quinta-feira, 7 de junho de 2012

Todo Cristã deveria ler este Livro pois é um grande incentivo a Missões.






A Igreja Mártir do Presente
TORTURADO POR AMOR A CRISTO
Narrativa dos sofrimentos e do testemunho da IGREJA SECRETA
nos países atrás da Cortina de Ferro.
RICHARD WURMBRAND - Tradução Rev. Israel Gueiros Filho.
1976 Publicação da "VOZ DOS MÁRTIRES"
Digitalizado por: Dimas Silva


Digitalizado com exclusividade para:










Richard Wurmbrand
 O playboy que se tornou pregador — esteve preso durante 14 anos em ca­deias comunistas.
Os guar­das tentaram forçá-lo a confessar que pertencia a uma rede de espionagem imperialista.
Foi açoitado, torturado e obrigado a ingerir dro­gas.
Apesar de tudo ele resistiu e ficou firme.
Passou dois anos na "cela da morte" — assim chamada por não ter vol­tado ninguém dali com vi­da.

Título do original em inglês "Tortured for Christ"


1* Edição em português, junho                 de 1970
 2* Edição em português, novembro         de 1970
3* Edição em português, maio                  de 1972
4* Edição em português, junho                 de 1973
5* Edição em português, julho                  de 1976
        especial ilustrada


Revisão da Equipe:
"VOZ DOS MÁRTIRES - BHF"

Composto e impresso na IMPRENSA METODISTA

Índice

Quem é o autor    .................

Prefácio     ............................

Introdução     ........................

Oferecimento     ...................

Capítulo I   ...........................

Capítulo II   ..........................

Capítulo III   ........................

Capítulo IV   ........................

Capítulo V............................

Capítulo VI  .........................

Capítulo VII .........................

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QUEM É O AUTOR

O Rev. Richard Wurmbrand é o ministro evan­gélico que passou 14 anos como prisioneiro dos comu­nistas, torturado em sua própria terra, a Romênia. É um dos mais conhecidos líderes evangélicos, autor e educador. Poucos nomes são mais conhecidos em sua terra natal.
Em 1945, quando os comunistas tomaram a Romênia e tentaram submeter às Igrejas aos seus propósitos, Richard Wurmbrand imediatamente iniciou um minis­tério eficiente e vigoroso, pelo processo chamado "sub­terrâneo", destinado à pregação do Evangelho ao seu povo escravizado pelos soldados russos invasores. Foi preso em 1948 com sua esposa Sabina. Durante três anos sua esposa trabalhou escravizada e Richard Wurm­brand passou esse tempo numa prisão solitária — sem ver qualquer pessoa, a não ser os seus torturadores co­munistas. Depois de três anos foi transferido para uma cela coletiva, onde as torturas continuaram durante cinco anos.
Por causa de sua liderança cristã internacional, di­plomatas de embaixadas estrangeiras indagaram ao go­verno comunista sobre sua segurança. A resposta foi que ele havia fugido da Romênia. Elementos da polícia secreta, passando como ex-companheiros de prisão, dis­seram à sua esposa que assistiram ao seu funeral no cemitério da prisão. Sua família na Romênia e seus amigos de outros países foram avisados que deveriam esquecê-lo em vista de já estar morto.
Depois de oito anos foi solto e imediatamente reas­sumiu seu trabalho na Igreja Subterrânea. Dois anos depois, em 1959, foi outra vez preso e condenado a 25 anos de reclusão.
Foi solto em 1964 por uma anistia geral e mais uma vez prosseguiu em seu ministério secreto. Levando em consideração o grande perigo de um terceiro período na prisão, crentes da Noruega negociam com as auto­ridades comunistas sua permissão para deixar a Romênia. O governo comunista havia iniciado a "venda" dos seus presos políticos. O preço da libertação de um prisioneiro era de 800 libras, mas o preço de Wurmbrand foi fixado em 2.500 libras!
Em maio de 1966 testemunhou ele em Washington perante a Subcomissão de Segurança Interna do Se­nado Americano, ocasião em que tirou a camisa para mostrar aos presentes dezoito profundas cicatrizes pro­vocadas pelas torturas físicas recebidas.
Sua história foi levada a todo o mundo pela im­prensa livre dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia. Em setembro de 1966 foi advertido que o regime comu­nista da Romênia decidira eliminá-lo. Apesar disso não silenciou e continua a dar seu testemunho. Tem sido chamado "a voz da Igreja Subterrânea". Líderes cristãos têm-no considerado o "Mártir Vivo" e o "Paulo da Cortina de Ferro".

PREFÁCIO

Rev.  W.  Stuart Harris, F.R.G.S. Diretor Geral da Missão Cristã Européia

Foi em dezembro de 1964 que entrei pela primeira vez na Romênia. A não ser a Albânia, a Romênia era o único país na Europa onde eu não havia estado. Por alguns meses vinha tendo uma clara indicação de Deus de que deveria ir lá, e assim na companhia do Rev. John Moseley atravessei a fronteira entre a Hungria e a Romênia. Imediatamente descobrimos que estáva­mos em um país comunista onde éramos observados cuidadosamente pelas autoridades. Apesar disso os cren­tes nos fizeram boa recepção e no domingo à noite, primeiro do Advento, fomos à Igreja Batista Alemã de Bucareste. Ambos fomos convidados a fazer saudações e a dar testemunhos. Quando a reunião terminou, mui­tos falaram conosco, incluindo um cidadão alto, de olhar ansioso e rosto pálido, que nos perguntou se poderia falar conosco. Disse-nos que assumiria o risco se fôsse­mos até a sua casa. Então, às 10:00 daquela mesma noite, conseguimos chegar a casa na qual Richard Wurmbrand, sua esposa e o filho do casal, Mihai, viviam em uma pequena sala no sótão.
Entramos quietamente e então o pastor, do qual havíamos ouvido falar tanto no Ocidente, nos relatou os acontecimentos de suas experiências maravilhosas e dos seus livramentos durante os 14 anos de prisão. Primeiro o filho e depois Sabina, sua esposa, olharam a rua e ambos disseram que a casa estava cercada pela polícia, cujo carro estava do outro lado da rua. Quanto tempo iriam eles observar a casa? Qual seria o resul­tado? Richard Wurmbrand terminou a sua história e então oramos. Aquela foi uma inesquecível reunião de oração na qual rogamos a Deus pela proteção de seus servos. '
Havíamos visto as marcas das torturas em seu cor­po e havíamos sentido como nunca os horrores daqueles anos. Apesar disso brilha, através dessa triste história de encarceramento e sofrimento, uma luz de glória e de amor. Deus ouviu as nossas orações e quando final­mente saímos, a polícia havia ido embora.
Tínhamos encontrado pela primeira vez essa famí­lia de Deus com um testemunho tão heróico por Jesus Cristo, que ambos sentimos que jamais poderíamos ser o que fomos antes. Assim, sinto-me honrado por me haverem pedido a apresentação deste livro, e o faço com uma fervorosa oração: que Deus toque em muitos corações no sentido de amarem aos povos da Europa Oriental, a fim de que uma resposta magnânima possa resultar em ajuda substancial àqueles que sofrem por amor de Jesus Cristo, suprindo eles dessa forma na própria carne o que falta às Suas aflições, por amor do Seu corpo místico, a Igreja.


INTRODUÇÃO

Por que escrevo este livro

Trago para cada crente livre uma mensagem da Igreja Subterrânea que está atrás da Cortina de Ferro.
A Igreja Subterrânea que eu dirigi por muitos anos resolveu que eu deveria fazer todo o possível para chegar ao mundo livre e trazer-lhe uma urgente mensagem. Por um milagre sobrevivi às misérias que o leitor vai ler e consegui chegar ao mundo livre. Neste livro trago a mensagem da qual fui incumbido pela fiel e sofredora Igreja Subterrânea dos países comunistas. Assim, para que a mensagem da Igreja Subterrânea receba da parte do leitor completa e urgente consideração, dou, em pri­meiro lugar, o meu próprio testemunho e narrarei a seguir a obra da referida Igreja.

OFERECIMENTO

Ao Reverendo W. Stuart Harris, Diretor Geral da Missão Cristã Européia, em Londres, que, quando saí da prisão em 1964, veio à Romênia como o primeiro mensageiro dos crentes ocidentais. Vindo ao nosso lar tarde da noite, depois de havermos tomado muitas me­didas de precaução, trouxe-nos as primeiras palavras de amor e conforto, bem como a primeira ajuda para famílias de mártires cristãos. Em seus nomes aqui ex­presso a nossa gratidão.

CAPÍTULO I

Um Ateu encontra Cristo

Fui criado em um lar onde religião nenhuma era admitida. Durante minha infância não recebi qual­quer educação religiosa e com a idade de 14 anos já me considerava ateu. Fora este o resultado de uma infância rude. Fiquei órfão nos meus primeiros anos e conheci o que é ser pobre durante a Primeira Guerra Mundial. Aos 14 anos estava eu tão convencido do ateísmo como os comunistas hoje. Havia lido livros ateus e não era apenas uma questão de não crer em Deus ou em Jesus Cristo... Eu odiava tais noções, considerando-as malé­ficas à mente humana.   Assim cresci com ódio à religião.
Mas, como vim a entender posteriormente, tive a graça de ser um dos escolhidos de Deus por motivos que não estão ao meu alcance. Tais motivos nada tinham a ver com o meu caráter, pois era muito mau.
Apesar de ateu, alguma coisa inexplicável sempre me atraía às Igrejas. Era-me difícil passar por um tem­plo sem que lá entrasse. Entretanto, nunca entendi o que se passava em tais igrejas. Prestava atenção aos sermões, contudo eles não apelavam ao meu coração. Tinha certeza de que não havia Deus. Odiava a idéia de Deus como Senhor a quem eu tinha de obedecer. Odiava a noção errada dEle, que tinha em minha mente. Gostaria, porém, imensamente de saber da existência de um coração meigo em algum lugar no centro do uni­verso. Conhecia pouco dos prazeres da infância e da mocidade. Mas suspirava por um coração bondoso, pal­pitando por mim, em algum lugar.
Sabia que não existia Deus, porém sentia-me triste com a idéia de que tal Deus de amor não existisse. Certa vez, em minha íntima luta espiritual, entrei em uma Igreja Católica: vi ali gente de joelhos, dizendo al­guma coisa. Então pensei em ajoelhar-me junto a eles, tentando entender o que eles estavam dizendo, e repeti as rezas para ver se algo me aconteceria. Eles rezavam à Santa Virgem: "Ave Maria, cheia de graça". Repeti as palavras com eles muitas vezes, olhei para a está­tua da Virgem Maria, porém nada me aconteceu. Piquei muito triste com Isso.
Um dia, mesmo sendo ateu muito convicto, orei a Deus. Minha oração foi mais ou menos assim: "Deus, eu sei com certeza que Tu não existes. Porém, se por acaso Tu existires, o que eu duvido, não é minha obri­gação acreditar em Ti; é tua obrigação Te revelares a mim". Eu era ateu, porém o ateísmo não dava paz ao meu coração.
Foi nessa hora de tormenta íntima — como vim a descobrir depois — que em uma vila nas montanhas da Romênia, um velho carpinteiro orava assim: "Meu Deus, eu Te servi na terra e desejava ter minha recom­pensa tanto na terra como nos Céus. E a minha recom­pensa deve ser que eu não morra antes de ter trazido um judeu para Cristo, porque Jesus era do povo judeu. Porém eu sou pobre, velho e doente. Não posso ir em busca de um judeu. Em minha vila não há judeu algum. Traze um judeu à minha vila e eu farei o melhor que puder para levá-lo a Cristo".
Algo irresistível levou-me àquela vila. Nada tinha para fazer ali. A Romênia tem doze mil vilas. Porém eu fui àquela vila. Vendo que eu era judeu, o carpinteiro me cortejou como nunca uma bela jovem havia sido cortejada. Ele viu em mim uma resposta às suas ora­ções e deu-me uma Bíblia para ler. Eu a havia lido antes várias vezes por motivos culturais. Porém a Bí­blia que ele me havia dado era de um tipo diferente. Como me disse depois, ele havia orado horas a fio, jun­tamente com sua esposa, pela minha conversão e a da minha senhora. E a Bíblia que ele me deu fora escrita, não tanto com letras, mas com chamas de amor ateadas por suas orações.   Eu mal podia lê-la.   Apenas chorava sobre ela, comparando minha vida má com a vida de Jesus; minha impureza com Sua pureza; meu ódio com Seu amor; e Ele me aceitou para ser um dos Seus!
Logo depois minha esposa também se converteu. Ela trouxe outras almas para Cristo e estas outras almas trouxeram ainda mais almas para Cristo e então uma nova Congregação Luterana estabeleceu-se na Romênia.
Chegou então o tempo do Nazismo. Tivemos muito que sofrer. Na Romênia, o Nazismo tomou a forma de ditadura com elementos de ortodoxia extremista, os quais perseguiam tanto os grupos protestantes como os judeus.
Mesmo antes da minha ordenação e antes de estar preparado para o ministério, eu era realmente o líder dessa Igreja, sendo o seu fundador. Eu era responsável por ela. Minha esposa e eu fomos muitas vezes presos, açoitados e levados à presença de juizes nazistas. O terror nazista era enorme, porém era apenas uma amos­tra daquilo que haveria de vir sob o regime comunista. Tivemos de dar ao nosso filho um nome não judaico, para preservá-lo com vida.
Tais dias sob o Nazismo nos trouxeram uma grande vantagem. Eles nos ensinaram que açoites físicos pode­riam ser suportados; que o espírito humano com a ajuda de Deus pode sobreviver a horríveis torturas. Essa época também nos ensinou as técnicas de um trabalho cristão secreto que era uma preparação para uma prova muito pior que haveria de vir, prova que estava diante de nós.

Meu Ministério entre os Russos

Por causa do meu remorso de ter sido ateu, ansiava, desde o primeiro dia da minha conversão, poder teste­munhar aos russos. Os russos são um povo educado, desde a meninice, no ateísmo. Meu desejo de testemu­nhar aos russos já foi consumado. Sua realização come­çou nos tempos nazistas, porque tínhamos na Romênia muitos milhares de russos como prisioneiros de guerra e podíamos fazer trabalho evangelistico entre eles. Era um trabalho dramático e muito comovente. Nunca me esquecerei do meu primeiro encontro com um prisio­neiro russo. Ele me havia dito que era engenheiro. Per­guntei-lhe se cria em Deus. Se ele houvesse dito "não", jamais me incomodaria tanto. É direito de cada homem crer ou descrer. Porém quando lhe perguntei se cria em Deus, ele levantou os olhos para mim, sem me enten­der, e disse: "Não tenho ordem militar para crer. Se eu tiver uma ordem, crerei".
Lágrimas correram no meu rosto. Senti meu cora­ção quebrantado. Diante de mim estava um homem com uma mente morta, um homem que havia perdido o maior dom que Deus dera à humanidade — o de ser um indivíduo. Ele havia passado por uma lavagem cere­bral e se tornado um instrumento nas mãos dos co­munistas, preparado para crer ou não em uma ordem. . Não podia mais pensar por si próprio. Era um russo típico depois de todos esses anos de domínio comunista! Depois do choque de ver o que o Comunismo tem feito com a pessoa humana, prometi a Deus dedicar a minha vida a estes homens, para trazer-lhes de volta sua per­sonalidade e dar-lhes fé em Deus e em Cristo.
Não foi preciso ir à Rússia para pregar aos russos.
A partir do dia 23 de agosto de 1944, um milhão de soldados russos entraram na Romênia e logo após os comunistas assumiram o poder do nosso país. Então começou um pesadelo que fazia o sofrimento sob o Na­zismo parecer nada.
Naqueles dias, na Romênia que tinha uma popu­lação de 18 milhões, o Partido Comunista possuía apenas 10 mil membros. Entretanto, Vishinsky, Secretário do Exterior da União Soviética, intempestivamente entrou no gabinete do nosso mui querido Rei Miguel I e, esmur­rando a mesa, disse: "Você tem de nomear comunistas para o Governo". Nosso exército e polícia foram desar­mados e, desta maneira, através da violência e odiados por quase todos, os comunistas assumiram o poder. Isso não se deu sem a cooperação dos governantes america­nos e britânicos daqueles dias.
Os homens não são responsáveis perante Deus ape­nas por seus pecados pessoais, mas igualmente pelos seus pecados cometidos no plano nacional. A tragédia de to­das essas nações cativas é uma responsabilidade dos co­rações de crentes americanos e britânicos. Os america­nos devem saber que têm ajudado, involuntariamente, os russos a estabelecer sobre nós um regime de assassínio e terror. Devem expiar sua falta, agora, ajudando os povos cativos a vir à luz de Cristo.

São a mesma, a linguagem do Amor e a da Sedução

Desde que os comunistas assumiram o poder, cui­dadosa e astutamente para os seus propósitos têm se­duzido a Igreja. A linguagem do amor e a da sedução não diferem. Quem deseja uma jovem para ser sua es­posa e quem a deseja por apenas uma noite, para depois a desprezar, ambos dizem "eu te amo". Jesus ensinou-nos a distinguir a linguagem da sedução da do amor, bem como a distinguir entre os lobos vestidos de ove­lhas e as ovelhas de verdade.
Quando os comunistas assumiram o poder, milhares de padres, pastores e ministros não sabiam como dis­tinguir as duas vozes.
Os comunistas organizaram um Congresso de todos os grupos cristãos no edifício do nosso Parlamento. Ali estavam quatro mil padres, pastores e ministros de todas as denominações. Esses quatro mil padres e pas­tores escolheram Joseph Stalin como presidente hono­rário do Congresso. Ao mesmo tempo era presidente do Movimento Mundial dos Ateus e assassinos dos cristãos. Um após outro, bispos e pastores se levantou no nosso Parlamento e declararam que Comunismo e Cristianis­mo são fundamentalmente a mesma coisa e podiam muito bem coexistir. Um após outro, os ministros ali presentes pronunciaram palavras laudatórias ao Comu­nismo e asseguraram ao novo governo a lealdade da Igreja.
Minha esposa e eu estávamos presentes. Ela, sen­tada junto a mim, dizia-me: "Ricardo, levanta-te e lava esta vergonha que estão atirando à face de Cristo! Eles estão cuspindo no Seu rosto". Respondi-lhe: "Se eu assim proceder, você perderá seu marido". Ela atalhou: "Não quero ter um marido covarde".
Então me levantei e falei ao Congresso, exaltando não aos matadores de cristãos, mas a Cristo e Deus, e afirmei que nossa lealdade é devida em primeiro lugar ao Senhor. Os discursos nesse Congresso estavam sendo irradiados; por todo o país se ouvia a proclamação do Evangelho, feita da tribuna do Parlamento comunista! Depois tive de pagar por isto, mas valeu a pena!
Ortodoxos e protestantes disputavam entre si a en­trega de cada um ao Comunismo. Um bispo ortodoxo colocou em sua batina a foice e o martelo, pedindo aos seus subalternos que não mais o chamassem de "Sua Graça", mas de "Camarada Bispo". Assisti ao Congres­so dos batistas na cidade de Resita — congresso sob a bandeira vermelha — que o hino da União Soviética foi entoado por todos os presentes de pé. O presidente dos batistas afirmou que Stalin o que fez foi realizar a vontade de Deus e também o elogiou como um grande professor de Bíblia! Padres ortodoxos como Patrascoiu e Rosianou foram mais específicos. Tornaram-se agentes da Policia Secreta. Rapp, bispo representante da Igreja Luterana da Romênia, começou a ensinar no Seminá­rio Teológico que Deus deu três revelações: uma por Moisés, outra através de Jesus e a terceira através de Stalin, esta última superando a anterior.
Deve ficar entendido que os verdadeiros batistas, aos quais muito amo, não concordaram com isso e perma­neceram fiéis a Cristo, pelo que muito sofreram. En­tretanto, os comunistas "elegeram" seus líderes e eles não tiveram outra alternativa senão aceitá-los. A mes­ma situação continua hoje com a mais alta liderança religiosa.
Aqueles que se tornaram servos do Comunismo, em lugar de servos de Cristo, começaram a denunciar os irmãos que os não acompanhavam.
Da mesma forma como os cristãos russos criaram uma Igreja Subterrânea depois da Revolução no seu país, a ascensão do Comunismo e a traição praticada por muitos líderes oficiais da igreja compeliram-nos a criar também na Romênia uma Igreja Subterrânea, que fosse fiel à evangelização, à pregação do Evangelho e que atraísse as crianças para Cristo. Os comunistas proi­biram tudo isso e a igreja oficial concordou.
Juntamente com outros, comecei um trabalho sub­terrâneo. Fora, eu tinha uma posição social muito res­peitável, que nada tinha a ver com o meu trabalho se­creto e que servia apenas de cobertura. Era pastor da Missão Luterana Norueguesa e ao mesmo tempo traba­lhava na representação do Concilio Mundial de Igrejas na Romênia. (Na Romênia não tínhamos a menor idéia de que esta organização cooperasse com os comunistas. Naquela época em nosso país o Concilio Mundial não fazia coisa alguma a não ser o trabalho de assistência social). Estes dois títulos davam-me boa posição perante as au­toridades que não sabiam de minhas atividades secretas.
Elas tinham dois ramos.
O primeiro era nosso trabalho secreto entre um mi­lhão de soldados russos.
O segundo era o nosso ministério secreto entre o povo escravizado da Romênia.
Russos — um Povo de Alma Sedenta
Pregar o Evangelho aos russos é o mesmo que ex­perimentar o céu na terra. Já preguei a homens de muitas nações, porém nunca vi gente para absorver o Evangelho como os russos. Eles de fato têm almas se­dentas.
Um padre da Igreja Ortodoxa, muito amigo meu, telefonou-me e contou-me que um oficial russo o havia procurado para se confessar. Meu amigo, porém, não conhecia a língua russa. Sabendo que eu falava esse idioma, deu meu endereço ao oficial. No dia seguinte, ele veio ao meu encontro. Amava a Deus e O buscava, mas nunca havia visto uma Bíblia. Nunca assistira a trabalhos religiosos.    (Igrejas na Rússia são muito raras).   Não tivera nenhuma educação religiosa, porém amava a Deus sem ter o menor conhecimento dEle.
Comecei a ler para ele o Sermão da Montanha e as parábolas de Jesus. Depois de ouvi-las dançou ao redor da sala com grande alegria, exclamando: "Que beleza maravilhosa! Como é que eu poderia viver sem conhecer este Cristo!" Foi a primeira vez que vi uma pessoa tão arrebatada de alegria no Senhor.
Prosseguindo, cometi um erro. Li para ele a narra­tiva da Paixão e da Crucificação de Jesus, sem tê-lo ainda preparado para tanto. Ele não esperava, e quando ouviu do sofrimento de Cristo, como foi crucificado e finalmente morreu, caiu em uma poltrona e começou a chorar amargamente. Havia crido em um Salvador e agora este estava morto.
Olhei para aquele homem e fiquei envergonhado por me haver chamado de Crente e Pastor, mestre do rebanho e nunca haver partilhado dos sofrimentos de Cristo, como este oficial russo agora fazia. Ao vê-lo, senti como se estivesse a ver Maria Madalena chorando ao pé da cruz, e mesmo quando Cristo já era cadáver no túmulo.
Então li a história da Ressurreição. Ele não sabia que Cristo havia ressuscitado dos mortos. Quando ou­viu tão maravilhosas novas, bateu em seus joelhos e proferiu palavras não muito dignas, porém, eu as con­siderei de grande valor, pois esta era a sua rude ma­neira de se expressar! Mais uma vez se alegrou. Gritou de alegria: "Ele está vivo!". Novamente dançou ao re­dor da sala, transbordante de alegria.
Disse-lhe: "Oremos!" Ele não sabia como orar. Não sabia as nossas frases sagradas. Ajoelhamo-nos e suas palavras foram: "Oh Deus, que camaradão Tu és! Se eu fora Tu e Tu fosses eu, nunca Te perdoaria os Teus pecados. Porém Tu és realmente um camaradão! Eu Te amo de todo o meu coração".
Penso que todos os anjos nos céus pararam para ouvir esta sublime oração de um oficial russo. O ho­mem havia sido vencido por Cristo!
Certa vez encontrei em uma loja um capitão russo com uma senhora, também oficial. Estavam comprando multas coisas e tinham dificuldade em falar com o vendedor que não entendia russo. Ofereci-me como in­térprete e fizemos amizade. Convidei-os para almoçar em nossa casa. Antes de começarmos a refeição, eu lhes disse: "Vocês estão em uma casa cristã e aqui temos o hábito de orar". Orei em russo. Com surpresa para mim largaram os garfos e facas e não se inte­ressaram mais pela comida. Começaram a fazer-nos pergunta após pergunta a respeito de Deus, de Jesus Cristo e da Bíblia.   Não sabia de coisa alguma.
Não foi fácil falar-lhes. Contei-lhes a parábola do homem que tinha cem ovelhas e perdeu uma. Não en­tenderam. Perguntaram: "Como é que ele tem cem ovelhas? Porventura a fazenda comunista ainda não as tomou?" Afirmei-lhes que Jesus é um Rei. Responderam-me: "Todos os reis foram homens ruins que tiranizaram o povo e Jesus também deve ter sido um tirano". Quando lhes contei a parábola dos trabalhadores na vinha, disseram: "Bem, estes fizeram muito bem em se rebelar contra o dono. A vinha tem de pertencer à coletividade". Tudo lhes era novo. Quando lhes contei a respeito do nascimento de Jesus, perguntaram-me: O que na boca de um ocidental seria uma blasfêmia: "Era Maria a esposa de Deus?" E assim entendi pela conversa com eles e muitos outros que para pregar o Evangelho aos russos, depois de tantos anos sob o Co­munismo, devemos usar uma linguagem totalmente nova.
Missionários que foram à África, tiveram dificulda­des em traduzir as palavras de Isaías, "Ainda que os teus pecados sejam vermelhos como a escarlata eles se tornarão mais alvos que a neve." Ninguém na África Central jamais viu neve. Não tinham palavra para neve. Tiveram que traduzir: "Vossos pecados se tornarão mais alvos que a polpa de coco seco".
Dessa forma tínhamos que traduzir o Evangelho para a linguagem marxista, para torná-lo compreen­sível a eles.    Isso era algo que não podíamos fazer sozinhos, mas o Espírito Santo fez Seu trabalho por nosso intermédio.
O capitão e a oficial se converteram no mesmo dia. Depois nos ajudaram muito em nosso ministério subter­râneo entre os russos.
Secretamente imprimíamos milhares de Evangelhos e outros tipos de literatura cristã e distribuíamos entre os russos. Através dos soldados russos convertidos podía­mos contrabandear para a Rússia, muitas Bíblias e por­ções bíblicas.
Outra técnica também empregávamos para fazer chegar tal literatura às mãos dos russos. Os soldados russos estavam lutando havia vários anos e muitos deles tinham deixado crianças, às quais não viam por todo esse tempo. (Os russos têm grande afeição por crian­ças). Meu filho Mihai, juntamente com outras crianças de menos de dez anos, ia aos soldados russos nas ruas e parques, levando consigo muitas Bíblias, Evangelhos e panfletos religiosos em seus bolsos. Os soldados russos acariciavam-lhes as cabeças e com eles falavam carinhosamente, pensando em seus filhos que não viam por tantos anos. Davam chocolates ou doces e as crianças, por sua vez, davam-lhes alguma coisa: Bíblias e Evan­gelhos que eram recebidos com ansiedade. De fato, o que nos era muito perigoso fazer abertamente, nossos filhos faziam em completa segurança. Eles eram "pe­quenos missionários" a serviço dos russos. Os resulta­dos eram excelentes. Muitos soldados receberam o Evan­gelho dessa maneira, quando não existia outro meio para fazê-lo.

