesse a coragem de se levantar primeiro. Então todos
ficaram de seu lado. Para obter a sua educação, constantemente encobria o fato
de ser filho de Wurmbrand, o prisioneiro cristão. Todavia com freqüência era
descoberto, repetindo-se a cena costumeira de ser chamado ao gabinete do
diretor para ser expulso.
Mihai também passou
muita fome. As famílias de cristãos encarcerados nos países comunistas quase
sempre chegam perto de morrer de fome. Ê grande crime ajudá-las.
Contarei apenas um caso
de sofrimento, de uma família que conheço pessoalmente. Um irmão fora preso por
seu trabalho na Igreja Subterrânea. Deixara a esposa com seis filhos. As filhas
mais velhas, de 17 e 19 anos, não podiam arranjar emprego. O único que prove
trabalho num país comunista é o Estado, e não o dá a filhos dos crentes
"criminosos". Por favor, os leitores não julguem esta história à luz
de padrões morais. Apenas recebam os fatos. As duas filhas do mártir cristão —
também crentes — tornaram-se prostitutas para poder sustentar seus irmãos mais
novos e a mãe doente. O irmão mais novo, de 14 anos, enlouqueceu quando viu o
que estava acontecendo e teve de ser mandado a um asilo. Quando, depois de anos, o pai retornou, sua
única oração era: "Deus, leva-me de volta à prisão. Não poderei suportar
ver isto". Sua oração foi respondida e está agora na prisão, pelo crime
de haver testemunhado de Cristo às crianças. Suas filhas não são mais
prostitutas. Receberam um trabalho da Polícia Secreta. Tornaram-se informantes.
Como filhas de um mártir cristão, são recebidas com honra em todas as casas.
Escutam e então relatam tudo quanto ouvem à Polícia Secreta.
O leitor não deve apenas
dizer que é uma história fria e imoral. Certamente que é, mas pergunte a si
mesmo se não é também seu, o pecado de tais tragédias ocorrerem — essas
famílias cristãs serem deixadas abandonadas, sem a sua ajuda, que é livre.
CAPÍTULO III
Passei um total de
catorze anos na prisão. Durante todo este tempo não vi a Bíblia ou qualquer
outro livro evangélico. Cheguei ao ponto de esquecer-me de escrever, e por
causa de grande fome, entorpecentes que me aplicavam e torturas, esqueci-me
também das Escrituras. Mas no dia em que havia completado catorze anos de
encarceramento, lembrei-me do versículo: "Jacó trabalhou por Raquel
catorze anos e isto lhe pareceu pouco tempo porque ele a amava.”.
Pouco depois, eu era
posto em liberdade, em conseqüência de uma anistia geral em todo o país, em
grande parte por influência da opinião pública norte-americana.
Outra vez encontrei-me
com minha esposa, que me havia esperado fielmente durante esses catorze anos.
Começamos uma vida nova,
em extrema pobreza, porque se alguém é preso tudo que possui é
confiscado.
Os padres ortodoxos e os
pastores que foram libertados podiam ficar com pequenas igrejas. Foi-me entregue
uma na cidade de Orsova. O Departamento de Cultos do Regime Comunista
advertiu-me que a minha Congregação era composta de trinta e cinco membros e
que esse número nunca poderia chegar a trinta e seis. Também me foi dito
que teria de ser agente do Departamento e relatar à Polícia Secreta a respeito
de todos os membros e manter todos os jovens fora da Igreja. Este é o meio pelo
quais as Igrejas são usadas como "instrumento" de controle dos comunistas.
Sabia que, se começasse
a pregar, muitos haveriam de vir ouvir, portanto nunca tentei principiar meu
trabalho na Igreja Oficial. Trabalhei outra vez na Igreja Subterrânea,
partilhando de todos os perigos e glórias desse trabalho.
Durante os anos que
passei na prisão Deus operou maravilhas.
A Igreja Subterrânea não estava mais abandonada e esquecida. Crentes americanos e outros haviam
começado a nos ajudar e a orar por nós.
Uma tarde quando
descansava um pouco em casa de um amigo crente em uma cidade provinciana, este
me acordou e disse: "Chegaram alguns irmãos de longe". No Ocidente
havia crentes que não nos haviam esquecido ou abandonado.
Alguns crentes (não
Incluindo pastores ou líderes) haviam organizado um serviço Secreto de ajuda às
famílias dos mártires cristãos, como também de contrabando de literatura
evangélica e de socorro.
Na outra sala encontrei
seis irmãos que haviam vindo para fazer este trabalho. Falaram muito comigo.
Depois de multo tempo disseram que tinham ouvido que naquele endereço havia um
homem que passara catorze anos na prisão, ao qual gostariam de conhecer. Então lhes
disse que eu era o homem a quem procuravam. Disseram: "Esperávamos ver
uma pessoa melancólica. Você não pode ser a pessoa que buscamos porque é cheio
de alegria". Assegurei-lhes ser o homem a quem buscavam e disse-lhes que
a alegria que viam em mim era por saber que haviam vindo e que não estávamos
mais esquecidos. Uma ajuda certa e contínua começou a vir para a Igreja
Subterrânea. Por canais secretos conseguimos muitas Bíblias e literatura
evangélica em geral, como também ajuda material para as famílias dos mártires
cristãos. Agora com a ajuda destes, nós, da Igreja Subterrânea, podíamos fazer
um trabalho bem melhor.
Não era apenas o fato de
nos trazerem a Palavra de Deus, mas também o de sabermos que éramos amados.
Eles nos trouxeram uma palavra de conforto.
Durante os anos de
lavagem cerebral ouvíamos com muita freqüência: "Ninguém mais os ama,
ninguém mais os ama, ninguém mais os ama". Agora víamos crentes, tanto
americanos como ingleses que arriscavam a vida para mostrar que nos amavam.
Aceitando nossos conselhos, desenvolveram técnicas do Serviço Secreto.
Penetravam em casas já cercadas pela Polícia “Secreta” A Polícia não sabia que
haviam entrado.
O valor dessas Bíblias
contrabandeadas por tais homens jamais pode ser entendido por pessoas livres,
americanos ou ingleses, que "nadam" em Bíblias!
Minha família e eu não
teríamos sobrevivido não fora a ajuda recebida dos crentes que oravam por nós.
O mesmo acontece com muitos pastores ou famílias de mártires da Igreja
Subterrânea nos países comunistas. Posso dar testemunho de minha própria
experiência a respeito da ajuda material e, mais ainda, da ajuda moral que nos
foi dada pela Missão Cristã Européia da Inglaterra. Para nós, seus homens
foram como que anjos enviados por Deus!
Por causa do
desenvolvimento do trabalho da Igreja Subterrânea, estive mais uma vez na
iminência de ser preso. Então, desta vez duas organizações — A Missão
Norueguesa para os Judeus e a Aliança Cristã Hebraica — pagaram um resgate de
2.500 libras por minha pessoa. Podia agora deixar a Romênia.
Por que
deixei a Romênia Comunista
Não a teria deixado —
apesar dos perigos — se os líderes da Igreja Subterrânea não me tivessem constrangido
a usar esta oportunidade de deixar o país, para ser a "voz" da Igreja
Subterrânea para o mundo livre. Eles desejavam que eu falasse em seu nome, a
vocês, do mundo ocidental a respeito de seus sofrimentos e necessidades. Vim
para o Ocidente; meu coração, porém, ficou com eles. Se não entendesse que
havia grande necessidade de vocês ouvirem a respeito dos sofrimentos e do
trabalho corajoso da Igreja Secreta, jamais teria deixado a Romênia. Esta é,
portanto, a minha missão.
Antes de deixar meu país
fui chamado duas vezes ã Policia Secreta. Disseram-me que haviam recebido o
dinheiro do meu resgate. (A Romênia vende seus cidadãos a dinheiro, por causa
da difícil crise financeira trazida para o nosso país pelo Comunismo). Disseram-me: "Vá para o Ocidente e
pregue Cristo tanto quanto queira, mas não nos moleste. Não diga nada contra
nós. Aqui está o nosso plano a seu respeito, se contar o que lhe aconteceu
durante estes anos: Em primeiro lugar, por apenas 500 libras podemos contratar
Um 'gangster' para liquidá-lo, ou poderemos raptá-lo". (Estive na mesma
cela com um bispo ortodoxo, Vasile Leul, que fora raptado na Áustria e trazido
para a Romênia. Todas as suas unhas lhe haviam sido arrancadas. Estive também
com outros raptados em Berlim. Recentemente romenos foram raptados em Paris e
na Itália). Disseram-me mais: "Podemos também destruí-lo moralmente,
espalhando uma estória sua com uma jovem, roubo ou algum outro pecado de sua
juventude. Os ocidentais — especialmente os americanos — deixam-se enganar
facilmente".
Depois de me haverem
ameaçado, permitiram-me vir para o Ocidente. Têm muita confiança no processo da
lavagem cerebral pelo qual passei. No Ocidente existem muitos que, como eu,
passaram por lavagem cerebral, os quais foram reduzidos ao silencio. Alguns
deles até mesmo louvam o Comunismo depois das torturas por que passaram. Os
comunistas estavam bem seguros de que eu também guardaria silencio.
Assim, em dezembro de
1965, eu e minha família deixamos a Romênia.
Meu último ato, antes de
partir, foi visitar o túmulo do coronel que me mandou prender e decretou os
meus anos de prisão. Coloquei uma flor sobre o seu túmulo. Fazendo isso,
dediquei-me a trazer as alegrias de Cristo, que tenho, para os comunistas, que
são tão vazios espiritualmente.
Odeio o sistema
comunista, mas amo os seus homens. Odeio o pecado, mas amo o pecador. Amo os
comunistas de todo o meu coração. Eles podem matar os crentes, mas o amor que
estes têm por aqueles que os matam, esse amor eles não destroem. Não tenho o
menor rancor aos comunistas, nem mesmo aos meus torturadores.
CAPITULO
IV
Os judeus têm uma lenda
interessante. Quando seus antepassados foram salvos do Egito e os egípcios se
afogaram no Mar Vermelho, os anjos, juntamente com eles, cantaram louvores. E
Deus disse aos anjos: "Os judeus podem alegrar-se por serem homens e
alegram-se por estar livres. Mas de vocês espero mais compreensão. Não sãos os
egípcios também minhas criaturas? Não os amo também Eu? Como então vocês se
negam a sentir como Eu o trágico destino deles?”.
"E estando Josué ao
pé de Jerico, levantou os olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um
homem que tinha na mão uma espada desembainhada. Chegou-se Josué a ele e lhe
disse: “És tu os nossos, ou dos nossos adversários”?”.
Se aquele que foi
encontrado por Josué fosse apenas homem só poderia ter dito "sou por
ti", ou "sou por teus inimigos", ou talvez "sou
neutro". São estas as únicas respostas que uma criatura humana pode dar a
tal pergunta. Entretanto o Ser com o qual Josué se encontrou era de outra
esfera e, por isso, quando indagado se era pró ou contra Israel, respondeu:
"Não". Que significava esse "Não"?
Ele proveio de outra
esfera onde os seres não são pró nem contra, mas onde cada um e tudo é bem entendido,
visto com piedade, compaixão e fervente amor.
Existe um nível humano.
Nesse nível, *o Comunismo deve ser combatido de modo total. Nesse nível temos
de lutar também contra os comunistas, em vista de patrocinarem esse sistema
seu, cruel e selvagem.
Os crentes, porém, são
mais do que meros homens; são filhos de Deus, participantes da Natureza Divina.
Por conseguinte, as
torturas sofridas nas prisões comunistas não me fizeram odiar os comunistas.
Eles também são criaturas de Deus. Como
poderia odiá-los?
Também não posso ser amigo
deles. Amizade significa duas almas interligadas. Eu não tenho minha alma interligada
com a dos comunistas. Eles detestam a idéia de Deus. Eu amo a Deus.
Se me fosse perguntado:
"Você é pró ou contra os comunistas?" Minha resposta seria complexa.
O Comunismo é o maior perigo para a humanidade. Sou diametralmente oposto a
ele e desejo combatê-lo até vê-lo derrotado. Mas, no espírito, estou nos
lugares celestiais com Cristo. Estou sentado na esfera do "Não", na
qual, apesar de todos os crimes dos comunistas, estes são entendidos e amados;
esfera na qual há seres angelicais tentando ajudar todos a atingir o alvo da
vida humana, que é imitar Cristo. Portanto, meu objetivo é espalhar o
Evangelho entre os comunistas, dando-lhes as boas novas de Vida Eterna.
Cristo, que é meu
Senhor, ama os comunistas. Ele próprio já afirmou que ama a todos os homens e
que preferiria deixar noventa e nove ovelhas justas a permitir que uma única
extraviada continuasse perdida. Seus Apóstolos e todos os grandes mestres do Cristianismo
nos ensinam este amor universal em Seu nome. São Macário disse: "Se um
homem ama a todos os demais com ardor, mas refere apenas um a quem não pode amar
tal homem não é mais um cristão, porque seu amor não é universal". Santo
Agostinho ensina: "Se toda a humanidade fora perfeita, mas apenas um
homem fora pecador, Cristo teria vindo sofrer na cruz por esse homem,
porquanto Ele ama cada pessoa individualmente". Os ensinamentos cristãos
são claros. Os comunistas são homens, e Cristo os ama. Da mesma maneira agem
todos quantos têm a mente de Cristo. Amamos ao pecador, apesar de odiarmos o
pecado.
Sabemos do amor de
Cristo para com os comunistas por intermédio do nosso amor para com eles.
Já vi nas prisões
comunistas crentes com 25 quilos de correntes presas aos seus pés, flagelados
com ferro em brasa, na garganta dos quais, várias colheres de sal eram
colocadas, sendo deixados depois sem água, com fome, recebendo chicotadas,
tiritantes, a orar com fervor pelos comunistas. Era isto humanamente inexplicável,
senão que o amor de Cristo fora derramado naqueles corações.
Depois de algum tempo,
os comunistas que nos haviam torturado eram presos por sua vez. Sob o Comunismo,
comunistas e até seus líderes são metidos na cadeia, quase que tão freqüentemente
quanto seus adversários. Era agora a vez de os torturadores estarem na mesma
cela dos torturados. E enquanto os reclusos não crentes mostravam ódio aos seus
ex-torturadores e os maldiziam, os presos crentes tomavam a si a defesa deles,
apesar de se arriscarem a ser espancados e acusados de cumplicidade com eles.
Já presenciei crentes dando sua última fatia de pão (tínhamos na ocasião uma
por semana) e o medicamento que poderia salvar suas vidas, a um torturador
comunista doente, que era agora um companheiro de cela!
As últimas palavras de
Iuliu Maniu, ex-Primeiro Ministro da Romênia, crente e que morreu na prisão,
foram: "Se os comunistas forem dominados em nosso país, a missão mais
sagrada de cada crente será ir às ruas, arriscando sua própria vida, para
defender os comunistas da fúria daqueles que com razão os buscam por haverem
sido tiranizados por eles".
Nos primeiros dias após
minha conversão, sentia que viver não me era mais possível. Andando pelas ruas
o coração se me confrangia, diante de cada homem ou mulher por quem passasse.
Era-me como se um punhal ferisse meu coração, tão pungente para mim era a
dúvida, se ele ou ela havia ou não sido salvo. Se um membro da Igreja pecava,
eu passava horas a chorar. O desejo de que todas as almas se salvassem estava
de contínuo em meu coração, e ainda hoje os comunistas não estão excluídos
dele.
Em prisão solitária não
podíamos orar como antes. Ficávamos inconcebivelmente famintos. Éramos
narco-tizados até nos tornarmos como idiotas.
Éramos tão fracos como esqueletos. A oração do Pai Nosso era muito longa
para que a pudéssemos recitar. Não podíamos nos concentrar o tempo bastante
para isso. Minha única oração, que repetia sempre, era: "Jesus, eu te amo!”.
Um dia glorioso, então,
recebi a resposta de Jesus: "Tu me amas? Agora te mostrarei como Eu te
amo". Imediatamente senti um calor no coração, como de raios solares. Os
discípulos a caminho de Emaús disseram que seus corações ardiam enquanto Jesus
lhes falava. O mesmo me aconteceu. Conheci o amor dAquele que Se deu na cruz
por todos nós. Tal amor não pode excluir os comunistas, entretanto agrava mais
os pecados deles.
Os comunistas têm
cometido horrores e ainda os cometem, porém "as muitas águas não poderiam
apagar o amor, nem os rios afogá-lo. O amor é forte como a morte, e duro como
a sepultura, o ciúme". Como a sepultura insiste em reclamar todos para si
— ricos e pobres jovens e velhos, homens de todas as raças, nações e
convicções políticas, santos e criminosos — assim o amor a todos abraça. Cristo,
o Amor Encarnado, jamais cessará de amar, até conquistar os comunistas também.
Um ministro foi jogado
em minha cela. Estava quase morto. O sangue escorria-lhe da face e do corpo.
Havia sido espancado horrivelmente. Nós o lavamos. Alguns prisioneiros amaldiçoavam
os comunistas. Gemendo, ele dizia: "Por favor, não os amaldiçoem!
Conservem-se calados! Desejo orar por eles!”.
Como
podíamos ter alegria, mesmo presos
Quando olho
retrospectivamente para os catorze anos que passei preso, recordo-me de que, algumas
vezes, tive momentos alegres. Outros prisioneiros e até os guardas muitas vezes
se espantavam de que os crentes, sob tão terríveis circunstâncias, pudessem ser
alegres. Não nos podiam impedir de cantar, apesar de sermos açoitados por isso.
Imagino que os rouxinóis também cantariam, embora soubessem que depois de
cantar poderiam ser mortos. Os crentes na prisão dançavam de alegria. Como
podiam ser alegres sob tão trágicas condições?
Muitas ocasiões, no
cárcere, meditava nas palavras de Jesus a Seus discípulos:
"Bem-aventurados os vossos olhos porque vêem" (Mat. 13:16). Os
discípulos tinham regressado de uma viagem pela Palestina, na qual haviam
visto horrores. A Palestina era um país oprimido. Por toda parte havia a
terrível miséria de um povo tiranizado. Os discípulos haviam encontrado fome,
pragas, doenças e infortúnios. Entraram em casas das quais patriotas tinham
sido levados presos, deixando atrás de si pais ou esposas a chorar. Não era um
mundo aprazível de se ver.
Entretanto Jesus disse:
"Benditos os olhos que vêem o que vós vedes". Fora assim porque não
tinham visto só sofrimento. Também viram o Salvador de todos, o Consumador do
bem-último, o alvo que a humanidade deve atingir. Pela primeira vez larvas
nojentas, lagartas que se arrastam sobre folhas entenderam que, depois desta
existência miserável, há uma vida de lindas borboletas multicores, capazes de
voar de flor em flor. Tal era a nossa alegria também!
Havia ao meu redor
homens como Jó, alguns muito mais aflitos que ele. Eu, porém, sabia o fim da
história de Jó: como recebeu em dobro tudo o que tivera antes... Tinha ao meu
redor outros, como Lázaro, famintos e cheios de feridas sem tratamento algum.
Mas eu sabia que os anjos os levariam ao seio de Abraão. Eu os via como seriam
no futuro. Via, no mártir moribundo, sujo e frágil perto de mim, o santo que
esplendidamente seria coroado logo mais.
Vendo, porém, os homens
desta maneira — não como eles eram, mas como seriam — também podia descobrir
nos perseguidores, como Saulo de Tarso, futuros Paulos. Alguns dos quais já
realmente se tornaram como Paulo. Oficiais da Polícia Secreta, diante dos quais
testemunhamos, tornaram-se crentes e se regozijaram posteriormente em sofrer
na prisão por terem encontrado nosso Cristo. Nos carcereiros que nos açoitavam,
viamos a possibilidade de serem outros tantos carcereiros de Filipos, como
aquele que, depois de açoitar São Paulo, converteu-se.
Sonhávamos que logo nos
perguntassem: "Que farei para ser salvo?" Naqueles que zombavam
quando os crentes eram colocados em cruzes, besuntados de fezes e urina, víamos
a turbamulta do Gólgota que, logo mais, batia nos peitos pelo temor de haver
cometido pecado.
Foi na prisão que
encontramos esperança de que os comunistas se salvariam. Foi lá que
desenvolvemos nosso senso de responsabilidade para com eles. As torturas que
nos infligiam ensinaram-nos a amá-los.
Grande parte dos meus
familiares foi assassinada. Foi em minha própria casa que o assassino deles
se converteu. Aquele foi, aliás, o lugar mais propício. Foi assim que, em
prisões comunistas, nasceu a idéia de uma Missão Cristã em favor deles.
Deus vê as coisas por um
prisma diferente do nosso, da mesma forma como vemos diferente do modo de ver
de uma formiga. Do ponto de vista humano, é de fato uma coisa horrível ser
amarrado a uma cruz e ter o corpo besuntado de fezes e urina. Entretanto a
Bíblia chama os sofrimentos dos Mártires de "leves aflições". Passar
catorze anos preso foi muito para mim. A Bíblia chama isto "um momento,
que nos traz um peso eterno de glória". O que nos dá o direito de supor
que os bárbaros crimes praticados pelos comunistas, que para nós são inescusáveis,
contra os quais temos com justiça de lutar ao máximo, são mais leves à vista de
Deus do que aos nossos olhos. A tirania deles, que já durou meio século, pode
ser para Deus, diante de Quem mil anos são como um dia, um momento apenas de
extravio. Eles ainda têm a possibilidade de serem salvos.
A Jerusalém Celestial é
mãe e tem o amor de mãe.
Os portões celestiais
não estão fechados para os comunistas. Podem arrepender-se, como quaisquer
outras pessoas. Devemos chamá-los ao
arrependimento.
Só o amor poderá
modificar os comunistas (amor que tem de ser claramente diferente de
complacência com o Comunismo, praticada por tantos líderes eclesiásticos). O
ódio cega. Hitler era anticomunista, mas odiava. Por isso, em lugar de
vencê-los, ajudou-os a conquistar um terço do mundo.