Pregando em Acampamento Russo

Trabalhamos com os russos não somente através do testemunho pessoal. Foi-nos possível, também, tra­balhar em pequenas reuniões.
Os russos eram maníacos por relógios. Roubavam-nos, de todo o mundo. Paravam os homens nas ruas, os quais tinham de lhes entregar seus relógios. Podiam se ver russos com vários relógios em cada braço.    Era possível ver uma oficial russa com um despertador pen­durado ao pescoço. Nunca tinham tido relógios ante­riormente e não podiam contentar-se com poucos. Os romenos que desejassem um relógio tinham que ir ao acampamento soviético para comprar um roubado, al­gumas vezes comprando o seu próprio relógio. Desta maneira era comum romenos entrarem no acampa­mento russo. Nós da Igreja Subterrânea tínhamos um bom pretexto — o de comprar relógios — para também podermos entrar.
Escolhi como minha primeira tentativa para entrar e pregar no acampamento russo um dia festivo para a Igreja Ortodoxa: o dia de São Pedro e São Paulo. Entrei na base militar como que pretendendo comprar um relógio. Disse que um estava caro, outro muito pe­queno, outro grande demais. Muitos soldados me ro­dearam tentando vender-me algo; então, em tom de brincadeira, perguntei-lhes: "Alguém aqui se chama Pedro ou Paulo?" Alguns tinham estes nomes. Então lhes disse: "Vocês sabem que hoje é o dia em que a sua Igreja Ortodoxa homenageia São Paulo e São Pe­dro?" (Alguns dos mais idosos sabiam disto.) E conti­nuei: "Vocês sabem quem eram Pedro e Paulo?" Nin­guém sabia. Comecei a contar acerca desses apóstolos. Um dos soldados mais velhos me interrompeu e observou: "Você não veio comprar relógios. Você veio nos falar sobre a fé. Sente-se aqui conosco e nos fale! Mas seja muito cauteloso! Sabemos de quem nos precaver. Estes ao meu redor são todos de confiança. Quando eu colocar a mão no seu joelho, deve falar unicamente sobre re­lógios. Quando removê-la, pode recomeçar sua mensa­gem". Uma turma grande estava ao meu redor e lhes contei a respeito de Paulo e de Pedro, a respeito de Cristo, por quem esses apóstolos morreram. De vez em quando entrava uma pessoa em quem não tínhamos confiança. O soldado colocava a mão no meu joelho e imediatamente começávamos a falar sobre relógios. Quando aquela pessoa saía, continuava pregando a res­peito de Cristo. Esta visita foi repetida muitas e muitas vezes com o auxílio dos soldados russos crentes.   Muitos dos seus camaradas encontraram a Cristo como Sal­vador pessoal. Milhares de Evangelhos foram distribuí­dos secretamente.
Muitos de nossos irmãos e irmãs da Igreja Subter­rânea foram presos e açoitados rigorosamente por isto, mas apesar de tudo nunca traíram a nossa organização.
Durante este trabalho tivemos o prazer de nos en­contrar com irmãos da Igreja Subterrânea russa e ouvir suas experiências. Acima de tudo víamos nelas os fei­tos de grandes santos. Tinham eles passado através de tantos anos de doutrinação comunista! Alguns ha­viam passado pelas universidades comunistas, mas como o peixe vive em água salgada e apesar disso não se torna também salgado, assim eles passaram pelas es­colas comunistas, conservando suas almas limpas e pu­ras em Cristo.
Estes crentes russos tinham almas tão belas! Eles diziam: "Sabemos que a estrela com o martelo e a foice que usamos em nossos gorros é a estrela do anticristo". Diziam isto com grande tristeza. Muitos nos ajudaram a divulgar o Evangelho entre os outros sol­dados russos.
Podíamos dizer que eles tinham todas as virtudes cristãs, menos a da alegria. Esta eles tiveram apenas na conversão. Depois desapareceu. Preocupava-me muito a este respeito. Até que perguntei a um batista: "Como é que você não demonstra alegria?" Respon­deu: "Como posso ser alegre quando tenho de esconder do pastor da minha igreja que sou um verdadeiro crente, que vivo de oração e tento ganhar almas para Cristo? O pastor da Igreja é um informante da polícia secreta. Somos espionados uns pelos outros, e os pastores traem o rebanho. Existe bem profunda em nossos corações a alegria da salvação, mas esta alegria externa, que você tem, não mais podemos tê-la".
"O Cristianismo tornou-se dramático entre nós. Quando vocês do mundo livre conquistam uma alma para Cristo, ganham um membro para uma igreja que vive tranqüila. Nós, quando vemos um aceitar a Cristo, sabemos que ele pode muito bem ser preso e que seus filhos podem tornar-se órfãos". A alegria de trazer alguém a Cristo sempre se mescla com a preocupação de que um preço há de ser pago.
Encontramos nos crentes da Igreja Subterrânea um tipo de todo diferente.      
Aqui tivemos muita surpresa.
Como existem muitos que pensam ser crentes, quan­do na realidade,não o são, assim encontramos entre os russos muitos que pensam ser ateus, quando realmente não o são.
Encontrei-me com um casal de escultores russos e quando lhes falei a respeito de Cristo, responderam-me: “Não, Deus não existe”. Nós somos 'Bezboshniki' — ateus. Entretanto vamos contar-lhe uma coisa interessante que nos aconteceu.
Estávamos trabalhando em uma estátua de Stalin. Durante o trabalho minha esposa perguntou: "Marido e que dizer do polegar? Se não pudéssemos colocar o polegar de encontro aos outros dedos — se os dedos da mão fossem como os dos pés — não poderíamos segu­rar um martelo, um macête, ferramenta alguma, um livro ou um pedaço de pão. A vida humana seria im­possível sem este pequeno polegar. Agora, quem foi que fez este polegar? Ambos aprendemos Marxismo na es­cola e sabemos que o céu e a terra existem por si mes­mos. Não foram criados por Deus; desta forma aprendi e assim creio. Mas se Deus não criou o céu e a terra, bastaria que tivesse criado só o polegar, para ser digno de louvor por esta coisinha diminuta".
"Louvamos Edison, Bell e Stephenson, que inven­taram a lâmpada elétrica, o telefone, o trem e outras coisas, mas por que não devíamos louvar aquele que inventou o polegar? Se Edison não tivesse polegares, nunca teria inventado nada. Logo, só pode ser justo adorar a Deus que fez os polegares".
O marido zangou-se, como os outros muitas vezes ficam quando as esposas são mais espertas que eles. "Não diga asneira! Você aprendeu que não existe Deus. Você nunca poderá saber se nosso lar está sendo in­vadido e se cairemos ou não em dificuldades. Ponha em sua cabeça uma vez por todas que não existe Deus. No céu o que há é ninguém!"
Ela respondeu: "Isto é mais interessante ainda, Se no céu existisse o Deus onipotente no qual, pela sua estupidez, nossos antepassados creram, seria natural que tivéssemos polegares. Um Deus todo-poderoso pode fazer todas as coisas, logo Ele pode fazer polegares também. Mas se há ninguém no céu, de minha parte estou deci­dida a adorar de todo o meu coração esse "Ninguém" que fez os polegares".
Desta forma tornaram-se adoradores desse "Nin­guém". Sua fé nEle aumentou com o tempo, crendo que Ele era o criador não somente dos polegares, como tam­bém das estrelas, flores, crianças e tudo quanto é belo na vida.
Exatamente o que acontecia com atenienses do tempo de Paulo, que adoravam o "Deus desconhecido".
Esse casal ficou muito contente ao ouvir de mim que sua fé era correta, que no céu não existe mesmo uma pessoa, em carne, e sim Deus, que é Espírito: Espírito de Amor, Sabedoria, Verdade e Poder, que os amou de tal maneira que mandou Seu único Filho para Se sacrificar por eles na cruz do Calvário.
Eles sem o saber eram crentes em Deus. Apenas tive o grande privilégio de conduzi-los a um degrau mais elevado — a experiência da Salvação e Redenção.
Certa ocasião ao encontrar uma oficial russa na rua aproximei-me dela e pedi desculpa: "Eu sei que é falta de educação alguém aproximar-se de uma senhora desconhecida na rua e lhe falar, entretanto, sou um pastor e minhas intenções são sinceras. Desejo falar-lhe acerca de Cristo". Ela me perguntou: "Você ama a Cristo?" Eu disse: "Sim! De todo o coração!" Então ela me abraçou e me beijou muitas vezes. Como pastor foi para mim uma situação desagradável. Beijei-a tam­bém esperando que as pessoas que estavam vendo esta cena pensassem que éramos parentes. Ela exclamou: "Eu também amo a Cristo!" Levei-a para nossa casa. Lá descobri com surpresa que ela nada sabia acerca de Cristo. Absolutamente nada, com exceção do nome. As­sim mesmo ela O amava. Não sabia que Ele era o Sal­vador, nem o que significava a salvação. Não sabia onde e quando Ele viveu e morreu. Não conhecia Seus ensinamentos, Sua vida e Seu ministério. Ela era para mim uma curiosidade psicológica. Como se pode amar alguém quando apenas o nome é conhecido?
Quando lhe perguntei, ela respondeu-me: "Quando criança fui ensinada a ler por figuras. Para a letra "A" havia um abacate, para o "B", uma beterraba, para o "C", um cachorro, e assim por diante. Quando en­trei no Ginásio, foi-me ensinado o dever santo de de­fender minha pátria comunista. Ensinaram a respeito da moral comunista. Porém não sabia o que fosse um "santo dever", ou "moral". Necessitava de uma figura para expressá-los. Eu sabia que nossos antepassados tinham tido uma figura para cada coisa bela, adorável e verdadeira na vida. Minha avó sempre se prostrava diante de uma figura, dizendo que ela era a de alguém chamado "Cristo". Então aprendi a amar este nome só por si. Este nome tornou-se tão real para mim! Só pronunciá-lo dava-me muita alegria".
Ouvindo-a falar lembrei-me do que está escrito em Filipenses, que a "Seu nome todo joelho se dobrará". Talvez por algum tempo o anticristo possa tirar do mundo o conhecimento de Deus. Mas há poder no sim­ples nome de Cristo e Este levará homens à luz.
Ela alegremente encontrou a Cristo em minha casa, e agora aquele nome que amava, vive em seu coração.
Toda cena que vivi com os russos foi cheia de poesia e de profunda significação.
Uma irmã que divulgava o Evangelho em estações ferroviárias deu meu endereço a um oficial russo.
Certa noite ele entrou em minha casa. Era um te­nente, alto e simpático.
Perguntei-lhe: "Em que lhe posso ser útil?”.
Respondeu-me: "Vim à procura de luz!”.
Comecei a ler-lhe as partes mais essenciais das Escrituras. Ele, colocando a mão sobre a minha, disse: "Peço-lhe de todo o meu coração, não me leve pelo ca­minho errado. Pertenço a um povo que se tem conser­vado na escuridão. Diga-me, por favor, é esta a verda­deira palavra de Deus?" Assegurei-lhe que era. Ouviu com atenção durante horas...  e aceitou a Cristo.
Os russos não são superficiais em assuntos religiosos. Se combatem a religião, ou se são a favor e procuram Cristo, nisso colocam toda a alma.
Por conseguinte, todo crente na Rússia é um Mis­sionário conquistador de almas para Cristo. Desta ma­neira posso afirmar que nenhum outro país do mundo está mais preparado e mais promete para o trabalho evangélico. Os russos contam-se entre os povos da terra mais religiosos por natureza. O curso do mundo pode ser modificado se agressivamente lhes dermos o Evan­gelho.
É uma tragédia que a Rússia e os países satélites, tendo assim ardente sede da Palavra de Deus, pareçam ter sido esquecidos por quase todos os outros povos.
Um oficial russo sentou-se num trem defronte de mim e depois de lhe haver falado de Cristo por alguns minutos, veio-me com uma onda de argumentos ateísticos. Citações de Marx, Stalin, Voltaire, Darwin e ou­tros contra a Bíblia foram apresentadas. Não me dava oportunidade de contradizê-las. Falou por quase uma hora para convencer-me de que não existia Deus. Quan­do acabou, perguntei-lhe: "Se não há Deus, por que é que o senhor ora quando está em dificuldades?" Como um ladrão surpreendido a roubar, respondeu-me: "Como sabe que oro?" Não lhe permiti escapar. "Fiz minha pergunta primeiro. Perguntei por que o senhor ora. Por favor, responda-me". Baixou a cabeça e admitiu: 'Na linha de frente, quando estávamos cercados pelos ale­mães, todos orávamos!' Não sabíamos como fazê-lo. En­tão dizíamos: 'Deus é espírito de mãe'. Oração com certeza muito boa à vista dAquele que vê o coração!"
Nosso ministério entre os russos tem dado muitos frutos.
Lembro-me de Piotr (Pedro). Ninguém sabe em que prisão russa veio a falecer. Era tão jovem! Talvez com vinte anos. Tinha vindo à Romênia com o exército russo. Converteu-se em uma reunião subterrânea e me pediu que o batizasse.
Depois do batismo, perguntei-lhe qual havia sido o verso bíblico que o impressionara mais e o havia levado a aceitar a Cristo.
Disse-me que tinha ouvido muito atentamente, em uma das nossas reuniões secretas, quando li em Lucas 24 a história de Jesus encontrando os discípulos que iam para Emaús. Quando se aproximaram, Ele fez como se fosse mais adiante". Piotr afirmou: "Piquei a pensar por que Jesus fez isso. Certamente queria perma­necer com Seus discípulos. Por que então deu a enten­der que desejava ir adiante?
Minha explicação foi que Jesus é delicado. Queria saber com toda a certeza se era desejado. Quando viu que era bem-vindo, alegremente entrou na casa deles. Os comunistas são indelicados. Entram com violência em nossos corações e nossas mentes. Obrigam-nos a dar-lhes ouvido desde o amanhecer até tarde da noite. Fa­zem isto através de escolas, rádios, jornais, cartazes, cinema, reuniões ateísticas e por toda parte para onde o senhor se voltar. O senhor tem de ouvir continuada-mente a propaganda ateística quer queira, quer não. Jesus respeita nossa liberdade. Gentilmente bate à por­ta. Ele me conquistou por Sua delicadeza. Esta dife­rença brusca, entre o Comunismo e Cristo, convenceu-o.
Não foi esse o único russo que se impressionou com esse aspecto do caráter de Jesus. (Como pastor eu nunca havia pensado dessa maneira).
Depois de sua conversão, Piotr arriscou sua liberdade e sua vida muitas vezes contrabandeando literatura cristã e auxílio que a Igreja Subterrânea da Romênia mandava para a da Rússia. Finalmente foi apanhado. Sei que em 1959 ainda estava preso. Terá morrido? Será que já se encontra no céu, ou está continuando o bom combate na terra? Não sei. Somente Deus sabe onde ele hoje está.
Como ele, muitos outros não acenas se converteram. Nunca devemos parar ao conquistarmos uma alma para Cristo. Por esse meio a gente fez apenas metade do trabalho. Cada alma conquistada para Cristo deve ser transformada em uma conquistadora de outras. Os russos não apenas se convertiam como se tornavam "missionários" da Igreja Subterrânea. Eram arrojados e afoitos por Cristo. Sempre diziam que era muito pouco o que podiam fazer por Cristo, que por eles morrera.
Nosso Ministério Subterrâneo em uma Nação Escravizada
O segundo aspecto do nosso ministério era o tra­balho missionário subterrâneo entre os próprios romenos.
Cedo os comunistas desafivelaram a máscara. A princípio utilizavam-se da sedução para conquistar os líderes religiosos para o seu lado, mas logo começou o terror. Milhares foram presos. Levar uma alma ao co­nhecimento de Cristo tornou-se para nós também uma coisa dramática, como de há muito fora para os russos.
Mais tarde eu próprio estive na prisão com pessoas que Deus me havia ajudado a conquistar para Cristo. Estive na mesma cela com um que havia deixado seis crianças em casa e estava preso por causa de sua fé em Cristo. Sua esposa e filhos estavam passando fome. Podia ser que nunca mais os visse. Perguntei-lhe: "Você tem qualquer ressentimento contra mim por havê-lo trazido a Cristo e por esta razão sua família estar em tal apertura?" Respondeu: "Não tenho palavras com que possa expressar minha gratidão pelo fato de você ter-me trazido ao Maravilhoso Salvador. Nunca Isso aconteceria de outro modo".
A pregação de Cristo sob essas novas condições não era fácil. Conseguimos imprimir vários panfletos evan­gélicos, passando-os através da severa censura dos co­munistas.
Apresentamos ao censor comunista um livreto que na primeira página trazia um retrato de Karl Marx, o fundador do Comunismo. Os livros tinham por título "Religião, ópio do povo", ou outros semelhantes. O censor pensou tratar-se de livros comunistas e neles colocou o selo de sua aprovação. Nesses livros, depois de umas poucas páginas cheias de citações de Marx, Lenine e Stalin, as quais agradavam ao censor, dáva­mos nossa mensagem a respeito de Cristo.
A Igreja Subterrânea é apenas parcialmente oculta. Como um "iceberg", pequena parte de seu trabalho se faz publicamente. Fomos às passeatas comunistas e dis­tribuímos esses livretos "comunistas". Vendo o retrato de Marx, disputavam entre si a compra deles. Quando chegavam à página 10 e descobriam que era tudo a respeito de Deus e Jesus, nós já estávamos bem longe.
Pregar sob essas novas condições não era fácil. Nos­so povo estava muito oprimido. Os comunistas apreen­diam tudo de todos. Ao fazendeiro tomavam seus cam­pos e ovelhas. Ao barbeiro e alfaiate tiravam suas pe­quenas lojas. Não apenas os capitalistas foram desapropriados. Os pobres também sofreram muito. Quase toda família tinha alguém na prisão e a pobreza era extrema. Os homens perguntavam: "Como é que um Deus de amor permite o triunfo do mal?”.
Os primeiros apóstolos também não encontraram facilidade para pregar a Cristo na sexta-feira da Pai­xão, quando Ele havia morrido na cruz proferindo as palavras: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”.
Mas o fato de o trabalho ter sido feito prova que isso veio de Deus e não de nós. A fé cristã tem uma resposta a tal pergunta. Jesus conta-nos a respeito do pobre Lázaro, oprimido naquela hora — como éramos oprimidos — moribundo, faminto, suas feridas sendo lambidas pelos cães — mas no final os anjos o levaram para o seio de Abraão.

Como o trabalho da Igreja Subterrânea era parcialmente feito às claras

A Igreja Subterrânea reunia-se em casas particu­lares, nas matas, em porões, em qualquer lugar onde se pudesse reunir. Aí, secretamente, muitas vezes plane­java o trabalho a ser feito à vista de todos. Sob os comunistas descobrimos um plano de fazer Cultos ao ar livre, o que com o decorrer do tempo tornou-se muito arriscado. Mas por este meio conseguimos conquistar muitas almas que, de outro modo, jamais poderíamos alcançar. Minha esposa era muito ativa neste trabalho. Alguns crentes se reuniam em uma esquina sem serem percebidos e começavam a entoar hinos. O povo os rodeava para ouvir os belos hinos e minha esposa fa­lava.    Saíamos do local antes que o polícia chegasse.
Certa tarde, enquanto eu trabalhava em outro local, minha esposa falou, ante milhares de trabalhadores na entrada da grande fábrica MALAXA, na cidade de Bucareste, acerca de Deus e da Salvação. No dia seguinte muitos daqueles operários foram executados por se re­belarem contra as injustiças do Comunismo. A mensa­gem do Evangelho eles a ouviram no tempo exato!
Na realidade éramos uma Igreja Subterrânea, mas, como João Batista, falávamos abertamente ao povo e às autoridades acerca de Cristo.
Certa vez nas escadarias de um edifício do Governo, dois irmãos conseguiram chegar ao nosso primeiro mi­nistro Gheorghiu Dej. Nos poucos momentos de que dispuseram, deram-lhe o testemunho de Cristo, admoestando-o a deixar seus pecados e perseguições. Ele os mandou prender por aquele ousado testemunho.   Anos depois, quando o mesmo primeiro ministro estava mui­to doente, a semente do Evangelho que eles haviam plantado e pela qual sofreram bastante, frutificou. Na hora propícia lembrou-se das palavras que lhe haviam sido ministradas, as quais, como a Bíblia afirma, foram "vivas e eficazes, mais penetrantes do que espada de dois gumes". Entraram naquele coração endurecido, que entregou sua vida a Cristo. Confessou seus peca­dos, aceitou o Salvador e começou a servi-lo em sua doença. Pouco depois veio a falecer, mas foi para o seu Salvador recém-encontrado; tudo por causa daque­les dois crentes que se dispuseram a pagar o preço. Esses dois crentes são exemplos dos crentes corajosos das terras comunistas de hoje.
Como foi dito; a Igreja Subterrânea não trabalha apenas em reuniões secretas e atividades clandestinas, mas corajosa e livremente proclamando o Evangelho nas ruas e a líderes comunistas. Houve um preço a ser pago. Estávamos preparados para pagá-lo. E a Igreja Subter­rânea ainda hoje está preparada para tal.
A polícia Secreta perseguia muito a Igreja Subter­rânea, porque reconhecia nela a única resistência efe­tiva ainda existente, de fato, a resistência espiritual, a qual se fosse deixada livre, sem impedimento, mi­naria suas idéias ateísticas. Reconhecia nela, como uni­camente o diabo faz, um perigo imediato para si própria. Sabia que um homem, por crer em Cristo, jamais abdica de sua inteligência, nem se submete prazerosamente. Sa­bia que poderia prender homens, porém não prender a Fé em Deus. Por essa razão a Polícia Secreta perseguia a Igreja Subterrânea com todo o rigor.
A Igreja Subterrânea, porém, tem seus admiradores ou membros até no Governo Comunista e na Polícia Se­creta.
Aconselhávamos aos crentes a entrar nela vestindo o mais odiado dos uniformes em nosso País, para que pudessem relatar as atividades da mesma para a Igreja. Vários irmãos da Igreja Subterrânea o fizeram, con­servando sua fé escondida. Não é fácil alguém ser des­prezado por sua própria família e amigos, pelo motivo de estar usando o uniforme comunista e não lhes de­clarar sua verdadeira missão. Apesar disso eles assim fizeram.   Tão grande era seu amor por Cristo.
Quando fui raptado na rua e conservado durante anos o mais escondido possível, para me encontrarem, um médico crente tornou-se membro da Polícia Secreta! Como médico, tinha acesso a todas as celas e esperava descobrir-me. Todos os seus amigos afastaram-se dele pensando ter-se tornado comunista. Para sair em uni­forme de torturador é um sacrifício que se faz pelo amor de Cristo, maior do que vestir um uniforme de prisioneiro.
O médico encontrou-me em uma cela funda e es­cura, e avisou aos amigos que eu ainda estava vivo. Foi o primeiro amigo que me descobriu durante esses oito e meio anos de prisão! Por sua causa a notícia espalhou-se que eu ainda vivia, e quando prisioneiros foram soltos em 1956, durante as conversações Eisenho-wer-Kruschev, os crentes clamaram por minha soltura, pelo que fiquei em liberdade por pouco tempo.
Se não fora o médico crente, que entrou na Polícia Secreta especialmente para me encontrar, nunca teria sido solto. Ainda hoje estaria recluso, ou mesmo en­terrado.
Utilizando-se de sua posição na Polícia Secreta, esses membros da Igreja Subterrânea muitas vezes nos fi­zeram advertências que foram de grande proveito. Essa Igreja ainda tem gente na dita Polícia, que protege e avisa os crentes de perigos iminentes. Alguns estão nos altos círculos comunistas, mantendo sua fé em Cristo secretamente e nos ajudando muito. Algum dia nos céus eles poderão proclamar a Cristo abertamente, a Quem presentemente servem em segredo.
Apesar dessa ajuda, muitos membros da Igreja Sub­terrânea eram descobertos e encarcerados. Tínhamos nossos "Judas" também, que nos delatavam à Polícia. Por meio de surras, entorpecentes, ameaças e chanta­gens, os comunistas buscavam encontrar pastores e lei­gos que delatassem as atividades de suas ovelhas.


CAPÍTULO II

Na época em que fui raptado, dia 29 de fevereiro de 1948, trabalhava de duas maneiras, oficialmente e se­cretamente. Era domingo — um belo domingo. Nesse dia, a caminho da Igreja, fui seqüestrado pela Polícia Secreta.
Muitas vezes havia excogitado o que significava "roubo de homens", várias vezes referido na Bíblia. Isto o Comunismo nos ensinou.
Muitos outros foram seqüestrados de igual modo. Um carro da Polícia Secreta parou à minha frente, qua­tro homens desceram e jogaram-me dentro dele. Deram-me sumiço por muitos anos. Por mais de oito anos nin­guém sabia se eu estava vivo ou morto. Minha esposa foi visitada pelos homens da Polícia Secreta, que se fin­giram ex-companheiros meus de cela. Disseram-lhe que assistiram ao meu funeral. Ela ficou consternada. Mi­lhares de membros de Igrejas, de todas as denominações, foram encarcerados naquela época, não apenas clérigos, mas homens do povo, rapazes e moças que davam teste­munho de sua fé. As prisões ficaram repletas e, na Ro­mênia como em todos os países comunistas, estar na prisão significa ser torturado.
As torturas eram muitas vezes horríveis? Prefiro não falar muito a respeito daquelas por que passei. Quando o faço, não consigo dormir à noite. É muito doloroso.
Em outro livro, "No Subterrâneo de Deus" (In God's Underground), relato com abundantes detalhes todas as nossas experiências com Deus no cárcere.
Torturas Indescritíveis
Um pastor, chamado Florescu, foi torturado com atiçadores de ferro em brasa, e com facas. Foi açoitado horrivelmente. Ratos famintos eram introduzidos em sua cela através de um cano grosso. Ele não podia dor­mir, pois tinha de se defender o tempo todo. Se descan­sasse um só momento, os ratos o atacariam.
Foi forçado a ficar de pé por duas semanas, dia e noite. Os comunistas queriam forçá-lo a trair seus ir­mãos, porém não o conseguiram. Por fim trouxeram seu filho de 14 anos e começaram a açoitá-lo na presença do pai, dizendo que continuariam a bater até que o pastor dissesse o que eles queriam. O homem, coitado, Já estava quase louco. Suportou até onde pôde. Por fim, gritou para o filho: "Alexandre, tenho de dizer o que eles querem! Não posso mais suportar o que lhe es­tão fazendo!" O filho respondeu: "Papai, não me faça a injustiça de ter um traidor por pai! Resista! Se me matarem, morrerei com as palavras “Jesus é minha ter­ra natal!”A fúria dos comunistas caiu sobre o menino, em quem bateram até matá-lo, vendo-se manchas do seu sangue pelas paredes da cela”. Morreu louvando a Deus. Nosso querido irmão Florescu nunca mais foi o mesmo, depois do que presenciou.
Eram colocadas algemas em nossos pulsos as quais tinham lâminas afiadas na parte interna. Se ficássemos totalmente parados, elas não nos cortavam. Mas nas celas muito frias, quando tremíamos, nossos pulsos eram cortados pelas lâminas.
Crentes eram pendurados em cordas, de cabeça para baixo, e açoitados tão severamente que seus corpos ba­lançavam de um lado para o outro sob a força das pancadas. Eram colocados em refrigeradores, "celas re­frigerantes", tão frias que se formava uma camada de gelo na parte interna. Eu próprio fui jogado em uma dessas celas, com bem pouca roupa. Médicos da prisão observavam-nos através de uma abertura, até verem sintomas de morte por congelamento. Nesse ponto da­vam sinal e os guardas nos tiravam e então éramos aquecidos. Quando já estávamos adquirindo calor, éra­mos imediatamente colocados de novo nas celas congeladoras, e isto repetidamente! Descongelar depois congelar até um ou dois minutos antes da morte, e en­tão descongelar novamente. Isso continuava indefinida­mente. Até hoje algumas vezes não suporto abrir um refrigerador.


A "LÁ CABANA"! — Este é o já familiar e aterrador aspecto do interior da famigerada prisão "LÁ CABANA" de Cuba, onde centenas de milhares de prisioneiros vivem em permanente estado de inanição. (Veja outras informações no verso).

Na prisão chamada "DE BONIFÁCIO", os comunistas fraturaram a cabeça de prisioneiros cris­tãos com macetes e espancaram outros com barras de ferro. O resultado: 70 feridos gravemente e 2 mortos. Um dos mortos foi o pregador GERALDO ALVAREZ. Suas últimas palavras foram: "Pai, perdoe-lhes, porque não sabem o que fazem". Um de seus companheiros, HENRIQUE CORRÊA tentou ajudá-lo, mas foi atingido por uma rajada de metra­lhadora, morrendo também no local! (Comitê de Informação sobre Cuba — 1976).
Todo o mundo livre está sob a ameaça eminente da ocupação pelos comunistas. Angola, antiga colô­nia portuguesa e um dos mais ricos países africanos que nos últimos 8 anos triplicou suas exportações, e Moçambique, além de uma dezena de outras nações africanas caíram nas mãos dos guerrilheiros comu­nistas financiados e ajudados por modernas armas russas. Em Angola, 12 a 15 mil soldados cubanos assassinaram 20 mil negros em apenas 5 dias.
Nunca os estados colonialistas cometeram tal morticínio em massa. (Ação Cristã de Fev. 1976).
Até quando os povos chamados "livres" assisti­rão impassíveis este avanço do comunismo?

Nós, crentes, éramos colocados em caixões apenas um pouco maiores do que nós. Não havia lugar para qualquer movimento. Muitas dúzias de pregos com suas pontas afiadas como giletes eram colocadas por todos os lados. Enquanto estávamos perfeitamente quietos, tudo ia bem. Éramos forçados a permanecer nessas caixas horas a fio. Quando, porém, nos fatigávamos e tombá­vamos de cansaço, os pregos entravam em nosso corpo. Se nos movêssemos, ou estremecêssemos um músculo — ali estariam os horríveis pregos.
O que os comunistas têm feito aos crentes ultrapassa qualquer possibilidade de entendimento da mente hu­mana!
Já vi comunistas torturando crentes. Os torturadores demonstravam pelo rosto uma alegria imensa. En­quanto torturavam, bradavam: "Nós somos o diabo".
Lutamos não contra a carne e o sangue, mas contra os principados e potestades do mal. Vimos que o Co­munismo não provém dos homens, mas do diabo. É uma força espiritual — uma força do mal — e só pode ser enfrentada por uma força espiritual mais poderosa — o Espírito de Deus.
Muitas vezes perguntei aos torturadores: "Vocês não têm piedade no coração?" Comumente respondiam com uma citação de Lenine, de que "não se pode fazer ome­lete sem primeiro quebrar os ovos, e não se corta ma­deira sem fazer os pedaços dela voarem". Eu replicava: "Eu também conheço tal citação de Lenine. Há, porém, uma diferença. Quando se corta um pedaço de madeira, ela não sente nada. Mas vocês estão lidando com seres humanos. Cada açoite produz dor e há mães que cho­ram". Era em vão. Eles são materialistas. Para eles nada existe além da matéria, e o homem é para eles como madeira ou casca de ovo. Com tal crença eles se enterram na incrível profundeza de sua crueldade.
A crueldade do ateísmo é difícil de se acreditar. Quando o homem não crê na recompensa do bem ou no castigo do mal, não vê razão para ser humano. Não há como reprimir a ação do mal profundamente enraizada no homem. Os torturadores comunistas muitas vezes afir­mavam: "Não há Deus nem vida futura, nem castigo pelo mal. Podemos fazer o que queremos". Já ouvi um até dizer: "Dou graças a Deus, em quem não creio, que vivi até hoje para manifestar toda a maldade do meu coração". Ele a manifestava com incrível bruta­lidade e torturas infligidas aos prisioneiros.
Sinto muito se um crocodilo devora uma pessoa, porém não posso repreendê-lo. É um crocodilo. Não é um ser moral. De igual modo nenhuma repreensão pode produzir efeito nos comunistas, visto que o Comunismo destruiu neles todo e qualquer senso moral. Por isso se gloriavam abertamente por não terem piedade.
Aprendi uma lição com eles. Assim como não dei­xavam lugar algum para Cristo em seus corações, tam­bém decidi não deixar nenhum lugar no meu para Satanás.
Dei meu testemunho perante o Sub-Comitê de Se­gurança Interna do Senado norte-americano. Ali des­crevi coisas horríveis, tais como crentes amarrados em cruzes por quatro dias e quatro noites. A seguir eram as cruzes colocadas no chão e centenas de prisioneiros tinham de atender suas necessidades fisiológicas em cima dos rostos e dos corpos dos que estavam crucificados. Depois as cruzes eram de novo levantadas e os comu­nistas escarneciam: "Olhem para o Cristo de vocês! Que bonito ele é! E que fragrância traz dos céus!" Des­crevi como, depois de ficar quase louco pelas torturas, um padre ortodoxo foi obrigado a consagrar fezes e urina humana para dar em comunhão aos cristãos. Isso acon­teceu na prisão de Pitesti, na Romênia. Depois pergun­tei ao padre porque ele não preferiu morrer a partici­par dessa zombaria. Respondeu-me: "Não me julgue, por favor! Sofri mais que Cristo!" Todas as descrições bíblicas do inferno e as dores referidas no Inferno de Dante, não são comparáveis às torturas em prisões co­munistas.
Isto é apenas uma pequena amostra do que acon­teceu em um e mais domingos, na prisão de Pitesti.
Outras coisas não podem ser ditas aqui. Meu coração não suportaria repeti-las. Tão horripilantes e obscenas para serem escritas. É isso, leitor, o que os seus irmãos em Cristo passaram e estão passando hoje!
O pastor Milan Haimovici, foi realmente um grande herói da fé.
As prisões estavam superlotadas e os guardas não nos conheciam pelo nome. Chamavam por aqueles que haviam sido sentenciados a levar 25 chicotadas por ha­verem quebrado algum regulamento da prisão. Inúme­ras vezes o pastor Milan Haimovici foi no lugar de outro receber o castigo. Com isso conquistou o respeito dos outros prisioneiros não apenas para si, mas também para Cristo, a quem representava.
Se eu continuasse a contar todos os horrores dos comunistas e sacrifícios pessoais dos crentes, nunca acabaria. Não apenas as torturas eram conhecidas. Os feitos heróicos também o eram. Os exemplos de heroís­mo daqueles presos inspiraram grandemente os irmãos que ainda estavam livres.
Uma de nossas obreiras era uma jovem da igreja Subterrânea. A polícia comunista descobriu que ela dis­tribuía literatura cristã e ensinava as crianças acerca de Cristo. Resolveram prendê-la. Mas para tornar essa prisão a mais agonizante e a mais dolorosa possível, resolveram adiá-la por mais algumas semanas, até o dia do casamento da jovem. Nesse dia lá estava ela vestida de noiva. O dia mais maravilhoso na vida de uma moça! De repente a porta foi empurrada e a Po­lícia Secreta invadiu.
Quando a noiva os viu, estendeu-lhes os braços para serem algemados. Mal haviam colocado as algemas nos pulsos, ela voltou os olhos para seu amado, depois bei­jou os grilhões e disse: "Agradeço ao meu Noivo Celes­tial estas jóias com que me presenteou no dia do meu casamento. Agradeço-lhe por ser digna de sofrer por Ele". Foi arrastada deixando para trás os crentes e seu noivo a chorar.   Estes sabiam o que acontece a moças crentes nas mãos dos guardas comunistas. Depois de 5 anos foi libertada — uma mulher alquebrada e destruí­da, aparentando ter uns trinta anos. Seu noivo ainda a esperava. Ela afirmou que era o mínimo que poderia fazer por seu Cristo. Tão belos crentes se encontram na Igreja Subterrânea.
O que é Lavagem Cerebral
Ocidentais provavelmente já ouviram falar de la­vagem cerebral na guerra da Coréia e agora no Vietnam. Eu próprio já passei por esse processo. É a mais horrível das torturas.
Por anos a fio tínhamos de nos sentar durante 17 horas, diariamente, escutando:
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“Desista!”
“Desista!”
“Desista!”
“Desista!”
Durante 17 horas diariamente — por dias, semanas e meses a fio.
Vários crentes me perguntaram como pudemos re­sistir à lavagem cerebral. Há apenas um método de resistência a ela. É a "lavagem do coração" Se o cora­ção estiver purificado pelo amor de Jesus Cristo e se O ama, pode-se resistir a toda e qualquer tortura. Que não faria uma noiva por seu noivo? Que não faria uma mãe por seu filho? Se você ama a Cristo, como Maria O amava, ela que o teve como criança em seus braços; se você, leitor, ama a Jesus, como uma noiva ao seu noivo, pode resistir a tais tormentos.
Deus nos julgará não de acordo com quanto pu­demos suportar, mas de acordo com quanto pudemos amar. Sou testemunha dos crentes em prisões comu­nistas, de que eles puderam amar. Puderam amar a Deus e aos homens.
Os suplícios e brutalidades continuavam sem inter­rupção. Quando eu perdia os sentidos, ou ficava tão entorpecido para dar aos torturadores qualquer espe­rança de confissão, era conduzido à minha cela. Ali era atirado sem nenhuma consideração e quase morto para me reanimar um pouco, a fim de que pudessem voltar a trabalhar em mim. Muitos morreram nesse ponto, mas de alguma maneira minhas forças voltavam. Nos anos seguintes, em várias prisões, quebraram-me quatro vértebras e muitos outros ossos. Golpearam-me em uma dúzia de lugares. Recebi queimaduras no corpo e dezoito ferimentos penetrantes.
MINI-MAOISTAS — Ninguém escapa à lavagem cerebral ideológica. Na foto vemos pigmeus da África sendo doutrinados por instrutores da China Vermelha. Numa das mãos vê-se a "Bíblia Vermelha" de Mao-Tsé-Tung, e com a outra a conhecida saudação ido punho cerrado. Nossa missão esforça-se no sentido de alcançá-los, transportando clandestinamente milhares de evange­lhos.   


Médicos em Oslo, Noruega, vendo tudo isto e as cicatrizes da tuberculose, que também tive, declararam que o fato de estar vivo hoje é um puro milagre. Se­gundo seus livros de Medicina, deveria eu estar morto há anos. Eu próprio reconheço ser um milagre. Deus é um Deus de milagres.
Creio que Deus operou esta maravilha para que muitos pudessem ouvir a minha voz bradar em favor da Igreja Subterrânea de trás da Cortina de Ferro. Permitiu que eu saísse vivo para fazer soar bem alto a mensagem do sofrimento de vocês, fiéis irmãos.
Breve período de liberdade — depois nova prisão
O ano de 1956 chegou. Havia estado na prisão por oito anos e meio. Perdera muito peso, adquirira "horrí­veis'' cicatrizes, fora brutalmente espancado, recebera pontapés, fora ridicularizado, passara fome, fora pres­sionado e interrogado 'ad nauseam", ameaçado e posto de lado. Nada disso havia dado o resultado que meus capturadores desejavam.    E, assim, desencorajados, soltaram-me. Além disso, estavam recebendo protestos por me haverem prendido.
Foi-me permitido voltar à minha posição anterior por apenas uma semana. Preguei dois sermões. Chama­ram-me e disseram-me que não poderia continuar pre­gando, nem participar de nenhuma atividade religiosa. Que havia eu dito? Aconselhei meus paroquianos a ter "paciência, paciência e mais paciência". "Isto significa que você está dizendo a eles que tenham paciência e os americanos virão e os livrarão" — era o que a polícia gritava para mim. Também eu havia dito que "o mundo dá muitas voltas e os tempos mudam". "Você está que­rendo dizer que os comunistas não vão continuar a do­minar! São mentiras contra-revolucionárias!" — ber­ravam eles. Assim foi que chegou ao fim meu minis­tério público.
Provavelmente as autoridades criam que eu esti­vesse com medo de desafiá-las e de voltar ao evangelismo subterrâneo. Nisso é que estavam enganadas. Se­cretamente voltei ao trabalho que fazia antes. Minha família sustentou-me moralmente.
Outra vez testemunhávamos a grupos escondidos, indo e voltando como uma assombração, sob a proteção daqueles em quem se podia confiar. Desta vez eu tinha as cicatrizes em que apoiar minha mensagem a respeito do mal do ponto de vista atpístico e para encorajar al­guma alma hesitante a crer em Deus e a ser valente. Dirigi uma rede secreta de evangelistas, que se em­penhavam na divulgação do Evangelho sob os olhos providencialmente cegos dos comunistas. Afinal, se al­guém pode ser tão cego ao ponto de não ver a mão de Deus a agir, poderá também não ver um evangelista em ação.
Finalmente o interesse incessante da polícia em minhas atividades e em saber por onde eu andava findou. Fui descoberto outra vez e novamente preso. Por alguma razão, desta vez não prenderam minha família, talvez por causa da publicidade feita a meu respeito.   Tivera oito anos e meio de prisão e três anos de liberdade relativa.   Agora ia ser preso por mais cinco anos e meio.
Minha segunda prisão foi, sob muitos aspectos, pior que a primeira. Sabia perfeitamente o que estava para vir. Minha condição física tornou-se péssima quase que imediatamente. Mas continuávamos o trabalho subter­râneo da Igreja Subterrânea nas prisões subterrâneas comunistas.
Fizemos um acordo — Nós pregávamos eles nos batiam!
Proibiram-me terminantemente de pregar a outros prisioneiros. Ficou entendido que quem fosse apanhado pregando, receberia uma tremenda surra. Vários de nós resolvemos pagar o preço do privilégio de pregar; por­tanto, aceitamos as condições deles. Era um acordo: nós pregávamos e eles nos batiam. Éramos felizes pre­gando. Estavam felizes em nos espancar. Por conse­guinte, todos estavam felizes.
A cena que vou descrever repetiu-se mais vezes de quantas me é possível lembrar: um irmão estava pre­gando a outros presos quando os guardas repentinamente entraram, surpreendendo-o na metade de uma frase. Arrastaram-no pelo corredor até a "sala de surras". Depois do que parecia uma surra que não acabava mais, traziam-no de volta e o jogavam — moído e sangrento — no chão do cárcere. Vagarosamente se reanimava. Doloridamente ajeitava a roupa e dizia: "Agora, irmãos, em que ponto estava quando fui interrompido?" E continuava a sua mensagem do Evangelho.
Já presenciei coisas belas assim!
Algumas vezes os pregadores eram leigos. Homens simples, inspirados pelo Espírito Santo, muitas vezes pregavam maravilhosamente. Punham todo o seu cora­ção no que diziam, pois, pregar sob tais circunstâncias de castigo não era coisa fácil. Os guardas vinham, le­vavam o pregador e o esbordoavam até quase morrer.
Na prisão de Gherla, um crente de nome Grecu foi sentenciado a apanhar até morrer. Nisso tiveram de gastar algumas semanas. Ia sendo espancado vagaro­samente. Uma vez na sola dos pés com um cassetete de borracha e deixado para um lado. Depois de alguns mi­nutos, outro golpe, alguns minutos mais, ainda outro. Levou pancada nos testículos. Veio o médico aplicar-lhe uma injeção. Recuperou os sentidos e lhe deram boa ali­mentação para recobrar as forças e então foi espan­cado outra vez até morrer sob essa pancadaria vagarosa e repetida. Um dos que presidiu a esse suplício cha­mava-se Reck, membro do Comitê Central do Partido Comunista.
Em dado momento esse Reck disse uma frase que os comunistas costumavam dizer aos crentes: "Sabe, eu sou Deus. Tenho poder de vida e morte sobre você. O que está no céu não pode resolver conservá-lo com vida. Tudo depende de mim. Se eu quiser você viverá se não quiser você morrerá. Eu sou Deus!" Dessa forma zombavam dos cristãos.
O irmão Grecu, nessa horrível situação, respondeu a Reck de um modo mui interessante, e que ouvi poste­riormente do próprio algoz: "Não sabes quão profun­das palavras disseste. És realmente Deus. Cada lagarta é na realidade uma borboleta, se desenvolver devi­damente. Não foste criado para ser torturador, para matar. Foste criado para te tomares um ser à seme­lhança de Deus. Jesus disse aos judeus dos Seus dias: 'Sois deuses'. A vida de Deus Pai está no teu coração. Muitos que foram como tu és, muitos perseguidores, como o apóstolo Paulo, descobriram em dado momento que é vergonhoso para o homem cometer tais atrocida­des, quando podem fazer coisas muito melhores. E tornaram-se participantes da natureza divina. Crê-me, Sr. Reck, sua verdadeira missão é ser deus, semelhante a Deus, e não um torturador".
Naquele momento Reck não prestou muita atenção às palavras de sua vitima, como Saulo de Tarso não ligou importância às belas palavras do testemunho de Estevão ao ser morto em sua presença.    Mas aquelas palavras trabalharam em seu coração.    Posteriormente entendeu ser realmente aquela a sua vocação.
Grande lição aprendemos com as surras, torturas e outros maus tratos dos comunistas: que o espírito é se­nhor, dominador do corpo. Muitas vezes, quando ator­mentados, sentíamos os tormentos, mas nos pareciam algo distantes e afastados do espírito que estava embe­vecido na Glória de Cristo e com Sua presença em nós.
Quando nos era dada uma fatia de pão por sema­na e uma sopa nojenta por dia, resolvemos que até em tais circunstâncias daríamos fielmente o "dízimo". Cada décima semana tomávamos a fatia de pão e a dávamos a um irmão mais fraco, como nosso "dízimo" ao Senhor.
Um crente fora sentenciado à morte. Antes de ser executado foi-lhe permitido ver a esposa. Suas últimas palavras a ela foram: "Deves saber que morrerei aman­do aqueles que me matam. Não sabem o que fazem e meu último pedido a você é que os ame também. Não tenha ódio no coração por matarem seu amado. Nós nos •encontraremos nos céus". Estas palavras impressiona­ram o oficial da Polícia Secreta que estava presente à conversa entre os dois, o qual me contou a história na prisão, onde havia sido colocado por se haver tornado crente.
Na prisão de Tírgu-Ocna havia um jovem prisio­neiro por nome Matchevici. Havia sido posto na prisão com a idade de dezoito anos. Por causa das torturas estava muito doente, tuberculoso. A família de alguma maneira o descobriu e lhe enviou um pacote com 100 tubos de Streptomicina, que poderiam restaurar-lhe a saúde. O oficial político da prisão chamou-o e mostrou-lhe o pacote, dizendo: "Aqui está o medicamento que pode salvá-lo. Mas não lhe é permitido receber pacotes de seus familiares. Pessoalmente eu gostaria de aju­dá-lo. Você é jovem. Não gostaria de vê-lo morrer na prisão. Ajude-me a poder prestar-lhe assistência. Dê-me informações de seus companheiros de prisão e isto me justificará ante meus superiores por lhe haver entregue o pacote".    Matchevici respondeu prontamente:     "Não desejo permanecer vivo e me envergonhar de olhar-me num espelho, porque verei o rosto de um traidor. Não posso aceitar tal condição. Prefiro morrer". O ofi­cial da Polícia Secreta balançou a cabeça e disse: "Con­gratulo-me com você. Não esperava outra resposta sua. Gostaria, porém de lhe fazer outra proposta. Alguns dos presos tornaram-se nossos informantes. Afirmam ser comunistas e estão denunciando você. Fazem um jogo duplo. Não temos confiança neles. Gostaríamos de saber até que ponto são sinceros. São seus traidores. Estão-lhe fazendo muito mal aos nos informarem de suas pa­lavras e ações. Entendo que você não queira trair seus amigos. Então dê-nos informações destes que se opõem a você, de maneira que possa salvar a sua vida!" Mat-chevici respondeu tão prontamente quanto da primeira vez: "Sou discípulo de Cristo. Ele nos ensinou que de­vemos amar até aos nossos inimigos. Estes que nos traem fazem-nos muito mal, porém não posso retribuir mal por mal. Não posso dar informação nem mesmo contra estes. Tenho piedade deles, oro por eles e não desejo ter qualquer ligação com os comunistas". Matchevicl voltou da entrevista com o oficial político e morreu na mesma cela em que eu estava. Vi-o morrendo — a louvar a Deus. O amor venceu até a sede natural pela vida!
Se uma pessoa muito pobre ama realmente a mú­sica, dá seu último centavo para ouvir um concerto. Depois vai ficar sem nada, mas não se sentirá frustrada. Ouviu músicas belíssimas.
Não me sinto frustrado por haver perdido tantos anos na prisão. Vi coisas belíssimas. Eu mesmo já estive preso no meio de pessoas fracas e sem Importância, porém tive por outro lado o privilégio de estar na mesma cela com grandes santos, heróis da fé, que se iguala­vam aos cristãos do primeiro século. Alegremente mar­chavam para morrer por Cristo. A beleza espiritual de tais santos e heróis da fé jamais será possível descrever.
As coisas que relato aqui não são excepcionais. O sobrenatural tornou-se natural para os crentes da Igreja Subterrânea.
A Igreja Subterrânea é a Igreja que voltou ao pri­meiro amor.
Antes de entrar na prisão eu amava muito a Cristo. Agora, depois de ter visto a "noiva do Senhor" — seu Corpo espiritual — no cárcere, quero afirmar que amo a Igreja Subterrânea tanto quanto amo ao próprio Cristo. Vi a beleza dela e seu espírito de sacrifício.

O que aconteceu à minha esposa e ao meu filho

Fui levado para longe de minha esposa. Não sabia o que lhe havia acontecido. Depois vim a saber que também havia sido aprisionada. As mulheres crentes sofrem muito mais que os homens, na prisão. As moças são violentadas pelos guardas brutais. A blasfêmia e as obscenidades são horrveis. As mulheres eram obriga­das a trabalho forçado em um canal que tinha de ser construído, e tinham de executar a mesma tarefa que os homens. Removiam terra no inverno. Prostitutas eram colocadas como supervisoras e rivalizavam com os guar­das nas torturas aos fiéis. Minha esposa teve que comer grama feito gado para poder sobreviver. Ratos e cobras eram comidos pelos prisioneiros famintos nesse canal para não morrerem de fome. Uma das diversões dos guardas aos domingos era empurrar mulheres para dentro do Danúbio e depois pescá-las, para se rirem e ridicularizá-las quando viam seus corpos molhados e jogá-las de volta ao rio para serem pescadas outra vez. Minha esposa foi atirada ao Danúbio dessa maneira.
Meu filho fora deixado em liberdade para vagar pelas ruas, quando a mãe e eu estávamos presos. Mihai tinha sido desde criança muito religioso e muito interessado em assuntos relacionados com a fé. Depois, com a idade de 9 anos, quando eu e a mãe fomos arrebatados dele, passou por uma crise em sua fé cristã. Havia-se tornado ríspido e duvidava de toda a sua religião. Tinha com essa tenra idade problemas que as crianças em geral não têm.    Precisava pensar em ganhar o pão de cada dia.
Era crime ajudar as famílias dos mártires cristãos. Duas senhoras que ajudaram meu filho foram presas e apanharam tanto que até o presente estão aleijadas, depois de 15 anos. Uma senhora, que arriscou a vida e levou-o para sua casa, foi condenada a oito anos de prisão por esse crime de ter ajudado a família de um preso. Todos os seus dentes lhe foram quebrados a pon­tapés. Seus ossos fraturados. Nunca mais poderá tra­balhar.  Ela também ficará aleijada para o resto da vida.
"Mihai, creia em Jesus!"
Com a idade de 11 anos, Mihai começou a ganhar sua manutenção, trabalhando habitualmente. Os sofri­mentos abalaram sua fé. Mas depois de dois anos de encarceramento de minha esposa, foi-lhe permitido visitá-la. Dirigiu-se à prisão comunista e viu sua mãe por trás das grades de ferro. Estava suja, magra, com as mãos calejadas, vestindo esfarrapado uniforme de prisão. Mal a reconheceu. As primeiras palavras dela foram: "Mihai, creia em Jesus!" Os guardas, com fúria selva­gem, tiraram-na da presença de Mihai e a levaram. O menino chorou ao ver sua mãe ser arrastada. Esse minuto foi o momento de sua conversão. Ele sabia que se Cristo pode ser amado sob tais circunstâncias, é real­mente o verdadeiro Salvador. Posteriormente afirmou: "Se o Cristianismo não tivesse outro qualquer argu­mento em seu favor, além do fato de minha mãe crer nele, este mesmo fato seria para mim suficiente". Aquele foi o dia em que aceitou a Cristo completamente.
Na escola, Mihai tinha uma batalha contínua pela sua existência. Fora bom aluno e como recompensa recebera uma gravata vermelha — sinal de membro dos Jovens Pioneiros Comunistas. Meu filho disse: "Jamais usarei a gravata daqueles que aprisionaram meu pai e minha mãe". Foi expulso da escola por isto. Depois de perder um ano, entrou na escola outra vez, escondendo o fato de ser filho de um preso cristão.
Posteriormente teve de escrever uma tese contra a Bíblia.   E escreveu: "Os argumentos contra a Bíblia são fracos e as citações contra ela são inverídicas. Certa­mente o professor jamais leu a Bíblia. A Bíblia está em harmonia com a ciência". Outra vez foi expulso. Agora teve de perder dois anos escolares.



Conforme noticias publicadas pela imprensa mundial, e exibição pela TV de diversos paises, nossa missão conseguiu num filme autêntico (transportado clandestinamente) mostrar o verdadeiro drama dos presos nos campos de trabalho forçado da Rússia. O flagrante da foto mostra prisioneiros sendo transportados sob rigo­rosa vigilância.

Por fim permitiram-lhe entrar no Seminário. Aí lhe era ensinada "Teologia Marxista". Tudo era expli­cado de acordo com os padrões de Karl Marx. Mihai protestou publicamente em classe. Outros estudantes fizeram o mesmo. O resultado foi ser expulso e não pôde terminar seu treinamento teológico.
Certa vez na escola, quando o professor proferia uma conferência ateística, meu filho levantou-se e o contra­disse, afirmando que sobre ele pesava grande responsa­bilidade ao levar tantos jovens pelo caminho errado. Toda a classe ficou ao seu lado. Foi necessário que um tivesse a coragem de se levantar primeiro. Então todos ficaram de seu lado. Para obter a sua educação, cons­tantemente encobria o fato de ser filho de Wurmbrand, o prisioneiro cristão. Todavia com freqüência era des­coberto, repetindo-se a cena costumeira de ser chamado ao gabinete do diretor para ser expulso.
Mihai também passou muita fome. As famílias de cristãos encarcerados nos países comunistas quase sem­pre chegam perto de morrer de fome. Ê grande crime ajudá-las.
Contarei apenas um caso de sofrimento, de uma família que conheço pessoalmente. Um irmão fora preso por seu trabalho na Igreja Subterrânea. Deixara a esposa com seis filhos. As filhas mais velhas, de 17 e 19 anos, não podiam arranjar emprego. O único que prove trabalho num país comunista é o Estado, e não o dá a filhos dos crentes "criminosos". Por favor, os leitores não julguem esta história à luz de padrões mo­rais. Apenas recebam os fatos. As duas filhas do mártir cristão — também crentes — tornaram-se prostitutas para poder sustentar seus irmãos mais novos e a mãe doente. O irmão mais novo, de 14 anos, enlouqueceu quando viu o que estava acontecendo e teve de ser man­dado a um asilo.  Quando, depois de anos, o pai retornou, sua única oração era: "Deus, leva-me de volta à prisão. Não poderei suportar ver isto". Sua oração foi respon­dida e está agora na prisão, pelo crime de haver teste­munhado de Cristo às crianças. Suas filhas não são mais prostitutas. Receberam um trabalho da Polícia Secreta. Tornaram-se informantes. Como filhas de um mártir cristão, são recebidas com honra em todas as casas. Escutam e então relatam tudo quanto ouvem à Polícia Secreta.
O leitor não deve apenas dizer que é uma história fria e imoral. Certamente que é, mas pergunte a si mesmo se não é também seu, o pecado de tais tragédias ocorrerem — essas famílias cristãs serem deixadas aban­donadas, sem a sua ajuda, que é livre.