Com amor, planejamos
quando na prisão um trabalho missionário entre os comunistas.
Primeiramente pensamos
nos dirigentes comunistas.
Alguns diretores de
Missões parece que estudaram muito pouca História Eclesiástica. Como foi a
Noruega conquistada para Cristo? Conquistando-se o Rei Olaf. A Rússia a
princípio teve o Evangelho quando seu rei Vladimir foi ganho. A Hungria foi
conquistada ganhando-se Santo Estevão, seu rei. O mesmo aconteceu com a
Polônia. Na África, aconteceu que o chefe da tribo foi ganho para Cristo, toda
a tribo o seguiu. Nós organizamos Missões para pessoas comuns, da plebe, que
podem tornar-se muito bons crentes, mas que não têm influência para modificar
o estado de coisas.
Temos de conquistar
dirigentes: personalidades políticas, econômicas, cientistas, artistas. São
eles os engenheiros de almas. Ganhando-os, se ganha o povo que dirigem, e
sobre o qual têm influência.
Do ponto de vista
missionário, o Comunismo tem uma vantagem que não é encontrada em outros sistemas
sociais. É mais centralizado.
Se o Presidente dos
Estados Unidos se convertesse ao Mormonismo, só por este fato a América não se
tornaria mórmon. Mas se Mao Tsé-Tung se convertesse ao Cristianismo — ou
Breshnev ou Ceaushescu — seus países inteiros poderiam ser conquistados. Tão
grande é o impacto da influência dos Líderes.
Mas, pode um líder
comunista converter-se? Certamente, pois é tão inseguro e infeliz quanto suas
vítimas. Quase todos os líderes comunistas da Rússia ou foram colocados em
prisão, ou executados por seus próprios camaradas. O mesmo aconteceu na China.
Até Ministros do
Interior como Iagoda, Iejov e Béria, que pareciam ter todo o poder nas mãos,
findaram como os mais reles contra-revolucionários. Uma bala na cabeça e
acabaram-se. Recentemente, Shepelin, Ministro do Interior da União Soviética, e
Rankovic, Ministro do Interior da Iugoslávia, foram jogados fora como trapos
imundos.
Como
podemos atacar o Comunismo espiritualmente
O sistema
comunista não torna ninguém satisfeito, nem mesmo os que dele se aproveitam.
Até estes tremem ante a possibilidade de alguma noite ser levados pela
camioneta da Polícia Secreta, porque a liderança do Partido mudou.
Conheci muitos líderes
comunistas pessoalmente. São homens oprimidos; só Jesus pode dar-lhes paz.
Ganhar os líderes
comunistas para Cristo pode significar salvar o mundo de uma destruição
nuclear, ou salvar a humanidade da fome, devido ao fato de presentemente
grande parte de sua receita ser aplicada na aquisição de armamentos custosos.
Ganhar os líderes comunistas pode significar o fim da tensão internacional.
Ganhar os líderes comunistas pode significar encher de alegria, a Cristo e a
seus anjos. Pode significar a vitória da Igreja. Em todas as áreas onde os
Missionários trabalham com tanta dificuldade, como Nova Guiné, ou Madagascar,
tudo se tornaria mais fácil, se apenas os líderes comunistas fossem
conquistados, porque isto daria ao Cristianismo um impulso totalmente novo.
Conheci pessoalmente
muitos líderes comunistas convertidos. Eu mesmo, quando jovem, fui ateu militante.
Ateus e comunistas convertidos amam muito a Cristo, porque pecaram muito.
Os
ídolos comunistas. Grandes quadros dos lideres do Partido Comunista expostos em
frente desta igreja de Riga, convertida em Hall de Concertos.
É necessário estratégia
no trabalho missionário. Do ponto de vista da salvação todos são iguais; do
ponto de vista da estratégia missionária, nem todos são iguais. É mais
importante ganhar um homem de grande influencia que poderá levar depois
milhares ao conhecimento do Evangelho, do que falar a um silvícola,
assegurando, para ele só, a salvação. Por esta razão Jesus não escolheu um
lugar obscuro onde encerrar Seu ministério, e sim Jerusalém, o centro
espiritual do mundo. Por esta mesma razão Paulo fez tanto esforço por estar em
Roma.
A Bíblia afirma: "A
semente da mulher esmagará a cabeça da serpente". Mas nós fazemos cócegas
na barriga da serpente, provocando-lhe risadas. Sua cabeça encontra-se em
alguma parte, entre Moscou e Pequim, não em Madagascar ou na Tunísia. O mundo
comunista deve ser o mais visado pelos líderes da Igreja e diretores de
Missões, bem como por todo crente sensato.
Devemos renunciar os
trabalhos de rotina. Está escrito: "Maldito aquele que fizer o trabalho do
Senhor relaxadamente". Um ataque frontal aos comunistas, pela Igreja, é
necessário.
As guerras só podem ser
vencidas pela ofensiva, e nunca por estratégias de defesa. Com relação ao Comunismo,
a Igreja até o presente não saiu da defensiva, perdendo um país após outro para
ele.
Isto tem de ser
modificado imediatamente em toda a Igreja. Um Salmo afirma que Deus despedaça
as barras de ferro. A Cortina de Ferro
é coisa diminuta para Ele.
A Igreja Primitiva
trabalhou às ocultas e ilegalmente, porém triunfou. Devemos mais uma vez
aprender a trabalhar desta maneira.
Até que chegasse o
Comunismo, nunca entendi por que tantas pessoas do Novo Testamento eram chamadas
por sobrenomes: Simão, chamado Niger, João, chamado Marcos, e outros. Usamos
nomes secretos em nosso trabalho, hoje, nos países comunistas.
Nunca entendi antes por
que Jesus, quando mandou preparar a última Ceia, não deu um endereço, mas declarou:
"Ide à cidade e vos sairá ao encontro um homem trazendo um cântaro de
água". Agora entendo. Também damos senhas, sinais convencionais de reconhecimento
na Igreja Subterrânea. .
Se concordarmos em agir
da mesma forma — voltando aos métodos do Cristianismo Primitivo — poderemos
trabalhar eficientemente para Cristo nos países comunistas.
Mas quando me encontrei
com os líderes da Igreja do Ocidente, em lugar de encontrar amor para com os
comunistas, o que teria encaminhado a formação de uma Missão para os países
dominados por eles, deparei-me com uma orientação favorável ao Comunismo. Não
encontrei a compaixão do Bom Samaritano para com as almas perdidas da casa de
Karl Marx.
Um homem crê realmente,
não no que recita no seu credo, mas naquilo em favor do que está pronto para
morrer.
Os crentes da Igreja
Subterrânea têm provado que estão prontos a morrer pela fé que professam. Agora
mesmo estou envolvido em um trabalho que poderá significar o meu
reencarceramento em país comunista, novas torturas e morte, porque dirijo uma
Missão Secreta, trabalhando atrás da Cortina de Ferro e assumindo todos os
riscos. Creio nas coisas que escrevo.
Tenho o direito de
perguntar: Os líderes eclesiásticos da América, que fazem amigos à custa do Comunismo,
estariam prontos a morrer por esta sua fé? Quem os impede de deixar os altos
postos que ocupam no Ocidente, para vir a ser pastores oficiais no Oriente,
cooperando ali — in loco — com os comunistas? A prova de tal fé não foi
dada ainda por nenhum líder da Igreja Ocidental.
As palavras do homem
nasceram de sua necessidade de entender-se com os companheiros nas pescarias,
caçadas, e depois na produção comum das coisas necessárias à vida, e da
necessidade de expressarem seus sentimentos entre si. Entretanto, não existem
palavras humanas que possam expressar de maneira adequada os mistérios de Deus
e as sublimidades da vida espiritual.
Igualmente não existem
palavras que possam expressar as profundezas de uma crueldade diabólica. Poderá
alguém expressar em palavras o sofrimento que alguém sentia quando estava
prestes a ser lançado numa fornalha pelos nazistas, ou quando via um filho seu
nela ser atirado? De igual modo é impossível tentar descrever os sofrimentos
que os crentes já suportaram e ainda hoje enfrentam nos países comunistas.
Estive na prisão com
Lucretiu Patrascanu, o homem que promoveu o estabelecimento do Comunismo na Romênia.
Seus camaradas recompensaram-no colocando-o na prisão. Apesar de ser um homem
mentalmente sadio, colocaram-no em um hospital de loucos, até que terminou
enlouquecendo também. Fizeram o mesmo com Anna Pauker, ex-secretária de Estado.
Os crentes muitas vezes também recebem esse tipo de tratamento. São submetidos
a choques elétricos, vestem camisa de força.
O mundo está horrorizado
com o que está acontecendo nas ruas chinesas. A vista de todos, os guardas
vermelhos exercem terror. Agora, tentem imaginar o que não acontece a um crente
em uma prisão chinesa, onde ninguém os está presenciando!
A última notícia que
tivemos é que um escritor evangélico chinês de renome e outros crentes, os
quais se recusaram a negar sua fé, tiveram suas orelhas, línguas e pernas
cortadas.
Entretanto, o que os
comunistas fazem de pior não são as torturas e os assassínios. Falsificam
completamente a mente das pessoas e envenenam a mocidade e as crianças.
Colocam seus homens em posição de liderança nas Igrejas para dirigir os
crentes e destruir as mesmas Igrejas. Ensinam a juventude não apenas a descrer
de Deus e de Cristo, como até mesmo a odiar estes nomes.
Com que palavras
poderíamos expressar a tragédia em que se envolve um mártir cristão que,
voltando ao seu lar depois de anos de prisão, é escarnecido pelos seus próprios
filhos, os quais durante aquele tempo de sua ausência se tornaram ateus
militantes?
Este livro
está sendo escrito não tanto com tinta mas com o sangue de corações que sangram
Como nos tempos de
Daniel os três jovens que foram colocados na fornalha depois que de lá saíram não
cheiravam a fogo, da mesma maneira os crentes que estiveram em prisões de
comunistas não têm qualquer ressentimento contra eles.
Uma flor, que o leitor
esmague sob os pés, recompensa-lhe dando seu perfume. De igual medo os crentes
torturados pelos comunistas, recompensam-nos com amor. Levamos muitos dos
nossos carcereiros a Cristo. E estamos dominados por um só desejo: dar aos comunistas,
que nos fizeram sofrer, o melhor que temos, a Salvação que vem do nosso Senhor
Jesus Cristo.
Não tive o privilégio,
que muitos dos meus irmãos na fé tiveram, de morrer mártir' na prisão. Fui
libertado e até pude sair da Romênia para o Ocidente.
No Ocidente encontrei
muitos líderes eclesiásticos de sentimento totalmente contrário àquele
existente e predominante na Igreja Subterrânea, tanto por trás da Cortina de
Ferro, como da de Bambu. Muitos crentes ocidentais não têm amor pelos
comunistas. Prova disto é que não se interessam pela salvação dos que se encontram
naqueles países. Têm missões para evangelizar judeus, muçulmanos e budistas,
porém não têm missões para os comunistas! Não os amam, do contrário
teriam, há muito tempo criado tal missão, como Carey, por amor aos indianos, e
Hudson Taylor, por amor aos chineses, criaram missões para eles.
Não é bastante, porém,
que não amem os comunistas e nada façam por conquistá-los para Cristo. Por sua
complacência e negligência, e às vezes acumpliciando-se de fato com os
comunistas, alguns líderes da Igreja Ocidental incentivam a incredulidade
deles. Ajudam-nos a introduzir-se nas igrejas ocidentais e a assumir liderança
nelas e no mundo. Deixam os crentes despercebidos dos perigos do Comunismo.
Não amando aos
comunistas e nada fazendo por conquistá-los para Cristo (sob o pretexto de que
não lhes é permitido fazê-lo, como se os primeiros cristãos pedissem permissão
a Nero para divulgar o Evangelho), eles também não amam a seus próprios
rebanhos. Porque se nós não conquistarmos os comunistas para Cristo, eles
conquistarão o Ocidente e, também aqui, desarraigarão o Cristianismo.
As lições da História
são ignoradas
Nos primeiros séculos
houve uma Igreja florescente no norte da África. De lá procederam Santo
Agostinho, São Cipriano, Santo Atanásio e Tertuliano. Os crentes de lá apenas
negligenciaram uma coisa: conquistar os maometanos para Cristo. O resultado foi
que os maometanos invadiram o norte da África e de lá extirparam, durante
séculos, o Cristianismo. A África do Norte ainda hoje pertence aos maometanos,
que são considerados, pela missão evangélica, como "bloco dos
Inconversíveis".
Aprendamos essa lição da
História.
Na época da Reforma, os
interesses religiosos de Huss, Lutero e Calvino coincidiram com os interesses
dos povos da Europa, os quais ansiavam verem-se livres do jugo papal que. na
época, representava opressão política e poder econômico. De igual modo hoje, o
interesse da Igreja Subterrânea em divulgar o Evangelho entre os comunistas e
suas vítimas coincide com o vital interesse de todos os povos livres por
continuarem livres.
Não há poder político
que possa derrubar o Comunismo. Os
comunistas têm armas nucleares, atacá-los militarmente significaria o começo de
uma outra Guerra Mundial, com centenas de milhares de vítimas. Também muitos
líderes ocidentais receberam lavagem cerebral e nem mesmo desejam derrubar o
sistema comunista Dizem isso freqüentemente. Desejam que a toxicomania, o
banditismo, o câncer e a tuberculose desapareçam, mas o Comunismo não, embora
este já tenha matado muito mais gente do que todas essas doenças juntas.
Hya Ehrenburg, escritora
soviética, diz que se Stalin durante toda a sua vida não tivesse feito outra
coisa senão escrever os nomes de suas vítimas inocentes, sua vida teria sido
curta para concluir essa tarefa. Kruschev afirmou no XX Congresso do Partido
Comunista: "Stalin liquidou com milhares de comunistas honestos e inocentes...
Dos cento e trinta e nove membros e candidatos do Comitê Central, que haviam
sido escolhidos no XVII Congresso, noventa e oito, isto é, setenta por cento,
foram mais tarde presos e fuzilados".
Agora imaginem o que ele
fez aos crentes!
Kruschev renegou a
Stalin, mas continuou a fazer as mesmas coisas. De 1959 para cá, metade das
Igrejas da União Soviética, que ainda estavam abertas, estão hoje fechadas.
Na China existe uma nova
onda de barbarismo, pior que a do período stalinista. O trabalho franco, desimpedido
das Igrejas cessou completamente. Na Rússia e na Romênia há uma onda de novos
encarceramentos. (Acabamos de receber Informação de que na Rússia está havendo
encarceramento em massa dos crentes).
Com terror e falsidade,
em países com um bilhão de habitantes, toda a nova geração é criada com ódio
por tudo quanto é ocidental, especialmente para com o Cristianismo.
Não é fora do comum
ver-se um guarda vermelho parado em frente de Igrejas, atento a crianças E aquelas
que são encontradas querendo dirigir-se a elas levam palmadas e são mandadas
embora. Os futuros destruidores do
Cristianismo ocidental são cuidadosa e sistematicamente preparados para essa
obra.
Existe apenas uma força
que pode derrubar o Comunismo. É a mesma que fez com que os Estados Cristãos
tomassem o lugar do Império Romano pagão, força que transformou em cristãos os
selvagens teutões e os "Vikings", e que desbancou a sangrenta
Inquisição. Esta força é o poder do Evangelho, representado pela Igreja
Subterrânea existente em todos os países comunistas.
Sustentar essa Igreja e
ajudá-la não é apenas uma questão de identificação com os irmãos que sofrem.
Não significa vida ou morte para o país da pessoa que está lendo estas páginas
e para suas Igrejas. Sustentar essa Igreja não é apenas do interesse dos
cristãos livres, mas deveria também ser a política de todos os governos livres.
"O
Invertido Evangelho" de Marx. Nos
lugares da cruz, as antenas, de televisão. Na igreja, ao invés do Evangelho do
amor de Deus, a divulgação do ateismo marxista!
A Igreja Subterrânea já
tem conquistado vários líderes comunistas para Cristo. Gheorghiu Dej, primeiro
Ministro da Romênia, morreu crente, depois de confessar seus pecados e
modificar sua vida pecaminosa. Nos países comunistas existem membros do governo
que são crentes às ocultas. Isto pode propagar-se. Então poderemos esperar
grande modificação na política de alguns governos comunistas — não modificações
como aquelas de Tito e Gomulka, depois das quais o mesmo sistema ditatorial de
um partido ateu e cruel continuaram — mas uma modificação em favor do
Cristianismo e da liberdade.
Oportunidades
excepcionais existem, presentemente, para tanto.
Os comunistas, que
muitas vezes são tão sinceros em suas crenças quanto os cristãos na sua, estão
passando por grande crise.
Haviam crido que o
Comunismo fomentaria uma irmandade das nações. Agora, porém, vêem que as nações
comunistas brigam, umas com as outras, como cães.
Haviam realmente crido
que o Comunismo implantaria no mundo um paraíso terrestre, oposto ao que
consideram ilusório, o paraíso celestial. E agora estão passando fome. Trigo
tem de ser importado de países capitalistas.
Os comunistas creram em
seus líderes. Agora lêem nos seus próprios jornais que Stalin assassinou gente
em massa e Kruschev foi um idiota. O mesmo acontece com seus heróis nacionais,
como Rakosi, Gero, Anna Pauker, Rankovici e tantos outros. Os comunistas não
mais crêem na infalibilidade de seus líderes. São como os católicos que não
mais crêem no Papa!
Existe um vazio no
coração dos comunistas, que só poderá ser preenchido por Cristo. O coração
humano, por sua própria natureza, busca a Deus. Existe um vácuo espiritual em
cada pessoa, enquanto não é preenchido por Cristo. Isto é também verdade com
relação aos comunistas. No Evangelho existe uma força de amor que pode também
apelar para eles. Já vi isto acontecer.
Sei que pode ser realizado.
Cristãos —
ridicularizados e torturados pelos comunistas — já esqueceram e perdoaram o
que lhes foi feito pessoalmente e a seus familiares. Fazem o possível para
ajudá-los a vencer a crise e encontrar o caminho para Cristo. Para este trabalho necessitam de nossa
ajuda.
E não apenas isto. O
amor cristão é sempre universal. Com
os cristãos não há parcialidade.
Jesus afirmou que o sol,
criação de Deus, nasce para todos, bons e maus. O mesmo se diga do amor cristão.
Os líderes evangélicos
do Ocidente, que mostram amizade para com os comunistas, justificam essa atitude
com o ensinamento de Cristo, de que devemos amar aos nossos inimigos. Jesus,
porém, nunca afirmou que devíamos amar somente aos nossos inimigos, esquecendo
os nossos irmãos.
Esses líderes mostram
seu amor comendo e bebendo com aqueles
cujas mãos estão
manchadas do sangue dos cristãos martirizados, em lugar de
lhes apresentarem as boas novas de Cristo. E aqueles que são oprimidos pelos
comunistas são esquecidos. Não são
amados.
As Igrejas Evangélicas e
Católicas da Alemanha Ocidental deram nos últimos sete anos mais de 125 milhões
de dólares para os necessitados. Os crentes americanos dão ainda mais.
Existem muitas pessoas
famintas, mas não posso imaginar pessoas mais famintas do que os mártires
cristãos, ou que mais façam jus à ajuda dos cristãos livres. Se as Igrejas da Alemanha,
da Inglaterra, da América e dos países escandinavos levantam tanto dinheiro
para ajudar, essa ajuda deve visar a todos os necessitados, mas
primeiramente os mártires cristãos e suas famílias.
Será que isto acontece
presentemente?
Fui resgatado por
organizações evangélicas, o que prova que cristãos podem ser resgatados.
Entretanto sou o único caso de pessoa resgatada no meu país por evangélicos. O
fato de meu resgate vem acusar as organizações cristãs do Ocidente de
negligenciarem o cumprimento de seu dever em outros casos.
Os primeiros cristãos
perguntaram a si mesmos se a nova Igreja era apenas para os judeus e não
para os gentios também. A pergunta recebeu a resposta correta. De uma outra
forma o problema reapareceu no Século XX. O Cristianismo não é apenas para o
Ocidente. Cristo não pertence apenas à América, à Inglaterra e a outros países
democráticos. Quando Ele foi crucificado, uma de Suas mãos apontava para o
Ocidente e a outra para o Oriente. Ele deseja ser o Rei não apenas dos
judeus, mas também dos gentios, Rei dos comunistas por igual, e não apenas dos
ocidentais. Jesus disse: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho
a toda criatura".
Ele derramou o Seu
sangue por todos, e todos devem ouvir e crer no Evangelho.
O que nos dá mais ânimo
de continuar a pregar o Evangelho nós países comunistas é que lá. aqueles que
se tornam crentes são cheios de amor e zelo. Nunca encontrei um só crente russo
que não fosse fervoroso. Jovens ex-comunistas podem tornar-se excelentes discípulos
de Cristo.
Cristo ama aos
comunistas e deseja libertá-los do Comunismo, como ama a todos os pecadores e
deseja libertá-los do pecado. Alguns líderes eclesiásticos do Ocidente assumem,
em vez da atitude correta, uma outra: condescendem com o Comunismo. Favorecem o
pecado, auxiliam o Comunismo a triunfar e prejudicam, com isto, a salvação dos
comunistas como de suas vítimas.
O que
encontrei quando saí da prisão
Quando libertado da
prisão, outra vez com minha esposa, ela me perguntou quais seriam os meus
planos para o futuro. Respondi: "O ideal que tenho diante de mim é uma
vida de reclusão espiritual". Ao que ela me retrucou haver tido o mesmo
pensamento.
Havia sido multo
dinâmico em minha mocidade. A prisão, porém, e especialmente os anos de
confinamento em solidão haviam-me tornado um homem meditativo e contemplativo.
Todas as tempestades do meu coração haviam-se acalmado. Não me importava mais
com o Comunismo, nem mesmo o notava. Era como se estivesse sendo abraçado pelo
Noivo Celestial. Orava por aqueles que nos haviam atormentado e podia amá-los
de todo o meu coração.
Eu tivera muito pouca
esperança de que algum dia pudesse ser libertado. Quando, porém, me ocorria pensar
no que faria, caso fosse libertado, sempre admitia a idéia de retirar-me para
alguma parte, em lugar ermo, e a continuar a vida de agradável união com o
Noivo Celestial.
Deus é "a
Verdade". A Bíblia é a
"verdade sobre a Verdade".
Teologia é a "verdade sobre a verdade acerca da Verdade".
Fundamentalismo é a "verdade sobre a verdade acerca da verdade sobre a
Verdade". E o povo crente vive destas muitas verdades sobre a Verdade, e
por causa disto não tem "a Verdade". Famintos, espancados e
narcotizados havíamos esquecido a Teologia e a Bíblia. Havíamos esquecido as
"verdades sobre a Verdade". Desta maneira vivíamos apenas da
"VERDADE". Está escrito: "O Filho do Homem virá na hora em que
não pensais e no dia em que não sabeis". Não podíamos mais pensar. Nas
horas mais escuras de tormentos o Filho do Homem vinha a nós, fazendo as
paredes da prisão brilhar como diamantes e enchendo as celas de esplendor. Em
algum lugar, bem distante, estavam os torturados, abaixo de nós, na esfera do
corpo. Os espírito, porém, regozijava-se no Senhor. Não trocaríamos estas
alegrias pelos prazeres dos palácios reais.
Lutar contra alguém ou
alguma coisa? Nada estava mais longe da minha mente do que isso. Não desejava
fazer guerra, mesmo que fosse justa. Preferiria antes construir Templos vivos
para Cristo. Foi com a esperança de futuros anos de sossego e contemplação que
deixei o cárcere.
No mesmo dia, porém,
depois de libertado, deparei-me com aspectos do Comunismo mais horrendos do que
todas as torturas da prisão. Um após outro encontrei-me com eminentes pastores
e pregadores de várias denominações e mesmo bispos, os quais simplesmente
confessaram, com grande tristeza, que eram informantes da Polícia Secreta, em
prejuízo do próprio rebanho deles. Perguntei-lhes se estavam preparados para
deixar de ser informantes, mesmo com o risco de serem presos. Todos responderam
"Não" e explicaram que não era temor por suas próprias pessoas que os
impedia. Contaram-me novos acontecimentos nas Igrejas, coisas que não existiam
mesmo antes do meu aprisionamento — que recusar ser informantes poderia
significar o fechamento de uma Igreja.
Em todas as cidades
existe um representante do encarregado do Governo para a fiscalização dos
"Cultos". Ê um homem da Polícia Secreta. Tem o direito de intimar qualquer padre ou
pastor, sempre que entender, para que lhe diga quem tem estado na Igreja, quem
comunga freqüentemente, quem é zeloso por sua religião, quem é evangelista
pessoal, o que o povo crê e etc. Quem não responde é demitido, e outro
"ministro" é posto em seu lugar, que preste melhores informações.
Quando o representante do Governo não descobre substituto que sirva (o que
quase sempre acontece), fecha a Igreja.
Muitos ministros deram
informações à Polícia Secreta com a diferença de que alguns o fizeram com
relutância, tentando ocultar certas coisas, enquanto outros criaram o hábito de
informar, ficando de consciência endurecida. Outros ainda adquiriram paixão
por isto e contavam mais do que lhes era solicitado.
Ouvi confissões de
filhos de mártires crentes, que tinham sido obrigados a dar informações sobre
as famílias nas quais haviam sido recebidos bondosamente. De outra, maneira
eram ameaçados de não poderem continuar seus estudos.
Fui a um Congresso
Batista, realizado sob a égide da bandeira vermelha. Os comunistas é que
resolveram quais seriam os seus líderes a serem "eleitos".
Sabia que agora, na
direção de todas as Igrejas Oficiais, haveria homens nomeados pelo Partido Comunista.
Então entendi que estava presenciando a abominação da desolação no Lugar Santo,
a respeito da qual Jesus falou.
Sempre tem havido bons e
maus pastores e pregadores. Agora, porém, pela primeira vez na história da
Igreja, o Comitê Central de um reconhecido partido ateu, que tem como propósito
declarado extirpar a Religião, é quem decide quem é que vai liderar a Igreja.
Liderá-la com que propósito? Certamente com o fim de ajudar na extirpação da
Religião.
Lenine escreveu:
"Toda idéia de religião, toda idéia de Deus, mesmo só o namoro com a idéia
de Deus é uma inexprimível vileza,
da mais perigosa
espécie e contágio da mais
abominável forma. Milhões de pecados, ações imundas, atos de violência e
contaminação física são muito menos perigosos do que a sutil idéia espiritual
de um Deus".
Os Partidos Comunistas
de toda a área soviética são leninistas; para estes, religião é pior do que
câncer, tuberculose ou sífilis. E eles decidem quem devem ser os líderes
religiosos. Com eles, os líderes da Igreja Oficial cooperam, mais ou menos
transigindo.
Tenho visto o
envenenamento de crianças e jovens com o ateísmo, e as Igrejas Oficiais sem
terem a mais leve possibilidade de neutralizá-lo. Em nenhuma Igreja de nossa
capital, Bucareste, se pode encontrar uma reunião de mocidade ou Escola
Dominical para crianças. Os filhos dos crentes são educados na escola do ódio.
Vendo tudo isso, odiei o
Comunismo como não o havia odiado sob suas torturas.
Odiei-o não por causa do
que me fizera, mas por causa do mal que faz à Glória de Deus, ao nome de Jesus
Cristo e às almas de um bilhão de homens sob seu domínio.
Camponeses vieram de
todo o país para ver-me e disseram-me como estava sendo conduzida a coletivização.
Agora eram escravos famintos nas fazendas e vinhedos que antes lhes
pertenceram. Não tinham pão. Seus filhos não tinham leite nem frutas, quando este
país dispõe de riquezas naturais que se igualam às da Canaã antiga.
Irmãos confessaram-me
que o regime comunista tinha feito de todos eles ladrões e mentirosos. Por
causa da fome tinham de roubar daquilo que fora seu próprio campo, porém que
agora pertencia à coletividade. Tinham então de mentir para encobrir seus
furtos. Operários falaram-me a respeito do terror nas fábricas e sobre a
exploração da mão-de-obra, de um modo como os capitalistas nunca sonharam. Os
operários não têm direito de greve.
Intelectuais tinham de
ensinar, contra suas convicções íntimas, que não há Deus.
Toda a vida e pensamento
de um terço do mundo têm sido destruídos ou falsificados.
Mocinhas vieram
queixar-se de que tinham sido chamadas à Organização dos Jovens Comunistas e que
ali foram censuradas e ameaçadas por terem beijado um rapaz crente; e o nome de
outro lhes foi dado, a quem poderiam beijar.
Tudo era profundamente
falso e feio. Foi quando encontrei os lutadores da Igreja Subterrânea — meus
velhos companheiros, alguns dos quais não haviam sido apanhados e outros que
retomaram a luta depois de terem sido libertados da prisão. Convidaram-me a continuar
a luta com eles. Assisti a suas reuniões secretas, nas quais cantavam
utilizando hinários escritos a mão.
Lembrei-me de Santo
Antônio, o Grande. Passou trinta anos no deserto. Tinha abandonado completamente
o mundo, passando a viver em jejum e oração. Quando, porém, ouviu a respeito da
luta travada entre Santo Atanásio e Ario em torno da divindade de Cristo,
deixou a vida contemplativa e foi a Alexandria ajudar a verdade a triunfar.
Lembrei-me de São Bernardo de Clairvaux. Era também um monge, que vivia no alto
das montanhas. Tendo porém ouvido a respeito da insensatez das Cruzadas, em
que cristãos matavam árabes e judeus e irmãos na fé, pertencentes a outra
confissão, a fim de conquistarem um túmulo vazio, deixou seu mosteiro e desceu
daquelas alturas para pregar contra as Cruzadas.
Resolvi fazer o que
todos os cristãos devem fazer: Seguir os exemplos de Cristo, do Apóstolo Paulo,
dos grandes santos, renunciar ao pensamento de se afastarem e empenhar-se na
luta.
Que luta seria?
Os crentes em prisão
sempre têm orado por seus inimigos e lhes têm dado belo testemunho. O desejo de
nossos corações era
que eles fossem
salvos e nos regozijávamos todas as vezes que isto
acontecia.
Eu odiava, porém, o mau
sistema comunista e desejava fortalecer a Igreja Subterrânea, a ÚNICA FORÇA
QUE PODE DESBANCAR ESSA TREMENDA TIRANIA, PELO PODER DO EVANGELHO.
Não pensava apenas na Romênia,
mas em todo o mundo comunista.
Achei, entretanto, muito
desinteresse por estes fatos no Ocidente.
Escritores ao redor do
mundo protestaram quando dois escritores comunistas — Siniavski e Daniel — foram
sentenciados à prisão por seus próprios camaradas, porém nem mesmo Igrejas
protestam quando crentes são encarcerados por causa de sua fé.
Quem se preocupa com o
Irmão Kuzyck, sentenciado por cometer o crime de distribuir o
"veneno" de publicações cristãs, tais como os livros devocionais de
Tor-rey e porções bíblicas? Quem sabe a respeito do Irmão Prokofiev, condenado
por haver distribuído sermões escritos? Quem sabe a respeito do judeu cristão
Grun-vald, condenado por iguais ofensas na Rússia e de quem os comunistas
arrebataram para sempre o seu filhinho? Eu sei o que senti quando fui afastado
do meu Mihai. Sofro com o Irmão Grunvald, Ivanenko, Graany Shev-chuk, Taisya
Tkachenko, Ekaterina Vekasina, Georgi Vekasin e o casal Pilat, na Látvia, e
assim por diante, nomes de santos e heróis da fé do Século XX. Inclino-me para
beijar suas algemas; como os primeiros cristãos beijaram as dos seus
companheiros quando eram conduzidos para serem lançados às feras bravias.
Alguns líderes da Igreja
Ocidental não se importam com eles. Os nomes dos mártires não estão em suas
listas de oração. Enquanto estavam sendo condenados e torturados, os líderes
batistas russos e ortodoxos da Igreja Oficial, que os haviam denunciado e
traído, eram recebidos com muita honra em Nova Delhi, em Genebra e em outras
conferências. Assim garantiram a todo o mundo que na Rússia existe ampla
liberdade religiosa.
Um líder do Concilio
Mundial de Igrejas beijou o bolchevista Arcebispo Nikodim quando este garantiu
isso. Então se banquetearam sob o majestoso nome do Concilio, enquanto os
santos na prisão comiam repolho com tripas não lavadas, como eu havia comido,
em nome de Jesus Cristo.
As coisas não podem
permanecer como estão. A Igreja Subterrânea resolveu que eu deixasse o país, se
tivesse possibilidade, e informasse aos crentes ocidentais o que está
acontecendo. Decidi denunciar o Comunismo, embora ame os comunistas. Não acho
certo pregar o Evangelho sem denunciar o Comunismo.
Alguns dizem-me:
"Pregue somente o Evangelho!" Isto me faz lembrar que a Polícia
Secreta comunista também me disse que pregasse a Cristo sem falar no Comunismo.
Será que aqueles que são pelo chamado "Evangelho Puro" são inspirados
pelo mesmo espírito dos que pertencem à Polícia Secreta Comunista?
Não sei o que seja o
chamado "Evangelho Puro". Seria pura a pregação de João Batista? Não
somente disse: "Arrependei-vos porque o reino de Deus está perto",
como também disse: "Tu, Herodes, és mau". Foi decapitado porque não
se restringiu ao ensino abstrato. Jesus não pregou apenas o "Puro"
Sermão da Montanha, porém o que alguns líderes da Igreja atual chamariam de
sermão negativo. "Ai de vós escribas e fariseus hipócritas... Raça de
víboras!" Foi por causa de tal pregação "impura" que Ele foi
crucificado. Os fariseus não se teriam incomodado com o Sermão da Montanha.
O pecado deve ser
chamado pelo seu próprio nome. O Comunismo é o pecado mais perigoso do mundo moderno.
Todo Evangelho que não o denuncia, não é o puro Evangelho. A Igreja Subterrânea
denuncia-o com o risco de sua liberdade e sua vida. Muito menos temos nós de silenciar
no Ocidente.
Estou decidido a
denunciar o Comunismo não no sentido
em que o
fazem aqueles que
usualmente são chamados de
"anticomunistas". Hitler era anticomunista, não obstante ser um
tirano. Odiamos o pecado e amamos ao pecador.
Por que
sofro no Ocidente
Sofro no Ocidente mais
do que sofri nas terras comunistas.
Meu sofrimento aqui
provém, antes de tudo, das saudades que tenho das belezas indizíveis da Igreja
Subterrânea, a Igreja que realiza o velho ditado latino Nudis Nudum Christi Sequi (Nus, segui o Cristo nu).
No campo comunista o
Filho do Homem e aqueles que são seus não têm onde reclinar a cabeça. Os
crentes ali não constroem casas para si. Para que? Serão confiscadas quando de
sua primeira prisão. Justamente o fato de você, leitor, ter uma casa nova, pode
ser maior motivo para ser preso — os comunistas desejam para si essa casa. Ali
você não sepulta seu pai nem se despede da sua família antes de seguir a
Cristo. Quem são sua mãe, seu irmão, sua irmã? Neste aspecto você é como Jesus.
Mãe e irmã são para você apenas aqueles que cumprem a vontade de Deus. Quanto
aos laços naturais valem eles ainda alguma coisa se é freqüente uma noiva
denunciar o noivo, os filhos os seus pais, as esposas os seus esposos? Cada vez
mais são somente os laços espirituais que permanecem. A Igreja Subterrânea é
uma Igreja «pobre e sofredora, porém não tem membros mornos. Um Culto na Igreja
Subterrânea é - como na Igreja Primitiva, há 1900 anos. O pregador não conhece
uma teologia elaborada, não conhece homilética, como Pedro não as conhecia.
Todo professor de Teologia daria uma nota baixa a Pedro pelo seu Sermão do dia
de Pentecostes. Os versículos da Bíblia são pouco conhecidos nos países
comunistas, porque as Bíblias são raras. Além disto, os pregadores geralmente
têm estado presos durante anos, desprovidos de uma Bíblia.
Quando expressam sua fé
em um Pai, isto significa muito, porque há um drama por trás dessa afirmação.
Na prisão eles
diariamente pediram pão ao seu Pai onipotente e em vez de pão receberam repolho
com inominável imundícia, entretanto crêem que Deus é Pai amoroso. São como Jó
que afirmava creria em Deus mesmo que Este o matasse. São como Jesus que O
chamou de Pai, mesmo quando aparentemente fora abandonado na cruz.
Quem quer que tenha conhecido
as belezas espirituais da Igreja Subterrânea não pode mais satisfazer-se com o
vazio de algumas Igrejas do Ocidente. Sofro no Ocidente mais do que sofri em
uma prisão comunista, porque agora estou vendo com os meus próprios olhos a
civilização ocidental em decadência.
Osvaldo Splenger
escreveu no livro Declínio do Ocidente: "Vós estais morrendo. Vejo
em todos vós o estigma característico da decadência. Posso provar que vossa
grande riqueza e vossa grande pobreza, vosso capitalismo e vosso socialismo,
vossas guerras e revoluções, vosso ateísmo, vosso pessimismo, vosso cinismo,
vossa imoralidade, vossos casamentos desfeitos, vosso controle de natalidade,
que vos está exaurindo e aniquilando, posso provar-vos que estes sinais
caracterizam as épocas de decadência dos antigos Estados, Alexandria, Grécia e
a neurótica Roma".
Foram escritas essas
palavras em 1926. Desde então a democracia e civilização já morreram na metade
da Europa e até em Cuba. O resto do
Ocidente dorme.
Há, porém, uma força que
não dorme: a dos comunistas. Entretanto no Oriente os comunistas estão
desapontados e desiludidos, no Ocidente o Comunismo tem permanecido virulento.
Os comunistas ocidentais simplesmente não crêem em todas as más notícias a
respeito das crueldades, misérias e perseguições nos países do bloco comunista.
Espalham sua fé com incansável zelo por toda parte, nos salões da alta sociedade,
nos clubes de intelectuais, nos colégios, nas choupanas e nas igrejas. Nós,
crentes, muitas vezes ficamos parcialmente do lado da verdade integral, enquanto
eles estão totalmente e de todo o coração do lado da mentira.
Futuros
mártires?!
Alguns refugiados
cambodjianos socorridos recentemente pela nossa missão, são batizados em
Ponghan-Ron na Tailândia. Quanto tempo ainda lhes resta, para cultuar a Deus em
liberdade?!
Na Tailândia existem
atualmente 65 mil refugiados, sendo 10 mil cambodjanos, 54 da tribo Meo e
laozianos, e 1 mil vietnamitas, chegando diariamente novas levas, que conseguem
atravessar as áreas minadas e escapar à vigilância dos soldados do Kmer
Vermelho.
Com conhecimento do
governo tailandês a CAMA (Serviço Social da ALiança Cristã Missionária) Missão
Holandeza, distribuiu 3.000 kilos de arroz, doados pelos U.S.A.
Sok Thong Doenng,
antigo decano do Colégio de Agricultura de Phom Penh, depois de se converter a
Cristo, conhecendo-0 realmente como o Filho de Deus, é pastor, pregador e
conselheiro entre 1000 refugiados e tem sido um grande instrumento nas mãos de
Deus, pelo seu testemunho positivo, para levá-tos a Cristo.
Na foto um batismo
entre os refugiados!
JESUS PARA O MUNDO
COMUNISTA, participou com 5000 dólares na distribuição de alimentos. O
governo da Tailândia está sob pressão do KMER Vermelho, para repatriar os
fugitivos, o que seria a morte e o martírio para muitos destes cristãos.
Orem para que isso
não aconteça.
(Notícias de 1976)
Enquanto isso, teólogos
do Ocidente discutem trivialidades. Isto me faz lembrar que, enquanto as tropas
de Maomé II cercavam Constantinopla em 1943, tendo de ficar decidido se os
Bálcãs ficariam sob o domínio dos cristãos ou dos maometanos, um concilio de
Igreja, da cidade sitiada, discutia os seguintes problemas: De que cor eram os'
olhos da Virgem Maria, qual o sexo dos anjos, o que acontece se uma mosca chega
a cair na água benta. Fica a mosca santificada, ou é a água que fica poluída?
Pode isto não passar de lenda, própria daqueles tempos. Perlustrem-se, porém,
os jornais das Igrejas de hoje e se verá que questões, exatamente como essas,
estão sendo discutidas. A ameaça do Comunismo e os sofrimentos da Igreja
Subterrânea raramente são mencionados. Existem infindáveis discussões em
torno de assuntos teológicos, de rituais, assuntos não importantes.
Numa reunião alguém
perguntou: "Se você estivesse em um navio que afundasse, e você pudesse
escapar ileso para uma ilha deserta tendo a possibilidade de levar consigo
apenas um livro retirado da biblioteca do navio, que livro você
escolheria?" Um respondeu: "A Bíblia". Outro:
"Shakespeare". Um escritor, porém, disse a coisa certa: "Eu
escolheria um livro que me ensinasse a fazer um bote e chegar a uma praia. AH
estaria livre para ler qualquer coisa de meu agrado".
Conservar a liberdade de
todas as denominações e todas as teologias e lamentar a perda de tudo isto sob
perseguição comunista é mais importante do que insistir em determinada opinião
teológica.
"A verdade vos
libertará", afirmou Jesus. Diga-se também: "A liberdade, somente a
liberdade, pode trazer a verdade". Em lugar de discutir a respeito de
trivialidades, devíamos antes nos unir na luta em prol da liberdade e contra a
tirania do Comunismo.
Sofro também participando
dos crescentes padecimentos da Igreja atrás da Cortina de Ferro. Tendo passado
por eles, posso aquilatá-los.
Em junho passado os
jornais soviéticos Izvestia e Derevenskais Jizn acusaram os
batistas russos de ensinarem seus membros a matar crianças, a fim de expiarem
seus pecados. É a velha acusação de assassínios rituais, tal como costumava ser
levantada contra os judeus.
Sei, entretanto, o que
isso significa. Estive na prisão de Çluj, Romênia, em 1959, com o prisioneiro
chamado Lazarovici, acusado de ter matado uma menina. Tinha apenas trinta anos,
porém seus cabelos embranqueciam do dia para a noite, em conseqüência das
torturas. Parecia um velho. Não tinha mais unhas, pois estas haviam sido
arrancadas para que confessasse um crime que não havia cometido. Depois de um
ano de torturas, sua inocência ficou comprovada e ele foi posto em liberdade.
Esta, porém, não significava mais nada para ele, pois ficara aniquilado para
sempre.
Outros lêem um artigo de
jornal e riem-se das estúpidas acusações feitas na imprensa soviética contra
os batistas. Eu sei o que elas
significam para os acusados.
É horrível viver no
Ocidente e ter sempre na memória tais fatos.
Onde está agora o
Arcebispo Yermogen, de Kaluga (U.R.S.S.) e os outros sete bispos que com ele
protestaram contra a demasiada cooperação com o regime soviético por parte do
Patriarca Alexei e do Arcebispo Nikodim, instrumentos estes nas mãos dos
comunistas? Não estaria tão preocupado com esses bispos fiéis se não tivera
visto morrendo perto de mim, em uma prisão, os bispos que protestaram na
Romênia.