CAPÍTULO III

Passei um total de catorze anos na prisão. Durante todo este tempo não vi a Bíblia ou qualquer outro livro evangélico. Cheguei ao ponto de esquecer-me de escre­ver, e por causa de grande fome, entorpecentes que me aplicavam e torturas, esqueci-me também das Escrituras. Mas no dia em que havia completado catorze anos de encarceramento, lembrei-me do versículo: "Jacó trabalhou por Raquel catorze anos e isto lhe pareceu pouco tempo porque ele a amava.”.
Pouco depois, eu era posto em liberdade, em conse­qüência de uma anistia geral em todo o país, em grande parte por influência da opinião pública norte-americana.
Outra vez encontrei-me com minha esposa, que me havia esperado fielmente durante esses catorze anos.
Começamos uma vida nova, em extrema pobreza, porque se alguém é preso tudo que possui é confiscado.
Os padres ortodoxos e os pastores que foram liber­tados podiam ficar com pequenas igrejas. Foi-me en­tregue uma na cidade de Orsova. O Departamento de Cultos do Regime Comunista advertiu-me que a minha Congregação era composta de trinta e cinco membros e que esse número nunca poderia chegar a trinta e seis. Também me foi dito que teria de ser agente do Depar­tamento e relatar à Polícia Secreta a respeito de todos os membros e manter todos os jovens fora da Igreja. Este é o meio pelo quais as Igrejas são usadas como "instrumento" de controle dos comunistas.
Sabia que, se começasse a pregar, muitos haveriam de vir ouvir, portanto nunca tentei principiar meu tra­balho na Igreja Oficial. Trabalhei outra vez na Igreja Subterrânea, partilhando de todos os perigos e glórias desse trabalho.
Durante os anos que passei na prisão Deus operou maravilhas.  A Igreja Subterrânea não estava mais abandonada e esquecida.    Crentes americanos e outros ha­viam começado a nos ajudar e a orar por nós.
Uma tarde quando descansava um pouco em casa de um amigo crente em uma cidade provinciana, este me acordou e disse: "Chegaram alguns irmãos de longe". No Ocidente havia crentes que não nos haviam esque­cido ou abandonado.
Alguns crentes (não Incluindo pastores ou líderes) haviam organizado um serviço Secreto de ajuda às fa­mílias dos mártires cristãos, como também de contra­bando de literatura evangélica e de socorro.
Na outra sala encontrei seis irmãos que haviam vindo para fazer este trabalho. Falaram muito comigo. Depois de multo tempo disseram que tinham ouvido que naquele endereço havia um homem que passara catorze anos na prisão, ao qual gostariam de conhecer. Então lhes disse que eu era o homem a quem procuravam. Disse­ram: "Esperávamos ver uma pessoa melancólica. Você não pode ser a pessoa que buscamos porque é cheio de alegria". Assegurei-lhes ser o homem a quem busca­vam e disse-lhes que a alegria que viam em mim era por saber que haviam vindo e que não estávamos mais esquecidos. Uma ajuda certa e contínua começou a vir para a Igreja Subterrânea. Por canais secretos conse­guimos muitas Bíblias e literatura evangélica em geral, como também ajuda material para as famílias dos már­tires cristãos. Agora com a ajuda destes, nós, da Igreja Subterrânea, podíamos fazer um trabalho bem melhor.
Não era apenas o fato de nos trazerem a Palavra de Deus, mas também o de sabermos que éramos amados. Eles nos trouxeram uma palavra de conforto.
Durante os anos de lavagem cerebral ouvíamos com muita freqüência: "Ninguém mais os ama, ninguém mais os ama, ninguém mais os ama". Agora víamos crentes, tanto americanos como ingleses que arriscavam a vida para mostrar que nos amavam. Aceitando nossos conselhos, desenvolveram técnicas do Serviço Secreto. Penetravam em casas já cercadas pela Polícia “Secreta” A Polícia não sabia que haviam entrado.
O valor dessas Bíblias contrabandeadas por tais homens jamais pode ser entendido por pessoas livres, americanos ou ingleses, que "nadam" em Bíblias!
Minha família e eu não teríamos sobrevivido não fora a ajuda recebida dos crentes que oravam por nós. O mesmo acontece com muitos pastores ou famílias de mártires da Igreja Subterrânea nos países comunistas. Posso dar testemunho de minha própria experiência a respeito da ajuda material e, mais ainda, da ajuda mo­ral que nos foi dada pela Missão Cristã Européia da In­glaterra. Para nós, seus homens foram como que anjos enviados por Deus!
Por causa do desenvolvimento do trabalho da Igreja Subterrânea, estive mais uma vez na iminência de ser preso. Então, desta vez duas organizações — A Missão Norueguesa para os Judeus e a Aliança Cristã Hebraica — pagaram um resgate de 2.500 libras por minha pessoa. Podia agora deixar a Romênia.

Por que deixei a Romênia Comunista

Não a teria deixado — apesar dos perigos — se os líderes da Igreja Subterrânea não me tivessem cons­trangido a usar esta oportunidade de deixar o país, para ser a "voz" da Igreja Subterrânea para o mundo livre. Eles desejavam que eu falasse em seu nome, a vocês, do mundo ocidental a respeito de seus sofrimen­tos e necessidades. Vim para o Ocidente; meu coração, porém, ficou com eles. Se não entendesse que havia grande necessidade de vocês ouvirem a respeito dos so­frimentos e do trabalho corajoso da Igreja Secreta, jamais teria deixado a Romênia. Esta é, portanto, a mi­nha missão.
Antes de deixar meu país fui chamado duas vezes ã Policia Secreta. Disseram-me que haviam recebido o dinheiro do meu resgate. (A Romênia vende seus ci­dadãos a dinheiro, por causa da difícil crise financeira trazida para o nosso país pelo Comunismo).   Disseram-me: "Vá para o Ocidente e pregue Cristo tanto quanto queira, mas não nos moleste. Não diga nada contra nós. Aqui está o nosso plano a seu respeito, se contar o que lhe aconteceu durante estes anos: Em primeiro lugar, por apenas 500 libras podemos contratar Um 'gangster' para liquidá-lo, ou poderemos raptá-lo". (Estive na mesma cela com um bispo ortodoxo, Vasile Leul, que fora raptado na Áustria e trazido para a Romênia. To­das as suas unhas lhe haviam sido arrancadas. Estive também com outros raptados em Berlim. Recentemen­te romenos foram raptados em Paris e na Itália). Dis­seram-me mais: "Podemos também destruí-lo moral­mente, espalhando uma estória sua com uma jovem, roubo ou algum outro pecado de sua juventude. Os ocidentais — especialmente os americanos — deixam-se enganar facilmente".
Depois de me haverem ameaçado, permitiram-me vir para o Ocidente. Têm muita confiança no processo da lavagem cerebral pelo qual passei. No Ocidente exis­tem muitos que, como eu, passaram por lavagem cere­bral, os quais foram reduzidos ao silencio. Alguns deles até mesmo louvam o Comunismo depois das torturas por que passaram. Os comunistas estavam bem seguros de que eu também guardaria silencio.
Assim, em dezembro de 1965, eu e minha família deixamos a Romênia.
Meu último ato, antes de partir, foi visitar o túmulo do coronel que me mandou prender e decretou os meus anos de prisão. Coloquei uma flor sobre o seu túmulo. Fazendo isso, dediquei-me a trazer as alegrias de Cristo, que tenho, para os comunistas, que são tão vazios espi­ritualmente.
Odeio o sistema comunista, mas amo os seus homens. Odeio o pecado, mas amo o pecador. Amo os comunis­tas de todo o meu coração. Eles podem matar os crentes, mas o amor que estes têm por aqueles que os matam, esse amor eles não destroem. Não tenho o menor rancor aos comunistas, nem mesmo aos meus torturadores.

CAPITULO IV
Os judeus têm uma lenda interessante. Quando seus antepassados foram salvos do Egito e os egípcios se afo­garam no Mar Vermelho, os anjos, juntamente com eles, cantaram louvores. E Deus disse aos anjos: "Os judeus podem alegrar-se por serem homens e alegram-se por estar livres. Mas de vocês espero mais compreensão. Não sãos os egípcios também minhas criaturas? Não os amo também Eu? Como então vocês se negam a sentir como Eu o trágico destino deles?”.
"E estando Josué ao pé de Jerico, levantou os olhos e olhou; e eis que se pôs em pé diante dele um homem que tinha na mão uma espada desembainhada. Chegou-se Josué a ele e lhe disse: “És tu os nossos, ou dos nossos adversários”?”.
Se aquele que foi encontrado por Josué fosse ape­nas homem só poderia ter dito "sou por ti", ou "sou por teus inimigos", ou talvez "sou neutro". São estas as únicas respostas que uma criatura humana pode dar a tal pergunta. Entretanto o Ser com o qual Josué se encontrou era de outra esfera e, por isso, quando inda­gado se era pró ou contra Israel, respondeu: "Não". Que significava esse "Não"?
Ele proveio de outra esfera onde os seres não são pró nem contra, mas onde cada um e tudo é bem en­tendido, visto com piedade, compaixão e fervente amor.
Existe um nível humano. Nesse nível, *o Comunismo deve ser combatido de modo total. Nesse nível temos de lutar também contra os comunistas, em vista de patro­cinarem esse sistema seu, cruel e selvagem.
Os crentes, porém, são mais do que meros homens; são filhos de Deus, participantes da Natureza Divina.
Por conseguinte, as torturas sofridas nas prisões comunistas não me fizeram odiar os comunistas. Eles também são criaturas de Deus.   Como poderia odiá-los?
Também não posso ser amigo deles. Amizade significa duas almas interligadas. Eu não tenho minha alma in­terligada com a dos comunistas. Eles detestam a idéia de Deus.   Eu amo a Deus.
Se me fosse perguntado: "Você é pró ou contra os comunistas?" Minha resposta seria complexa. O Comu­nismo é o maior perigo para a humanidade. Sou dia­metralmente oposto a ele e desejo combatê-lo até vê-lo derrotado. Mas, no espírito, estou nos lugares celestiais com Cristo. Estou sentado na esfera do "Não", na qual, apesar de todos os crimes dos comunistas, estes são entendidos e amados; esfera na qual há seres angelicais tentando ajudar todos a atingir o alvo da vida huma­na, que é imitar Cristo. Portanto, meu objetivo é es­palhar o Evangelho entre os comunistas, dando-lhes as boas novas de Vida Eterna.
Cristo, que é meu Senhor, ama os comunistas. Ele próprio já afirmou que ama a todos os homens e que preferiria deixar noventa e nove ovelhas justas a permi­tir que uma única extraviada continuasse perdida. Seus Apóstolos e todos os grandes mestres do Cristianismo nos ensinam este amor universal em Seu nome. São Macário disse: "Se um homem ama a todos os demais com ardor, mas refere apenas um a quem não pode amar tal homem não é mais um cristão, porque seu amor não é universal". Santo Agostinho ensina: "Se toda a hu­manidade fora perfeita, mas apenas um homem fora pecador, Cristo teria vindo sofrer na cruz por esse ho­mem, porquanto Ele ama cada pessoa individualmente". Os ensinamentos cristãos são claros. Os comunistas são homens, e Cristo os ama. Da mesma maneira agem todos quantos têm a mente de Cristo. Amamos ao pecador, apesar de odiarmos o pecado.
Sabemos do amor de Cristo para com os comunis­tas por intermédio do nosso amor para com eles.
Já vi nas prisões comunistas crentes com 25 quilos de correntes presas aos seus pés, flagelados com ferro em brasa, na garganta dos quais, várias colheres de sal eram colocadas, sendo deixados depois sem água, com fome, recebendo chicotadas, tiritantes, a orar com fer­vor pelos comunistas. Era isto humanamente inexplicá­vel, senão que o amor de Cristo fora derramado naqueles corações.
Depois de algum tempo, os comunistas que nos ha­viam torturado eram presos por sua vez. Sob o Comu­nismo, comunistas e até seus líderes são metidos na ca­deia, quase que tão freqüentemente quanto seus adver­sários. Era agora a vez de os torturadores estarem na mesma cela dos torturados. E enquanto os reclusos não crentes mostravam ódio aos seus ex-torturadores e os maldiziam, os presos crentes tomavam a si a defesa deles, apesar de se arriscarem a ser espancados e acusa­dos de cumplicidade com eles. Já presenciei crentes dando sua última fatia de pão (tínhamos na ocasião uma por semana) e o medicamento que poderia salvar suas vidas, a um torturador comunista doente, que era agora um companheiro de cela!
As últimas palavras de Iuliu Maniu, ex-Primeiro Mi­nistro da Romênia, crente e que morreu na prisão, fo­ram: "Se os comunistas forem dominados em nosso país, a missão mais sagrada de cada crente será ir às ruas, arriscando sua própria vida, para defender os co­munistas da fúria daqueles que com razão os buscam por haverem sido tiranizados por eles".
Nos primeiros dias após minha conversão, sentia que viver não me era mais possível. Andando pelas ruas o coração se me confrangia, diante de cada homem ou mulher por quem passasse. Era-me como se um punhal ferisse meu coração, tão pungente para mim era a dúvida, se ele ou ela havia ou não sido salvo. Se um membro da Igreja pecava, eu passava horas a chorar. O desejo de que todas as almas se salvassem estava de contínuo em meu coração, e ainda hoje os comunistas não estão excluídos dele.
Em prisão solitária não podíamos orar como antes. Ficávamos inconcebivelmente famintos. Éramos narco-tizados até nos tornarmos como idiotas.    Éramos tão fracos como esqueletos. A oração do Pai Nosso era muito longa para que a pudéssemos recitar. Não podíamos nos concentrar o tempo bastante para isso. Minha única oração, que repetia sempre, era:     "Jesus, eu te amo!”.
Um dia glorioso, então, recebi a resposta de Jesus: "Tu me amas? Agora te mostrarei como Eu te amo". Imediatamente senti um calor no coração, como de raios solares. Os discípulos a caminho de Emaús disseram que seus corações ardiam enquanto Jesus lhes falava. O mesmo me aconteceu. Conheci o amor dAquele que Se deu na cruz por todos nós. Tal amor não pode excluir os comunistas, entretanto agrava mais os pecados deles.
Os comunistas têm cometido horrores e ainda os cometem, porém "as muitas águas não poderiam apa­gar o amor, nem os rios afogá-lo. O amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme". Como a sepultura insiste em reclamar todos para si — ricos e pobres jovens e velhos, homens de todas as raças, na­ções e convicções políticas, santos e criminosos — assim o amor a todos abraça. Cristo, o Amor Encarnado, jamais cessará de amar, até conquistar os comunistas também.
Um ministro foi jogado em minha cela. Estava quase morto. O sangue escorria-lhe da face e do corpo. Havia sido espancado horrivelmente. Nós o lavamos. Alguns prisioneiros amaldiçoavam os comunistas. Gemendo, ele dizia: "Por favor, não os amaldiçoem! Conservem-se calados! Desejo orar por eles!”.

Como podíamos ter alegria, mesmo presos

Quando olho retrospectivamente para os catorze anos que passei preso, recordo-me de que, algumas vezes, tive momentos alegres. Outros prisioneiros e até os guardas muitas vezes se espantavam de que os crentes, sob tão terríveis circunstâncias, pudessem ser alegres. Não nos podiam impedir de cantar, apesar de sermos açoitados por isso. Imagino que os rouxinóis também cantariam, embora soubessem que depois de cantar poderiam ser mortos. Os crentes na prisão dançavam de alegria. Como podiam ser alegres sob tão trágicas con­dições?
Muitas ocasiões, no cárcere, meditava nas palavras de Jesus a Seus discípulos: "Bem-aventurados os vossos olhos porque vêem" (Mat. 13:16). Os discípulos tinham regressado de uma viagem pela Palestina, na qual ha­viam visto horrores. A Palestina era um país oprimido. Por toda parte havia a terrível miséria de um povo tiranizado. Os discípulos haviam encontrado fome, pra­gas, doenças e infortúnios. Entraram em casas das quais patriotas tinham sido levados presos, deixando atrás de si pais ou esposas a chorar. Não era um mundo aprazível de se ver.
Entretanto Jesus disse: "Benditos os olhos que vêem o que vós vedes". Fora assim porque não tinham visto só sofrimento. Também viram o Salvador de todos, o Consumador do bem-último, o alvo que a humanidade deve atingir. Pela primeira vez larvas nojentas, lagartas que se arrastam sobre folhas entenderam que, depois desta existência miserável, há uma vida de lindas bor­boletas multicores, capazes de voar de flor em flor. Tal era a nossa alegria também!
Havia ao meu redor homens como Jó, alguns muito mais aflitos que ele. Eu, porém, sabia o fim da his­tória de Jó: como recebeu em dobro tudo o que tivera antes... Tinha ao meu redor outros, como Lázaro, fa­mintos e cheios de feridas sem tratamento algum. Mas eu sabia que os anjos os levariam ao seio de Abraão. Eu os via como seriam no futuro. Via, no mártir mo­ribundo, sujo e frágil perto de mim, o santo que esplen­didamente seria coroado logo mais.
Vendo, porém, os homens desta maneira — não como eles eram, mas como seriam — também podia descobrir nos perseguidores, como Saulo de Tarso, futuros Paulos. Alguns dos quais já realmente se tornaram como Paulo. Oficiais da Polícia Secreta, diante dos quais testemunha­mos, tornaram-se crentes e se regozijaram posteriormente em sofrer na prisão por terem encontrado nosso Cristo. Nos carcereiros que nos açoitavam, viamos a possibilidade de serem outros tantos carcereiros de Filipos, como aquele que, depois de açoitar São Paulo, converteu-se.
Sonhávamos que logo nos perguntassem: "Que farei para ser salvo?" Naqueles que zombavam quando os crentes eram colocados em cruzes, besuntados de fezes e urina, víamos a turbamulta do Gólgota que, logo mais, batia nos peitos pelo temor de haver cometido pecado.
Foi na prisão que encontramos esperança de que os comunistas se salvariam. Foi lá que desenvolvemos nosso senso de responsabilidade para com eles. As torturas que nos infligiam ensinaram-nos a amá-los.
Grande parte dos meus familiares foi assassinada. Foi em minha própria casa que o assassino deles se con­verteu. Aquele foi, aliás, o lugar mais propício. Foi assim que, em prisões comunistas, nasceu a idéia de uma Mis­são Cristã em favor deles.
Deus vê as coisas por um prisma diferente do nosso, da mesma forma como vemos diferente do modo de ver de uma formiga. Do ponto de vista humano, é de fato uma coisa horrível ser amarrado a uma cruz e ter o corpo besuntado de fezes e urina. Entretanto a Bíblia chama os sofrimentos dos Mártires de "leves aflições". Passar catorze anos preso foi muito para mim. A Bíblia chama isto "um momento, que nos traz um peso eterno de glória". O que nos dá o direito de supor que os bár­baros crimes praticados pelos comunistas, que para nós são inescusáveis, contra os quais temos com justiça de lutar ao máximo, são mais leves à vista de Deus do que aos nossos olhos. A tirania deles, que já durou meio século, pode ser para Deus, diante de Quem mil anos são como um dia, um momento apenas de extravio. Eles ainda têm a possibilidade de serem salvos.
A Jerusalém Celestial é mãe e tem o amor de mãe.
Os portões celestiais não estão fechados para os comunistas. Podem arrepender-se, como quaisquer outras pessoas.    Devemos chamá-los ao arrependimento.
Só o amor poderá modificar os comunistas (amor que tem de ser claramente diferente de complacência com o Comunismo, praticada por tantos líderes eclesi­ásticos). O ódio cega. Hitler era anticomunista, mas odiava. Por isso, em lugar de vencê-los, ajudou-os a con­quistar um terço do mundo.
Com amor, planejamos quando na prisão um traba­lho missionário entre os comunistas.
Primeiramente pensamos nos dirigentes comunistas.
Alguns diretores de Missões parece que estudaram muito pouca História Eclesiástica. Como foi a Noruega conquistada para Cristo? Conquistando-se o Rei Olaf. A Rússia a princípio teve o Evangelho quando seu rei Vladimir foi ganho. A Hungria foi conquistada ganhando-se Santo Estevão, seu rei. O mesmo aconteceu com a Polônia. Na África, aconteceu que o chefe da tribo foi ganho para Cristo, toda a tribo o seguiu. Nós organi­zamos Missões para pessoas comuns, da plebe, que podem tornar-se muito bons crentes, mas que não têm influên­cia para modificar o estado de coisas.
Temos de conquistar dirigentes: personalidades po­líticas, econômicas, cientistas, artistas. São eles os en­genheiros de almas. Ganhando-os, se ganha o povo que dirigem, e sobre o qual têm influência.
Do ponto de vista missionário, o Comunismo tem uma vantagem que não é encontrada em outros siste­mas sociais.   É mais centralizado.
Se o Presidente dos Estados Unidos se convertesse ao Mormonismo, só por este fato a América não se tor­naria mórmon. Mas se Mao Tsé-Tung se convertesse ao Cristianismo — ou Breshnev ou Ceaushescu — seus países inteiros poderiam ser conquistados. Tão grande é o impacto da influência dos Líderes.
Mas, pode um líder comunista converter-se? Certa­mente, pois é tão inseguro e infeliz quanto suas vítimas. Quase todos os líderes comunistas da Rússia ou foram colocados em prisão, ou executados por seus próprios camaradas.   O mesmo aconteceu na China.
Até Ministros do Interior como Iagoda, Iejov e Béria, que pareciam ter todo o poder nas mãos, findaram como os mais reles contra-revolucionários. Uma bala na ca­beça e acabaram-se. Recentemente, Shepelin, Ministro do Interior da União Soviética, e Rankovic, Ministro do Interior da Iugoslávia, foram jogados fora como trapos imundos.

Como podemos atacar o Comunismo espiritualmente

O sistema comunista não torna ninguém satisfeito, nem mesmo os que dele se aproveitam. Até estes tremem ante a possibilidade de alguma noite ser levados pela camioneta da Polícia Secreta, porque a liderança do Partido mudou.
Conheci muitos líderes comunistas pessoalmente. São homens oprimidos; só Jesus pode dar-lhes paz.
Ganhar os líderes comunistas para Cristo pode sig­nificar salvar o mundo de uma destruição nuclear, ou salvar a humanidade da fome, devido ao fato de pre­sentemente grande parte de sua receita ser aplicada na aquisição de armamentos custosos. Ganhar os líderes comunistas pode significar o fim da tensão internacio­nal. Ganhar os líderes comunistas pode significar encher de alegria, a Cristo e a seus anjos. Pode significar a vi­tória da Igreja. Em todas as áreas onde os Missionários trabalham com tanta dificuldade, como Nova Guiné, ou Madagascar, tudo se tornaria mais fácil, se apenas os líderes comunistas fossem conquistados, porque isto daria ao Cristianismo um impulso totalmente novo.
Conheci pessoalmente muitos líderes comunistas convertidos. Eu mesmo, quando jovem, fui ateu mili­tante. Ateus e comunistas convertidos amam muito a Cristo, porque pecaram muito.



Os ídolos comunistas. Grandes quadros dos lideres do Partido Comunista expostos em frente desta igreja de Riga, convertida em Hall de Concertos.


É necessário estratégia no trabalho missionário. Do ponto de vista da salvação todos são iguais; do ponto de vista da estratégia missionária, nem todos são iguais. É mais importante ganhar um homem de grande influ­encia que poderá levar depois milhares ao conhecimento do Evangelho, do que falar a um silvícola, assegurando, para ele só, a salvação. Por esta razão Jesus não es­colheu um lugar obscuro onde encerrar Seu ministério, e sim Jerusalém, o centro espiritual do mundo. Por esta mesma razão Paulo fez tanto esforço por estar em Roma.
A Bíblia afirma: "A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente". Mas nós fazemos cócegas na barriga da serpente, provocando-lhe risadas. Sua ca­beça encontra-se em alguma parte, entre Moscou e Pequim, não em Madagascar ou na Tunísia. O mundo comunista deve ser o mais visado pelos líderes da Igreja e diretores de Missões, bem como por todo crente sensato.
Devemos renunciar os trabalhos de rotina. Está escrito: "Maldito aquele que fizer o trabalho do Senhor relaxadamente". Um ataque frontal aos comunistas, pela Igreja, é necessário.
As guerras só podem ser vencidas pela ofensiva, e nunca por estratégias de defesa. Com relação ao Comu­nismo, a Igreja até o presente não saiu da defensiva, perdendo um país após outro para ele.
Isto tem de ser modificado imediatamente em toda a Igreja. Um Salmo afirma que Deus despedaça as barras de ferro.   A Cortina de Ferro é coisa diminuta para Ele.
A Igreja Primitiva trabalhou às ocultas e ilegal­mente, porém triunfou. Devemos mais uma vez aprender a trabalhar desta maneira.
Até que chegasse o Comunismo, nunca entendi por que tantas pessoas do Novo Testamento eram chama­das por sobrenomes: Simão, chamado Niger, João, cha­mado Marcos, e outros. Usamos nomes secretos em nosso trabalho, hoje, nos países comunistas.
Nunca entendi antes por que Jesus, quando mandou preparar a última Ceia, não deu um endereço, mas declarou: "Ide à cidade e vos sairá ao encontro um homem trazendo um cântaro de água". Agora entendo. Também damos senhas, sinais convencionais de reco­nhecimento na Igreja Subterrânea. .
Se concordarmos em agir da mesma forma — vol­tando aos métodos do Cristianismo Primitivo — pode­remos trabalhar eficientemente para Cristo nos países comunistas.
Mas quando me encontrei com os líderes da Igreja do Ocidente, em lugar de encontrar amor para com os comunistas, o que teria encaminhado a formação de uma Missão para os países dominados por eles, deparei-me com uma orientação favorável ao Comunismo. Não en­contrei a compaixão do Bom Samaritano para com as almas perdidas da casa de Karl Marx.
Um homem crê realmente, não no que recita no seu credo, mas naquilo em favor do que está pronto para morrer.
Os crentes da Igreja Subterrânea têm provado que estão prontos a morrer pela fé que professam. Agora mesmo estou envolvido em um trabalho que poderá sig­nificar o meu reencarceramento em país comunista, novas torturas e morte, porque dirijo uma Missão Secreta, tra­balhando atrás da Cortina de Ferro e assumindo todos os riscos.   Creio nas coisas que escrevo.
Tenho o direito de perguntar: Os líderes eclesiás­ticos da América, que fazem amigos à custa do Co­munismo, estariam prontos a morrer por esta sua fé? Quem os impede de deixar os altos postos que ocupam no Ocidente, para vir a ser pastores oficiais no Oriente, cooperando ali — in loco — com os comunistas? A prova de tal fé não foi dada ainda por nenhum líder da Igreja Ocidental.
As palavras do homem nasceram de sua necessi­dade de entender-se com os companheiros nas pesca­rias, caçadas, e depois na produção comum das coisas necessárias à vida, e da necessidade de expressarem seus sentimentos entre si. Entretanto, não existem palavras humanas que possam expressar de maneira adequada os mistérios de Deus e as sublimidades da vida espiritual.
Igualmente não existem palavras que possam ex­pressar as profundezas de uma crueldade diabólica. Po­derá alguém expressar em palavras o sofrimento que alguém sentia quando estava prestes a ser lançado numa fornalha pelos nazistas, ou quando via um filho seu nela ser atirado? De igual modo é impossível tentar des­crever os sofrimentos que os crentes já suportaram e ainda hoje enfrentam nos países comunistas.
Estive na prisão com Lucretiu Patrascanu, o homem que promoveu o estabelecimento do Comunismo na Ro­mênia. Seus camaradas recompensaram-no colocando-o na prisão. Apesar de ser um homem mentalmente sadio, colocaram-no em um hospital de loucos, até que termi­nou enlouquecendo também. Fizeram o mesmo com Anna Pauker, ex-secretária de Estado. Os crentes mui­tas vezes também recebem esse tipo de tratamento. São submetidos a choques elétricos, vestem camisa de força.
O mundo está horrorizado com o que está acon­tecendo nas ruas chinesas. A vista de todos, os guardas vermelhos exercem terror. Agora, tentem imaginar o que não acontece a um crente em uma prisão chinesa, onde ninguém os está presenciando!
A última notícia que tivemos é que um escritor evangélico chinês de renome e outros crentes, os quais se recusaram a negar sua fé, tiveram suas orelhas, lín­guas e pernas cortadas.
Entretanto, o que os comunistas fazem de pior não são as torturas e os assassínios. Falsificam completa­mente a mente das pessoas e envenenam a mocidade e as crianças. Colocam seus homens em posição de lide­rança nas Igrejas para dirigir os crentes e destruir as mesmas Igrejas. Ensinam a juventude não apenas a des­crer de Deus e de Cristo, como até mesmo a odiar estes nomes.
Com que palavras poderíamos expressar a tragédia em que se envolve um mártir cristão que, voltando ao seu lar depois de anos de prisão, é escarnecido pelos seus próprios filhos, os quais durante aquele tempo de sua ausência se tornaram ateus militantes?