Os ministros Nikolai
Eshliman e Gleb Yakumin foram disciplinados pelo Patriarca porque pediram
liberdade religiosa para a Igreja. O Ocidente conhece muito esse caso. Estive,
porém, na prisão com o Padre loan de Vladimireshti, Romênia, a quem a mesma
coisa aconteceu. Na superfície houve apenas uma "disciplina"
eclesiástica. Mas os nossos líderes da Igreja Oficial, como todos os líderes da
Igreja Oficial nos países comunistas, trabalham de mãos dadas com a Polícia
Secreta. Os que por eles são disciplinados, Eram colocados sob uma
"disciplina" ainda mais eficiente — torturas, espancamentos e entorpecentes
— na prisão.
Tremo só em pensar nos
sofrimentos dos que são perseguidos nos países do bloco comunista. Tremo em
pensar no destino eterno de seus torturadores. Tremo pela sorte dos crentes
ocidentais que não ajudam seus Irmãos Perseguidos.
No fundo do meu coração
gostaria de conservar a beleza da minha própria vinha e não me envolver em tão
tremenda luta. Gostaria tanto de estar em algum lugar sossegado e de descanso.
Não é, porém, possível. O Comunismo está às nossas portas. Quando invadiram o
Tibete, deram fim a todos os que estavam interessados unicamente em assuntos
espirituais. Em nosso país deram fim a todos quantos se alheavam da realidade.
Igrejas e Mosteiros foram dissolvidos, conservando-se apenas os que fossem
necessários para iludir estrangeiros. Esta tranqüilidade e descanso, pelos
quais anseio, seriam uma fuga à realidade, perigosa para minha alma também.
Devo liderar esta luta,
apesar de saber que representa um perigo para mim pessoalmente. Se eu desaparecer,
podem ficar certos que foram os comunistas que me raptaram. Assim me fizeram em
1948 e me colocaram na prisão sob um nome falso. Anna Pauker, nossa Secretária
de Estado na época, disse ao embaixador suíço, Sir Patrick Von Reuterswaerde:
*'Oh, Wurmbrand está agora dando umas voltas pelas ruas de Copenhague". O
ministro suíço tinha no bolso a carta que eu conseguira mandar da prisão, por
canais secretos; ele sabia que uma mentira lhe havia sido dita. Tal coisa pode
acontecer outra vez. Se for morto, o assassino terá sido designado pelos
comunistas. Ninguém, senão eles, tem qualquer motivo para me matar. Se ouvirem
rumores a respeito de minha depravação moral, roubo, homossexualismo,
adultério, instabilidade política, mentiras ou qualquer outra coisa, será o
cumprimento das ameaças que a mim foram feitas pela Polícia Secreta: "Nós o
destruiremos moralmente".
Uma fonte bem informada
me diz que os comunistas da Romênia decidiram matar-me depois do testemunho
que dei perante o Senado norte-americano. Procurarão matar-me, ou aniquilar
minha reputação. Tentarão fazer chantagens comigo, aterrorizando meus amigos
na Romênia. Têm meios poderosos para
tanto.
Todavia não posso
guardar silencio. A obrigação de quem me lê é examinar cuidadosamente o que
afirmo. Se, depois de tudo por que passei, o leitor chegar a pensar que sofro
de complexo de perseguição, deve indagar de si mesmo o que não é realmente esse
terrível poder do Comunismo, que faz um cidadão seu sofrer de tais complexos.
Que poder é este que faz homens da Alemanha Oriental levar até crianças em um
"bulldozer" e passar pelos arames farpados, com o risco de serem
baleados com toda a família?
O Ocidente dorme e tem
de ser acordado.
-----):(-----
Homens que sofrem,
buscam um bode expiatório, alguém sobre quem colocar a culpa. Encontrar esse
tal diminui muito a tensão. Eu não
posso fazer isto.
Não posso colocar a
culpa em alguns líderes eclesiásticos do Ocidente que condescendem com o Comunismo.
O mal não provém deles. É multo mais velho. Tais líderes são vítimas de um mal muito
mais antigo. Eles não criaram a desordem na Igreja. Já a encontraram .
Desde que cheguei ao
Ocidente já visitei muitos Seminários Teológicos. Neles ouvi palestras sobre a
história dos sinos e dos cânticos litúrgicos, a respeito de leis canônicas, desde
muito tempo fora de uso, ou a respeito de uma disciplina eclesiástica não mais
existente. Tenho visto estudantes de teologia aprendendo que a história da
criação narrada na Bíblia não é verdadeira, nem a de Adão, nem a do Dilúvio,
nem dos milagres de Moisés; que as profecias foram escritas depois de se terem
cumprido; que o nascimento virginal de Jesus é um mito, bem como Sua
ressurreição; que Seus ossos permaneceram em um túmulo, em algum lugar; que as
Epístolas não são genuínas; que o Apocalipse foi escrito por um louco, mas que
sob outros aspectos a Bíblia e um Livro Sagrado! (A ser assim, temos aí um
livro sagrado no qual, segundo se alega, há mais mentiras do que num jornal
comunista!)
É Isso o que os atuais
líderes das Igrejas aprenderam quando estudavam nos Seminários. É essa a atmosfera
em que vivem. Por que seriam então fiéis a um Senhor, a respeito de quem tão
estranhas coisas se dizem? Por que os líderes eclesiásticos seriam fiéis a uma
Igreja, na qual se tem a liberdade de ensinar que Deus está morto?
São líderes da Igreja
Oficial, não da Esposa de Cristo. São líderes de uma Igreja na qual tantos, já
há muito, traíram ao Senhor. Quando encontram alguém da Igreja Subterrânea,
sofredora, mártir, olham para ele como se fora um ser estranho.
Em segundo lugar não é
licito julgar as pessoas por apenas uma parte de suas atitudes. Se assim fizermos,
seremos como os fariseus, para quem Jesus era mau porque não respeitava as leis
deles sobre o Sábado. Esse fato fechou os olhos deles completamente para o que
teria sido louvável em Jesus, mesmo à vista deles.
Os mesmos líderes
eclesiásticos, que assumem uma atitude errada para com o Comunismo, podem ter
razão em muitas outras coisas e podem ser pessoalmente sinceros.
Mesmo naquilo em que
estão errados podem mudar.
Certa vez eu estava com
um Metropolita Ortodoxo na Romênia. Era um homem dos comunistas, que denunciava
seu próprio rebanho. Tomei sua mão entre as minhas e contei-lhe a parábola do
Filho Pródigo. Isto aconteceu, numa noite em seu jardim. Eu disse: "Veja
com que amor Deus recebe um pecador que volta. Ele alegremente recebe mesmo um
Bispo, se ele se arrepende". Cantei para ele hinos evangélicos. Esse homem
converteu-se.
Estive preso na mesma
cela com um Padre Ortodoxo que, na esperança de ser solto, escreveu palestras
ateísticas. Falei-lhe e ele rasgou o que havia escrito, arriscando-se assim a
nunca ser solto.
Não posso fazer de
ninguém bode expiatório, nem posso aliviar desta forma o fardo que pesa no meu
coração.
-----):(—-
Outra coisa me aflige. É
que até mesmo amigos muito chegados me compreendem mal. Acusam-me alguns de
rancor e ressentimentos contra os comunistas, o que eu sei não ser verdade.
O escritor mosaico
Claude Montefiore disse que a atitude de Jesus para com os escribas e fariseus,
a acusação pública que lhes fez, foi contrária ao Seu mandamento de amarmos
nossos inimigos e abençoarmos aqueles que nos amaldiçoam. O Dr. W. R. Mathews,
Deão da Igreja de São Paulo em Londres, conclui que tal atitude é uma
incoerência e contradição em Jesus. Dá a desculpa de que Jesus não era um
intelectual!
A impressão que
Montefiore tinha de Jesus era errada. Jesus amou aos fariseus, apesar de
os denunciar publicamente. Eu amo aos comunistas, tanto quanto aqueles que na
Igreja são instrumentos deles, apesar de acusá-los.
Constantemente me dizem:
"Esqueça os comunistas! Ocupe-se
apenas com o que é espiritual!"
Encontrei um crente que
sofrerá sob o Nazismo. Disse-me que está inteiramente a meu favor enquanto eu
dou meu testemunho de Cristo, porém não devo dizer uma só palavra contra o
Comunismo. Perguntei-lhe se os cristãos que combateram o Hitlerismo na
Alemanha estavam errados e se deveriam limitar-se a falar sobre a Bíblia, sem
dizer uma palavra contra o tirano. A resposta foi: "Mas Hitler matou seis
milhões de judeus! Alguém tinha de falar contra ele". Respondi: "O Comunismo já matou trinta milhões
de russos e milhões de chineses e outros. E eles também têm matado judeus.
Devemos protestar apenas quando os mortos são judeus, e não russos
também?" A resposta foi: "Isto já é outra coisa". Não recebi qualquer explicação.
Fui espancado pela
polícia do tempo de Hitler e no tempo do Comunismo, e não pude ver qualquer diferença.
Num e noutro caso os espancamentos doeram muito.
O Cristianismo tem de
lutar contra muitos aspectos do pecado, não apenas contra o Comunismo. Não
estamos obcecados apenas por este único problema.
O Comunismo, porém, é no
presente o maior e o mais perigoso adversário do Cristianismo. Contra ele temos
de nos unir.
Vou repetir! O alvo do
homem é ser semelhante a Cristo. Impedi-lo é o objetivo principal dos comunistas.
São antes de tudo anti-religiosos. Crêem que depois da morte o homem se
transforma em nada mais do que sais e minerais. Querem que a vida inteira seja
vivida no plano da matéria.
Reconhecem apenas as
massas. A palavra deles é a do demônio, no Novo Testamento, quando se lhe perguntou
qual era o seu nome: "Somos legião". A personalidade — a maior
dádiva de Deus aos homens — deve ser esmagada. Aprisionaram um homem porque foi
encontrado com um livro de Alfred Adler — Psicologia Individual. Os policiais
da Polícia Secreta exclamaram: "Ora! individual, sempre individual! Por
que não coletiva?"
Jesus quer que sejamos
personalidades. Portanto, não pode existir possibilidade de condescendência
entre nós e o Comunismo. Os comunistas o sabem. "Nauk i Religia",
(Ciência e Religião), a revista deles, publica: "A Religião é Incompatível
com o Comunismo. Ela lhe é hostil... O conteúdo do programa do Partido Comunista
é um golpe de morte na religião... É um programa para a criação de uma
sociedade ateística na qual o povo se livre, para sempre, da escravidão religiosa".
Será que o Cristianismo
pode coexistir com o Comunismo? Aqui está a resposta comunista a esta pergunta...
"O Comunismo é um golpe de morte na religião".
CAPITULO V
Mais uma vez falarei
sobre a Igreja Subterrânea.
Ela funciona sob
condições mui difíceis. O ateísmo é a religião oficial em todos os países
comunistas. Dão mais ou menos liberdade de os velhos crerem, porém a juventude
e as crianças não têm o direito de crer. Tudo nesses países — rádio, televisão,
cinema, teatro, imprensa, casas editoras — tem o objetivo de desarraigar a
crença em Deus.
A Igreja Subterrânea tem
multo poucos meios de opor-se às enormes forças dos Estados totalitários. Seus
ministros na Rússia não tiveram qualquer preparo teológico. Existem pastores que nunca leram a Bíblia
toda.
Contarei como muitos
foram ordenados. Encontramos um jovem russo que era ministro secretamente.
Perguntei-lhe quem o havia ordenado. Respondeu-me: "Não tínhamos nenhum
Bispo que nos ordenasse. O Bispo Oficial não ordena ninguém a não ser que tenha
sido aprovado pelo Partido Comunista. Então dez de nós, jovens crentes, fomos
ao túmulo de um Bispo que havia morrido mártir. Dois de nós colocamos as mãos
sobre o seu túmulo. Os outros formaram um círculo ao redor de nós e invocamos o
Espírito Santo para nos ordenar. Estamos certos que fomos ordenados pelas mãos
traspassadas de Jesus".
Para mim, a ordenação
desse jovem é válida diante de Deus!
Homens ordenados dessa
maneira, que nunca tiveram qualquer preparo teológico, e que muitas vezes
sabem pouco a respeito da Bíblia, levam avante o trabalho de Cristo.
Ê como a Igreja dos
primeiros séculos. Que Seminários freqüentaram aqueles que por Cristo transtornaram
o mundo? Será que todos sabiam ler? E quem lhes forneciam Bíblias? Deus era quem lhes falava.
Nós, da Igreja
Subterrânea, não temos catedrais. Qual no entanto é a catedral que seja mais
bela que o céu aberto, para onde erguíamos o olhar quando nos reuníamos
secretamente nas florestas? O gorgear dos pássaros substituía o órgão. A
fragrância das flores era o incenso. E os andrajos de um mártir, recém-saído da
prisão, impressionavam muito mais do que os paramentos dos padres. Tínhamos a
lua e as estrelas por velas. Os anjos eram nossos acólitos, que as acendiam.
Jamais
poderei descrever a beleza dessa Igreja!
Freqüentemente, depois
de um culto secreto, crentes são capturados e levados aos cárceres. Ali usam
grilhões com a mesma alegria de uma noiva que ostente uma jóia preciosa
recebida do seu amado. As águas no cárcere são tranqüilas. Recebem-se ali os
beijos e abraços do Senhor. Jamais trocaríamos esses lugares pelos aposentos
dos reis. Só tenho encontrado crentes verdadeiramente jubilosos na Bíblia, na
Igreja Subterrânea e na prisão.
A Igreja Subterrânea é
oprimida, entretanto tem muitos amigos — até entre aqueles da Polícia Secreta e
até entre os membros do Governo. Algumas vezes tais crentes secretos protegem a
Igreja Subterrânea.
Recentemente jornais
russos reclamaram contra o número sempre maior de "não crentes só na
aparência". Estes, explicava a imprensa russa, são um sem número de homens
e mulheres que trabalham nos vários escalões do poder comunista — nas
repartições do Governo, nos departamentos de propaganda e em todo lugar — que
aparentemente são comunistas, porém intimamente são crentes ocultos e membros
da Igreja Subterrânea.
A imprensa comunista
contou a história de uma jovem que trabalhava no departamento de propaganda do
Governo. Depois do trabalho ia para o seu apartamento e ali se encontrava com
o esposo que voltava do trabalho.
Depois do jantar, ela e o marido reuniam um grupo de jovens dos outros
apartamentos do mesmo edifício e faziam secretamente estudos bíblicos e
reuniões de oração. Isto está acontecendo em todo o mundo comunista.
Dezenas de milhares de tais "não crentes só na aparência" existem em
todos os países do bloco comunista. Pensam ser mais prudentes não assistir às
reuniões nas Igrejas de fantasia, onde seriam vigiados e ouviram apenas um
evangelho de "água açucarada". Em lugar disso permanecem nas posições
de responsabilidade que ocupam, onde testemunham de Cristo sossegada e
eficientemente.
A fiel Igreja
Subterrânea tem milhares de membros em tais posições. Promovem reuniões
secretas em porões, sótãos, apartamentos e lares.
Na Rússia ninguém lembra
mais os argumentos a favor ou contra o batismo de crianças ou adultos, nem a
favor nem contra a infalibilidade papal. Não são pré nem pós-milenistas. Não
são capazes de interpretar profecias, nem discutem sobre elas, porém muitas
vezes fiquei pasmado ante a facilidade com que podiam provar aos ateus a
existência de Deus.
Suas respostas aos ateus
são simples: "Se vocês fossem convidados a uma festa, onde houvesse todos
os tipos de boas iguarias, creriam que ninguém as havia preparado? Ora, a
natureza é um banquete preparado para nós! Temos tomates, pêssegos, maçãs,
leite e mel. Quem preparou estas coisas para a humanidade? A natureza é cega.
Se vocês não crêem em Deus, como explicam que a natureza cega conseguiu
preparar exatamente as coisas de que necessitamos, com tanta abundância e
variedade?"
Podem provar que existe
a vida eterna. Ouvi um deles argumentando com um ateu: "Suponha que pudéssemos
falar com um embrião no seio materno e que você lhe dissesse que a vida
embrionária é muito curta, seguindo-se a ela uma vida real e longa. Que responderia
o embrião? Diria exatamente o que vocês, ateus, nos respondem quando falamos
sobre o paraíso e o inferno. Diria que
a vida no seio materno é a única vida e que tudo o mais é insensatez religiosa.
Todavia se o embrião pudesse pensar, diria a si mesmo: "Aqui estão braços
crescendo em mim Não preciso deles Nem ao menos posso estirá-los! Por que
crescem? Provavelmente para um futuro estágio em minha existência, no qual
terei de trabalhar com eles As pernas crescem, mas tenho de conservá-las
dobradas sobre o peito. Por que crescem? Provavelmente haverá uma vida em um
mundo vasto, onde terei de andar. Os olhos crescem, apesar de estar eu em
-completa escuridão e de não necessitar deles. Para que eu quero olhos?
Provavelmente um mundo de luz e cores virá depois deste'. Assim, se o embrião
pudesse refletir no seu desenvolvimento, saberia a respeito de uma vida fora
do seio materno, sem vê-la. O mesmo acontece conosco. Enquanto somos jovens,
temos vigor, porém, não fazemos idéia de como usá-lo corretamente. Quando, com
o passar do tempo, crescemos em conhecimento e sabedoria, o carro fúnebre
espera-nos para nos levar ao túmulo. Então, por que foi necessário crescer em
conhecimento e sabedoria, se não mais poderemos usá-los? Por que crescem os
olhos, as pernas e os braços em um embrião? É por causa do que vem depois!
Tal é o que nos acontece aqui. Agora crescemos em conhecimento e sabedoria
para usá-los no que vem depois. Estamos assim preparados para servir em um
plano mais elevado que se segue à morte".
A doutrina do Comunismo,
a respeito de Jesus, é que Ele nunca existiu. Os obreiros da Igreja Subterrânea
respondem a isto facilmente: "Que jornal tem você aí? É o Pravda de hoje,
ou o de ontem? Deixa-me dar uma olhada. Ah, 14 de janeiro de 1964. 1964 começou
a ser contado de quando? A partir dAquele que nunca existiu e nada fez? Você
diz que Ele nunca existiu, mas você conta os anos a partir do nascimento dEle.
O tempo existiu antes dEle, porém quando Ele veio, pareceu à humanidade que o
que existiu antes tinha sido nulo, e que o verdadeiro tempo só começou agora.
Seu jornal comunista é uma prova de que Jesus não é uma ficção".
Os pastores do Ocidente
usualmente consideram que aqueles que estão nas Igrejas são realmente convencidos
das principais verdades do Cristianismo, o que na realidade não acontece. Vocês
raramente ouvem um sermão provando a veracidade de nossa fé. Porém por trás da
Cortina de Ferro, homens que nunca aprenderam isso dão aos seus convertidos
uma base muito sólida.
Não há uma linha
divisória, nítida, que possibilite dizer onde é que a Igreja Subterrânea (a
principal coluna do Cristianismo) termina e a Igreja Oficial começa. Elas são
interligadas. Muitos pastores das Igrejas de fantasia realizam um ministério
secreto paralelo, indo muito além das limitações impostas sobre eles
pelos comunistas.
A Igreja Oficial, Igreja
dos que colaboram com os comunistas, tem uma longa história.
Começou, imediatamente
depois da Revolução Socialista Russa, com a "Igreja Viva", dirigida
por um padre chamado Sérgio.
Essa "Igreja
Viva" proclamou abertamente, naquele tempo, em Moscou: "Nossa
intenção não é reconstruir a Igreja, porém aboli-la e erradicar toda
religião". Belo programa para uma Igreja!...
Em todos os países temos
tido Sérgios assim.
Na Hungria, entre os
católicos, foi o padre Balogh. Ele e alguns ministros protestantes ajudaram os
comunistas a assumir todo o controle do Estado.
Na Romênia, os
comunistas subiram ao poder com a ajuda de um padre ortodoxo, chamado Burducea,
ex-fascista, que teve de indenizar os vermelhos pelos seus pecados passados, tornando-se
ainda mais "vermelho" do que seus chefes. Esse padre postou-se ao
lado de Vishinski, Secretário soviético de Estado, e sorriu num gesto de
aprovação quando aquele declarou na inauguração do novo governo
comunista: "Este governo
construirá um paraíso terrestre, e vocês não precisarão mais de um
celestial".
Quanto ao Arcebispo
Nikodim, da Rússia, está registrado que ele é um informante em favor do
Governo. O major Deriabin, desertor da Polícia Secreta russa, testificou que
Nikodim fora seu agente.
Esta é a situação em
quase todas as denominações. A atual liderança dos batistas da Romênia foi
imposta pela força. Ela denuncia os verdadeiros crentes. Na Rússia a liderança
dos batistas faz o mesmo. O Presidente dos adventistas romenos, Tachici, disse-me
que fora um informante da Polícia Secreta comunista desde o primeiro dia em que
os comunistas subiram ao poder.
Em lugar de fechar todas
as igrejas — apesar de terem fechado muitos milhares — os comunistas astutamente
decidiram permitir que algumas "simbólicas" Igrejas Oficiais
permanecessem abertas e usá-las como janelas, através dás quais pudessem
observar, controlar e, eventualmente, destruir os cristãos e o Cristianismo.
Decidiram que seria melhor deixar que existisse a estrutura da Igreja e transformá-la
em instrumento comunista para fiscalização dos cristãos, e um meio de iludir
aqueles que visitam as terras deles. Ofereceram-me uma dessas Igrejas sob a
condição de que, como pastor, prestasse informação à Polícia Secreta sobre os
meus paroquianos. Parece que os ocidentais não podem entender isto. A Igreja
Subterrânea, porém, nunca aceitaria igrejas simbólicas e dirigidas, como
substitutas de um Evangelismo que tenha sentido, seja eficaz, e que tenha por
alvo "toda criatura", inclusive a mocidade.
Nas Igrejas Oficiais,
porém, há uma real vida espiritual, a despeito de muitos líderes traidores.
(Tenho a impressão de que em muitas Igrejas do Ocidente a situação é
semelhante. As Congregações são fiéis, algumas vezes não por causa mas a
despeito dos seus líderes preeminentes). A liturgia ortodoxa tem permanecido a
mesma. Ela alimenta o coração dos membros de suas Igrejas, mesmo que os sermões
bajulem os comunistas. Os luteranos, presbiterianos e outros protestantes cantam
os mesmos hinos antigos. E então, mesmo os sermões dos informantes têm de
conter algo das Escrituras. O povo converte-se sob a influencia de homens que
se sabe de antemão serem traidores, e que relatarão à Polícia Secreta tais
conversões. Os convertidos têm de ocultar sua fé, daqueles que lha
transmitiram, através dos seus sermões corrompidos. Este é o grande milagre de
Deus, descrito no livro de Levítico, cap. 11, em linguagem simbólica: "Se
dos seus cadáveres tos quais, segundo a lei mosaica, contaminavam] cair alguma
coisa sobre alguma semente de semear, esta será limpa".
A honestidade obriga-nos
outrossim a dizer que nem todos os líderes da Igreja Oficial, nem mesmo todos
os seus oficiais mais graduados, são homens a serviço dos comunistas.
Membros da Igreja
Subterrânea também são preeminentes nas igrejas oficiais, com exceção daquele
que têm de permanecer ocultos. Estes encaram o Cristianismo não como uma
religião que se acomoda a tudo e a todos, mas como militante. Quando a Polícia
Secreta veio fechar o Mosteiro de Vladimireshti, na Romênia, bem como em muitos
lugares da Rússia, encontrou dificuldades. Alguns comunistas pagaram com a vida
o crime de tentarem proibir a religião.
As igrejas oficiais, no
entanto, estão-se tornando cada vez mais escassas. Duvido que em toda a União
Soviética ainda existam cinco ou seis mil igrejas. (Os Estados Unidos, com a
mesma população, têm umas trezentas mil igrejas). E essas "igrejas"
são na maioria apenas pequenos quartos — não "igrejas", como as
figuramos. Visitantes estrangeiros vêem uma Igreja repleta em Moscou, aliás a
única Igreja Protestante em toda aquela cidade — e saem dizendo que ali existe
mesmo liberdade. "Até as Igrejas estão superlotadas", alegremente
relatam. Não vêem a tragédia do que seja apenas uma igreja evangélica para sete
milhões de almas. Nem aquelas pequenas igrejas de uma saleta estão ao alcance
de oitenta por cento do povo da União Soviética, que até lá se possam
locomover. Essas multidões têm de ser
esquecidos, ou alcançadas pelo método subterrâneo de evangelização. Não há outra alternativa.
Quanto mais o Comunismo
progrida em um país, tanto mais a Igreja tem de ser subterrânea.
No lugar das igrejas
oficiais fechadas, surgem as reuniões das organizações anti-religiosas.
Como a
Igreja Subterrânea "se alimenta" de literatura ateísta
A Igreja Subterrânea
também sabe usar tal literatura. Em primeiro lugar, alimenta-se de literatura
ateística do modo como Elias foi alimentado pelos corvos. Os ateus dedicam-se
com zelo e perícia a ridicularizar e criticar versículos bíblicos.
Publicaram livros
intitulados: "A Bíblia Cômica" e "A Bíblia para Crentes e
Descrentes". Tentaram mostrar a estultícia de versículos bíblicos e, para
tal, citaram muitos deles. Como exultamos com isso! As críticas eram tão
estúpidas que ninguém as levava a sério. Os livros, no entanto, foram
publicados aos milhões e estavam cheios de versículos da Bíblia,
indescritivelmente belos, até mesmo quando os comunistas os ridicularizavam.
A
jovem heroína da fé, AIDA SKRIPNIKOVA com 32 anos, tendo sofrido quatro prisões
de 2 a 3 anos devido ao seu corajoso testemunho por Cristo.
À
direita sua foto, quase irreconhecível, com a expressão do que representa
passar pelas prisões soviéticas.
UM BOM LIVRO
"UMA CARTA DE
AIDA A UM JORNALISTA COMUNISTA”
O nome de Aída
Skripnikova é bem conhecido em todo o mundo por causa do seu amor e fidelidade
ao nosso bendito Redentor.
Há milhares de
crentes que oram diariamente por ela, pois que ela representa muitos outros
Crentes que têm sido arrancados dos lares e estão hoje sofrendo em prisões por
causa do seu testemunho (Apocalipse 1:9).
A resposta dela à
carta do jornalista comunista é repleta de sabedoria vinda de Deus.
Leia e ofereça -
Preço: 10$00
Dirija os seus
pedidos à Acção Cristão Apartado 20 - Barreiro - Portugal
No passado,
"hereges" condenados à fogueira pela Inquisição eram levados ao
suplício em procissão, vestidos com as roupas mais ridículas, nas quais se viam
desenhos do fogo do inferno e de demônios. E que santos não eram tais
"hereges"! De igual modo os versículos bíblicos continuam sendo
verdadeiros, ainda que o diabo os cite.
A casa publicadora
comunista rejubilou-se muito ao receber milhares de cartas, em que se pedia a
reedição de livros ateus, que contivessem citações bíblicas e as ridicularizassem.
Não sabiam os editores que tais cartas vinham da Igreja Subterrânea, que não
tinha outra oportunidade de adquirir as Escrituras!
Outrossim sabíamos bem
como usar as reuniões dos ateus.
Um professor de
Comunismo demonstrou em uma reunião que Jesus não passava de um mágico. Tinha à
sua frente um vaso com água. Misturou um pó na água e esta se tornou vermelha.
"Aqui está todo aquele milagre", explicou. "Jesus escondera nas
mangas de suas vestes um pó como este, e então pretendeu ter transformado a
água em vinho miraculosamente. Eu, porém, faço ainda melhor do que Jesus: posso
transformar o vinho em água outra vez". E colocou outro pó no líquido.
Este se tornou branco. Depois outro pó e o líquido ficou vermelho novamente.
Um crente levantou-se e
disse: "Você nos espantou, camarada professor, com o que pôde fazer.
Pediríamos apenas uma coisa mais: beba um pouco do seu vinho!", ao que o
professor replicou: "Isto não posso fazer. O pó é venenoso". O crente
atalhou: "Aí está a grande diferença entre você e Jesus. Ele, com o seu
vinho, tem-nos alegrado durante estes dois mil anos, enquanto vocês nos
envenenam com o seu". O crente foi preso. Entretanto a notícia do
incidente propagou-se muito, fortalecendo a fé.
Somos fracos, pequenos
Davis. Todavia somos mais fortes que o Gollas do ateísmo, porque Deus está do
nosso lado. Estamos com a Verdade.
Certa ocasião, um
conferencista comunista estava fazendo uma palestra sobre o ateísmo. Todos os
operários da fábrica foram convocados a assistir à reunião e entre eles havia
muitos crentes. Sentaram-se silenciosos, escutando todos os argumentos do
preletor contra Deus e sobre a estupidez de crer em Cristo. O preletor passou
a provar que não existia Deus, nem mundo espiritual, nem Cristo, nem vida
futura; o homem é apenas matéria sem alma. Disse repetidamente que apenas a
matéria existe.
Um crente levantou-se e
perguntou se lhe era permitido falar. A palavra lhe foi concedida. O crente
pegou sua cadeira portátil e a jogou ao solo. Parou por um pouco, olhando a
cadeira. Depois dirigiu-se a plataforma e esbofeteou o preletor. Este ficou
furioso. Suas faces ficaram vermelhas de
indignação. Soltou uns palavrões e chamou colegas comunistas para que prendessem
o crente. E perguntou: "Como se atreveu a esmurrar-me? Que motivos teve para isso?'
O crente respondeu:
'Você acaba de provar que é mentiroso. Afirmou que tudo não passa de matéria...
Eu apanhei a cadeira e a atirei no chão. A cadeira é de fato matéria. Ela não
se revoltou. É apenas matéria. Ao receber a bofetada, você não reagiu como a
cadeira. Reagiu diferentemente. Matéria não tem raiva nem fica furiosa, mas
você ficou. Portanto, camarada professor, você está errado. O homem é mais do
que simples matéria. Somos seres
espirituais!"
De inúmeras maneiras
como essa, cristãos simples da Igreja Subterrânea refutavam argumentos elaborados
dos ateus.
Quando estive preso, o
oficial político me perguntou bruscamente: "Até quando vai você com a sua
estúpida religião?" Repliquei: "Já vi muitos ateus na hora da morte
arrependidos de terem sido ímpios, e invocavam a Cristo. Pode o senhor imaginar
um crente, às portas da morte arrependido de ter sido crente e passar a invocar
Marx ou Lenine para livrá-lo de sua fé?" Ele começou a rir. "Boa
resposta", disse. E continuei: "Depois que um engenheiro constrói
uma ponte, o fato de passar um gato sobre ela não é prova de que seja firme. Um
trem precisa passar sobre ela para que sua resistência fique provada. O fato
de o senhor ser ateu, quando tudo está indo bem, não prova a verdade do
ateísmo. O ateísmo não dá segurança nos momentos de grandes crises". E
utilizei-me de livros de Lenine para provar que, mesmo depois de se tornar
Primeiro Ministro da União Soviética, ele orava quando as coisas corriam mal.
Estamos tranqüilos e
podemos calmamente aguardar o desenrolar dos acontecimentos. São os comunistas
que não estão tranqüilos e por isso lançam novas campanhas anti-religiosas.
Com isto provam o que Santo Agostinho afirmou: "Inquieto está o coração
até que descanse em Ti".
Por que
até os comunistas podem ser conquistados
A Igreja Subterrânea, se
for ajudada por vocês, cristãos livres, ganhará os corações dos comunistas e
mudará a face do mundo. Ganhá-los-á porque não é de acordo com a natureza ser
comunista. Até um cachorro deseja possuir o seu osso. Os corações dos
comunistas rebelam-se contra o papel que têm de desempenhar e os absurdos em
que têm de crer.
Quando alguns comunistas
afirmam que a matéria é tudo, que somos um punhado de substâncias químicas.
organizadas em determinado feitio, e que depois da morte seremos outra vez sais
e minerais, basta perguntar-lhes: "Como é então que comunistas em tantos
países dão suas vidas por seus ideais? Poderia um punhado de substâncias
químicas ter ideais? Podem minerais sacrificar-se pelo bem de outros?" A
isto não têm resposta.
E que dizer da
brutalidade! Os homens não foram criados brutos, e não suportam ser brutos por
muito tempo. Vimos isso no desmoronamento dos líderes nazistas, alguns dos
quais se suicidaram, enquanto outros se arrependeram e
confessaram seus crimes.
Há algo positivo na
grande quantidade de alcoólatras existentes nos países comunistas. É que eles
anseiam por uma vida mais desafogada, que o Comunismo não pode dar. O russo
comum é pessoa de vida profunda, de amplo coração e generosidade. O Comunismo é
leviano, de pouca profundidade, superficial. O russo procura buscá-la no
álcool. Expressa no alcoolismo seu horror à vida brutal, enganosa, simulada que
tem de viver. Por um pouco de tempo o álcool o liberta, como para sempre lhe
faria a verdade, se a pudesse conhecer.
Em Bucareste, durante a
ocupação russa, certa vez senti um impulso irresistível de entrar em uma
taverna. Chamei minha esposa para me acompanhar. Ao entrar, vi um capitão russo
de fuzil â mão, ameaçando todo o mundo e pedindo mais bebida. Esta lhe havia
sido negada, porque já estava multo embriagado. O pessoal estava em pânico.
Fui ao proprietário, que me conhecia, e lhe pedi que desse bebida ao capitão,
prometendo que me sentaria com ele à mesa para mantê-lo quieto. Garrafas de
vinho, uma após outra, foram postas em nossa mesa. Nesta havia três copos. O
capitão, delicadamente, enchia os três... e bebia-os. Eu e minha esposa não
bebemos. Apesar de seu estado de embriaguez, sua mente trabalhava.
Habituara-se a beber. Falei-lhe a respeito de Cristo e ele prestou atenção
como eu não esperava.
No fim ele disse:
"Agora que você me disse quem é, eu lhe direi quem sou. Sou um padre
ortodoxo, dos primeiros que negaram a fé, quando a grande perseguição, ao
tempo de Stalin, começou. Ia de vila em vila, para fazer palestras e dizer que
não existia Deus e que, como padre, houvera sido um enganador! Sou um enganador,
como o são todos os outros ministros! dizia-lhes. Fui muito acatado por meu zelo,
dessa forma tornei-me oficial da Polícia Secreta. Deus me castigou fazendo que
com estas mãos matasse cristãos, depois de havê-los torturado. Agora bebo assim
para esquecer o que fiz. Mas é
inútil".
Muitos comunistas
suicidam-se. Assim fizeram os seus maiores poetas, Essenin e Maiakovski.
Suicidou-se também seu grande escritor Fadeev. Havia concluído sua novela
intitulada Felicidade, na qual explicava que felicidade consiste em trabalhar
incessantemente pelo Comunismo. Ele próprio se sentia tão feliz nesse trabalho
incessante que se suicidou com um tiro, depois de concluir a novela. Foi
demasiado difícil para sua alma suportar tão grande mentira. Joffe, Tomkln —
notáveis líderes comunistas e lutadores pró Comunismo nos dias dos Tzares — não
suportaram ver o que na realidade é esse sistema. Eles também findaram suicidando-se.
Os comunistas são
infelizes. Mesmo os seus grandes ditadores. Que Infeliz era Stalin! Depois de
matar quase todos os seus antigos camaradas, constantemente vivia com medo de
ser envenenado ou assassinado. Tinha oito quartos de dormir, que podiam ser
trancados à maneira das casas fortes, nos Bancos. Ninguém sabia em qual desses
quartos ele dormia em determinada noite. Não comia nunca sem que o cozinheiro
provasse o alimento em sua presença. O Comunismo não faz ninguém feliz, nem
mesmo os seus ditadores. Eles necessitam de Cristo.
Derrotando o Comunismo
libertaremos não apenas as suas vítimas, senão também os próprios comunistas.
A Igreja Subterrânea
representa a mais profunda necessidade de nossos povos escravizados. Ajudem-na!
0O0
A característica da
Igreja Subterrânea é o seu zelo pela fé!
Um ministro que se
disfarça sob o nome de "Jorge" conta em seu livro Subterrâneo de
Deus o seguinte incidente:
Um capitão do exército
russo dirigiu-se a um ministro na Hungria e pediu para falar-lhe a sós. Era
muito moço, estouvado e muito seguro de sua função de conquistador. Conduzido a
uma pequena sala de conferências e fechada a porta, deu sinal com a cabeça em
direção à cruz que pendia da parede.
"Você sabe que
aquilo é uma mentira", disse ao ministro. "É apenas uma impostura que
vocês, ministros usam para iludir os pobres e tornar mais fácil aos ricos
conservá-los na ignorância. Vamos, estamos sozinhos. Declare-me se não é
verdade que você nunca realmente creu que Jesus Cristo era o Filho de
Deus!"
O ministro sorriu.
"Mas, meu pobre rapaz, com certeza eu creio. Isso é verdade".
"Não quero
brincadeira!" berrou o capitão. "Isto é sério. Não ria de mim!"
Tirou o revólver e o
colocou junto ao corpo do ministro. "Se você não admitir que isso é
mentira, eu atiro!"
"Eu não posso
admiti-lo, porque não é verdade. Nosso Senhor é real e verdadeiramente o Filho
de Deus", disse o ministro.
O capitão atirou o
revólver no chão e abraçou o homem de Deus.
Lágrimas corriam dos seus olhos.
"É
verdade", exclamou
ele. "É verdade, eu creio também, mas não tinha certeza de que
pessoas morressem por esta fé, até que o descobri por mim mesmo'. Oh, muito
obrigado! Você fortaleceu a minha fé. Agora eu também posso morrer por Cristo.
Você me mostrou como!"
Conheci outros casos
semelhantes. Quando os russos ocuparam a Romênia, dois soldados armados
entraram em uma Igreja conduzindo seus fuzis. Disseram: "Nós não cremos na
vossa fé. Aqueles que não a deixarem imediatamente serão fuzilados! Os que a
abandonam, passem para a direita!" Alguns passaram. Estes receberam
ordens de sair da Igreja e ir para casa. Fugiram para salvar suas vidas. Quando
os russos ficaram a sós com os crentes que permaneceram, abraçaram-nos e
disseram-lhes: "Nós também somos crentes, mas queríamos somente a
companhia dos que consideram valer a pena morrer pela verdade!"
Tais homens lutam pelo
Evangelho em nossos países. E lutam não somente pelo Evangelho. Lutam igualmente
pela liberdade.
Nos lares de muitos
crentes ocidentais algumas vezes se gastam horas a ouvir música profana. Em
nossos lares música alta pode também ser ouvida, porém é apenas para abafar
conversa sobre o Evangelho e o trabalho oculto, de forma que os vizinhos não
nos ouçam e delatem à Polícia Secreta.
Como se regozijam quando
por acaso encontram um verdadeiro crente provindo do Ocidente!
Ivan Moissev, um
crente de 20 anos, ao dar seu testemunho de fé no exército de seupaís, foi
morto de maneira selvagem pela policia soviética. É impossível exagerar as
torturas sofridas por ele. A foto mostra seis profundos ferimentos ao redor do
coração, provocados por uma faca abrasada. O caixão foi entregue lacrado, pelas
autoridades soviéticas, aos seus familiares e posteriormente aberto constatou-se
o crime!
Quem escreve estas
linhas é pessoa sem importância. Sou, porém, a voz dos que não podem falar,
dos que estão amordaçados e que jamais dispõem de quem os represente no
Ocidente. Em nome deles apelo para que haja grande seriedade de Fé, e no trato
dos problemas do Cristianismo. Em nome deles peço orações e auxílio prático
para a fiel e sofredora Igreja Subterrânea das terras comunistas.
0O0
Venceremos os
comunistas. Primeiro, porque Deus está do nosso lado. Segundo, porque a nossa
mensagem corresponde à mais profunda necessidade dos corações.
Comunistas que estiveram
nas prisões dos nazistas, confessaram-me que oravam nas horas difíceis. Cheguei a ver oficiais comunistas morrerem
pronunciando as palavras "Jesus. Jesus".
Venceremos porque toda a
herança cultural do nosso povo está do nosso lado. Os russos podem proibir
todos os escritos dos modernos cristãos. Há, porém, os livros de Tolstoi e
Dostoievschi; o povo acha a luz do Evangelho neles. Da mesma forma se dá com
Goethe, na Alemanha Oriental, Szienkiewicz, na Polônia, e outros. O maior
escritor romeno foi Sadoveanu. Os comunistas publicaram o seu livro A Vida dos
Santos sob o título A Lenda dos Santos. Entretanto, mesmo sob esse título, o
exemplo da vida dos santos inspira.
Eles não podem excluir
as reproduções de Rafael, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, da história das
artes. Esses quadros falam de Cristo.
Quando falo com um
comunista sobre Cristo, as profundas necessidades espirituais de seu coração
são minhas aliadas — minhas ajudantes. A maior dificuldade para ele é não
responder aos meus argumentos. Sua grande dificuldade é acalmar a voz de sua
própria consciência — que está ao meu lado.
Pessoalmente conheci
professores de Marxismo que antes de fazerem uma conferência ateística, oravam
a Deus para que os ajudasse a fazê-la!
Conheço comunistas que
Iam longe para assistir a uma reunião secreta. Ao serem descobertos, negavam
terem estado lá. Depois choravam lamentando não terem tido coragem de ficar
firmes na fé, que os compelira a assistir à reunião. Eles também são homens.
Uma vez que o indivíduo
chega à fé — mesmo fé muito primária — esta se desenvolve e cresce. Estamos
certos de que ela vencerá porque nós, da Igreja Subterrânea, a temos visto
vencer vezes seguidas.
Os comunistas são amados
por Cristo. Podem e devem ser conquistados para o Senhor. E só o podem ser pela
Igreja Subterrânea, de trás da Cortina de Ferro. Quem quer que deseje
satisfazer os anseios do coração de Cristo pela salvação das almas de toda a
humanidade, deve sustentar a Igreja Subterrânea em seu trabalho. Jesus disse:
"Ensinai todas as nações". Ele não disse: "Parai diante da
Cortina de Ferro". Fidelidade a Deus e à Grande Comissão compele-nos a
atravessar essa Cortina — e a alcançar um em cada três homens vivos
escravizados ao Comunismo. Podemos alcançá-los, trabalhando com a igreja
Subterrânea que já se encontra lá!
Três
Grupos constituem a Igreja Subterrânea: Primeiro — Pastores e Ministros
Destituídos pelo Comunismo
Há três grupos que
compõem a Igreja Subterrânea nos países comunistas. O primeiro é constituído de
milhares e milhares de ex-pastores e ministros destituídos de suas Igrejas e
afastados de seus rebanhos, porque não quiseram comprometer o Evangelho.
Muitos de tais ex-pastores e ministros têm estado presos durante anos e
torturados por sua fé. Foram libertados e imediatamente retornaram ao seu
ministério — secreta e efetivamente ministrado na Igreja Subterrânea. Posto
que os comunistas fechassem as suas igrejas, ou os substituíssem por ministros
de maior "confiança", continuam o seu ministério mais eficientemente
do que nunca, ministrando secretamente
em reuniões ocultas em celeiros, sótãos, porões, em
capinzais, à noite — ou em qualquer lugar onde os crentes possam se reunir
secretamente. Tais homens são "mártires vivos", que não interromperão
seu ministério e que se arriscam a outras torturas e prisões.
Segundo — A Igreja Leiga
A segunda parte constituinte da Igreja
Subterrânea é o vasto exército de homens e mulheres consagrados. Deve ser
entendido que na Rússia ou na China não há cristãos nominais, de coração
dividido, ou mornos. O preço que eles pagam é grande demais. O outro ponto a
lembrar é que a perseguição sempre produziu melhores crentes: dão seu testemunho
e ganham almas. A perseguição comunista tem sido um tiro pela culatra: tem
produzido crentes sérios e consagrados como raramente se vêem nos países
livres. Esse povo não pode entender como alguém é crente sem desejar conquistar
cada alma que encontra.