Este livro está sendo escrito não tanto com tinta mas com o sangue de corações que sangram

Como nos tempos de Daniel os três jovens que foram colocados na fornalha depois que de lá saíram não chei­ravam a fogo, da mesma maneira os crentes que esti­veram em prisões de comunistas não têm qualquer res­sentimento contra eles.                                                   
Uma flor, que o leitor esmague sob os pés, recom­pensa-lhe dando seu perfume. De igual medo os crentes torturados pelos comunistas, recompensam-nos com amor. Levamos muitos dos nossos carcereiros a Cristo. E estamos dominados por um só desejo: dar aos co­munistas, que nos fizeram sofrer, o melhor que temos, a Salvação que vem do nosso Senhor Jesus Cristo.
Não tive o privilégio, que muitos dos meus irmãos na fé tiveram, de morrer mártir' na prisão. Fui liber­tado e até pude sair da Romênia para o Ocidente.
No Ocidente encontrei muitos líderes eclesiásticos de sentimento totalmente contrário àquele existente e pre­dominante na Igreja Subterrânea, tanto por trás da Cortina de Ferro, como da de Bambu. Muitos crentes ocidentais não têm amor pelos comunistas. Prova disto é que não se interessam pela salvação dos que se encon­tram naqueles países. Têm missões para evangelizar ju­deus, muçulmanos e budistas, porém não têm missões para os comunistas! Não os amam, do contrário teriam, há muito tempo criado tal missão, como Carey, por amor aos indianos, e Hudson Taylor, por amor aos chi­neses, criaram missões para eles.
Não é bastante, porém, que não amem os comunistas e nada façam por conquistá-los para Cristo. Por sua complacência e negligência, e às vezes acumpliciando-se de fato com os comunistas, alguns líderes da Igreja Oci­dental incentivam a incredulidade deles. Ajudam-nos a introduzir-se nas igrejas ocidentais e a assumir li­derança nelas e no mundo. Deixam os crentes despercebidos dos perigos do Comunismo.
Não amando aos comunistas e nada fazendo por con­quistá-los para Cristo (sob o pretexto de que não lhes é permitido fazê-lo, como se os primeiros cristãos pe­dissem permissão a Nero para divulgar o Evangelho), eles também não amam a seus próprios rebanhos. Por­que se nós não conquistarmos os comunistas para Cristo, eles conquistarão o Ocidente e, também aqui, desarraigarão o Cristianismo.
As lições da História são ignoradas
Nos primeiros séculos houve uma Igreja florescente no norte da África. De lá procederam Santo Agostinho, São Cipriano, Santo Atanásio e Tertuliano. Os crentes de lá apenas negligenciaram uma coisa: conquistar os maometanos para Cristo. O resultado foi que os maometanos invadiram o norte da África e de lá extirparam, durante séculos, o Cristianismo. A África do Norte ainda hoje pertence aos maometanos, que são considerados, pela missão evangélica, como "bloco dos Inconversíveis".
Aprendamos essa lição da História.
Na época da Reforma, os interesses religiosos de Huss, Lutero e Calvino coincidiram com os interesses dos povos da Europa, os quais ansiavam verem-se livres do jugo papal que. na época, representava opressão po­lítica e poder econômico. De igual modo hoje, o inte­resse da Igreja Subterrânea em divulgar o Evangelho entre os comunistas e suas vítimas coincide com o vital interesse de todos os povos livres por continuarem livres.
Não há poder político que possa derrubar o Comu­nismo.    Os comunistas têm armas nucleares, atacá-los militarmente significaria o começo de uma outra Guerra Mundial, com centenas de milhares de vítimas. Também muitos líderes ocidentais receberam lavagem cerebral e nem mesmo desejam derrubar o sistema comunista Dizem isso freqüentemente. Desejam que a toxicomania, o banditismo, o câncer e a tuberculose desapareçam, mas o Comunismo não, embora este já tenha matado muito mais gente do que todas essas doenças juntas.
Hya Ehrenburg, escritora soviética, diz que se Stalin durante toda a sua vida não tivesse feito outra coisa senão escrever os nomes de suas vítimas inocentes, sua vida teria sido curta para concluir essa tarefa. Kruschev afirmou no XX Congresso do Partido Comunista: "Stalin liquidou com milhares de comunistas honestos e ino­centes... Dos cento e trinta e nove membros e candi­datos do Comitê Central, que haviam sido escolhidos no XVII Congresso, noventa e oito, isto é, setenta por cento, foram mais tarde presos e fuzilados".
Agora imaginem o que ele fez aos crentes!
Kruschev renegou a Stalin, mas continuou a fazer as mesmas coisas. De 1959 para cá, metade das Igrejas da União Soviética, que ainda estavam abertas, estão hoje fechadas.
Na China existe uma nova onda de barbarismo, pior que a do período stalinista. O trabalho franco, desim­pedido das Igrejas cessou completamente. Na Rússia e na Romênia há uma onda de novos encarceramentos. (Acabamos de receber Informação de que na Rússia está havendo encarceramento em massa dos crentes).
Com terror e falsidade, em países com um bilhão de habitantes, toda a nova geração é criada com ódio por tudo quanto é ocidental, especialmente para com o Cris­tianismo.
Não é fora do comum ver-se um guarda vermelho parado em frente de Igrejas, atento a crianças E aque­las que são encontradas querendo dirigir-se a elas le­vam palmadas e são mandadas embora.   Os futuros destruidores do Cristianismo ocidental são cuidadosa e sis­tematicamente preparados para essa obra.
Existe apenas uma força que pode derrubar o Co­munismo. É a mesma que fez com que os Estados Cris­tãos tomassem o lugar do Império Romano pagão, força que transformou em cristãos os selvagens teutões e os "Vikings", e que desbancou a sangrenta Inquisição. Esta força é o poder do Evangelho, representado pela Igreja Subterrânea existente em todos os países comu­nistas.

Sustentar essa Igreja e ajudá-la não é apenas uma questão de identificação com os irmãos que sofrem. Não significa vida ou morte para o país da pessoa que está lendo estas páginas e para suas Igrejas. Sustentar essa Igreja não é apenas do interesse dos cristãos livres, mas deveria também ser a política de todos os governos livres.


"O Invertido Evangelho" de Marx.  Nos lugares da cruz, as antenas, de televisão. Na igreja, ao invés do Evangelho do amor de Deus, a divulga­ção do ateismo marxista!

A Igreja Subterrânea já tem conquistado vários líderes comunistas para Cristo. Gheorghiu Dej, primeiro Ministro da Romênia, morreu crente, depois de con­fessar seus pecados e modificar sua vida pecaminosa. Nos países comunistas existem membros do governo que são crentes às ocultas. Isto pode propagar-se. Então poderemos esperar grande modificação na política de alguns governos comunistas — não modificações como aquelas de Tito e Gomulka, depois das quais o mesmo sistema ditatorial de um partido ateu e cruel continuaram — mas uma modificação em favor do Cristianismo e da liberdade.
Oportunidades excepcionais existem, presentemente, para tanto.
Os comunistas, que muitas vezes são tão sinceros em suas crenças quanto os cristãos na sua, estão passando por grande crise.
Haviam crido que o Comunismo fomentaria uma irmandade das nações. Agora, porém, vêem que as na­ções comunistas brigam, umas com as outras, como cães.
Haviam realmente crido que o Comunismo implan­taria no mundo um paraíso terrestre, oposto ao que consideram ilusório, o paraíso celestial. E agora estão passando fome. Trigo tem de ser importado de países capitalistas.
Os comunistas creram em seus líderes. Agora lêem nos seus próprios jornais que Stalin assassinou gente em massa e Kruschev foi um idiota. O mesmo acontece com seus heróis nacionais, como Rakosi, Gero, Anna Pauker, Rankovici e tantos outros. Os comunistas não mais crêem na infalibilidade de seus líderes. São como os católicos que não mais crêem no Papa!
Existe um vazio no coração dos comunistas, que só poderá ser preenchido por Cristo. O coração humano, por sua própria natureza, busca a Deus. Existe um vácuo espiritual em cada pessoa, enquanto não é pre­enchido por Cristo. Isto é também verdade com relação aos comunistas. No Evangelho existe uma força de amor que pode também apelar para eles. Já vi isto acontecer.   Sei que pode ser realizado.
Cristãos — ridicularizados e torturados pelos comu­nistas — já esqueceram e perdoaram o que lhes foi feito pessoalmente e a seus familiares. Fazem o possível para ajudá-los a vencer a crise e encontrar o caminho para Cristo.   Para este trabalho necessitam de nossa ajuda.
E não apenas isto. O amor cristão é sempre uni­versal.   Com os cristãos não há parcialidade.
Jesus afirmou que o sol, criação de Deus, nasce para todos, bons e maus.   O mesmo se diga do amor cristão.
Os líderes evangélicos do Ocidente, que mostram amizade para com os comunistas, justificam essa ati­tude com o ensinamento de Cristo, de que devemos amar aos nossos inimigos. Jesus, porém, nunca afirmou que devíamos amar somente aos nossos inimigos, esquecendo os nossos irmãos.
Esses líderes mostram seu amor comendo e bebendo com  aqueles cujas  mãos  estão  manchadas  do  sangue dos cristãos martirizados, em lugar de lhes apresentarem as boas novas de Cristo. E aqueles que são oprimidos pelos comunistas são esquecidos.   Não são amados.
As Igrejas Evangélicas e Católicas da Alemanha Ocidental deram nos últimos sete anos mais de 125 mi­lhões de dólares para os necessitados. Os crentes ame­ricanos dão ainda mais.
Existem muitas pessoas famintas, mas não posso imaginar pessoas mais famintas do que os mártires cristãos, ou que mais façam jus à ajuda dos cristãos livres. Se as Igrejas da Alemanha, da Inglaterra, da América e dos países escandinavos levantam tanto di­nheiro para ajudar, essa ajuda deve visar a todos os necessitados, mas primeiramente os mártires cristãos e suas famílias.                                                                    
Será que isto acontece presentemente?
Fui resgatado por organizações evangélicas, o que prova que cristãos podem ser resgatados. Entretanto sou o único caso de pessoa resgatada no meu país por evangélicos. O fato de meu resgate vem acusar as or­ganizações cristãs do Ocidente de negligenciarem o cumprimento de seu dever em outros casos.
Os primeiros cristãos perguntaram a si mesmos se a nova Igreja era apenas para os judeus e não para os gentios também. A pergunta recebeu a resposta cor­reta. De uma outra forma o problema reapareceu no Século XX. O Cristianismo não é apenas para o Ocidente. Cristo não pertence apenas à América, à Inglaterra e a outros países democráticos. Quando Ele foi crucificado, uma de Suas mãos apontava para o Ocidente e a outra para o Oriente. Ele deseja ser o Rei não apenas dos judeus, mas também dos gentios, Rei dos comunistas por igual, e não apenas dos ocidentais. Jesus disse: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura".
Ele derramou o Seu sangue por todos, e todos devem ouvir e crer no Evangelho.
O que nos dá mais ânimo de continuar a pregar o Evangelho nós países comunistas é que lá. aqueles que se tornam crentes são cheios de amor e zelo. Nunca encontrei um só crente russo que não fosse fervoroso. Jovens ex-comunistas podem tornar-se excelentes discí­pulos de Cristo.
Cristo ama aos comunistas e deseja libertá-los do Comunismo, como ama a todos os pecadores e deseja libertá-los do pecado. Alguns líderes eclesiásticos do Ocidente assumem, em vez da atitude correta, uma outra: condescendem com o Comunismo. Favorecem o pecado, auxiliam o Comunismo a triunfar e prejudicam, com isto, a salvação dos comunistas como de suas vítimas.

O que encontrei quando saí da prisão

Quando libertado da prisão, outra vez com minha esposa, ela me perguntou quais seriam os meus planos para o futuro. Respondi: "O ideal que tenho diante de mim é uma vida de reclusão espiritual". Ao que ela me retrucou haver tido o mesmo pensamento.
Havia sido multo dinâmico em minha mocidade. A prisão, porém, e especialmente os anos de confinamento em solidão haviam-me tornado um homem meditativo e contemplativo. Todas as tempestades do meu coração haviam-se acalmado. Não me importava mais com o Comunismo, nem mesmo o notava. Era como se estivesse sendo abraçado pelo Noivo Celestial. Orava por aqueles que nos haviam atormentado e podia amá-los de todo o meu coração.
Eu tivera muito pouca esperança de que algum dia pudesse ser libertado. Quando, porém, me ocorria pen­sar no que faria, caso fosse libertado, sempre admitia a idéia de retirar-me para alguma parte, em lugar ermo, e a continuar a vida de agradável união com o Noivo Celestial.
Deus é "a Verdade".   A Bíblia é a "verdade sobre a Verdade".   Teologia é a "verdade sobre a verdade acerca da Verdade". Fundamentalismo é a "verdade sobre a verdade acerca da verdade sobre a Verdade". E o povo crente vive destas muitas verdades sobre a Verdade, e por causa disto não tem "a Verdade". Famintos, espan­cados e narcotizados havíamos esquecido a Teologia e a Bíblia. Havíamos esquecido as "verdades sobre a Ver­dade". Desta maneira vivíamos apenas da "VERDADE". Está escrito: "O Filho do Homem virá na hora em que não pensais e no dia em que não sabeis". Não podíamos mais pensar. Nas horas mais escuras de tormentos o Filho do Homem vinha a nós, fazendo as paredes da prisão brilhar como diamantes e enchendo as celas de esplendor. Em algum lugar, bem distante, estavam os torturados, abaixo de nós, na esfera do corpo. Os es­pírito, porém, regozijava-se no Senhor. Não trocaríamos estas alegrias pelos prazeres dos palácios reais.
Lutar contra alguém ou alguma coisa? Nada estava mais longe da minha mente do que isso. Não desejava fazer guerra, mesmo que fosse justa. Preferiria antes construir Templos vivos para Cristo. Foi com a espe­rança de futuros anos de sossego e contemplação que deixei o cárcere.
No mesmo dia, porém, depois de libertado, deparei-me com aspectos do Comunismo mais horrendos do que todas as torturas da prisão. Um após outro encon­trei-me com eminentes pastores e pregadores de várias denominações e mesmo bispos, os quais simplesmente confessaram, com grande tristeza, que eram informan­tes da Polícia Secreta, em prejuízo do próprio rebanho deles. Perguntei-lhes se estavam preparados para deixar de ser informantes, mesmo com o risco de serem presos. Todos responderam "Não" e explicaram que não era temor por suas próprias pessoas que os impedia. Conta­ram-me novos acontecimentos nas Igrejas, coisas que não existiam mesmo antes do meu aprisionamento — que recusar ser informantes poderia significar o fecha­mento de uma Igreja.
Em todas as cidades existe um representante do encarregado do Governo para a fiscalização dos "Cultos". Ê um homem da Polícia Secreta.   Tem o direito de intimar qualquer padre ou pastor, sempre que entender, para que lhe diga quem tem estado na Igreja, quem comunga freqüentemente, quem é zeloso por sua reli­gião, quem é evangelista pessoal, o que o povo crê e etc. Quem não responde é demitido, e outro "ministro" é posto em seu lugar, que preste melhores informações. Quando o representante do Governo não descobre subs­tituto que sirva (o que quase sempre acontece), fecha a Igreja.
Muitos ministros deram informações à Polícia Se­creta com a diferença de que alguns o fizeram com relutância, tentando ocultar certas coisas, enquanto outros criaram o hábito de informar, ficando de consci­ência endurecida. Outros ainda adquiriram paixão por isto e contavam mais do que lhes era solicitado.
Ouvi confissões de filhos de mártires crentes, que tinham sido obrigados a dar informações sobre as fa­mílias nas quais haviam sido recebidos bondosamente. De outra, maneira eram ameaçados de não poderem continuar seus estudos.
Fui a um Congresso Batista, realizado sob a égide da bandeira vermelha. Os comunistas é que resolveram quais seriam os seus líderes a serem "eleitos".
Sabia que agora, na direção de todas as Igrejas Oficiais, haveria homens nomeados pelo Partido Co­munista. Então entendi que estava presenciando a abominação da desolação no Lugar Santo, a respeito da qual Jesus falou.
Sempre tem havido bons e maus pastores e prega­dores. Agora, porém, pela primeira vez na história da Igreja, o Comitê Central de um reconhecido partido ateu, que tem como propósito declarado extirpar a Re­ligião, é quem decide quem é que vai liderar a Igreja. Liderá-la com que propósito? Certamente com o fim de ajudar na extirpação da Religião.
Lenine escreveu: "Toda idéia de religião, toda idéia de Deus, mesmo só o namoro com a idéia de Deus é uma   inexprimível  vileza,   da  mais   perigosa  espécie   e contágio da mais abominável forma. Milhões de peca­dos, ações imundas, atos de violência e contaminação física são muito menos perigosos do que a sutil idéia espiritual de um Deus".
Os Partidos Comunistas de toda a área soviética são leninistas; para estes, religião é pior do que câncer, tuberculose ou sífilis. E eles decidem quem devem ser os líderes religiosos. Com eles, os líderes da Igreja Oficial cooperam, mais ou menos transigindo.
Tenho visto o envenenamento de crianças e jovens com o ateísmo, e as Igrejas Oficiais sem terem a mais leve possibilidade de neutralizá-lo. Em nenhuma Igreja de nossa capital, Bucareste, se pode encontrar uma reunião de mocidade ou Escola Dominical para crianças. Os filhos dos crentes são educados na escola do ódio.
Vendo tudo isso, odiei o Comunismo como não o havia odiado sob suas torturas.
Odiei-o não por causa do que me fizera, mas por causa do mal que faz à Glória de Deus, ao nome de Jesus Cristo e às almas de um bilhão de homens sob seu domínio.
Camponeses vieram de todo o país para ver-me e disseram-me como estava sendo conduzida a coletivização. Agora eram escravos famintos nas fazendas e vinhedos que antes lhes pertenceram. Não tinham pão. Seus filhos não tinham leite nem frutas, quando este país dispõe de riquezas naturais que se igualam às da Canaã antiga.
Irmãos confessaram-me que o regime comunista tinha feito de todos eles ladrões e mentirosos. Por causa da fome tinham de roubar daquilo que fora seu próprio campo, porém que agora pertencia à coletividade. Tinham então de mentir para encobrir seus furtos. Ope­rários falaram-me a respeito do terror nas fábricas e sobre a exploração da mão-de-obra, de um modo como os capitalistas nunca sonharam. Os operários não têm direito de greve.
Intelectuais tinham de ensinar, contra suas con­vicções íntimas, que não há Deus.
Toda a vida e pensamento de um terço do mundo têm sido destruídos ou falsificados.
Mocinhas vieram queixar-se de que tinham sido chamadas à Organização dos Jovens Comunistas e que ali foram censuradas e ameaçadas por terem beijado um rapaz crente; e o nome de outro lhes foi dado, a quem poderiam beijar.
Tudo era profundamente falso e feio. Foi quando encontrei os lutadores da Igreja Subterrânea — meus velhos companheiros, alguns dos quais não haviam sido apanhados e outros que retomaram a luta depois de terem sido libertados da prisão. Convidaram-me a con­tinuar a luta com eles. Assisti a suas reuniões secretas, nas quais cantavam utilizando hinários escritos a mão.
Lembrei-me de Santo Antônio, o Grande. Passou trinta anos no deserto. Tinha abandonado completa­mente o mundo, passando a viver em jejum e oração. Quando, porém, ouviu a respeito da luta travada entre Santo Atanásio e Ario em torno da divindade de Cristo, deixou a vida contemplativa e foi a Alexandria ajudar a verdade a triunfar. Lembrei-me de São Bernardo de Clairvaux. Era também um monge, que vivia no alto das montanhas. Tendo porém ouvido a respeito da insen­satez das Cruzadas, em que cristãos matavam árabes e judeus e irmãos na fé, pertencentes a outra confissão, a fim de conquistarem um túmulo vazio, deixou seu mosteiro e desceu daquelas alturas para pregar contra as Cruzadas.
Resolvi fazer o que todos os cristãos devem fazer: Seguir os exemplos de Cristo, do Apóstolo Paulo, dos grandes santos, renunciar ao pensamento de se afastarem e empenhar-se na luta.
Que luta seria?
Os crentes em prisão sempre têm orado por seus inimigos e lhes têm dado belo testemunho.    O desejo de  nossos  corações  era  que  eles  fossem  salvos  e  nos regozijávamos todas as vezes que isto acontecia.
Eu odiava, porém, o mau sistema comunista e de­sejava fortalecer a Igreja Subterrânea, a ÚNICA FOR­ÇA QUE PODE DESBANCAR ESSA TREMENDA TIRA­NIA, PELO PODER DO EVANGELHO.
Não pensava apenas na Romênia, mas em todo o mundo comunista.
Achei, entretanto, muito desinteresse por estes fatos no Ocidente.
Escritores ao redor do mundo protestaram quando dois escritores comunistas — Siniavski e Daniel — fo­ram sentenciados à prisão por seus próprios camaradas, porém nem mesmo Igrejas protestam quando crentes são encarcerados por causa de sua fé.
Quem se preocupa com o Irmão Kuzyck, sentenciado por cometer o crime de distribuir o "veneno" de publi­cações cristãs, tais como os livros devocionais de Tor-rey e porções bíblicas? Quem sabe a respeito do Irmão Prokofiev, condenado por haver distribuído sermões escritos? Quem sabe a respeito do judeu cristão Grun-vald, condenado por iguais ofensas na Rússia e de quem os comunistas arrebataram para sempre o seu filhinho? Eu sei o que senti quando fui afastado do meu Mihai. Sofro com o Irmão Grunvald, Ivanenko, Graany Shev-chuk, Taisya Tkachenko, Ekaterina Vekasina, Georgi Vekasin e o casal Pilat, na Látvia, e assim por diante, nomes de santos e heróis da fé do Século XX. Inclino-me para beijar suas algemas; como os primeiros cristãos beijaram as dos seus companheiros quando eram con­duzidos para serem lançados às feras bravias.
Alguns líderes da Igreja Ocidental não se importam com eles. Os nomes dos mártires não estão em suas listas de oração. Enquanto estavam sendo condenados e torturados, os líderes batistas russos e ortodoxos da Igreja Oficial, que os haviam denunciado e traído, eram recebidos com muita honra em Nova Delhi, em Genebra e em outras conferências. Assim garantiram a todo o mundo que na Rússia existe ampla liberdade religiosa.
Um líder do Concilio Mundial de Igrejas beijou o bolchevista Arcebispo Nikodim quando este garantiu isso. Então se banquetearam sob o majestoso nome do Concilio, enquanto os santos na prisão comiam repolho com tripas não lavadas, como eu havia comido, em nome de Jesus Cristo.
As coisas não podem permanecer como estão. A Igreja Subterrânea resolveu que eu deixasse o país, se tivesse possibilidade, e informasse aos crentes ociden­tais o que está acontecendo. Decidi denunciar o Co­munismo, embora ame os comunistas. Não acho certo pregar o Evangelho sem denunciar o Comunismo.
Alguns dizem-me: "Pregue somente o Evangelho!" Isto me faz lembrar que a Polícia Secreta comunista também me disse que pregasse a Cristo sem falar no Comunismo. Será que aqueles que são pelo chamado "Evangelho Puro" são inspirados pelo mesmo espírito dos que pertencem à Polícia Secreta Comunista?
Não sei o que seja o chamado "Evangelho Puro". Seria pura a pregação de João Batista? Não somente disse: "Arrependei-vos porque o reino de Deus está perto", como também disse: "Tu, Herodes, és mau". Foi decapitado porque não se restringiu ao ensino abs­trato. Jesus não pregou apenas o "Puro" Sermão da Montanha, porém o que alguns líderes da Igreja atual chamariam de sermão negativo. "Ai de vós escribas e fariseus hipócritas... Raça de víboras!" Foi por cau­sa de tal pregação "impura" que Ele foi crucificado. Os fariseus não se teriam incomodado com o Sermão da Montanha.
O pecado deve ser chamado pelo seu próprio nome. O Comunismo é o pecado mais perigoso do mundo moderno. Todo Evangelho que não o denuncia, não é o puro Evangelho. A Igreja Subterrânea denuncia-o com o risco de sua liberdade e sua vida. Muito menos temos nós de silenciar no Ocidente.
Estou decidido a denunciar o Comunismo não no sentido  em  que  o  fazem  aqueles  que  usualmente  são chamados de "anticomunistas". Hitler era anticomu­nista, não obstante ser um tirano. Odiamos o pecado e amamos ao pecador.

Por que sofro no Ocidente

Sofro no Ocidente mais do que sofri nas terras co­munistas.
Meu sofrimento aqui provém, antes de tudo, das saudades que tenho das belezas indizíveis da Igreja Subterrânea, a Igreja que realiza o velho ditado latino Nudis Nudum Christi Sequi  (Nus, segui o Cristo nu).
No campo comunista o Filho do Homem e aqueles que são seus não têm onde reclinar a cabeça. Os crentes ali não constroem casas para si. Para que? Serão con­fiscadas quando de sua primeira prisão. Justamente o fato de você, leitor, ter uma casa nova, pode ser maior motivo para ser preso — os comunistas desejam para si essa casa. Ali você não sepulta seu pai nem se despede da sua família antes de seguir a Cristo. Quem são sua mãe, seu irmão, sua irmã? Neste aspecto você é como Jesus. Mãe e irmã são para você apenas aque­les que cumprem a vontade de Deus. Quanto aos laços naturais valem eles ainda alguma coisa se é freqüente uma noiva denunciar o noivo, os filhos os seus pais, as esposas os seus esposos? Cada vez mais são somente os laços espirituais que permanecem. A Igreja Subter­rânea é uma Igreja «pobre e sofredora, porém não tem membros mornos. Um Culto na Igreja Subterrânea é - como na Igreja Primitiva, há 1900 anos. O pregador não conhece uma teologia elaborada, não conhece homilética, como Pedro não as conhecia. Todo professor de Teologia daria uma nota baixa a Pedro pelo seu Sermão do dia de Pentecostes. Os versículos da Bíblia são pouco conhecidos nos países comunistas, porque as Bíblias são raras. Além disto, os pregadores geralmente têm estado presos durante anos, desprovidos de uma Bíblia.
Quando expressam sua fé em um Pai, isto significa muito, porque há um drama por trás dessa afirmação.
Na prisão eles diariamente pediram pão ao seu Pai onipotente e em vez de pão receberam repolho com inominável imundícia, entretanto crêem que Deus é Pai amoroso. São como Jó que afirmava creria em Deus mesmo que Este o matasse. São como Jesus que O chamou de Pai, mesmo quando aparentemente fora abandonado na cruz.
Quem quer que tenha conhecido as belezas espi­rituais da Igreja Subterrânea não pode mais satisfazer-se com o vazio de algumas Igrejas do Ocidente. Sofro no Ocidente mais do que sofri em uma prisão comunista, porque agora estou vendo com os meus pró­prios olhos a civilização ocidental em decadência.
Osvaldo Splenger escreveu no livro Declínio do Oci­dente: "Vós estais morrendo. Vejo em todos vós o estigma característico da decadência. Posso provar que vossa grande riqueza e vossa grande pobreza, vosso ca­pitalismo e vosso socialismo, vossas guerras e revoluções, vosso ateísmo, vosso pessimismo, vosso cinismo, vossa imoralidade, vossos casamentos desfeitos, vosso contro­le de natalidade, que vos está exaurindo e aniquilando, posso provar-vos que estes sinais caracterizam as épocas de decadência dos antigos Estados, Alexandria, Grécia e a neurótica Roma".
Foram escritas essas palavras em 1926. Desde então a democracia e civilização já morreram na metade da Europa e até em Cuba.   O resto do Ocidente dorme.
Há, porém, uma força que não dorme: a dos co­munistas. Entretanto no Oriente os comunistas estão desapontados e desiludidos, no Ocidente o Comunismo tem permanecido virulento. Os comunistas ocidentais simplesmente não crêem em todas as más notícias a respeito das crueldades, misérias e perseguições nos países do bloco comunista. Espalham sua fé com in­cansável zelo por toda parte, nos salões da alta socie­dade, nos clubes de intelectuais, nos colégios, nas choupanas e nas igrejas. Nós, crentes, muitas vezes ficamos parcialmente do lado da verdade integral, en­quanto eles estão totalmente e de todo o coração do lado da mentira.