O Estrela Vermelha
(Jornal do exército russo) atacou os crentes russos, dizendo: "Os
adoradores de Cristo gostam de cravar suas garras vorazes em todos". Entretanto
o brilho de suas vidas cristãs conquista para eles o amor dos seus conterrâneos
e vizinhos. Em qualquer vila ou cidade, os cristãos são os moradores mais
benquistos e amados. Quando uma mãe está muito doente para cuidar de seus
filhos, é a mãe cristã que vem ajudá-la. Quando um homem está por demais doente
e não pode cortar sua lenha, é um crente que faz isso para ele. Os crentes
"vivem" o seu Cristianismo, e quando começam a testemunhar de
Cristo, o povo escuta e crê — porque tem visto Jesus em suas vidas. Uma vez que
ninguém, senão ministros licenciados oficialmente, pode falar em uma Igreja, os
milhões de fervorosos e dedicados crentes em todos os recantos do mundo comunista
conquistam almas e testemunham nos mercados, nos chafarizes das aldeias, em
toda parte por onde vão. A imprensa comunista admite que açougueiros colocam
furtivamente folhetos evangélicos nos embrulhos da carne que vendem. Admite
que os que ocupam lugares de influencia em casas editoras comunistas voltam
sorrateiramente tarde da noite, põem suas impressoras a funcionar e imprimem
alguns milhares de exemplares de literatura evangélica — e saem antes do nascer
do sol. A mesma imprensa admite que crianças cristãs em Moscou têm recebido
Evangelho de "alguma fonte", e depois copiam trechos a mão. A seguir
colocam esses trechos nos bolsos dos sobretudos de seus professores, pendurados
nos guarda-roupas das escolas. O grande número de homens e mulheres leigos é
uma força missionária muito poderosa e eficiente na conquista de almas, nas
terras comunistas.
Em Cuba, país comunista,
ex-missionários afirmaram que uma secreta "Igreja leiga" está
surgindo desde que todos os verdadeiros ministros têm sido presos ou perseguidos,
e após substituídos por "ministros" comunistas. Esses milhões de
crentes dedicados, verdadeiros e fervorosos da Igreja leiga, têm sido
purificados pelo fogo da perseguição, com que os comunistas esperavam
destruí-los.
Terceiro —
Pastores e Ministros Oficiais que Não Aceitam Mordaça nem são Silenciados
A terceira parte vital
da Igreja Subterrânea é o grande corpo de pastores fiéis das Igrejas oficiais,
porém igrejas amordaçadas e reduzidas ao silencio. A Igreja Subterrânea não é
algo completamente separado da Igreja Oficial. Em muitas terras
comunistas, como a Iugoslávia, Polônia e Hungria, muitos dos pastores das
Igrejas oficiais trabalham ocultamente na Igreja Subterrânea. Em alguns países
há um entrelaçamento entre elas. Esses pastores não têm permissão de falar
sobre Cristo fora de suas igrejinhas de saleta. Não se lhes permitem reuniões
de crianças,, nem de jovens. Os não crentes têm medo de assistir a elas. Os
pastores não têm permissão de orar por membros enfermos de suas igrejas nas
casas deles. São contidos por todos os lados pelos regulamentos comunistas, os
quais tiram de suas "Igrejas" todo e qualquer sentido. Muitas vezes
tais pastores, em face de restrições que tornam ridícula a chamada
"liberdade religiosa", corajosamente se arriscam por exercerem
paralelamente um ministério secreto, que ultrapassa de muito as limitações
comunistas. Realizam um ministério secreto entre as crianças e moços.
Evangelizam ocultamente em lares e porões. As escondidas recebem e distribuem
literatura cristã entre pessoas de alma faminta. Arriscam sua liberdade desdenhando
secretamente as restrições oficiais, e ministram àqueles que têm fome
espiritual, em torno deles. Aparentemente dóceis e obedientes externamente,
arriscam a vida para às ocultas espalhar a Palavra de Deus. Muitos desses
homens foram recentemente descobertos e presos na Rússia. Receberam a sentença
de vários anos de encarceramento.
Tais são os que
constituem a terceira parte vital da Igreja Subterrânea.
Ex-ministros — expulsos
e perseguidos pelos comunistas; a igreja leiga e pastores oficiais que secretamente
desempenham um ministério muito maior e mais extenso do que lhes é permitido —
todos estes estão trabalhando na Igreja Subterrânea. Esta continuará até que o
Comunismo seja derrotado. Em alguns lugares uma parte é mais ativa do que a
outra — porém todas trabalham por Cristo, com grande risco.
Um homem que
freqüentemente viaja por terras comunistas e que é muito interessado em
assuntos religiosos, ao voltar de uma de suas viagens escreveu que nunca
encontrou nenhuma Igreja Subterrânea.
É como viajar pela
África Central, entre as tribos não educadas, e voltar, dizendo: "Procurei
diligentemente. Perguntei a todos se falavam em prosa. Todos me responderam
que não". A verdade é que todos falam em estilo prosaico, sem o saberem.
Os cristãos das
primeiras décadas também não sabiam que eram cristãos. Se alguém lhes
perguntasse sobre sua religião, teriam respondido que eram judeus, israelitas,
crentes em Jesus como o Messias, irmãos, santos, filhos de Deus. O nome
"cristão" foi-lhe aplicado por outros, muito tempo depois e pela
primeira vez em Antioquia.
Nenhum dos seguidores de
Lutero sabia que era luterano. O próprio Lutero protestou com veemência contra
essa designação.
"Igreja
Subterrânea" é nome dado pelos comunistas, bem como por pesquisadores
ocidentais da situação religiosa nos países comunistas, a uma organização secreta,
formada espontaneamente em todas as terras comunistas. Os membros da Igreja
Subterrânea não chamam sua organização por este nome. Chamam-se de cristãos,
crentes, filhos de Deus. Realizam, porém um trabalho subterrâneo, reúnem-se
secretamente, divulgam o Evangelho em reuniões clandestinas, às quais algumas
vezes assistem estrangeiros, os mesmos que negam ter visto a Igreja
Subterrânea. É um nome adequado, dado pelos adversários e por aqueles que
olham com amor, do lado de fora, para esta maravilhosa organização secreta.
O leitor pode viajar
durante anos pelo Ocidente e nunca encontrar uma rede de espiões soviéticos, o
que não significa que ela não existe. Apenas ela não é tão estúpida para se
apresentar a viajantes curiosos.
Citarei, no capítulo
seguinte, alguns trechos da imprensa soviética, que provam a existência e
crescente Importância desta corajosa Igreja Subterrânea.
CAPÍTULO
VI
Já contei nossa própria
experiência de espalhar secretamente a mensagem cristã no meio do exército
soviético, tanto quanto na Romênia comunista.
Já apelei para que nos
ajudem a pregar Cristo aos comunistas e ao povo por eles oprimido.
Será que o meu apelo é
"visionário", "não funciona", é inexeqüível?
É realístico?
Existe hoje uma
Igreja Subterrânea na Rússia e em outras terras? Ainda é possível por lá um
trabalho dessa natureza?
A tais perguntas podemos
responder com notícias muito boas.
Os comunistas estão
celebrando meio século do seu domínio. Sua vitória, entretanto, é uma derrota.
Venceu o Cristianismo e não o Comunismo. A imprensa russa, pesquisada
atentamente pela nossa organização, fornece bastante informações sobre a
Igreja Subterrânea. Pela primeira vez, essa Igreja tornou-se tão forte que
trabalha até meio publicamente, amedrontando os comunistas. Informações que
recebemos de outras fontes confirmam as notícias da imprensa comunista.
Lembrem-se de que a
Igreja Subterrânea é como um "iceberg"! Pela maior parte não aparece,
porém uma pequena porção fica acima da superfície das águas, muitas vezes, e
pode ser vista.
Nas páginas seguintes
farei breve compilação das mais importantes notícias.
A Crista
do "Iceberg"
Em 7 de novembro de
1966, em Suhumi (Cáucaso) a Igreja Subterrânea
realizou grande reunião
a céu aberto. Muitos crentes
vieram de outras cidades para assistir a ela. Após o apelo, quarenta e sete
jovens aceitaram a Jesus Cristo e foram batizados na mesma hora, no Mar Negro,
exatamente como nos tempos bíblicos.
Não houve antes um
período de instrução. Depois de cinqüenta anos de ditadura comunista, não tendo
Bíblias nem outros livros evangélicos e nem Seminários, os ministros da Igreja
Subterrânea não têm formação teológica. Aliás Filipe, o diácono, também não
teve tal formação. Quando o eunuco, com quem havia conversado talvez apenas
durante uma hora, perguntou-lhe: "Eis aqui água, que impede que eu seja
batizado?", Filipe respondeu: "É lícito, se crês de todo o teu coração".
E imediatamente desceram ambos à água e o convertido foi batizado" (Atos
8:36-38).
Há bastante água no Mar
Negro, e a Igreja Subterrânea começou as práticas dos tempos bíblicos.
Uchitelskaia Gazeta (a Revista dos Professores) de 23 de
agosto de 1966 dá a notícia de que em Rostov-on-Don os batistas, que recusam
registrar suas congregações de acordo com as leis, e obedecer os chamados
"líderes" nomeados pelos comunistas, organizaram uma demonstração nas
ruas.
Aconteceu isso no dia
Primeiro de Maio. Da mesma maneira como Jesus fazia Seus milagres aos sábados,
em desafio aos Seus opositores fariseus, a Igreja Subterrânea, também, escolhe
os dias de celebração do Comunismo para afrontar as leis comunistas.
O Primeiro de Maio é uma
festa na qual os comunistas sempre fazem suas grandes demonstrações públicas,
a que todos são obrigados a assistir. Desta vez, porém, a segunda grande força
da Rússia — a Igreja Subterrânea — também apareceu nas ruas, naquele dia.
Mil e quinhentos crentes
acorreram. O que os compeliu foi apenas o amor de Deus. Sabiam que estavam
arriscando a sua liberdade. Não ignoravam que na prisão fome e tortura os
aguardavam.
Todo crente na Rússia
conhece o "Manifesto Secreto", impresso pelos Cristãos Evangélicos
de Barnaul, no qual se descreve como a irmã Hmara, da aldeia de Kulunda,
recebera a notícia de que seu marido tinha morrido na prisão. Agora era viúva
com quatro filhos menores. Ao receber o cadáver do esposo, pôde ver as marcas
das algemas nos seus pulsos. As mãos, os dedos e a planta dos pés estavam
horrivelmente queimados. A parte inferior do abdômen tinha sinais de ferimentos
a faca. O pé direito estava intumescido. Em ambos os pés havia sinais de
espancamento. Todo o corpo estava coberto de feridas, em conseqüência de um
brutal espancamento.
Todos os crentes que
vieram à demonstração pública em Rostov-on-Don sabiam que poderiam ter a mesma
sorte. Apesar disso vieram.
Também sabiam que esse
mártir, que dera a sua vida por amor a Deus, apenas três meses depois de sua
conversão, foi sepultado ante uma enorme multidão de crentes que conduziam
faixas com inscrições: "Para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho".
"Não temais aqueles que podem matar o corpo, mas não podem matar a
alma". "Vi debaixo do altar aqueles que foram mortos pela Palavra de
Deus".
O exemplo desse mártir
inspirou os que estavam em Rostov-on-Don. Aglomeraram-se na rua em torno de uma
casinha. O povo estava em toda parte — algumas pessoas nos telhados próximos,
outras nas árvores, como Zaqueu, em tempos idos. Oitenta pessoas se converteram,
a maior parte moços. Desses, vinte e três eram ex-Komsomols (membros da
Organização dos Moços Comunistas).
Os crentes atravessaram
a cidade marchando para o Rio Don, onde se realizaram os batismos.
Automóveis cheios da
polícia comunista chegaram e cercaram os crentes na margem do rio. Queriam prender
os irmãos encarregados daquela demonstração. (Não podiam prender todos os mil e
quinhentos). Os crentes imediatamente ajoelharam-se e em fervorosa oração
pediram a Deus que defendesse Seu povo e lhes permitisse realizar o seu Culto
naquele dia. A seguir os irmãos e irmãs, ombro a ombro, rodearam os que
dirigiam o Culto, na esperança de evitar que a polícia os prendesse. A situação tornou-se muito tensa.
A revista Uchitelskaia
Gazeta relata que a Organização "ilegal" dos batistas de Rostov tem
uma casa publicadora secreta. (A palavra "batista" na Rússia inclui todos
os evangélicos). São impressos folhetos nos quais a mocidade é convidada a
defender sua fé. Em uma dessas publicações secretas os pais crentes são
conclamados, o que acho muito bom, a "levar seus filhos para assistir aos
funerais, a fim de aprenderem a não se preocupar com coisas transitórias".
Os pais são convidados também a dar uma educação cristã aos filhos, como
antídoto contra o ateísmo com o qual eles são envenenados nas escolas
comunistas.
A Uchitelskaia Gazeta terminava o artigo perguntando:
"Por que os professores se envolvem tão timidamente com a vida das
famílias, nas quais as crianças são idiotizadas
(pela religião)?"
Essa "Revista dos
Professores" também descreve o que aconteceu no julgamento dos obreiros
clandestinos que batizaram secretamente.
"A mocidade crente,
chamada como testemunha, era provocadora e insolente perante o tribunal
comunista. Comportou-se raivosa e fanaticamente. Moças que assistiam,
contemplavam com admiração os réus, e com desaprovação o público ateu".
Membros da Igreja
Subterrânea têm-se arriscado a espancamentos e prisão por apelarem por mais
liberdade defronte da sede do Partido Comunista na Rússia.
Possuímos um documento
secreto, redigido pelo "ilegal" Comitê das Igrejas Evangélicas
Batistas da União Soviética, oposto à "União Batista" controlada
pelos comunistas e dirigido pelo traidor Karey, o qual louva a humanidade do
assassínio em massa dos cristãos e glorifica a "liberdade" que ali
impera, o que ele faz no "Soviet Life Today" (n.° 6, 1963). O
documento foi contrabandeado para o Ocidente por canais secretos. Nele se
relata uma outra heróica demonstração pública, dessa vez na própria Moscou.
Desse Manifesto traduzo o que segue:
"Comunicação
Urgente:
"Amados irmãos e
irmãs: Bênçãos e paz de Deus Nosso Pai e Nosso Senhor Jesus Cristo.
"Apressamo-nos a
dizer-vos que os delegados das Igrejas dos cristãos batistas evangélicos, em
número de quinhentos, que viajaram a Moscou a 16 de maio de 1966 para intervir
junto ao órgão central do poder, foram ao edifício do Comitê Central do Partido
Comunista da União daa Repúblicas Socialistas Soviéticas, com o pedido de
serem recebidos e ouvidos. Entregamos uma
petição dirigida ao Secretário
Geral, Brezhnev".
No Manifesto dizem mais
adiante que esses quinhentos homens permaneceram o dia todo diante do
edifício. Foi essa a primeira demonstração pública contra o Comunismo em
Moscou e foi feita pela delegação da Igreja Subterrânea. No fim do dia,
apresentaram uma segunda petição a Brezhnev, na qual se queixaram de que certo
"camarada" Strognov recusara transmitir-lhe a petição e os ameaçara.
Os quinhentos delegados
permaneceram nas ruas a noite inteira. Carros passavam perto deles,
atirando-lhes sujeira, lama e insultos. A despeito da chuva e de serem tratados
assim, permaneceram até a manhã seguinte em frente ao edifício do Partido
Comunista!
Então foi proposto que
os quinhentos irmãos entrassem num edifício para ter encontro com alguns
oficiais comunistas de menor categoria, porém "sabendo que crentes que
visitaram autoridades foram multas vezes espancados ao entrar em edifício em
que não havia testemunhas, a delegação recusou unanimemente e continuou a
esperar para ser recebida por Brezhnev".
Foi quando aconteceu o
inevitável.
"As 13:45 vinte e
oito ônibus chegaram e a vingança brutal contra os crentes começou. Formamos um
círculo e segurando as mãos uns dos outros cantamos o hino Os melhores dias
de nossa vida são aqueles em que levamos uma cruz. Os homens da Polícia
Secreta começaram a bater em nós, tanto moços como velhos. Arrancaram homens
do círculo, bateram-lhes no rosto, na cabeça e os jogaram no asfalto. Puxaram
alguns pelos cabelos para dentro dos ônibus. Alguns tentando fugir foram
espancados até perder os sentidos. Depois de encherem os ônibus de crentes, levaram-nos
a um lugar desconhecido. Os hinos de nossos irmãos e irmãs eram ouvidos de
dentro dos ônibus da Polícia Secreta. Tudo isso aconteceu à vista de uma
multidão".
A seguir vem uma coisa
mais linda. Depois que os quinhentos foram presos e certamente torturados, o
irmão G. Bins e outro irmão líder, Horev (verdadeiros pastores do rebanho de
Cristo), ainda tiveram a coragem de ir ao mesmo Comitê Central do Partido Comunista
— exatamente como aconteceu depois da morte de João Batista, Jesus começou Seu ministério
público no mesmo lugar e com as mesmas palavras pelas quais o Batista sofrerá:
"Arrependei-vos, porque está perto o Reino dos Céus".
Bins e Horev perguntaram
onde a delegação estava e solicitaram a libertação dela. Esses dois corajosos
irmãos simplesmente desapareceram. Posteriormente chegaram notícias de que
tinham sido trancafiados na prisão de Lefortovskaia.
Esses crentes da Igreja
Subterrânea estariam com medo? Não! Outros imediatamente arriscaram outra vez
sua liberdade, publicando o Manifesto que temos diante de nós, no qual contam a
história do que aconteceu, dizendo que a eles "foi concedida a graça de
não somente crer em Cristo, como também de sofrer por Ele" (Fil. 1:29).
Exortam os irmãos "a fim de que ninguém se inquiete com estas tribulações,
porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto" (I Tes. 3:3). Também
citam Hebreus 12:2 e convidam os crentes a "olhar para Jesus, Autor e
Consumador da nossa fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto suportou a
cruz, desprezando a afronta".
A Igreja Subterrânea
tem-se oposto abertamente ao envenenamento ateu da mocidade em Rostov, em Moscou
e em toda a Rússia. Está lutando contra o veneno comunista e contra os líderes
traidores da Igreja Oficial, sobre os quais escreve num dos seus manifestos
secretos: "Em nossos dias Satanás dita e 'a Igreja' aceita todas as
decisões que são contrárias aos mandamentos de Deus" (Citado no Pravda
Ukrania, de 4 de outubro de 1966).
O Pravda Vostoka
publicou o processo contra os irmãos Alexei Neverov, Boris Garmashov e Axen
Zubov, que organizavam grupos para ouvir programas de rádio da América.
Gravavam essas mensagens em fita, que faziam circular depois.
Foram acusados também de
terem organizado reuniões evangélicas secretas sob a forma de "excursões"
e "círculos de arte". Dessa forma trabalha a Igreja Subterrânea —
exatamente como a
Primitiva Igreja
O Sovietscaia
Moldavia, de 15 de setembro de 1966, queixa-se também de que a Igreja
Subterrânea mimeografa livretos. Reúne-se em lugares públicos, embora seja isso
proibido por lei, e vai de lugar em lugar para testemunhar de Cristo.
Esse mesmo jornal conta
que em certo trem de Reni para Crisinau, três meninos e duas meninas cantavam
um hino cristão — Dediquemos nossa mocidade a Cristo. O repórter
declarou-se revoltado porque esses crentes pregam "nas ruas, nas estações,
nos trens, ônibus e até nas instituições do Estado". Novamente aí está a
Igreja Subterrânea em ação hoje na Rússia.
Quando no julgamento
desses crentes a sentença foi anunciada pelo crime de cantarem Hinos Cristãos
em público, os condenados caíram de joelhos e disseram: "Rendemo-nos nas
mãos de Deus. Agradecemo-Te, Senhor,
porque permitiste que sofrêssemos por esta fé"
Então os presentes,
liderados pelo, "fanático" Madan cantaram na sala do tribunal o hino
pelo qual os Irmãos acabavam de ser sentenciados à prisão e à tortura.
No dia Primeiro de Maio,
os crentes das vilas Cop-ceag e Zaharovka, não tendo Igrejas, organizaram um
culto divino secretamente na floresta!
Organizam também
reuniões sob o pretexto de estarem realizando uma festa de aniversário.
(Muitas famílias crentes, com quatro a cinco membros, têm trinta e cinco
"aniversários" cada ano, como disfarce para reuniões secretas).
Não há prisão nem
tortura que possa amedrontar os crentes da Igreja Subterrânea. Exatamente como
na Igreja Primitiva, a perseguição só faz que se aprofunde a dedicação deles.
O jornal Pravda Ukraini,
de 4 de outubro de 1966, disse a respeito do irmão Prokofiev — um dos líderes
da Igreja Subterrânea russa — que ele já foi aprisionado três vezes, mas assim
que é solto começa a organizar de novo Escolas Dominicais secretas. Agora está
preso outra vez.
Prokofiev escreveu em um
Manifesto secreto: "Submetendo-se às regras humanas (ele quer dizer as
leis comunistas), a Igreja Oficial privou-se das bênçãos de Deus".
Nunca o leitor tenha em
mente uma prisão como as do Ocidente, quando souber de um irmão sentenciado na
Rússia. Prisão ali significa fome, torturas e lavagem cerebral.
A revista Nauka
i Religia (Ciência e Religião), n.° 9 de 1966, diz que os crentes estavam
distribuindo literatura evangélica dentro das capas da revista Ogoniok
— periódico semelhante a "Look" ou "Time". Distribuem
livros em cujas capas se vê Anna Karenina, novela de Leon Tolstoi. O conteúdo é um trecho da Bíblia.