Futuros mártires?!
Alguns refugiados cambodjianos socorridos recentemente pela nossa missão, são batizados em Ponghan-Ron na Tailândia. Quanto tempo ainda lhes resta, para cultuar a Deus em liberdade?!

Na Tailândia existem atualmente 65 mil refugia­dos, sendo 10 mil cambodjanos, 54 da tribo Meo e laozianos, e 1 mil vietnamitas, chegando diariamente novas levas, que conseguem atravessar as áreas minadas e escapar à vigilância dos soldados do Kmer Vermelho.
Com conhecimento do governo tailandês a CAMA (Serviço Social da ALiança Cristã Missio­nária) Missão Holandeza, distribuiu 3.000 kilos de arroz, doados pelos U.S.A.
Sok Thong Doenng, antigo decano do Colégio de Agricultura de Phom Penh, depois de se conver­ter a Cristo, conhecendo-0 realmente como o Filho de Deus, é pastor, pregador e conselheiro entre 1000 refugiados e tem sido um grande instrumento nas mãos de Deus, pelo seu testemunho positivo, para levá-tos a Cristo.
Na foto um batismo entre os refugiados!
JESUS PARA O MUNDO COMUNISTA, par­ticipou com 5000 dólares na distribuição de alimen­tos. O governo da Tailândia está sob pressão do KMER Vermelho, para repatriar os fugitivos, o que seria a morte e o martírio para muitos destes cris­tãos.
Orem para que isso não aconteça.
(Notícias de 1976)



Enquanto isso, teólogos do Ocidente discutem trivialidades. Isto me faz lembrar que, enquanto as tropas de Maomé II cercavam Constantinopla em 1943, tendo de ficar decidido se os Bálcãs ficariam sob o domínio dos cristãos ou dos maometanos, um concilio de Igreja, da cidade sitiada, discutia os seguintes problemas: De que cor eram os' olhos da Virgem Maria, qual o sexo dos anjos, o que acontece se uma mosca chega a cair na água benta. Fica a mosca santificada, ou é a água que fica poluída? Pode isto não passar de lenda, pró­pria daqueles tempos. Perlustrem-se, porém, os jornais das Igrejas de hoje e se verá que questões, exatamente como essas, estão sendo discutidas. A ameaça do Co­munismo e os sofrimentos da Igreja Subterrânea rara­mente são mencionados. Existem infindáveis discus­sões em torno de assuntos teológicos, de rituais, assun­tos não importantes.
Numa reunião alguém perguntou: "Se você esti­vesse em um navio que afundasse, e você pudesse es­capar ileso para uma ilha deserta tendo a possibilidade de levar consigo apenas um livro retirado da biblio­teca do navio, que livro você escolheria?" Um respondeu: "A Bíblia". Outro: "Shakespeare". Um escritor, porém, disse a coisa certa: "Eu escolheria um livro que me ensinasse a fazer um bote e chegar a uma praia. AH estaria livre para ler qualquer coisa de meu agrado".
Conservar a liberdade de todas as denominações e todas as teologias e lamentar a perda de tudo isto sob perseguição comunista é mais importante do que insistir em determinada opinião teológica.
"A verdade vos libertará", afirmou Jesus. Diga-se também: "A liberdade, somente a liberdade, pode trazer a verdade". Em lugar de discutir a respeito de trivialidades, devíamos antes nos unir na luta em prol da liberdade e contra a tirania do Comunismo.
Sofro também participando dos crescentes padecimentos da Igreja atrás da Cortina de Ferro. Tendo passado por eles, posso aquilatá-los.
Em junho passado os jornais soviéticos Izvestia e Derevenskais Jizn acusaram os batistas russos de ensi­narem seus membros a matar crianças, a fim de expiarem seus pecados. É a velha acusação de assassínios rituais, tal como costumava ser levantada contra os judeus.
Sei, entretanto, o que isso significa. Estive na prisão de Çluj, Romênia, em 1959, com o prisioneiro chamado Lazarovici, acusado de ter matado uma menina. Tinha apenas trinta anos, porém seus cabelos embranqueciam do dia para a noite, em conseqüência das torturas. Pa­recia um velho. Não tinha mais unhas, pois estas ha­viam sido arrancadas para que confessasse um crime que não havia cometido. Depois de um ano de torturas, sua inocência ficou comprovada e ele foi posto em liber­dade. Esta, porém, não significava mais nada para ele, pois ficara aniquilado para sempre.
Outros lêem um artigo de jornal e riem-se das estú­pidas acusações feitas na imprensa soviética contra os batistas.  Eu sei o que elas significam para os acusados.
É horrível viver no Ocidente e ter sempre na me­mória tais fatos.
Onde está agora o Arcebispo Yermogen, de Kaluga (U.R.S.S.) e os outros sete bispos que com ele protes­taram contra a demasiada cooperação com o regime soviético por parte do Patriarca Alexei e do Arcebispo Nikodim, instrumentos estes nas mãos dos comunistas? Não estaria tão preocupado com esses bispos fiéis se não tivera visto morrendo perto de mim, em uma prisão, os bispos que protestaram na Romênia.
Os ministros Nikolai Eshliman e Gleb Yakumin fo­ram disciplinados pelo Patriarca porque pediram liber­dade religiosa para a Igreja. O Ocidente conhece muito esse caso. Estive, porém, na prisão com o Padre loan de Vladimireshti, Romênia, a quem a mesma coisa acon­teceu. Na superfície houve apenas uma "disciplina" eclesiástica. Mas os nossos líderes da Igreja Oficial, como todos os líderes da Igreja Oficial nos países comunistas, trabalham de mãos dadas com a Polícia Secreta. Os que por eles são disciplinados, Eram colocados sob uma "disciplina" ainda mais eficiente — torturas, espanca­mentos e entorpecentes — na prisão.
Tremo só em pensar nos sofrimentos dos que são perseguidos nos países do bloco comunista. Tremo em pensar no destino eterno de seus torturadores. Tremo pela sorte dos crentes ocidentais que não ajudam seus Irmãos Perseguidos.
No fundo do meu coração gostaria de conservar a beleza da minha própria vinha e não me envolver em tão tremenda luta. Gostaria tanto de estar em algum lugar sossegado e de descanso. Não é, porém, possível. O Comunismo está às nossas portas. Quando invadi­ram o Tibete, deram fim a todos os que estavam interes­sados unicamente em assuntos espirituais. Em nosso país deram fim a todos quantos se alheavam da reali­dade. Igrejas e Mosteiros foram dissolvidos, conservando-se apenas os que fossem necessários para iludir estrangeiros. Esta tranqüilidade e descanso, pelos quais anseio, seriam uma fuga à realidade, perigosa para minha alma também.
Devo liderar esta luta, apesar de saber que repre­senta um perigo para mim pessoalmente. Se eu desapa­recer, podem ficar certos que foram os comunistas que me raptaram. Assim me fizeram em 1948 e me colocaram na prisão sob um nome falso. Anna Pauker, nossa Se­cretária de Estado na época, disse ao embaixador suíço, Sir Patrick Von Reuterswaerde: *'Oh, Wurmbrand está agora dando umas voltas pelas ruas de Copenhague". O ministro suíço tinha no bolso a carta que eu conse­guira mandar da prisão, por canais secretos; ele sabia que uma mentira lhe havia sido dita. Tal coisa pode acontecer outra vez. Se for morto, o assassino terá sido designado pelos comunistas. Ninguém, senão eles, tem qualquer motivo para me matar. Se ouvirem rumores a respeito de minha depravação moral, roubo, homossexualismo, adultério, instabilidade política, mentiras ou qualquer outra coisa, será o cumprimento das ameaças que a mim foram feitas pela Polícia Secreta: "Nós o destruiremos moralmente".
Uma fonte bem informada me diz que os comunis­tas da Romênia decidiram matar-me depois do teste­munho que dei perante o Senado norte-americano. Pro­curarão matar-me, ou aniquilar minha reputação. Ten­tarão fazer chantagens comigo, aterrorizando meus amigos na Romênia.   Têm meios poderosos para tanto.
Todavia não posso guardar silencio. A obrigação de quem me lê é examinar cuidadosamente o que afirmo. Se, depois de tudo por que passei, o leitor chegar a pen­sar que sofro de complexo de perseguição, deve indagar de si mesmo o que não é realmente esse terrível poder do Comunismo, que faz um cidadão seu sofrer de tais complexos. Que poder é este que faz homens da Ale­manha Oriental levar até crianças em um "bulldozer" e passar pelos arames farpados, com o risco de serem baleados com toda   a família?
O Ocidente dorme e tem de ser acordado.

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Homens que sofrem, buscam um bode expiatório, alguém sobre quem colocar a culpa. Encontrar esse tal diminui muito a tensão.   Eu não posso fazer isto.
Não posso colocar a culpa em alguns líderes ecle­siásticos do Ocidente que condescendem com o Comu­nismo. O mal não provém deles. É multo mais velho. Tais líderes são vítimas de um mal muito mais antigo. Eles não criaram a desordem na Igreja. Já a encon­traram .
Desde que cheguei ao Ocidente já visitei muitos Se­minários Teológicos. Neles ouvi palestras sobre a histó­ria dos sinos e dos cânticos litúrgicos, a respeito de leis canônicas, desde muito tempo fora de uso, ou a res­peito de uma disciplina eclesiástica não mais existente. Tenho visto estudantes de teologia aprendendo que a história da criação narrada na Bíblia não é verdadeira, nem a de Adão, nem a do Dilúvio, nem dos milagres de Moisés; que as profecias foram escritas depois de se terem cumprido; que o nascimento virginal de Jesus é um mito, bem como Sua ressurreição; que Seus ossos permaneceram em um túmulo, em algum lugar; que as Epístolas não são genuínas; que o Apocalipse foi es­crito por um louco, mas que sob outros aspectos a Bíblia e um Livro Sagrado! (A ser assim, temos aí um livro sagrado no qual, segundo se alega, há mais mentiras do que num jornal comunista!)
É Isso o que os atuais líderes das Igrejas aprende­ram quando estudavam nos Seminários. É essa a atmos­fera em que vivem. Por que seriam então fiéis a um Senhor, a respeito de quem tão estranhas coisas se dizem? Por que os líderes eclesiásticos seriam fiéis a uma Igreja, na qual se tem a liberdade de ensinar que Deus está morto?
São líderes da Igreja Oficial, não da Esposa de Cristo. São líderes de uma Igreja na qual tantos, já há muito, traíram ao Senhor. Quando encontram alguém da Igreja Subterrânea, sofredora, mártir, olham para ele como se fora um ser estranho.
Em segundo lugar não é licito julgar as pessoas por apenas uma parte de suas atitudes. Se assim fizer­mos, seremos como os fariseus, para quem Jesus era mau porque não respeitava as leis deles sobre o Sábado. Esse fato fechou os olhos deles completamente para o que teria sido louvável em Jesus, mesmo à vista deles.
Os mesmos líderes eclesiásticos, que assumem uma atitude errada para com o Comunismo, podem ter ra­zão em muitas outras coisas e podem ser pessoalmente sinceros.
Mesmo naquilo em que estão errados podem mudar.
Certa vez eu estava com um Metropolita Ortodoxo na Romênia. Era um homem dos comunistas, que de­nunciava seu próprio rebanho. Tomei sua mão entre as minhas e contei-lhe a parábola do Filho Pródigo. Isto aconteceu, numa noite em seu jardim. Eu disse: "Veja com que amor Deus recebe um pecador que volta. Ele alegremente recebe mesmo um Bispo, se ele se arre­pende". Cantei para ele hinos evangélicos. Esse ho­mem converteu-se.
Estive preso na mesma cela com um Padre Ortodoxo que, na esperança de ser solto, escreveu palestras ateísticas. Falei-lhe e ele rasgou o que havia escrito, arris­cando-se assim a nunca ser solto.
Não posso fazer de ninguém bode expiatório, nem posso aliviar desta forma o fardo que pesa no meu coração.

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Outra coisa me aflige. É que até mesmo amigos muito chegados me compreendem mal. Acusam-me alguns de rancor e ressentimentos contra os comunis­tas, o que eu sei não ser verdade.
O escritor mosaico Claude Montefiore disse que a atitude de Jesus para com os escribas e fariseus, a acusação pública que lhes fez, foi contrária ao Seu man­damento de amarmos nossos inimigos e abençoarmos aqueles que nos amaldiçoam. O Dr. W. R. Mathews, Deão da Igreja de São Paulo em Londres, conclui que tal atitude é uma incoerência e contradição em Jesus. Dá a desculpa de que Jesus não era um intelectual!
A impressão que Montefiore tinha de Jesus era errada. Jesus amou aos fariseus, apesar de os denun­ciar publicamente. Eu amo aos comunistas, tanto quanto aqueles que na Igreja são instrumentos deles, apesar de acusá-los.
Constantemente me dizem: "Esqueça os comunis­tas!   Ocupe-se apenas com o que é espiritual!"
Encontrei um crente que sofrerá sob o Nazismo. Disse-me que está inteiramente a meu favor enquanto eu dou meu testemunho de Cristo, porém não devo dizer uma só palavra contra o Comunismo. Pergun­tei-lhe se os cristãos que combateram o Hitlerismo na Alemanha estavam errados e se deveriam limitar-se a falar sobre a Bíblia, sem dizer uma palavra contra o ti­rano. A resposta foi: "Mas Hitler matou seis milhões de judeus! Alguém tinha de falar contra ele". Respon­di:    "O Comunismo já matou trinta milhões de russos e milhões de chineses e outros. E eles também têm ma­tado judeus. Devemos protestar apenas quando os mor­tos são judeus, e não russos também?" A resposta foi: "Isto já é outra coisa".   Não recebi qualquer explicação.
Fui espancado pela polícia do tempo de Hitler e no tempo do Comunismo, e não pude ver qualquer di­ferença. Num e noutro caso os espancamentos doeram muito.
O Cristianismo tem de lutar contra muitos aspec­tos do pecado, não apenas contra o Comunismo. Não estamos obcecados apenas por este único problema.
O Comunismo, porém, é no presente o maior e o mais perigoso adversário do Cristianismo. Contra ele temos de nos unir.
Vou repetir! O alvo do homem é ser semelhante a Cristo. Impedi-lo é o objetivo principal dos comunis­tas. São antes de tudo anti-religiosos. Crêem que depois da morte o homem se transforma em nada mais do que sais e minerais. Querem que a vida inteira seja vivida no plano da matéria.
Reconhecem apenas as massas. A palavra deles é a do demônio, no Novo Testamento, quando se lhe per­guntou qual era o seu nome: "Somos legião". A perso­nalidade — a maior dádiva de Deus aos homens — deve ser esmagada. Aprisionaram um homem porque foi encontrado com um livro de Alfred Adler — Psicologia Individual. Os policiais da Polícia Secreta exclamaram: "Ora! individual, sempre individual! Por que não coletiva?"
Jesus quer que sejamos personalidades. Portanto, não pode existir possibilidade de condescendência entre nós e o Comunismo. Os comunistas o sabem. "Nauk i Religia", (Ciência e Religião), a revista deles, publica: "A Religião é Incompatível com o Comunismo. Ela lhe é hostil... O conteúdo do programa do Partido Comu­nista é um golpe de morte na religião... É um programa para a criação de uma sociedade ateística na qual o povo se livre, para sempre, da escravidão reli­giosa".
Será que o Cristianismo pode coexistir com o Co­munismo? Aqui está a resposta comunista a esta per­gunta... "O Comunismo é um golpe de morte na reli­gião".


CAPITULO V

Mais uma vez falarei sobre a Igreja Subterrânea.
Ela funciona sob condições mui difíceis. O ateísmo é a religião oficial em todos os países comunistas. Dão mais ou menos liberdade de os velhos crerem, porém a juventude e as crianças não têm o direito de crer. Tudo nesses países — rádio, televisão, cinema, teatro, im­prensa, casas editoras — tem o objetivo de desarraigar a crença em Deus.
A Igreja Subterrânea tem multo poucos meios de opor-se às enormes forças dos Estados totalitários. Seus ministros na Rússia não tiveram qualquer preparo teo­lógico.  Existem pastores que nunca leram a Bíblia toda.
Contarei como muitos foram ordenados. Encontra­mos um jovem russo que era ministro secretamente. Perguntei-lhe quem o havia ordenado. Respondeu-me: "Não tínhamos nenhum Bispo que nos ordenasse. O Bispo Oficial não ordena ninguém a não ser que tenha sido aprovado pelo Partido Comunista. Então dez de nós, jovens crentes, fomos ao túmulo de um Bispo que havia morrido mártir. Dois de nós colocamos as mãos sobre o seu túmulo. Os outros formaram um círculo ao redor de nós e invocamos o Espírito Santo para nos ordenar. Estamos certos que fomos ordenados pelas mãos traspassadas de Jesus".
Para mim, a ordenação desse jovem é válida diante de Deus!
Homens ordenados dessa maneira, que nunca ti­veram qualquer preparo teológico, e que muitas vezes sabem pouco a respeito da Bíblia, levam avante o tra­balho de Cristo.
Ê como a Igreja dos primeiros séculos. Que Se­minários freqüentaram aqueles que por Cristo trans­tornaram o mundo? Será que todos sabiam ler? E quem lhes forneciam Bíblias?     Deus era quem lhes falava.
Nós, da Igreja Subterrânea, não temos catedrais. Qual no entanto é a catedral que seja mais bela que o céu aberto, para onde erguíamos o olhar quando nos reuníamos secretamente nas florestas? O gorgear dos pássaros substituía o órgão. A fragrância das flores era o incenso. E os andrajos de um mártir, recém-saído da prisão, impressionavam muito mais do que os paramentos dos padres. Tínhamos a lua e as estrelas por velas. Os anjos eram nossos acólitos, que as acen­diam.

Jamais poderei descrever a beleza dessa Igreja!

Freqüentemente, depois de um culto secreto, cren­tes são capturados e levados aos cárceres. Ali usam gri­lhões com a mesma alegria de uma noiva que ostente uma jóia preciosa recebida do seu amado. As águas no cárcere são tranqüilas. Recebem-se ali os beijos e abra­ços do Senhor. Jamais trocaríamos esses lugares pelos aposentos dos reis. Só tenho encontrado crentes verda­deiramente jubilosos na Bíblia, na Igreja Subterrânea e na prisão.
A Igreja Subterrânea é oprimida, entretanto tem muitos amigos — até entre aqueles da Polícia Secreta e até entre os membros do Governo. Algumas vezes tais crentes secretos protegem a Igreja Subterrânea.
Recentemente jornais russos reclamaram contra o número sempre maior de "não crentes só na aparência". Estes, explicava a imprensa russa, são um sem número de homens e mulheres que trabalham nos vários esca­lões do poder comunista — nas repartições do Governo, nos departamentos de propaganda e em todo lugar — que aparentemente são comunistas, porém intimamente são crentes ocultos e membros da Igreja Subterrânea.
A imprensa comunista contou a história de uma jovem que trabalhava no departamento de propaganda do Governo. Depois do trabalho ia para o seu aparta­mento e ali se encontrava com o esposo que voltava do trabalho.   Depois do jantar, ela e o marido reuniam um grupo de jovens dos outros apartamentos do mesmo edi­fício e faziam secretamente estudos bíblicos e reuniões de oração. Isto está acontecendo em todo o mundo co­munista. Dezenas de milhares de tais "não crentes só na aparência" existem em todos os países do bloco co­munista. Pensam ser mais prudentes não assistir às reu­niões nas Igrejas de fantasia, onde seriam vigiados e ouviram apenas um evangelho de "água açucarada". Em lugar disso permanecem nas posições de responsa­bilidade que ocupam, onde testemunham de Cristo sos­segada e eficientemente.
A fiel Igreja Subterrânea tem milhares de mem­bros em tais posições. Promovem reuniões secretas em porões, sótãos, apartamentos e lares.
Na Rússia ninguém lembra mais os argumentos a favor ou contra o batismo de crianças ou adultos, nem a favor nem contra a infalibilidade papal. Não são pré nem pós-milenistas. Não são capazes de interpretar profecias, nem discutem sobre elas, porém muitas vezes fiquei pasmado ante a facilidade com que podiam provar aos ateus a existência de Deus.
Suas respostas aos ateus são simples: "Se vocês fossem convidados a uma festa, onde houvesse todos os tipos de boas iguarias, creriam que ninguém as havia preparado? Ora, a natureza é um banquete preparado para nós! Temos tomates, pêssegos, maçãs, leite e mel. Quem preparou estas coisas para a humanidade? A natureza é cega. Se vocês não crêem em Deus, como explicam que a natureza cega conseguiu preparar exa­tamente as coisas de que necessitamos, com tanta abun­dância e variedade?"
Podem provar que existe a vida eterna. Ouvi um deles argumentando com um ateu: "Suponha que pu­déssemos falar com um embrião no seio materno e que você lhe dissesse que a vida embrionária é muito curta, seguindo-se a ela uma vida real e longa. Que respon­deria o embrião? Diria exatamente o que vocês, ateus, nos respondem quando falamos sobre o paraíso e o inferno.    Diria que a vida no seio materno é a única vida e que tudo o mais é insensatez religiosa. Todavia se o embrião pudesse pensar, diria a si mesmo: "Aqui estão braços crescendo em mim Não preciso deles Nem ao menos posso estirá-los! Por que crescem? Provavel­mente para um futuro estágio em minha existência, no qual terei de trabalhar com eles As pernas crescem, mas tenho de conservá-las dobradas sobre o peito. Por que crescem? Provavelmente haverá uma vida em um mundo vasto, onde terei de andar. Os olhos crescem, apesar de estar eu em -completa escuridão e de não necessitar deles. Para que eu quero olhos? Provavel­mente um mundo de luz e cores virá depois deste'. As­sim, se o embrião pudesse refletir no seu desenvolvi­mento, saberia a respeito de uma vida fora do seio ma­terno, sem vê-la. O mesmo acontece conosco. Enquanto somos jovens, temos vigor, porém, não fazemos idéia de como usá-lo corretamente. Quando, com o passar do tempo, crescemos em conhecimento e sabedoria, o carro fúnebre espera-nos para nos levar ao túmulo. Então, por que foi necessário crescer em conhecimento e sabe­doria, se não mais poderemos usá-los? Por que cres­cem os olhos, as pernas e os braços em um embrião? É por causa do que vem depois! Tal é o que nos acon­tece aqui. Agora crescemos em conhecimento e sabedo­ria para usá-los no que vem depois. Estamos assim preparados para servir em um plano mais elevado que se segue à morte".
A doutrina do Comunismo, a respeito de Jesus, é que Ele nunca existiu. Os obreiros da Igreja Subterrâ­nea respondem a isto facilmente: "Que jornal tem você aí? É o Pravda de hoje, ou o de ontem? Deixa-me dar uma olhada. Ah, 14 de janeiro de 1964. 1964 começou a ser contado de quando? A partir dAquele que nunca existiu e nada fez? Você diz que Ele nunca existiu, mas você conta os anos a partir do nascimento dEle. O tempo existiu antes dEle, porém quando Ele veio, pa­receu à humanidade que o que existiu antes tinha sido nulo, e que o verdadeiro tempo só começou agora. Seu jornal comunista é uma prova de que Jesus não é uma ficção".
Os pastores do Ocidente usualmente consideram que aqueles que estão nas Igrejas são realmente con­vencidos das principais verdades do Cristianismo, o que na realidade não acontece. Vocês raramente ouvem um sermão provando a veracidade de nossa fé. Porém por trás da Cortina de Ferro, homens que nunca apren­deram isso dão aos seus convertidos uma base muito sólida.
Não há uma linha divisória, nítida, que possibilite dizer onde é que a Igreja Subterrânea (a principal co­luna do Cristianismo) termina e a Igreja Oficial come­ça. Elas são interligadas. Muitos pastores das Igrejas de fantasia realizam um ministério secreto paralelo, in­do muito além das limitações impostas sobre eles pelos comunistas.
A Igreja Oficial, Igreja dos que colaboram com os comunistas, tem uma longa história.
Começou, imediatamente depois da Revolução So­cialista Russa, com a "Igreja Viva", dirigida por um padre chamado Sérgio.
Essa "Igreja Viva" proclamou abertamente, naquele tempo, em Moscou: "Nossa intenção não é reconstruir a Igreja, porém aboli-la e erradicar toda religião". Belo programa para uma Igreja!...
Em todos os países temos tido Sérgios assim.
Na Hungria, entre os católicos, foi o padre Balogh. Ele e alguns ministros protestantes ajudaram os comu­nistas a assumir todo o controle do Estado.
Na Romênia, os comunistas subiram ao poder com a ajuda de um padre ortodoxo, chamado Burducea, ex-fascista, que teve de indenizar os vermelhos pelos seus pecados passados, tornando-se ainda mais "vermelho" do que seus chefes. Esse padre postou-se ao lado de Vishinski, Secretário soviético de Estado, e sorriu num gesto de aprovação quando aquele declarou na inaugu­ração do novo governo comunista:    "Este governo construirá um paraíso terrestre, e vocês não precisarão mais de um celestial".
Quanto ao Arcebispo Nikodim, da Rússia, está re­gistrado que ele é um informante em favor do Governo. O major Deriabin, desertor da Polícia Secreta russa, testificou que Nikodim fora seu agente.
Esta é a situação em quase todas as denominações. A atual liderança dos batistas da Romênia foi imposta pela força. Ela denuncia os verdadeiros crentes. Na Rússia a liderança dos batistas faz o mesmo. O Presi­dente dos adventistas romenos, Tachici, disse-me que fora um informante da Polícia Secreta comunista desde o primeiro dia em que os comunistas subiram ao poder.
Em lugar de fechar todas as igrejas — apesar de terem fechado muitos milhares — os comunistas astu­tamente decidiram permitir que algumas "simbólicas" Igrejas Oficiais permanecessem abertas e usá-las como janelas, através dás quais pudessem observar, controlar e, eventualmente, destruir os cristãos e o Cristianismo. Decidiram que seria melhor deixar que existisse a estrutura da Igreja e transformá-la em instrumento comunista para fiscalização dos cristãos, e um meio de iludir aqueles que visitam as terras deles. Ofereceram-me uma dessas Igrejas sob a condição de que, como pastor, prestasse informação à Polícia Secreta sobre os meus paroquianos. Parece que os ocidentais não podem entender isto. A Igreja Subterrânea, porém, nunca acei­taria igrejas simbólicas e dirigidas, como substitutas de um Evangelismo que tenha sentido, seja eficaz, e que tenha por alvo "toda criatura", inclusive a mocidade.
Nas Igrejas Oficiais, porém, há uma real vida es­piritual, a despeito de muitos líderes traidores. (Tenho a impressão de que em muitas Igrejas do Ocidente a situação é semelhante. As Congregações são fiéis, algu­mas vezes não por causa mas a despeito dos seus líderes preeminentes). A liturgia ortodoxa tem permanecido a mesma. Ela alimenta o coração dos membros de suas Igrejas, mesmo que os sermões bajulem os comunistas. Os luteranos, presbiterianos e outros protestantes cantam os mesmos hinos antigos. E então, mesmo os ser­mões dos informantes têm de conter algo das Escri­turas. O povo converte-se sob a influencia de homens que se sabe de antemão serem traidores, e que relatarão à Polícia Secreta tais conversões. Os convertidos têm de ocultar sua fé, daqueles que lha transmitiram, através dos seus sermões corrompidos. Este é o grande milagre de Deus, descrito no livro de Levítico, cap. 11, em lin­guagem simbólica: "Se dos seus cadáveres tos quais, segundo a lei mosaica, contaminavam] cair alguma coisa sobre alguma semente de semear, esta será limpa".
A honestidade obriga-nos outrossim a dizer que nem todos os líderes da Igreja Oficial, nem mesmo todos os seus oficiais mais graduados, são homens a serviço dos comunistas.
Membros da Igreja Subterrânea também são preeminentes nas igrejas oficiais, com exceção daquele que têm de permanecer ocultos. Estes encaram o Cristia­nismo não como uma religião que se acomoda a tudo e a todos, mas como militante. Quando a Polícia Secreta veio fechar o Mosteiro de Vladimireshti, na Romênia, bem como em muitos lugares da Rússia, encontrou dificuldades. Alguns comunistas pagaram com a vida o crime de tentarem proibir a religião.
As igrejas oficiais, no entanto, estão-se tornando cada vez mais escassas. Duvido que em toda a União Soviética ainda existam cinco ou seis mil igrejas. (Os Estados Unidos, com a mesma população, têm umas trezentas mil igrejas). E essas "igrejas" são na maioria apenas pequenos quartos — não "igrejas", como as figuramos. Visitantes estrangeiros vêem uma Igreja repleta em Moscou, aliás a única Igreja Protestante em toda aquela cidade — e saem dizendo que ali existe mesmo liberdade. "Até as Igrejas estão superlotadas", alegremente relatam. Não vêem a tragédia do que seja apenas uma igreja evangélica para sete milhões de almas. Nem aquelas pequenas igrejas de uma saleta estão ao alcance de oitenta por cento do povo da União Soviética, que até lá se possam locomover.   Essas multidões têm de ser esquecidos, ou alcançadas pelo método subterrâneo de evangelização.   Não há outra alternativa.
Quanto mais o Comunismo progrida em um país, tanto mais a Igreja tem de ser subterrânea.
No lugar das igrejas oficiais fechadas, surgem as reuniões das organizações anti-religiosas.

Como a Igreja Subterrânea "se alimenta" de literatura ateísta

A Igreja Subterrânea também sabe usar tal litera­tura. Em primeiro lugar, alimenta-se de literatura ateística do modo como Elias foi alimentado pelos corvos. Os ateus dedicam-se com zelo e perícia a ridicularizar e criticar versículos bíblicos.
Publicaram livros intitulados: "A Bíblia Cômica" e "A Bíblia para Crentes e Descrentes". Tentaram mos­trar a estultícia de versículos bíblicos e, para tal, cita­ram muitos deles. Como exultamos com isso! As críticas eram tão estúpidas que ninguém as levava a sério. Os livros, no entanto, foram publicados aos milhões e esta­vam cheios de versículos da Bíblia, indescritivelmente belos, até mesmo quando os comunistas os ridiculari­zavam.


A jovem heroína da fé, AIDA SKRIPNIKOVA com 32 anos, tendo sofrido quatro prisões de 2 a 3 anos devido ao seu corajoso testemunho por Cristo.
À direita sua foto, quase irreconhecível, com a expressão do que representa passar pelas prisões soviéticas.





UM BOM LIVRO
"UMA CARTA DE AIDA A UM JORNALISTA COMUNISTA”
O nome de Aída Skripnikova é bem conhecido em todo o mundo por causa do seu amor e fidelidade ao nosso bendito Redentor.

Há milhares de crentes que oram diariamente por ela, pois que ela representa muitos outros Crentes que têm sido arrancados dos lares e estão hoje sofrendo em prisões por causa do seu testemunho (Apoca­lipse 1:9).

A resposta dela à carta do jornalista comunista é repleta de sabe­doria vinda de Deus.
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No passado, "hereges" condenados à fogueira pela Inquisição eram levados ao suplício em procissão, vestidos com as roupas mais ridículas, nas quais se viam desenhos do fogo do inferno e de demônios. E que san­tos não eram tais "hereges"! De igual modo os versículos bíblicos continuam sendo verdadeiros, ainda que o diabo os cite.
A casa publicadora comunista rejubilou-se muito ao receber milhares de cartas, em que se pedia a reedi­ção de livros ateus, que contivessem citações bíblicas e as ridicularizassem. Não sabiam os editores que tais cartas vinham da Igreja Subterrânea, que não tinha outra oportunidade de adquirir as Escrituras!
Outrossim sabíamos bem como usar as reuniões dos ateus.
Um professor de Comunismo demonstrou em uma reunião que Jesus não passava de um mágico. Tinha à sua frente um vaso com água. Misturou um pó na água e esta se tornou vermelha. "Aqui está todo aquele mi­lagre", explicou. "Jesus escondera nas mangas de suas vestes um pó como este, e então pretendeu ter trans­formado a água em vinho miraculosamente. Eu, porém, faço ainda melhor do que Jesus: posso transformar o vinho em água outra vez". E colocou outro pó no lí­quido. Este se tornou branco. Depois outro pó e o líquido ficou vermelho novamente.
Um crente levantou-se e disse: "Você nos espantou, camarada professor, com o que pôde fazer. Pediríamos apenas uma coisa mais: beba um pouco do seu vinho!", ao que o professor replicou: "Isto não posso fazer. O pó é venenoso". O crente atalhou: "Aí está a grande diferença entre você e Jesus. Ele, com o seu vinho, tem-nos alegrado durante estes dois mil anos, enquanto vocês nos envenenam com o seu". O crente foi preso. Entre­tanto a notícia do incidente propagou-se muito, forta­lecendo a fé.
Somos fracos, pequenos Davis. Todavia somos mais fortes que o Gollas do ateísmo, porque Deus está do nosso lado.    Estamos com a Verdade.
Certa ocasião, um conferencista comunista estava fazendo uma palestra sobre o ateísmo. Todos os operá­rios da fábrica foram convocados a assistir à reunião e entre eles havia muitos crentes. Sentaram-se silen­ciosos, escutando todos os argumentos do preletor con­tra Deus e sobre a estupidez de crer em Cristo. O preletor passou a provar que não existia Deus, nem mundo espiritual, nem Cristo, nem vida futura; o homem é apenas matéria sem alma. Disse repetidamente que apenas a matéria existe.
Um crente levantou-se e perguntou se lhe era per­mitido falar. A palavra lhe foi concedida. O crente pegou sua cadeira portátil e a jogou ao solo. Parou por um pouco, olhando a cadeira. Depois dirigiu-se a pla­taforma e esbofeteou o preletor. Este ficou furioso.  Suas faces ficaram vermelhas de indignação. Soltou uns palavrões e chamou colegas comunistas para que pren­dessem o crente. E perguntou: "Como se atreveu a esmurrar-me?    Que motivos teve para isso?'
O crente respondeu: 'Você acaba de provar que é mentiroso. Afirmou que tudo não passa de matéria... Eu apanhei a cadeira e a atirei no chão. A cadeira é de fato matéria. Ela não se revoltou. É apenas matéria. Ao receber a bofetada, você não reagiu como a cadeira. Reagiu diferentemente. Matéria não tem raiva nem fica furiosa, mas você ficou. Portanto, camarada professor, você está errado. O homem é mais do que simples ma­téria.   Somos seres espirituais!"
De inúmeras maneiras como essa, cristãos simples da Igreja Subterrânea refutavam argumentos elabora­dos dos ateus.
Quando estive preso, o oficial político me perguntou bruscamente: "Até quando vai você com a sua estúpida religião?" Repliquei: "Já vi muitos ateus na hora da morte arrependidos de terem sido ímpios, e invocavam a Cristo. Pode o senhor imaginar um crente, às portas da morte arrependido de ter sido crente e passar a invocar Marx ou Lenine para livrá-lo de sua fé?" Ele começou a rir. "Boa resposta", disse. E continuei: "De­pois que um engenheiro constrói uma ponte, o fato de passar um gato sobre ela não é prova de que seja firme. Um trem precisa passar sobre ela para que sua resis­tência fique provada. O fato de o senhor ser ateu, quan­do tudo está indo bem, não prova a verdade do ateísmo. O ateísmo não dá segurança nos momentos de grandes crises". E utilizei-me de livros de Lenine para provar que, mesmo depois de se tornar Primeiro Ministro da União Soviética, ele orava quando as coisas corriam mal.
Estamos tranqüilos e podemos calmamente aguardar o desenrolar dos acontecimentos. São os comunistas que não estão tranqüilos e por isso lançam novas campa­nhas anti-religiosas. Com isto provam o que Santo Agostinho afirmou: "Inquieto está o coração até que descanse em Ti".


Por que até os comunistas podem ser conquistados

A Igreja Subterrânea, se for ajudada por vocês, cristãos livres, ganhará os corações dos comunistas e mudará a face do mundo. Ganhá-los-á porque não é de acordo com a natureza ser comunista. Até um ca­chorro deseja possuir o seu osso. Os corações dos comunistas rebelam-se contra o papel que têm de desem­penhar e os absurdos em que têm de crer.
Quando alguns comunistas afirmam que a matéria é tudo, que somos um punhado de substâncias químicas. organizadas em determinado feitio, e que depois da morte seremos outra vez sais e minerais, basta pergun­tar-lhes: "Como é então que comunistas em tantos paí­ses dão suas vidas por seus ideais? Poderia um punha­do de substâncias químicas ter ideais? Podem minerais sacrificar-se pelo bem de outros?" A isto não têm res­posta.
E que dizer da brutalidade! Os homens não foram criados brutos, e não suportam ser brutos por muito tempo. Vimos isso no desmoronamento dos líderes na­zistas, alguns dos quais se suicidaram, enquanto outros se arrependeram  e  confessaram  seus  crimes.
Há algo positivo na grande quantidade de alcoóla­tras existentes nos países comunistas. É que eles anseiam por uma vida mais desafogada, que o Comunismo não pode dar. O russo comum é pessoa de vida profunda, de amplo coração e generosidade. O Comunismo é leviano, de pouca profundidade, superficial. O russo procura buscá-la no álcool. Expressa no alcoolismo seu horror à vida brutal, enganosa, simulada que tem de viver. Por um pouco de tempo o álcool o liberta, como para sempre lhe faria a verdade, se a pudesse conhecer.
Em Bucareste, durante a ocupação russa, certa vez senti um impulso irresistível de entrar em uma taverna. Chamei minha esposa para me acompanhar. Ao entrar, vi um capitão russo de fuzil â mão, ameaçando todo o mundo e pedindo mais bebida. Esta lhe havia sido nega­da, porque já estava multo embriagado. O pessoal estava em pânico. Fui ao proprietário, que me conhecia, e lhe pedi que desse bebida ao capitão, prometendo que me sentaria com ele à mesa para mantê-lo quieto. Garra­fas de vinho, uma após outra, foram postas em nossa mesa. Nesta havia três copos. O capitão, delicadamente, enchia os três... e bebia-os. Eu e minha esposa não bebemos. Apesar de seu estado de embriaguez, sua men­te trabalhava. Habituara-se a beber. Falei-lhe a res­peito de Cristo e ele prestou atenção como eu não esperava.
No fim ele disse: "Agora que você me disse quem é, eu lhe direi quem sou. Sou um padre ortodoxo, dos primeiros que negaram a fé, quando a grande perse­guição, ao tempo de Stalin, começou. Ia de vila em vila, para fazer palestras e dizer que não existia Deus e que, como padre, houvera sido um enganador! Sou um en­ganador, como o são todos os outros ministros! dizia-lhes. Fui muito acatado por meu zelo, dessa forma tornei-me oficial da Polícia Secreta. Deus me castigou fazendo que com estas mãos matasse cristãos, depois de havê-los torturado. Agora bebo assim para esquecer o que fiz.   Mas é inútil".
Muitos comunistas suicidam-se. Assim fizeram os seus maiores poetas, Essenin e Maiakovski. Suicidou-se também seu grande escritor Fadeev. Havia concluído sua novela intitulada Felicidade, na qual explicava que felicidade consiste em trabalhar incessantemente pelo Comunismo. Ele próprio se sentia tão feliz nesse tra­balho incessante que se suicidou com um tiro, depois de concluir a novela. Foi demasiado difícil para sua alma suportar tão grande mentira. Joffe, Tomkln — notáveis líderes comunistas e lutadores pró Comunismo nos dias dos Tzares — não suportaram ver o que na realidade é esse sistema. Eles também findaram suicidando-se.
Os comunistas são infelizes. Mesmo os seus grandes ditadores. Que Infeliz era Stalin! Depois de matar quase todos os seus antigos camaradas, constantemente vivia com medo de ser envenenado ou assassinado. Tinha oito quartos de dormir, que podiam ser trancados à maneira das casas fortes, nos Bancos. Ninguém sabia em qual desses quartos ele dormia em determinada noi­te. Não comia nunca sem que o cozinheiro provasse o alimento em sua presença. O Comunismo não faz ninguém feliz, nem mesmo os seus ditadores. Eles ne­cessitam de Cristo.
Derrotando o Comunismo libertaremos não apenas as suas vítimas, senão também os próprios comunistas.
A Igreja Subterrânea representa a mais profunda necessidade de nossos povos escravizados.    Ajudem-na!


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A característica da Igreja Subterrânea é o seu zelo pela fé!
Um ministro que se disfarça sob o nome de "Jorge" conta em seu livro Subterrâneo de Deus o seguinte in­cidente:
Um capitão do exército russo dirigiu-se a um mi­nistro na Hungria e pediu para falar-lhe a sós. Era muito moço, estouvado e muito seguro de sua função de conquistador. Conduzido a uma pequena sala de conferências e fechada a porta, deu sinal com a cabeça em direção à cruz que pendia da parede.
"Você sabe que aquilo é uma mentira", disse ao ministro. "É apenas uma impostura que vocês, ministros usam para iludir os pobres e tornar mais fácil aos ricos conservá-los na ignorância. Vamos, estamos sozinhos. Declare-me se não é verdade que você nunca realmente creu que Jesus Cristo era o Filho de Deus!"
O ministro sorriu. "Mas, meu pobre rapaz, com cer­teza eu creio.    Isso é verdade".
"Não quero brincadeira!" berrou o capitão. "Isto é sério. Não ria de mim!"
Tirou o revólver e o colocou junto ao corpo do mi­nistro. "Se você não admitir que isso é mentira, eu atiro!"
"Eu não posso admiti-lo, porque não é verdade. Nosso Senhor é real e verdadeiramente o Filho de Deus", disse o ministro.
O capitão atirou o revólver no chão e abraçou o homem de Deus.    Lágrimas corriam dos seus olhos.
"É verdade", exclamou ele. "É verdade, eu creio também, mas não tinha certeza de que pessoas morres­sem por esta fé, até que o descobri por mim mesmo'. Oh, muito obrigado! Você fortaleceu a minha fé. Agora eu também posso morrer por Cristo. Você me mostrou como!"
Conheci outros casos semelhantes. Quando os russos ocuparam a Romênia, dois soldados armados entraram em uma Igreja conduzindo seus fuzis. Disseram: "Nós não cremos na vossa fé. Aqueles que não a deixarem imediatamente serão fuzilados! Os que a abandonam, passem para a direita!" Alguns passaram. Estes recebe­ram ordens de sair da Igreja e ir para casa. Fugiram para salvar suas vidas. Quando os russos ficaram a sós com os crentes que permaneceram, abraçaram-nos e disseram-lhes: "Nós também somos crentes, mas que­ríamos somente a companhia dos que consideram valer a pena morrer pela verdade!"
Tais homens lutam pelo Evangelho em nossos paí­ses. E lutam não somente pelo Evangelho. Lutam igual­mente pela liberdade.
Nos lares de muitos crentes ocidentais algumas vezes se gastam horas a ouvir música profana. Em nossos lares música alta pode também ser ouvida, porém é apenas para abafar conversa sobre o Evangelho e o trabalho oculto, de forma que os vizinhos não nos ou­çam e delatem à Polícia Secreta.
Como se regozijam quando por acaso encontram um verdadeiro crente provindo do Ocidente!




Ivan Moissev, um crente de 20 anos, ao dar seu testemunho de fé no exército de seupaís, foi morto de maneira selvagem pela policia soviética. É impossível exagerar as torturas sofridas por ele. A foto mostra seis profundos ferimentos ao redor do coração, provocados por uma faca abrasada. O caixão foi entregue lacrado, pelas autori­dades soviéticas, aos seus familiares e posteriormente aberto cons­tatou-se o crime!





Quem escreve estas linhas é pessoa sem importân­cia. Sou, porém, a voz dos que não podem falar, dos que estão amordaçados e que jamais dispõem de quem os represente no Ocidente. Em nome deles apelo para que haja grande seriedade de Fé, e no trato dos problemas do Cristianismo. Em nome deles peço orações e auxí­lio prático para a fiel e sofredora Igreja Subterrânea das terras comunistas.

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Venceremos os comunistas. Primeiro, porque Deus está do nosso lado. Segundo, porque a nossa mensagem corresponde à mais profunda necessidade dos corações.
Comunistas que estiveram nas prisões dos nazistas, confessaram-me que oravam nas horas difíceis.   Cheguei a ver oficiais comunistas morrerem pronunciando as pa­lavras "Jesus. Jesus".
Venceremos porque toda a herança cultural do nosso povo está do nosso lado. Os russos podem proibir todos os escritos dos modernos cristãos. Há, porém, os livros de Tolstoi e Dostoievschi; o povo acha a luz do Evan­gelho neles. Da mesma forma se dá com Goethe, na Alemanha Oriental, Szienkiewicz, na Polônia, e outros. O maior escritor romeno foi Sadoveanu. Os comunistas publicaram o seu livro A Vida dos Santos sob o título A Lenda dos Santos. Entretanto, mesmo sob esse título, o exemplo da vida dos santos inspira.
Eles não podem excluir as reproduções de Rafael, Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci, da história das artes. Esses quadros falam de Cristo.
Quando falo com um comunista sobre Cristo, as profundas necessidades espirituais de seu coração são minhas aliadas — minhas ajudantes. A maior dificul­dade para ele é não responder aos meus argumentos. Sua grande dificuldade é acalmar a voz de sua própria consciência — que está ao meu lado.
Pessoalmente conheci professores de Marxismo que antes de fazerem uma conferência ateística, oravam a Deus para que os ajudasse a fazê-la!
Conheço comunistas que Iam longe para assistir a uma reunião secreta. Ao serem descobertos, negavam terem estado lá. Depois choravam lamentando não terem tido coragem de ficar firmes na fé, que os com­pelira a assistir à reunião.    Eles também são homens.
Uma vez que o indivíduo chega à fé — mesmo fé muito primária — esta se desenvolve e cresce. Estamos certos de que ela vencerá porque nós, da Igreja Sub­terrânea, a temos visto vencer vezes seguidas.
Os comunistas são amados por Cristo. Podem e devem ser conquistados para o Senhor. E só o podem ser pela Igreja Subterrânea, de trás da Cortina de Ferro. Quem quer que deseje satisfazer os anseios do coração de Cristo pela salvação das almas de toda a humani­dade, deve sustentar a Igreja Subterrânea em seu tra­balho. Jesus disse: "Ensinai todas as nações". Ele não disse: "Parai diante da Cortina de Ferro". Fidelidade a Deus e à Grande Comissão compele-nos a atravessar essa Cortina — e a alcançar um em cada três homens vivos escravizados ao Comunismo. Podemos alcançá-los, trabalhando com a igreja Subterrânea que já se en­contra lá!

Três Grupos constituem a Igreja Subterrânea: Primeiro — Pastores e Ministros Destituídos pelo Comunismo

Há três grupos que compõem a Igreja Subterrânea nos países comunistas. O primeiro é constituído de milhares e milhares de ex-pastores e ministros destituí­dos de suas Igrejas e afastados de seus rebanhos, por­que não quiseram comprometer o Evangelho. Muitos de tais ex-pastores e ministros têm estado presos du­rante anos e torturados por sua fé. Foram libertados e imediatamente retornaram ao seu ministério — se­creta e efetivamente ministrado na Igreja Subterrâ­nea. Posto que os comunistas fechassem as suas igrejas, ou os substituíssem por ministros de maior "confiança", continuam o seu ministério mais eficientemente do que nunca,  ministrando  secretamente  em  reuniões  ocultas em celeiros, sótãos, porões, em capinzais, à noite — ou em qualquer lugar onde os crentes possam se reunir secretamente. Tais homens são "mártires vivos", que não interromperão seu ministério e que se arriscam a outras torturas e prisões.

Segundo A Igreja Leiga

A segunda parte constituinte da Igreja Subterrânea é o vasto exército de homens e mulheres consagrados. Deve ser entendido que na Rússia ou na China não há cristãos nominais, de coração dividido, ou mornos. O preço que eles pagam é grande demais. O outro ponto a lembrar é que a perseguição sempre produziu me­lhores crentes: dão seu testemunho e ganham almas. A perseguição comunista tem sido um tiro pela culatra: tem produzido crentes sérios e consagrados como rara­mente se vêem nos países livres. Esse povo não pode entender como alguém é crente sem desejar conquistar cada alma que encontra.
O Estrela Vermelha (Jornal do exército russo) ata­cou os crentes russos, dizendo: "Os adoradores de Cristo gostam de cravar suas garras vorazes em todos". En­tretanto o brilho de suas vidas cristãs conquista para eles o amor dos seus conterrâneos e vizinhos. Em qual­quer vila ou cidade, os cristãos são os moradores mais benquistos e amados. Quando uma mãe está muito do­ente para cuidar de seus filhos, é a mãe cristã que vem ajudá-la. Quando um homem está por demais doente e não pode cortar sua lenha, é um crente que faz isso para ele. Os crentes "vivem" o seu Cristianismo, e quan­do começam a testemunhar de Cristo, o povo escuta e crê — porque tem visto Jesus em suas vidas. Uma vez que ninguém, senão ministros licenciados oficialmente, pode falar em uma Igreja, os milhões de fervorosos e dedicados crentes em todos os recantos do mundo co­munista conquistam almas e testemunham nos mer­cados, nos chafarizes das aldeias, em toda parte por onde vão. A imprensa comunista admite que açouguei­ros colocam furtivamente folhetos evangélicos nos em­brulhos da carne que vendem. Admite que os que ocupam lugares de influencia em casas editoras comunistas voltam sorrateiramente tarde da noite, põem suas im­pressoras a funcionar e imprimem alguns milhares de exemplares de literatura evangélica — e saem antes do nascer do sol. A mesma imprensa admite que crianças cristãs em Moscou têm recebido Evangelho de "algu­ma fonte", e depois copiam trechos a mão. A seguir colocam esses trechos nos bolsos dos sobretudos de seus professores, pendurados nos guarda-roupas das esco­las. O grande número de homens e mulheres leigos é uma força missionária muito poderosa e eficiente na conquista de almas, nas terras comunistas.
Em Cuba, país comunista, ex-missionários afirma­ram que uma secreta "Igreja leiga" está surgindo desde que todos os verdadeiros ministros têm sido presos ou perseguidos, e após substituídos por "ministros" comu­nistas. Esses milhões de crentes dedicados, verdadeiros e fervorosos da Igreja leiga, têm sido purificados pelo fogo da perseguição, com que os comunistas esperavam destruí-los.

Terceiro — Pastores e Ministros Oficiais que Não Aceitam Mordaça nem são Silenciados

A terceira parte vital da Igreja Subterrânea é o grande corpo de pastores fiéis das Igrejas oficiais, porém igrejas amordaçadas e reduzidas ao silencio. A Igreja Subterrânea não é algo completamente separado da Igreja Oficial. Em muitas terras comunistas, como a Iugoslávia, Polônia e Hungria, muitos dos pastores das Igrejas oficiais trabalham ocultamente na Igreja Sub­terrânea. Em alguns países há um entrelaçamento entre elas. Esses pastores não têm permissão de falar sobre Cristo fora de suas igrejinhas de saleta. Não se lhes permitem reuniões de crianças,, nem de jovens. Os não crentes têm medo de assistir a elas. Os pastores não têm permissão de orar por membros enfermos de suas igrejas nas casas deles. São contidos por todos os lados pelos regulamentos comunistas, os quais tiram de suas "Igrejas" todo e qualquer sentido. Muitas vezes tais pastores, em face de restrições que tornam ridícula a chamada "liberdade religiosa", corajosamente se arriscam por exercerem paralelamente um ministério secreto, que ultrapassa de muito as limitações comunistas. Rea­lizam um ministério secreto entre as crianças e mo­ços. Evangelizam ocultamente em lares e porões. As escondidas recebem e distribuem literatura cristã entre pessoas de alma faminta. Arriscam sua liberdade des­denhando secretamente as restrições oficiais, e minis­tram àqueles que têm fome espiritual, em torno deles. Aparentemente dóceis e obedientes externamente, arris­cam a vida para às ocultas espalhar a Palavra de Deus. Muitos desses homens foram recentemente descobertos e presos na Rússia. Receberam a sentença de vários anos de encarceramento.
Tais são os que constituem a terceira parte vital da Igreja Subterrânea.
Ex-ministros — expulsos e perseguidos pelos comu­nistas; a igreja leiga e pastores oficiais que secre­tamente desempenham um ministério muito maior e mais extenso do que lhes é permitido — todos estes estão trabalhando na Igreja Subterrânea. Esta continuará até que o Comunismo seja derrotado. Em alguns lugares uma parte é mais ativa do que a outra — porém todas trabalham por Cristo, com grande risco.
Um homem que freqüentemente viaja por terras comunistas e que é muito interessado em assuntos reli­giosos, ao voltar de uma de suas viagens escreveu que nunca encontrou nenhuma Igreja Subterrânea.
É como viajar pela África Central, entre as tribos não educadas, e voltar, dizendo: "Procurei diligente­mente. Perguntei a todos se falavam em prosa. Todos me responderam que não". A verdade é que todos falam em estilo prosaico, sem o saberem.
Os cristãos das primeiras décadas também não sabiam que eram cristãos. Se alguém lhes perguntasse sobre sua religião, teriam respondido que eram judeus, israelitas, crentes em Jesus como o Messias, irmãos, santos, filhos de Deus. O nome "cristão" foi-lhe apli­cado por outros, muito tempo depois e pela primeira vez em Antioquia.
Nenhum dos seguidores de Lutero sabia que era luterano. O próprio Lutero protestou com veemência contra essa designação.
"Igreja Subterrânea" é nome dado pelos comunistas, bem como por pesquisadores ocidentais da situação re­ligiosa nos países comunistas, a uma organização se­creta, formada espontaneamente em todas as terras comunistas. Os membros da Igreja Subterrânea não chamam sua organização por este nome. Chamam-se de cristãos, crentes, filhos de Deus. Realizam, porém um trabalho subterrâneo, reúnem-se secretamente, di­vulgam o Evangelho em reuniões clandestinas, às quais algumas vezes assistem estrangeiros, os mesmos que negam ter visto a Igreja Subterrânea. É um nome ade­quado, dado pelos adversários e por aqueles que olham com amor, do lado de fora, para esta maravilhosa orga­nização secreta.
O leitor pode viajar durante anos pelo Ocidente e nunca encontrar uma rede de espiões soviéticos, o que não significa que ela não existe. Apenas ela não é tão estúpida para se apresentar a viajantes curiosos.
Citarei, no capítulo seguinte, alguns trechos da im­prensa soviética, que provam a existência e crescente Importância desta corajosa Igreja Subterrânea.