Entoam hinos. A música é
da "Internacional Comunista", mas as palavras louvam a Cristo. (Kazaks-tankaia
Pravda, de 30 de Junho de 1966).
Em uma carta secreta
publicada em Kulanda (Sibéria), os crentes dizem que a liderança oficial dos
"Batistas" "destruiu a Igreja e os seus verdadeiros servos no
mundo, assim como os sumos sacerdotes, os escribas e fariseus traíram a Jesus
Cristo, entregando-o a Pilatos".
Mas a Igreja
Subterrânea, igreja fiel, prossegue.
A Noiva de Cristo
continua a servi-lO! Os próprios comunistas admitem que tenho razão quando
afirmo que a Igreja Subterrânea ganha comunistas para Cristo Eles podem ser
ganhos!
Bakinskii Rabocii (O Operário de Baku), de 27 de abril
de 1966, reproduziu uma carta de Tânia Ciugu-nova (membro da Liga da Mocidade
Comunista) que fora ganha para Cristo. A carta foi apreendida pelas autoridades
comunistas:
"Querida Tia Nadia.
Abençoo-a da parte de nosso amado Senhor. Tia Nadia, quanto sou amada por
Ele! nada somos diante dEle. Tia Nadia, creio que a senhora entende estas
palavras: 'Amai a vossos inimigos, abençoai aos que vos maldizem, fazei bem
aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam".
Apreendida que foi essa
carta, Peter Serebrennikov, o irmão que trouxe a Cristo a Tia Nadia, bem como
muitos outros jovens comunistas, foi preso. O jornal comunista cita uma parte
de um de seus sermões: "Devemos crer em nosso Salvador como os cristãos
primitivos. Para nós a principal lei é a Bíblia. Nenhuma outra reconhecemos como
tal. Temos de nos apressar por salvar homens do pecado, especialmente os
jovens". Quando lhe foi comunicado que a lei soviética proibia falar aos
jovens a respeito de Cristo, respondeu: "Para nós a única lei é a
Bíblia". É resposta muitíssimo natural em um país regido por uma ditadura
ateia e cruel.
O jornal comunista
descreve depois a seguinte cena "selvagem"; "Rapazes e moças
cantam hinos. Recebem o batismo ritual e continuam a ensinar o perverso e
traiçoeiro amor aos inimigos".
O Bakinski Rabocii
diz que muitos rapazes e moças, membros da Liga da Mocidade Comunista, são na
realidade crentes! O artigo conclui com as seguintes palavras: "Como é
impotente a escola comunista, enfadonha e sem luz... pois os pastores são
capazes de arrebatar os discípulos dela sob as vistas dos seus educadores
indiferentes!"
O Kazakstanskaia
Pravda, de 30 de julho de 1966, manifestou-se horrorizado por descobrir que
o melhor aluno, com as melhores notas, era um jovem crente.
O Kirgizskaia Pravda,
de 17 de janeiro de 1966, cita um panfleto clandestino, cristão, dirigido às
mães: "Una-mo-nos nos esforços e orações para dedicar a Deus a vida de
nossos filhos desde o berço!... Salvemos nossos filhos da influência do
mundo!" Esses esforços têm sido bem sucedidos. Os jornais comunistas
testificam disso. O Cristianismo progride no meio da juventude.
Um jornal de
Celiabinski, Rússia, descreve como a jovem Nina, da Liga da Mocidade Comunista,
tornou-se crente. Aconteceu isso quando ela entrou em uma das reuniões secretas
evangélicas.
O Sovietskaia
Justitia, n.° 9 de 1966, descreve uma dessas reuniões secretas:
"Começou à meia noite. Ocultamente, desconfiados até da própria sombra,
homens vieram de diferentes lugares. Os irmãos encheram o quarto escuro, de
teto bem baixo. Havia tantos que não ficava espaço para se ajoelharem. Por
causa da insuficiência de ar apagou-se a luz da primitiva lâmpada a gás. O
suor pingava dos rostos. Na rua um dos servos do Senhor vigiava a
polícia". Nina, porém, disse que naquela reunião fora recebida com
abraços, calor e cuidado. "Eles tinham, como eu agora tenho, grande e
iluminadora fé — a fé em Deus. Ele nos toma sob Sua proteção. Que os Komsomols,
que me conheceram, passem por mim sem me cumprimentar! Que eles me olhem com
desprezo e me chamem "Batista", como se, fazendo assim, eles me
esbofeteassem. Deixem que o façam! Não preciso deles!"
Tantos outros jovens
comunistas, iguais a ela, tomaram a decisão de servir a Cristo até à morte.
As respostas que os
crentes da Igreja Subterrânea dão, quando levados perante os tribunais
comunistas, são divinamente inspiradas. Um juiz indagou: "Por que você
atrai gente para a sua seita proibida?" Uma irmã respondeu: "Nosso
alvo é conquistar o mundo todo para Cristo".
"Sua religião é
anti-científica", disse o juiz, escarnecendo em outro julgamento, ao que
uma jovem acusada — estudante — respondeu: "V. Excelência conhece mais
ciência do que Einstein ou Newton? Eles eram crentes. Nosso universo tem o nome
de Einstein. Aprendi no Ginásio que se chama Universo Einsteiniano. Einstein
escreveu: "Se limparmos o Judaísmo dos profetas e o Cristianismo, como
Jesus o ensinou, se os limparmos do que surgiu neles depois, especialmente da
astúcia padresca, teremos uma religião que pode salvar o mundo de todos os
males sociais. É dever santo de todo homem fazer tudo que puder para levar
essa religião ao triunfo'. Tenha na lembrança o nosso grande fisiologista
Pavlov. Não dizem os nossos livros que ele foi cristão? Até Marx, no prefácio
do seu livro 'Das Kapi-tal', disse que o 'Cristianismo, especialmente em sua
forma protestante, é a religião ideal para reconstituir caracteres destruídos
pelo pecado'. Eu tinha um caráter destruído pelo pecado. Marx ensinou-me a
tornar-me cristã, a fim de refazê-lo. Como podeis vós, marxistas, julgar-me por
isto?"
É fácil compreender por
que o juiz permaneceu calado.
A mesma acusação de ter
uma religião anti-científica, um crente respondeu diante de um tribunal:
"Estou certo, Sr. Juiz, que o Senhor não é tão grande cientista como
Simpson, o descobridor do clorofórmio e de muitos outros medicamentos. Quando
lhe perguntaram qual das suas descobertas considerava a maior, respondeu:
"Não foi o clorofórmio. Minha maior descoberta foi saber que sou pecador e
que posso ser salvo pela graça de Deus'",
A vida, o sacrifício
pessoal, o sangue que eles estão prontos a derramar por sua fé, este é o maior
argumento em favor do Cristianismo, apresentado pela Igreja Subterrânea. Isso
constitui o que o renomado missionário da África, Albert Schweitzer, chamou
"a comunhão sagrada daqueles que têm as marcas da dor", comunhão à
qual Jesus, o Varão de Dores, pertenceu". A Igreja Subterrânea está unida
por um laço de amor ao seu Salvador. O mesmo laço une os membros da Igreja uns
aos outros. Ninguém no mundo pode derrotá-los.
Em uma carta, que saiu
secretamente, a Igreja Subterrânea fez a seguinte declaração: "Não
oramos para ser melhores crentes, mas para que sejamos os crentes que Deus quer
que sejamos: Cristãos semelhantes a Cristo, isto é, Cristãos que levem de boa
vontade a cruz para a Glória de Deus".
Com a prudência
das serpentes, de acordo com o ensino de Jesus, os crentes sempre recusam
dizer, quando interrogados diante dos tribunais, quem são seus líderes.
A Pravda Vostoka (A
Verdade do Oriente), de 15 de janeiro de 1966, diz como a ré Maria Sevciuk,
interrogada sobre quem a trouxera a Cristo, respondeu: "Deus atraiu-me à
Sua congregação". Outro, sendo interpelado: "Quem é seu
líder?", respondeu: "Nós não temos líderes humanos".
Perguntaram a crianças
crentes: "Quem ensinou a vocês a deixar os Pioneiros e tirar a gravata
vermelha?" Responderam: "Fizemos isso por nossa própria vontade.
Ninguém nos ensinou".
Embora em alguns lugares
a crista do "iceberg" se manifeste, em outras partes os
crentes se batizam a si próprios, evitando assim a prisão dos seus líderes. Em
alguns lugares os batismos são efetuados em um rio, batizandos e batizador
usando máscaras, para que ninguém possa fotografá-los.
A Uchitelskaia Gazeta,
de 30 de janeiro de 1964, conta de uma conferência ateística na vila Voronin,
distrito de Volnecino-Korskii. Tão logo
o conferencista terminou, "os crentes começaram a atacar o ensino
ateístico por meio de perguntas", que o conferencista ateu não podia
responder. Perguntaram: "De onde vocês, comunistas, obtiveram os
princípios morais que proclamam, mas a que não obedecem, tais como: 'não
furtarás, não matarás'?" Os crentes mostraram ao conferencista que todos
esses princípios vieram da Bíblia, que os comunistas combatem. Ele ficou
completamente confuso e a conferência terminou com a vitória dos crentes!
Até onde se estende o
drama dos mártires cristãos?
O drama de Georgi
Vins e de outros perseguidos, deve ser sempre multiplicado por quatro ou mais!
GEORGI VINS,
Secretário da União dos batistas Livres (Igreja não oficial) foi condenado a
cinco anos em um campo de regime forçado, e mais cinco anos de exílio, com
confisco de seus bens em janeiro de 1975. Ele se encontra num campo perto de
Yakutsk. Seus móveis foram levados como pagamento das custas do processo.
Na foto, sua mulher e
filhos, olham consternados, enquanto uma oficial comunista supervisionava o
trabalho dos carregadores. (Notícia Divulgada 1976).
Cresce a Perseguição à
Igreja Subterrânea
Os crentes da Igreja
Subterrânea estão sofrendo agora mais do que nunca. Todas as religiões são
perseguidas na Rússia. Para os crentes é doloroso saber da opressão feita aos
judeus nos países comunistas. Mas o principal objetivo da perseguição é a
Igreja Subterrânea. A imprensa soviética relata uma onda de prisões e
julgamentos em massa. Em um lugar oitenta e dois crentes foram postos em um
manicômio. Vinte e quatro morreram depois de alguns dias em conseqüência de
"longas orações!" Desde quando o tamanho das orações mata? Podem imaginar o que eles passaram?
O pior sofrimento que
lhes é imposto é que se for descoberto que eles falam a respeito de Cristo aos
seus filhos, estes lhes serão arrebatados por toda a vida, sem que os pais
tenham o direito de visitá-los.
A União Soviética
assinou a Declaração das Nações Unidas "contra a discriminação na esfera
educacional", a qual estipula o seguinte: "Os pais devem ter o
direito de assegurar educação moral e religiosa aos filhos, de acordo com as
suas convicções". O traidor Karev, líder da União Batista Oficial da União
Soviética, no artigo acima citado afirma que esse direito é uma realidade na
Rússia — e os ingênuos crêem nele! Agora, vejam o que diz a imprensa soviética.
A Sowjetskaia Rússia, de
4 de junho de 1963, relata como a batista Makrinkowa viu seis filhos seus lhe
serem arrebatados porque lhes dera a fé cristã e lhes proibira usar a gravata
dos Pioneiros.
Quando ouviu a sentença,
disse apenas: "Eu sofro pela fé". E ainda tem de pagar a pensão dos
filhos que lhe foram arrebatados. Agora eles estão sendo envenenados com
ateísmo. Mães cristãs, pensai na agonia dela!
A Uchitelskaia Gazeta
conta que o mesmo aconteceu com Ignatii Mullin e sua esposa. O juiz exigiu que
abandonassem a fé, dizendo: "Escolham entre Deus e sua filha. Preferem
Deus?" Ao que o pai respondeu: "Não desisto de minha fé".
Paulo diz: "Todas
as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus". Tenho visto
essas crianças, que se criaram como crentes e que foram arrebatadas de seus
pais e colocadas em escolas comunistas. Ao invés de serem envenenadas com o
ateísmo, a fé que receberam em casa transmite-se a outras crianças.
A Bíblia diz que todo
aquele que ama a seus filhos mais do que a Jesus, não é digno dEle. Tais
palavras têm sentido por trás da Cortina de Ferro.
Tente o leitor passar
uma semana sem ver os seus filho.! Assim conhecerá o sofrimento dos seus irmãos
na Rússia.
Não seria justo falar
apenas da Igreja Subterrânea Protestante. Os cristãos ortodoxos na Rússia estão
completamente mudados. Milhões deles têm passado pelo cárcere. Ali não têm
rosário, nem crucifixos, nem imagens bentas, nem incenso, nem velas. Os leigos
têm estado presos sem a assistência de um padre. Os padres não têm paramentos,
não têm pão nem vinho para consagrar, não têm santos óleos, nem devocionários
para ler. E descobriram que podiam arranjar-se sem essas coisas, indo a Deus em
oração diretamente. Começaram a orar e Deus derramou sobre eles o Seu Espírito.
Um genuíno despertamento espiritual, muito semelhantes ao do Cristianismo
original, está ocorrendo entre os ortodoxos na Rússia.
Dessa forma acontece que
na Rússia, bem como nos países satélites, existe uma Igreja Ortodoxa
Subterrânea, que na realidade é evangélica, básica e muito chegada a Deus,
restando à mesma, apenas, pela força do hábito, muito pouco do ritual
ortodoxo.
Esses ortodoxos secretos
têm dado também grandes mártires. Quem poderia dizer onde está o velho arcebispo
Yermogen, de Kaluga? Ele se atreveu a protestar contra a traiçoeira colaboração
do Patriarcado com o governo ímpio comunista.
Cinqüenta anos de
domínio comunista! E a Imprensa russa a divulgar, amplamente, os triunfos da
Igreja Subterrânea. Esta tem passado por indescritível opressão, mas tem
permanecido fiel... e cresce!
Na Romênia, com o nosso
trabalho secreto, temos semeado a semente no exército russo. Da mesma forma têm
feito outros, na própria Rússia e em outros países invadidos pelos russos. A semente vai frutificando.
O mundo comunista pode
ser conquistado para Cristo. Comunistas podem tornar-se cristãos. De igual modo
os que por eles são oprimidos, se somente os ajudarmos.
A prova de que estou
certo é que a Igreja Subterrânea floresce na União Soviética, na China e em
quase todas as terras comunistas.
Para mostrar a beleza do
caráter de nossos companheiros cristãos sob terríveis circunstâncias, apresentarei
a seguir algumas cartas da Rússia, sendo as últimas provenientes de cárceres
daquele país.
Como
Varia, jovem comunista, encontra Cristo testemunha dEle e torna-se uma trabalhadora escrava
As primeiras três cartas
são de Maria, a jovem crente que levou Varia a Cristo.
Primeira carta:
"... Continuo a
viver aqui. Sou muito querida. Também sou amada por um membro da cela do
Kom-somol (Liga da Mocidade
Comunista). Ela me disse: 'Não posso
entender que criatura você é. Aqui muitos a insultam e afligem, mas você ainda
os ama'. Respondi que Deus nos tem ensinado a amar a todos, não apenas aos que
nos amam, mas aos inimigos também. Antes essa jovem me fez muito mal, mas orei
por ela com um interesse especial. Quando ela me perguntou se poderia amá-la
também, abracei-a e ambas começamos a chorar. Agora, oramos juntas. Por favor
orem por ela. Seu nome é Varia.
"Quando você ouve
aqueles que veementemente negam a Deus, parece que de fato eles estão convictos
do que dizem. A vida, porém, mostra que muitos deles, apesar de amaldiçoarem a
Deus com os lábios, em seus corações têm grande anseio por Ele. E você ouve o
gemido dos corações deles... Esses homens buscam alguma coisa e querem encher
com sua incredulidade o vazio que sentem no íntimo.
. "Sua irmã em
Cristo,
Maria"
Segunda carta:
"Em minha carta
anterior escrevi a respeito da jovem ateia Varia. Agora me apresso a
dizer-lhes, meus amados, de nossa grande alegria: Varia recebeu a Cristo como
seu Salvador pessoal, testemunhando sobre Isso abertamente, diante de todos.
"Quando creu em
Cristo e conheceu a alegria da salvação, ao mesmo tempo se sentiu muito
infeliz. E Isto porque antes propagara que Deus não existia. Agora está
decidida a expiar a sua culpa.
"Fomos com Varia à
assembléia dos ateus. Embora eu a advertisse que tivesse cautela e se
contivesse, isto de nada valeu. Varia foi, e eu com ela, para ver o que
aconteceria. Depois do rotineiro entoar do hino comunista (do qual Varia não
participou), ela pediu a palavra. Quando chegou a sua vez, pôs-se à frente de
toda a assembléia. Corajosamente e com multa emoção testemunhou de Cristo como
seu Salvador diante dos que ali estavam e pediu perdão aos seus
ex-camaradas por ter tido antes os seus olhos espirituais fechados, não ter
visto que estava seguindo e levando outros para a perdição. Implorou a todos
que abandonassem o seu caminho de pecado e viessem a Cristo. Todos ficaram em
silencio e ninguém a interrompeu. Quando acabou de falar, cantou com sua esplêndida
voz todo o hino cristão "Eu não me envergonho de proclamar a Cristo que
morreu, para defender os seus mandamentos e o poder da sua cruz".
"Depois... depois levaram nossa Variá.
"Hoje é nove de
maio. Nada sabemos a seu respeito. Deus, porém, é poderoso para salvá-la. Orem!
Sua
Maria".
Terceira carta:
"Ontem, dois de
agosto, tive uma conversa com nossa querida Varia na prisão. Meu coração se
confrange quando penso nela. De fato, ainda é uma criança. Tem apenas dezenove
anos. Como crente no Senhor e também uma criancinha espiritual. Todavia ama-O
de todo o seu coração e seguiu sem demora pelo caminho difícil. A pobre menina
sente tanta fome. Quando soubemos que estava presa começamos a mandar-lhes
pacotes. Recebeu, porém, apenas uma parte do que lhe foi mandado.
"Quando a vi ontem,
estava magra, pálida, fraca, Somente os olhos brilhavam com a paz de Deus e com
uma alegria extraterrena.
"Sim, meus
queridos, os que não experimentam a paz maravilhosa de Cristo não podem
entender isso. Que felizes são, porém, os que têm essa paz... Para nós que
estamos em Cristo, nenhum sofrimento, nenhuma frustração nos reprime.
"Perguntei-lhe
através das grades que nos separavam: 'Varia, você não se arrepende do que
fez' 'Não, respondeu. 'Se eles me libertassem, iria novamente e lhes falaria do
grande amor de Cristo. Não pense que estou
sofrendo. Estou muito feliz por me amar
tanto o Senhor e dar-me a alegria de perseverar pelo Seu nome.'
"Suplico que você
ore por ela do profundo do seu coração. Provavelmente será mandada para a
Sibéria. Tomaram-lhe as roupas e tudo que lhe pertencia. Ficou sem nada, exceto
o que tem sobre si. Não tem parentes, por isso temos de arranjar para ela as
coisas mais necessárias. Separei a última quantia que você me mandou. Se Varia
for deportada, farei que esse dinheiro chegue às mãos dela. Creio que Deus a
fortalecerá e lhe dará forças para resistir também no futuro. Deus a guarde!
Sua
Maria".
Quarta carta:
"Prezada Maria.
"Afinal posso
escrever-lhe. Chegamos bem a. Nosso campo dista dez milhas da cidade. Não posso
descrever nossa vida. Você a conhece. Quero dizer-lhe apenas um pouco sobre
minha pessoa. Agradeço a Deus a saúde que tenho e poder trabalhar com as mãos.
Eu e a irmã 'X' fomos postas a trabalhar na oficina. Trabalhamos ali em
máquinas. O trabalho é difícil e a saúde da irmã 'X' é precária. Tenho de
trabalhar por nós duas. Termino primeiro minha tarefa e depois ajudo minha
irmã. Trabalhamos de doze a treze horas por dia. Nosso alimento é como o seu,
muito pouco. Mas não é sobre isto que desejo escrever-lhe.
"Meu coração louva
e agradece a Deus porque ele me mostrou, por seu intermédio, o caminho da Salvação.
Agora que estou neste caminho, minha vida tem um propósito, eu sei para onde
vou e por Quem sofro. Sinto desejo de contar e testemunhar a todos sobre a
grande alegria da Salvação, que sinto em meu coração. Quem nos separará do amor
de Deus em Cristo? Nada e ninguém. Nem prisão, nem sofrimento. Os sofrimentos
que Deus nos manda apenas mais e mais nos fortalecem a fé nEle. Meu coração
está tão cheio que a graça de Deus transborda.
No trabalho eles me amaldiçoam e castigam e me dão tarefa extra porque
não posso ficar em silencio, mas tenho de dizer a todos o que o Senhor fez por
mim. Ele fez de mim um novo ser, uma nova criatura, de mim que estava no
caminho da perdição. Posso guardar silencio depois disto? Não, jamais! Enquanto
meus lábios puderem falar, testemunharei a todos do Seu grande amor.
"A caminho para o
campo encontramos muitos irmãos e irmãs em Cristo. Que maravilhoso é o fato de
você sentir, através do Espírito, que eles são filhos de Deus, logo que você vê
os irmãos e irmãs. É desnecessário falar. A primeira vista você sente e
conhece quem são.
"Quando nos
encaminhávamos ao campo, em uma estação ferroviária uma senhora veio, deu-nos
alimento e disse apenas duas palavras:
'Deus Vive'.
"Na primeira noite
depois de nossa chegada aqui (era tarde), fomos levados a barracas
subterrâneas. Saudamos os presentes com as palavras 'Paz Seja com Você'. Para
nossa grande alegria, de todos os lados ouvimos as respostas: 'Recebemos você
em paz'. E desde a primeira noite sentimos que estávamos em família.
"E de fato tem sido
assim. Aqui somos muitos, os que cremos em Cristo como nosso Salvador pessoal.
Mais da metade dos presos são crentes. Temos entre nós grandes cantores e bons
pregadores do Evangelho. A noite, quando nos ajudamos depois de pesado
trabalho, como é maravilhoso passar, pelo menos algum tempo, juntos em oração,
aos pés de nosso Salvador. Com Cristo há liberdade em toda parte. Aprendi aqui
muitos hinos espirituais lindos, e cada dia Deus me dá sempre mais de Sua
Palavra. Com a idade de dezenove anos celebrei o Natal de Jesus pela primeira
vez. Jamais esquecerei esse dia esplêndido! Tivemos de trabalhar o dia
inteiro. Alguns dos nossos irmãos, porém, puderam ir ao rio, nas proximidades.
Ali quebraram o gelo e prepararam o lugar onde, durante aquela noite — de
acordo com a Palavra de Deus — eu e mais sete irmãos fomos batizados. Oh, como
estou feliz e como gostaria que você, Maria, pudesse estar comigo também, para
que eu expiasse pelo menos um pouquinho, através do meu amor por você, o mal
que lhe fiz em dias passados. Deus, porém, coloca cada um de nós em seu lugar,
e devemos ficar firmes onde Ele nos tem colocado.
"Dê lembranças a
toda a família dos filhos de Deus. O Senhor abençoará ricamente o seu trabalho
costumeiro, como a mim tem abençoado. Leia Hebreus 12:1-3.
"Todos os nossos
irmãos a saúdam e estão alegres porque a sua fé em Deus é tão poderosa e você o
louva incessantemente em seus sofrimentos. Se escrever a outros, mande-lhes
nossas saudações.
Sua Variá".
Quinta carta:
"Querida Maria:
"Finalmente achei
ocasião de escrever-lhe umas linhas. Posso informar-lhe, minha querida, que
pela graça de Deus eu e a irmã 'X' estamos com saúde e nos sentimos bem. Agora
estamos em... Eles nos mandaram para... e aqui permanecemos.
"Agradeço-lhe seu
carinho maternal para comigo. Recebemos tudo quanto você preparou para nós.
Agradeço a coisa mais valiosa: a Bíblia. Agradeço a todos e quando lhes
escrever transmita-lhes minhas saudações e agradecimentos pelo que têm feito
por mim.
"Visto que Deus me
revelou o profundo mistério do seu santo amor, considero-me a criatura mais
feliz do mundo. As perseguições que tenho de suportar considero-as como uma
graça especial. Estou contente porque o Senhor me deu, desde o primeiro dia de
minha fé, a grande felicidade de sofrer por Ele. Orem todos por mim, para que
eu possa permanecer fiel ao Senhor até o fim.
"Que o Senhor a guarde
e fortaleça para o santo combate!
"Eu e a irmã 'X' enviamos beijos a todos.
Quando formos mandadas
para... talvez tenhamos a oportunidade de escrever novamente. Não se preocupe
conosco. Estamos alegres e felizes porque nossa recompensa no céu é grande. (Mat. 5.11, 12).
Sua
Varia"
Esta é a última carta de
Varia — a jovem comunista que encontrou a Cristo, testemunhou dEle e foi sentenciada
a trabalho forçado. Nunca mais tivemos notícias dela, porém seu lindo amor e
testemunho por Cristo mostram a beleza espiritual da sofredora e fiel Igreja
Subterrânea em um terço do mundo dominado pelo Comunismo.
CAPÍTULO VII
Minha mensagem, da parte
da Igreja Subterrânea, para os leitores
Tenho sido chamado
"A Voz da Igreja Subterrânea". Não me julgo digno de ser a voz de uma
parte tão honrada do Corpo de Cristo.
Entretanto, nos países
comunistas por muitos anos liderei uma fração dessa igreja. Por um milagre
sobrevivi a catorze anos de torturas e prisão, inclusive dois anos na
"cela da morte". Por um milagre ainda maior. Deus de alguma forma
achou de ir à prisão, tirar-me de lá e mandar-me para o Ocidente a fim de falar
à Igreja Livre.
Falo em nome de meus
irmãos que permanecem em incontáveis e Inomináveis sepulturas. Falo da parte de
meus Irmãos que hoje se reúnem secretamente nas florestas, porões, sótãos e
outros lugares semelhantes.
A Igreja Subterrânea na
Romênia decidiu que eu tentasse deixar meu país e trazer uma mensagem para os
cristãos livres do mundo. Por um milagre consegui sair agora e estou cumprindo
o encargo que me deram os que permanecem trabalhando, arriscando-se, sofrendo
e morrendo nas terras comunistas.
A mensagem que trago de
lá da Igreja Subterrânea. é a seguinte:
"Não nos abandonem!
"Não nos esqueçam!
"Não nos risquem do
mapa!
"Dêem-nos os meios
de que necessitamos! Pagare-mos o preço com o uso deles!"
Esta é a mensagem de que
fui encarregado, para vocês.
Falo em nome da Igreja
Silenciada, Igreja Subterrânea, secreta, muda, que não tem voz para falar.
Ouçam os clamores de
seus irmãos e irmãs das terras comunistas! Eles não pedem para fugir, ou para
terem uma vida segura e fácil. A única coisa que pedem são recursos para
neutralizarem o ateísmo com que os comunistas envenenam os seus moços — a
próxima geração. Pedem Bíblias que possam usar na propagação da Palavra de
Deus. Como poderão espalhar essa Palavra sem as Escrituras?
A Igreja Subterrânea é
como certo cirurgião que viajava de trem. Este colidiu com outro; centenas de
pessoas ficaram feridas, dilaceradas, morrendo no chão. O cirurgião passava
pelo meio dos moribundos, bradando: "Se pelo menos eu tivesse meus
aparelhos de cirurgia. Se tivesse o material necessário!" Com os
instrumentos cirúrgicos poderia salvar muitas vidas. Boa-vontade não lhe
faltava... mas não dispunha dos meios. É o que acontece com a Igreja
Subterrânea. Está disposta a dar tudo quanto tem. Está pronta a oferecer
seus mártires! Consente em arriscar longos anos nas prisçes comunistas! Toda a
sua boa vontade, no entanto, de nada vale se não tiver o material com que trabalhar.
A súplica da fiel e valente Igreja Subterrânea a todos vocês, que são livres,
é: "Dêem-nos os meios: Evangelhos, Bíblias, literatura e ajuda. Nós
faremos o resto!"
Como os
Crentes Livres podem Ajudar
Cada cristão livre pode
ajudar, imediatamente, dos seguintes modos:
Os ateus são pessoas que
não reconhecem a origem invisível de suas vidas. Não fazem qualquer
idéia do que seja mistério no universo e na vida. Os cristãos podem ajudá-los
melhor andando, eles próprios, não pela vista, mas pela fé, vivendo uma vida de
comunhão com o Deus invisível.
Podem ajudar-nos melhor
vivendo uma vida cristã coerente, vida de sacrifício. Podem ajudar protestando publicamente todas
as vezes que os cristãos são perseguidos.
Os cristãos ocidentais
podem ajudar-nos orando para que os comunistas sejam salvos. Tal oração pode
parecer ingênua. Orávamos por eles e no dia seguinte nos torturavam talvez um
pouco mais do que antes da oração. Mas a oração do Senhor de Jerusalém também
foi ingênua. Crucificaram-nO depois. Contudo, poucos dias após batiam nos
peitos e cinco mil foram convertidos em um dia. Quanto aos demais, seja dito
de passagem, a oração não foi vã. Toda oração que não é aceita em favor
daquele por quem você intercede, volta para você com grandes bênçãos e torna-se
em condenação para a pessoa que dela foi objeto. Cumprindo a ordem de Cristo,
eu e muitos crentes sempre orávamos por Hitler e seus colaboradores. Estou
certo de que as nossas orações ajudaram a derrotá-lo, tanto quanto as balas
dos soldados aliados.
Temos de amar ao nosso
próximo como a nós. Os comunistas são nosso próximo tanto quanto quem mais o
for.
Os comunistas são o
resultado de se não obedecerem as palavras de Cristo: "Vim para que
tenham vida e a tenham com abundância". Os cristãos não fizeram ainda vida
abundante para todos. Têm deixado alguns à margem de tudo que tem valor na
vida. Estes se rebelaram e constituíram o Partido Comunista. São muitas vezes
vítimas de injustiça social. Agora são rancorosos e cruéis. Temos que lutar
contra eles. Os cristãos, porém, mesmo quando lutam contra um inimigo, compreendem-nos
e amam.
Não estamos sem culpa de
alguns serem comunistas. Somos culpados pelo menos por negligenciarmos nosso
dever.
Por esta razão temos de
fazer expiação amando-os (o que é algo completamente diferente de gostar deles)
e por eles orando.
Não sou tão Ingênuo para
crer que apenas o amor pode resolver o problema do Comunismo. Não recomendaria às autoridades do Estado
que resolvam o problema do banditismo apenas com amor. Deve haver a força
policial, juizes, prisões para bandidos e não apenas pastores. Se os bandidos
não se arrependem, têm de ir para a cadeia. Nunca eu proporia o
"amor" cristão em oposição ao direito político, econômico ou cultural
de combater os comunistas, visto que nada mais são do que "bandidos"
em escala internacional. Bandidos roubam bolsas; os comunistas roubam países
inteiros.
Ninguém pode intervir
em alto mar. 50 mil folhetos em espanhol, especialmente preparados para
comunistas, foram levados pelas correntes oceânicas às costas de Cuba
comunista. Até agora a missão já lançou tais pacotes flutuantes em grandes
quantidades nos mares da Sibéria, da China, do Adriático e do Baltico.
Entretanto, pastores e
crentes, de per si, têm de fazer o melhor possível para levar Cristo aos
comunistas, tanto quanto as suas vítimas inocentes — não importando os crimes
que hajam cometido. Devem orar por eles com verdadeira compreensão.
Urgente
Necessidade de Bíblias e Evangelhos
Em segundo lugar, os
crentes livres podem ajudar enviando Bíblias e porções bíblicas. Há meios pelos
quais elas podem ser mandadas com segurança para as terras comunistas. Desde
que saí, já enviei muitas que chegaram a salvo. Há meios certos de mandá-las,
caso vocês crentes livres, as providenciem para os seus irmãos e irmãs da
Igreja Subterrânea. Quando eu ainda estava na Romênia, recebi muitas Bíblias
que entraram por determinadas vias. Os meios de mandá-las não constituem
problema. Somente que elas sejam providenciadas.
Há grande necessidade
delas. Milhares de crentes não têm visto Bíblias nem Evangelhos, a partir de
vinte a cinqüenta anos atrás, nos países satélites e na Rússia.
Dois camponeses muito
sujos um dia chegaram à minha casa. Tinham saído de sua vila para conseguir
trabalho como paleadores de terra gelada durante todo o inverno, a fim de
adquirirem algum dinheiro, com a leve esperança de poderem comprar uma Bíblia
velha e rota para a sua vila. Porque eu tinha recebido Bíblias da América, pude
dar-lhes uma Bíblia nova, e não uma velha e estragada. Não podiam crer no que seus olhos viam!
Quiseram pagar-me com o dinheiro ganho no trabalho. Recusei. Apressaram-se a
voltar à sua vila com a Bíblia. Alguns dias depois recebi uma carta em que
demonstravam incontida e extasiada alegria, agradecendo-me as Escrituras.
Assinavam-na trinta residentes do lugar. Cuidadosamente dividiram a Bíblia em
trinta partes, que eles permutavam entre si.
É realmente patético ver
um russo a implorar por uma página da Palavra de Deus. Ele alimenta com ela sua
alma. Alegremente troca uma vaca ou cabra por uma Bíblia. Um homem do meu
conhecimento vendeu seu anel de casamento, a fim de adquirir um Novo Testamento
usado. Nossos filhos nunca viram um cartão de Natal. Se recebessem um, todas as
crianças da vila se reuniriam em torno dele e algum ancião poderia falar-lhes a
respeito do Menino Jesus e da Virgem Maria, e, partindo daí, contar-lhes-ia a
história de Cristo e da Salvação. Tudo isso... em troca de um simples cartão de
Natal. Podemos mandar Bíblias, Evangelhos e literatura. Este é um dos meios de
vocês fazerem alguma coisa.
Em terceiro lugar,
podemos imprimir e enviar literatura para neutralizar o veneno do ateísmo que
está sendo ministrado à mocidade, desde o Jardim da Infância até o Colégio. Os
comunistas prepararam o "Guia do Ateu". É a bíblia deles. Versões
mais simples são dedicadas às crianças do Jardim da Infância, e versões
aumentadas do mesmo "Guia" são ensinadas às crianças mais crescidas.
Essa "bíblia" maligna segue a criança à proporção que ela vai
crescendo, envenenando-a com o ateísmo por todo o seu caminho. O mundo cristão
nunca publicou uma resposta ao "Guia do Ateu". Podemos e devemos
imprimir uma resposta cristã ao venenoso ensino ateu. Devemos fazer isso
imediatamente, porque a Igreja Subterrânea não dispõe de literatura para os
jovens envenenados por tal livro. A Igreja Subterrânea tem as mãos atadas às
suas costas, até possuir essa literatura nas diferentes línguas dos países
comunistas.
Nossa mocidade
envenenada deve ter uma resposta — a resposta de Deus, resposta cristã — a
nossa resposta! Esta é outra coisa que vocês podem fazer, ajudar a prover tal
literatura como resposta ao "Guia do Ateu" — literatura para moços,
ilustrada, e Bíblias para crianças.
A quarta coisa que podemos
fazer é "unir as mãos" às dos membros das Igrejas Subterrâneas e
dar-lhes meios financeiros de viajar e se moverem levando o Evangelho e fazendo
evangelismo pessoal. Neste momento tantos deles estão "acorrentados"
a seus lares, por falta de fundos que usem na compra de passagens de ônibus e
trens, e para alimento enquanto estiverem viajando. Assim estão encalhados,
Incapazes de se movimentarem, enquanto vilas, entre vinte e trinta milhas de
distância debalde os convidam para ir assistir a reuniões secretas. Dando-lhes
algum dinheiro mensalmente, podemos "desacorrentá-los" para que
atendam aos chamados e se dirijam às cidades e aldeias distantes com a Palavra
de Deus.
Ex-pastores que
estiverem presos por causa da fé, têm uma edificante mensagem do Evangelho,
amam ardorosamente as almas perdidas, porém, não têm os meios com que levem
essa mensagem às cidades e vilas. Algumas dezenas de cruzeiros por mês lhes
dariam essa oportunidade.
Leigos cristãos, homens
e mulheres, devem ser ajudados. Sendo crentes, ganham apenas o suficiente para
sobreviver, nada lhes sobrando para irem de vila em vila, de cidade em cidade
com o Evangelho. Este é o "milagre" que uma ajuda financeira mensal
pode fazer por eles.
Pastores de Igrejas
Oficiais que desempenham um ministério secreto, paralelo, com grande risco,
devem ter verba que lhes seja provida ocultamente para esse fim. O
"salário" deles, estabelecido pelo governo comunista, é extremamente
pequeno. A disposição desses pastores de arriscarem sua liberdade desdenhando
os regulamentos comunistas e pregando o Evangelho a crianças, moços e adultos,
em reuniões secretas, não é suficiente. Eles devem ter os meios de levar avante
o seu produtivo ministério secreto.
Algumas dezenas de
cruzeiros por mês ajudarão um membro da Igreja Subterrânea a disseminar o
Evangelho com eficiência. Este é outro meio pelo qual se pode ajudar a Igreja
Subterrânea.
Além disso, devemos
irradiar o Evangelho para os países comunistas. Usando estações de rádio
localizadas no mundo livre, podemos alimentar espiritualmente a Igreja
Subterrânea, que precisa muito do Pão da Vida. Porque o governo comunista
Irradia em ondas curtas a sua propaganda para o seu próprio povo, milhões de
russos e de outros povos escravizados têm rádios que receberão esses programas.
As portas estão agora abertas para Irradiações dirigidas aos países comunistas.
Esse trabalho deve ser ampliado. A Igreja Subterrânea deve ter a provisão de
alimento espiritual de tais Irradiações. Eis outro meio pelo qual vocês podem
ajudar a Igreja Subterrânea naqueles países.
A Tragédia
das Famílias dos Mártires Crentes
Devemos providenciar
auxílio às famílias dos mártires crentes. Dezenas de milhares de tais famílias
estão sofrendo agora de uma forma indescritivelmente trágica. Quando um membro
da Igreja Subterrânea é preso — um terrível drama sacode sua família. É sobremodo
ilegal qualquer pessoa ajudá-la. Tudo isso muito bem planejado pelos comunistas
a fim de aumentarem o sofrimento da esposa e dos filhos que ficam. Quando um
crente é preso — e não raro a isto se segue tortura e morte — os sofrimentos
apenas começam. A família sofre Interminavelmente. Posso dizer com segurança:
se os crentes da' classe média não tivessem mandado ajuda para mim e minha
família, nunca teríamos sobrevivido para estar agora com vocês e lhes escrever
estas palavras!
Agora mesmo rebentou
nova onda de prisões em massa e de terror contra crentes da Rússia e de outras
partes. Mais mártires estão sendo sacrificados cada dia. Embora eles desçam à
sepultura e recebam o seu galardão, suas famílias vivem em condições horríveis
e trágicas. Podemos e devemos ajudá-las. Naturalmente devemos ajudar os
indianos e africanos famintos. Quem no entanto merece a ajuda dos crentes mais
do que as famílias daqueles que têm morrido por Cristo, ou que estão sendo
atormentados em prisões comunistas por causa de sua fé?
Desde a minha
libertação, a Missão Cristã Européia já mandou muito auxílio às famílias dos
crentes martirizados. O que tem sido feito é pouco, em comparação com o que podemos
fazer com a ajuda de vocês, que me lêem.
Como membro da Igreja
Subterrânea, que sobrevivi e escapei trouxe para vocês uma mensagem, um apelo,
uma súplica da parte de meus irmãos que lá deixei.
Eles me enviaram para
que dirigisse aos leitores esta mensagem, em nome deles. Miraculosamente sobrevivi
para apresentá-la aqui.
Falei-lhes da urgência
que há de levar Cristo ao mundo comunista. Transmiti-lhes o urgente apelo para
que ajudem as famílias dos mártires cristãos. Apresentei-lhes os meios
práticos pelos quais podem ajudar a Igreja Subterrânea a realizar sua missão de
propagar o Evangelho.
Quando eu era espancado
na planta dos pés, minha boca gritava. Por que? Não era ela que estava sendo
maltratada. Gritava porque a boca e pés faziam parte do mesmo corpo. Vocês,
crentes livres, são parte do mesmo Corpo de Cristo, que está sendo esbordoado
nas prisões comunistas e que está produzindo mártires para o Senhor.
Vocês não sentem a nossa
dor?
A Igreja Primitiva, em
toda a sua beleza, sacrifício e dedicação, revive hoje nas terras comunistas.
Enquanto nosso Senhor
Jesus Cristo agonizava em oração no Jardim do Getsêmane, Pedro, Tiago e João
estavam a poucos passos do maior drama da história
contudo dormiam
profundamente. Quanto da preocupação cristã de vocês e de suas ofertas se
dirige a auxiliar os mártires da Igreja? Perguntem a seus pastores e lideres
o que está sendo feito, em nome de vocês, para ajudar seus irmãos e irmãs atrás
da Cortina de Ferro.
Por trás das paredes da
Cortina de Ferro, o drama, a bravura e o martírio da Igreja Primitiva se
repetem hoje uma vez mais, e a Igreja Livre dorme.
Nossos irmãos ali,
sozinhos e sem ajuda, estão empenhados na maior e mais corajosa batalha do
Século XX iguais no heroísmo, bravura e consagração da Igreja Primitiva. E a
Igreja Livre dorme indiferente a essa luta e agonia, exatamente como Pedro,
Tiago e João dormiam no momento da agonia do seu Salvador.
Dormirão vocês também
enquanto a Igreja Subterrânea, seus irmãos em Cristo, sofre e luta sozinha
pelo Evangelho? Vocês vão ouvir nossa mensagem: "Lembrem-se de nós,
ajudem-nos!"?
"Não nos
abandonem!"
Apresentei-lhes a
mensagem da fiel e martirizada Igreja Subterrânea nas terras comunistas,,
provinda de seus irmãos e irmãs que estão sofrendo nós grilhões do Comunismo
ateu.
"Quando o senhor
deixou a Romênia sentimos como se Cristo tivesse saído também" — trecho
de uma carta enviada secretamente pela Igreja Subterrânea que fora por muitos
anos dirigida por Richard Wurmbrand.
*
"Richard
Wurmbrand é, sem dúvida, uma das mais destacadas figuras do século vinte"
— (Jornal -"Evening News" - Londres)
*
Leia o segundo livro
de Richard Wurmbrand — "CRISTO EM CADEIAS COMUNISTAS".
"Crentes eram
pendurados em cordas de cabeça para baixo e açoitados tão severamente que seus
corpos balançavam de um lado para o outro sob a força das pancadas. Eram
colocados em refrigeradores — "celas refrigerantes" — tão frias que
se formava uma camada de gelo na parte interna. Eu próprio fui jogado em uma
dessas celas, com bem pouca roupa.
Médicos da prisão
observavam-nos através de uma abertura, até verem sintomas de morte por
congelamento. Nesse ponto davam sinal e os guardas nos tiravam e então éramos
aquecidos. Quando já estávamos adquirindo calor, éramos imediatamente
colocados de novo nas celas congeladoras, e isto repetidamente!
Descongelar depois
congelar até um ou dois minutos antes da morte, e então descongelar novamente.
Isso continuava indefinidamente. Até hoje, algumas vezes não suporto abrir um
refrigerador".
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