CAPÍTULO VI

Já contei nossa própria experiência de espalhar secretamente a mensagem cristã no meio do exército soviético, tanto quanto na Romênia comunista.
Já apelei para que nos ajudem a pregar Cristo aos comunistas e ao povo por eles oprimido.
Será que o meu apelo é "visionário", "não funciona", é inexeqüível?
É realístico?
Existe hoje uma Igreja Subterrânea na Rússia e em outras terras? Ainda é possível por lá um trabalho dessa natureza?
A tais perguntas podemos responder com notícias muito boas.
Os comunistas estão celebrando meio século do seu domínio. Sua vitória, entretanto, é uma derrota. Venceu o Cristianismo e não o Comunismo. A imprensa russa, pesquisada atentamente pela nossa organização, for­nece bastante informações sobre a Igreja Subterrânea. Pela primeira vez, essa Igreja tornou-se tão forte que trabalha até meio publicamente, amedrontando os co­munistas. Informações que recebemos de outras fontes confirmam as notícias da imprensa comunista.
Lembrem-se de que a Igreja Subterrânea é como um "iceberg"! Pela maior parte não aparece, porém uma pequena porção fica acima da superfície das águas, muitas vezes, e pode ser vista.
Nas páginas seguintes farei breve compilação das mais importantes notícias.

A Crista do "Iceberg"

Em 7 de novembro de 1966, em Suhumi (Cáucaso) a  Igreja  Subterrânea   realizou  grande   reunião   a  céu aberto. Muitos crentes vieram de outras cidades para assistir a ela. Após o apelo, quarenta e sete jovens acei­taram a Jesus Cristo e foram batizados na mesma hora, no Mar Negro, exatamente como nos tempos bíblicos.
Não houve antes um período de instrução. Depois de cinqüenta anos de ditadura comunista, não tendo Bíblias nem outros livros evangélicos e nem Seminários, os ministros da Igreja Subterrânea não têm formação teológica. Aliás Filipe, o diácono, também não teve tal formação. Quando o eunuco, com quem havia conver­sado talvez apenas durante uma hora, perguntou-lhe: "Eis aqui água, que impede que eu seja batizado?", Fi­lipe respondeu: "É lícito, se crês de todo o teu cora­ção". E imediatamente desceram ambos à água e o convertido foi batizado" (Atos 8:36-38).
Há bastante água no Mar Negro, e a Igreja Sub­terrânea começou as práticas dos tempos bíblicos.
Uchitelskaia Gazeta (a Revista dos Professores) de 23 de agosto de 1966 dá a notícia de que em Rostov-on-Don os batistas, que recusam registrar suas congrega­ções de acordo com as leis, e obedecer os chamados "líderes" nomeados pelos comunistas, organizaram uma demonstração nas ruas.
Aconteceu isso no dia Primeiro de Maio. Da mesma maneira como Jesus fazia Seus milagres aos sábados, em desafio aos Seus opositores fariseus, a Igreja Sub­terrânea, também, escolhe os dias de celebração do Co­munismo para afrontar as leis comunistas.
O Primeiro de Maio é uma festa na qual os comu­nistas sempre fazem suas grandes demonstrações pú­blicas, a que todos são obrigados a assistir. Desta vez, porém, a segunda grande força da Rússia — a Igreja Subterrânea — também apareceu nas ruas, naquele dia.
Mil e quinhentos crentes acorreram. O que os com­peliu foi apenas o amor de Deus. Sabiam que estavam arriscando a sua liberdade. Não ignoravam que na pri­são fome e tortura os aguardavam.
Todo crente na Rússia conhece o "Manifesto Se­creto", impresso pelos Cristãos Evangélicos de Barnaul, no qual se descreve como a irmã Hmara, da aldeia de Kulunda, recebera a notícia de que seu marido tinha morrido na prisão. Agora era viúva com quatro filhos menores. Ao receber o cadáver do esposo, pôde ver as marcas das algemas nos seus pulsos. As mãos, os dedos e a planta dos pés estavam horrivelmente queimados. A parte inferior do abdômen tinha sinais de ferimentos a faca. O pé direito estava intumescido. Em ambos os pés havia sinais de espancamento. Todo o corpo estava coberto de feridas, em conseqüência de um brutal espan­camento.
Todos os crentes que vieram à demonstração pública em Rostov-on-Don sabiam que poderiam ter a mesma sorte.   Apesar disso vieram.
Também sabiam que esse mártir, que dera a sua vida por amor a Deus, apenas três meses depois de sua conversão, foi sepultado ante uma enorme multidão de crentes que conduziam faixas com inscrições: "Para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho". "Não te­mais aqueles que podem matar o corpo, mas não podem matar a alma". "Vi debaixo do altar aqueles que foram mortos pela Palavra de Deus".
O exemplo desse mártir inspirou os que estavam em Rostov-on-Don. Aglomeraram-se na rua em torno de uma casinha. O povo estava em toda parte — algumas pessoas nos telhados próximos, outras nas árvores, como Zaqueu, em tempos idos. Oitenta pessoas se converte­ram, a maior parte moços. Desses, vinte e três eram ex-Komsomols (membros da Organização dos Moços Comunistas).
Os crentes atravessaram a cidade marchando para o Rio Don, onde se realizaram os batismos.
Automóveis cheios da polícia comunista chegaram e cercaram os crentes na margem do rio. Queriam pren­der os irmãos encarregados daquela demonstração. (Não podiam prender todos os mil e quinhentos). Os crentes imediatamente ajoelharam-se e em fervorosa oração pediram a Deus que defendesse Seu povo e lhes permitisse realizar o seu Culto naquele dia. A seguir os ir­mãos e irmãs, ombro a ombro, rodearam os que dirigiam o Culto, na esperança de evitar que a polícia os pren­desse.   A situação tornou-se muito tensa.
A revista Uchitelskaia Gazeta relata que a Organi­zação "ilegal" dos batistas de Rostov tem uma casa publicadora secreta. (A palavra "batista" na Rússia inclui todos os evangélicos). São impressos folhetos nos quais a mocidade é convidada a defender sua fé. Em uma dessas publicações secretas os pais crentes são conclamados, o que acho muito bom, a "levar seus filhos para assistir aos funerais, a fim de aprenderem a não se preocupar com coisas transitórias". Os pais são con­vidados também a dar uma educação cristã aos filhos, como antídoto contra o ateísmo com o qual eles são envenenados nas escolas comunistas.
A Uchitelskaia Gazeta terminava o artigo perguntan­do: "Por que os professores se envolvem tão timidamente com a vida das famílias, nas quais as crianças são idiotizadas  (pela religião)?"
Essa "Revista dos Professores" também descreve o que aconteceu no julgamento dos obreiros clandestinos que batizaram secretamente.
"A mocidade crente, chamada como testemunha, era provocadora e insolente perante o tribunal comunista. Comportou-se raivosa e fanaticamente. Moças que as­sistiam, contemplavam com admiração os réus, e com desaprovação o público ateu".
Membros da Igreja Subterrânea têm-se arriscado a espancamentos e prisão por apelarem por mais liber­dade defronte da sede do Partido Comunista na Rússia.
Possuímos um documento secreto, redigido pelo "ilegal" Comitê das Igrejas Evangélicas Batistas da União Soviética, oposto à "União Batista" controlada pelos comunistas e dirigido pelo traidor Karey, o qual louva a humanidade do assassínio em massa dos cristãos e glorifica a "liberdade" que ali impera, o que ele faz no "Soviet Life Today" (n.° 6, 1963). O documento foi contrabandeado para o Ocidente por canais secretos. Nele se relata uma outra heróica demonstração pública, dessa vez na própria Moscou. Desse Manifesto traduzo o que segue:

"Comunicação Urgente:

"Amados irmãos e irmãs: Bênçãos e paz de Deus Nosso Pai e Nosso Senhor Jesus Cristo.
"Apressamo-nos a dizer-vos que os delegados das Igrejas dos cristãos batistas evangélicos, em número de quinhentos, que viajaram a Moscou a 16 de maio de 1966 para intervir junto ao órgão central do poder, foram ao edifício do Comitê Central do Partido Comu­nista da União daa Repúblicas Socialistas Soviéticas, com o pedido de serem recebidos e ouvidos. Entregamos uma  petição  dirigida  ao Secretário  Geral,  Brezhnev".
No Manifesto dizem mais adiante que esses qui­nhentos homens permaneceram o dia todo diante do edifício. Foi essa a primeira demonstração pública con­tra o Comunismo em Moscou e foi feita pela delegação da Igreja Subterrânea. No fim do dia, apresentaram uma segunda petição a Brezhnev, na qual se queixaram de que certo "camarada" Strognov recusara transmitir-lhe a petição e os ameaçara.
Os quinhentos delegados permaneceram nas ruas a noite inteira. Carros passavam perto deles, atirando-lhes sujeira, lama e insultos. A despeito da chuva e de serem tratados assim, permaneceram até a manhã se­guinte em frente ao edifício do Partido Comunista!
Então foi proposto que os quinhentos irmãos en­trassem num edifício para ter encontro com alguns oficiais comunistas de menor categoria, porém "sabendo que crentes que visitaram autoridades foram multas vezes espancados ao entrar em edifício em que não havia testemunhas, a delegação recusou unanimemente e continuou a esperar para ser recebida por Brezhnev".
Foi quando aconteceu o inevitável.
"As 13:45 vinte e oito ônibus chegaram e a vingança brutal contra os crentes começou. Formamos um círculo e segurando as mãos uns dos outros cantamos o hino Os melhores dias de nossa vida são aqueles em que le­vamos uma cruz. Os homens da Polícia Secreta come­çaram a bater em nós, tanto moços como velhos. Ar­rancaram homens do círculo, bateram-lhes no rosto, na cabeça e os jogaram no asfalto. Puxaram alguns pelos cabelos para dentro dos ônibus. Alguns tentando fugir foram espancados até perder os sentidos. Depois de encherem os ônibus de crentes, levaram-nos a um lugar desconhecido. Os hinos de nossos irmãos e irmãs eram ouvidos de dentro dos ônibus da Polícia Secreta. Tudo isso aconteceu à vista de uma multidão".
A seguir vem uma coisa mais linda. Depois que os quinhentos foram presos e certamente torturados, o irmão G. Bins e outro irmão líder, Horev (verdadeiros pastores do rebanho de Cristo), ainda tiveram a cora­gem de ir ao mesmo Comitê Central do Partido Comu­nista — exatamente como aconteceu depois da morte de João Batista, Jesus começou Seu ministério público no mesmo lugar e com as mesmas palavras pelas quais o Batista sofrerá: "Arrependei-vos, porque está perto o Reino dos Céus".
Bins e Horev perguntaram onde a delegação estava e solicitaram a libertação dela. Esses dois corajosos ir­mãos simplesmente desapareceram. Posteriormente che­garam notícias de que tinham sido trancafiados na prisão de Lefortovskaia.
Esses crentes da Igreja Subterrânea estariam com medo? Não! Outros imediatamente arriscaram outra vez sua liberdade, publicando o Manifesto que temos diante de nós, no qual contam a história do que acon­teceu, dizendo que a eles "foi concedida a graça de não somente crer em Cristo, como também de sofrer por Ele" (Fil. 1:29). Exortam os irmãos "a fim de que nin­guém se inquiete com estas tribulações, porque vós mesmos sabeis que estamos designados para isto" (I Tes. 3:3). Também citam Hebreus 12:2 e convidam os crentes a "olhar para Jesus, Autor e Consumador da nossa fé, o qual pelo gozo que lhe estava proposto su­portou a cruz, desprezando a afronta".
A Igreja Subterrânea tem-se oposto abertamente ao envenenamento ateu da mocidade em Rostov, em Mos­cou e em toda a Rússia. Está lutando contra o veneno comunista e contra os líderes traidores da Igreja Ofi­cial, sobre os quais escreve num dos seus manifestos secretos: "Em nossos dias Satanás dita e 'a Igreja' aceita todas as decisões que são contrárias aos manda­mentos de Deus" (Citado no Pravda Ukrania, de 4 de outubro de 1966).
O Pravda Vostoka publicou o processo contra os irmãos Alexei Neverov, Boris Garmashov e Axen Zubov, que organizavam grupos para ouvir programas de rádio da América. Gravavam essas mensagens em fita, que faziam circular depois.
Foram acusados também de terem organizado reu­niões evangélicas secretas sob a forma de "excursões" e "círculos de arte". Dessa forma trabalha a Igreja Subterrânea    exatamente   como   a   Primitiva   Igreja
O Sovietscaia Moldavia, de 15 de setembro de 1966, queixa-se também de que a Igreja Subterrânea mimeografa livretos. Reúne-se em lugares públicos, embora seja isso proibido por lei, e vai de lugar em lugar para testemunhar de Cristo.
Esse mesmo jornal conta que em certo trem de Reni para Crisinau, três meninos e duas meninas cantavam um hino cristão — Dediquemos nossa mocidade a Cristo. O repórter declarou-se revoltado porque esses crentes pregam "nas ruas, nas estações, nos trens, ônibus e até nas instituições do Estado". Novamente aí está a Igreja Subterrânea em ação hoje na Rússia.
Quando no julgamento desses crentes a sentença foi anunciada pelo crime de cantarem Hinos Cristãos em público, os condenados caíram de joelhos e disseram: "Rendemo-nos nas mãos de Deus. Agradecemo-Te, Se­nhor,  porque  permitiste que  sofrêssemos por esta fé"
Então os presentes, liderados pelo, "fanático" Madan cantaram na sala do tribunal o hino pelo qual os Ir­mãos acabavam de ser sentenciados à prisão e à tortura.
No dia Primeiro de Maio, os crentes das vilas Cop-ceag e Zaharovka, não tendo Igrejas, organizaram um culto divino secretamente na floresta!
Organizam também reuniões sob o pretexto de esta­rem realizando uma festa de aniversário. (Muitas famí­lias crentes, com quatro a cinco membros, têm trinta e cinco "aniversários" cada ano, como disfarce para reu­niões secretas).
Não há prisão nem tortura que possa amedrontar os crentes da Igreja Subterrânea. Exatamente como na Igreja Primitiva, a perseguição só faz que se aprofunde a dedicação deles.
O jornal Pravda Ukraini, de 4 de outubro de 1966, disse a respeito do irmão Prokofiev — um dos líderes da Igreja Subterrânea russa — que ele já foi aprisio­nado três vezes, mas assim que é solto começa a orga­nizar de novo Escolas Dominicais secretas. Agora está preso outra vez.
Prokofiev escreveu em um Manifesto secreto: "Sub­metendo-se às regras humanas (ele quer dizer as leis comunistas), a Igreja Oficial privou-se das bênçãos de Deus".
Nunca o leitor tenha em mente uma prisão como as do Ocidente, quando souber de um irmão senten­ciado na Rússia. Prisão ali significa fome, torturas e lavagem cerebral.
A revista Nauka i Religia (Ciência e Religião), n.° 9 de 1966, diz que os crentes estavam distribuindo lite­ratura evangélica dentro das capas da revista Ogoniok — periódico semelhante a "Look" ou "Time". Distri­buem livros em cujas capas se vê Anna Karenina, novela de Leon Tolstoi.   O conteúdo é um trecho da Bíblia.
Entoam hinos. A música é da "Internacional Co­munista", mas as palavras louvam a Cristo. (Kazaks-tankaia Pravda, de 30 de Junho de 1966).
Em uma carta secreta publicada em Kulanda (Si­béria), os crentes dizem que a liderança oficial dos "Batistas" "destruiu a Igreja e os seus verdadeiros servos no mundo, assim como os sumos sacerdotes, os escribas e fariseus traíram a Jesus Cristo, entregando-o a Pilatos".
Mas a Igreja Subterrânea, igreja fiel, prossegue.
A Noiva de Cristo continua a servi-lO! Os próprios comunistas admitem que tenho razão quando afirmo que a Igreja Subterrânea ganha comunistas para Cristo Eles podem ser ganhos!
Bakinskii Rabocii (O Operário de Baku), de 27 de abril de 1966, reproduziu uma carta de Tânia Ciugu-nova (membro da Liga da Mocidade Comunista) que fora ganha para Cristo. A carta foi apreendida pelas autoridades comunistas:
"Querida Tia Nadia. Abençoo-a da parte de nosso amado Senhor. Tia Nadia, quanto sou amada por Ele! nada somos diante dEle. Tia Nadia, creio que a senhora entende estas palavras: 'Amai a vossos inimigos, aben­çoai aos que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam".
Apreendida que foi essa carta, Peter Serebrennikov, o irmão que trouxe a Cristo a Tia Nadia, bem como muitos outros jovens comunistas, foi preso. O jornal comunista cita uma parte de um de seus sermões: "Devemos crer em nosso Salvador como os cristãos pri­mitivos. Para nós a principal lei é a Bíblia. Nenhuma outra reconhecemos como tal. Temos de nos apressar por salvar homens do pecado, especialmente os jovens". Quando lhe foi comunicado que a lei soviética proibia falar aos jovens a respeito de Cristo, respondeu: "Para nós a única lei é a Bíblia". É resposta muitíssimo natu­ral em um país regido por uma ditadura ateia e cruel.
O jornal comunista descreve depois a seguinte cena "selvagem"; "Rapazes e moças cantam hinos. Recebem o batismo ritual e continuam a ensinar o perverso e traiçoeiro amor aos inimigos".
O Bakinski Rabocii diz que muitos rapazes e mo­ças, membros da Liga da Mocidade Comunista, são na realidade crentes! O artigo conclui com as seguintes palavras: "Como é impotente a escola comunista, enfa­donha e sem luz... pois os pastores são capazes de ar­rebatar os discípulos dela sob as vistas dos seus edu­cadores indiferentes!"
O Kazakstanskaia Pravda, de 30 de julho de 1966, manifestou-se horrorizado por descobrir que o melhor aluno, com as melhores notas, era um jovem crente.
O Kirgizskaia Pravda, de 17 de janeiro de 1966, cita um panfleto clandestino, cristão, dirigido às mães: "Una-mo-nos nos esforços e orações para dedicar a Deus a vida de nossos filhos desde o berço!... Salvemos nossos filhos da influência do mundo!" Esses esforços têm sido bem sucedidos. Os jornais comunistas testificam disso. O Cristianismo progride no meio da juventude.
Um jornal de Celiabinski, Rússia, descreve como a jovem Nina, da Liga da Mocidade Comunista, tornou-se crente. Aconteceu isso quando ela entrou em uma das reuniões secretas evangélicas.
O Sovietskaia Justitia, n.° 9 de 1966, descreve uma dessas reuniões secretas: "Começou à meia noite. Ocul­tamente, desconfiados até da própria sombra, homens vieram de diferentes lugares. Os irmãos encheram o quarto escuro, de teto bem baixo. Havia tantos que não ficava espaço para se ajoelharem. Por causa da insu­ficiência de ar apagou-se a luz da primitiva lâmpada a gás. O suor pingava dos rostos. Na rua um dos servos do Senhor vigiava a polícia". Nina, porém, disse que naquela reunião fora recebida com abraços, calor e cuidado. "Eles tinham, como eu agora tenho, grande e iluminadora fé — a fé em Deus. Ele nos toma sob Sua proteção. Que os Komsomols, que me conheceram, passem por mim sem me cumprimentar! Que eles me olhem com desprezo e me chamem "Batista", como se, fazendo assim, eles me esbofeteassem. Deixem que o façam! Não preciso deles!"
Tantos outros jovens comunistas, iguais a ela, to­maram a decisão de servir a Cristo até à morte.
As respostas que os crentes da Igreja Subterrânea dão, quando levados perante os tribunais comunistas, são divinamente inspiradas. Um juiz indagou: "Por que você atrai gente para a sua seita proibida?" Uma irmã respondeu: "Nosso alvo é conquistar o mundo todo para Cristo".
"Sua religião é anti-científica", disse o juiz, escar­necendo em outro julgamento, ao que uma jovem acu­sada — estudante — respondeu: "V. Excelência conhece mais ciência do que Einstein ou Newton? Eles eram crentes. Nosso universo tem o nome de Einstein. Aprendi no Ginásio que se chama Universo Einsteiniano. Eins­tein escreveu: "Se limparmos o Judaísmo dos profetas e o Cristianismo, como Jesus o ensinou, se os limparmos do que surgiu neles depois, especialmente da astúcia padresca, teremos uma religião que pode salvar o mun­do de todos os males sociais. É dever santo de todo ho­mem fazer tudo que puder para levar essa religião ao triunfo'. Tenha na lembrança o nosso grande fisiologista Pavlov. Não dizem os nossos livros que ele foi cristão? Até Marx, no prefácio do seu livro 'Das Kapi-tal', disse que o 'Cristianismo, especialmente em sua for­ma protestante, é a religião ideal para reconstituir caracteres destruídos pelo pecado'. Eu tinha um caráter destruído pelo pecado. Marx ensinou-me a tornar-me cristã, a fim de refazê-lo. Como podeis vós, marxistas, julgar-me por isto?"
É fácil compreender por que o juiz permaneceu calado.
A mesma acusação de ter uma religião anti-cientí­fica, um crente respondeu diante de um tribunal: "Estou certo, Sr. Juiz, que o Senhor não é tão grande cien­tista como Simpson, o descobridor do clorofórmio e de muitos outros medicamentos. Quando lhe perguntaram qual das suas descobertas considerava a maior, respon­deu: "Não foi o clorofórmio. Minha maior descoberta foi saber que sou pecador e que posso ser salvo pela graça de Deus'",
A vida, o sacrifício pessoal, o sangue que eles estão prontos a derramar por sua fé, este é o maior argumento em favor do Cristianismo, apresentado pela Igreja Sub­terrânea. Isso constitui o que o renomado missionário da África, Albert Schweitzer, chamou "a comunhão sa­grada daqueles que têm as marcas da dor", comunhão à qual Jesus, o Varão de Dores, pertenceu". A Igreja Subterrânea está unida por um laço de amor ao seu Salvador. O mesmo laço une os membros da Igreja uns aos outros.   Ninguém no mundo pode derrotá-los.
Em uma carta, que saiu secretamente, a Igreja Subterrânea fez a seguinte declaração: "Não oramos para ser melhores crentes, mas para que sejamos os crentes que Deus quer que sejamos: Cristãos semelhan­tes a Cristo, isto é, Cristãos que levem de boa vontade a cruz para a Glória de Deus".
Com a prudência das serpentes, de acordo com o ensino de Jesus, os crentes sempre recusam dizer, quando interrogados diante dos tribunais, quem são seus líderes.
A Pravda Vostoka (A Verdade do Oriente), de 15 de janeiro de 1966, diz como a ré Maria Sevciuk, interro­gada sobre quem a trouxera a Cristo, respondeu: "Deus atraiu-me à Sua congregação". Outro, sendo interpe­lado: "Quem é seu líder?", respondeu: "Nós não temos líderes humanos".
Perguntaram a crianças crentes: "Quem ensinou a vocês a deixar os Pioneiros e tirar a gravata vermelha?" Responderam: "Fizemos isso por nossa própria vontade. Ninguém nos ensinou".
Embora em alguns lugares a crista do "iceberg" se manifeste, em outras partes os crentes se batizam a si próprios, evitando assim a prisão dos seus líderes. Em alguns lugares os batismos são efetuados em um rio, batizandos e batizador usando máscaras, para que nin­guém possa fotografá-los.
A Uchitelskaia Gazeta, de 30 de janeiro de 1964, conta de uma conferência ateística na vila Voronin, distrito de Volnecino-Korskii.   Tão logo o conferencista terminou, "os crentes começaram a atacar o ensino ateístico por meio de perguntas", que o conferencista ateu não podia responder. Perguntaram: "De onde vocês, comunistas, obtiveram os princípios morais que procla­mam, mas a que não obedecem, tais como: 'não furtarás, não matarás'?" Os crentes mostraram ao conferen­cista que todos esses princípios vieram da Bíblia, que os comunistas combatem. Ele ficou completamente con­fuso e a conferência terminou com a vitória dos crentes!



Até onde se estende o drama dos mártires cristãos?
O drama de Georgi Vins e de outros perseguidos, deve ser sempre multiplicado por quatro ou mais!


GEORGI VINS, Secretário da União dos batistas Livres (Igreja não oficial) foi con­denado a cinco anos em um campo de regime forçado, e mais cinco anos de exílio, com confisco de seus bens em janeiro de 1975. Ele se encontra num campo perto de Yakutsk. Seus móveis foram levados como pagamento das custas do processo.

Na foto, sua mulher e filhos, olham consternados, enquanto uma oficial comu­nista supervisionava o trabalho dos carrega­dores. (Notícia Divulgada 1976).

Cresce a Perseguição à Igreja Subterrânea
Os crentes da Igreja Subterrânea estão sofrendo agora mais do que nunca. Todas as religiões são perse­guidas na Rússia. Para os crentes é doloroso saber da opressão feita aos judeus nos países comunistas. Mas o principal objetivo da perseguição é a Igreja Subter­rânea. A imprensa soviética relata uma onda de prisões e julgamentos em massa. Em um lugar oitenta e dois crentes foram postos em um manicômio. Vinte e quatro morreram depois de alguns dias em conseqüência de "longas orações!" Desde quando o tamanho das orações mata?   Podem imaginar o que eles passaram?
O pior sofrimento que lhes é imposto é que se for descoberto que eles falam a respeito de Cristo aos seus filhos, estes lhes serão arrebatados por toda a vida, sem que os pais tenham o direito de visitá-los.
A União Soviética assinou a Declaração das Nações Unidas "contra a discriminação na esfera educacional", a qual estipula o seguinte: "Os pais devem ter o direito de assegurar educação moral e religiosa aos filhos, de acordo com as suas convicções". O traidor Karev, líder da União Batista Oficial da União Soviética, no artigo acima citado afirma que esse direito é uma realidade na Rússia — e os ingênuos crêem nele! Agora, vejam o que diz a imprensa soviética.
A Sowjetskaia Rússia, de 4 de junho de 1963, relata como a batista Makrinkowa viu seis filhos seus lhe serem arrebatados porque lhes dera a fé cristã e lhes proibira usar a gravata dos Pioneiros.
Quando ouviu a sentença, disse apenas: "Eu sofro pela fé". E ainda tem de pagar a pensão dos filhos que lhe foram arrebatados. Agora eles estão sendo enve­nenados com ateísmo. Mães cristãs, pensai na agonia dela!
A Uchitelskaia Gazeta conta que o mesmo acon­teceu com Ignatii Mullin e sua esposa. O juiz exigiu que abandonassem a fé, dizendo: "Escolham entre Deus e sua filha. Preferem Deus?" Ao que o pai respondeu: "Não desisto de minha fé".
Paulo diz: "Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus". Tenho visto essas crianças, que se criaram como crentes e que foram arrebatadas de seus pais e colocadas em escolas comunistas. Ao invés de serem envenenadas com o ateísmo, a fé que recebe­ram em casa transmite-se a outras crianças.
A Bíblia diz que todo aquele que ama a seus filhos mais do que a Jesus, não é digno dEle. Tais palavras têm sentido por trás da Cortina de Ferro.
Tente o leitor passar uma semana sem ver os seus filho.! Assim conhecerá o sofrimento dos seus irmãos na Rússia.
Não seria justo falar apenas da Igreja Subterrânea Protestante. Os cristãos ortodoxos na Rússia estão com­pletamente mudados. Milhões deles têm passado pelo cárcere. Ali não têm rosário, nem crucifixos, nem ima­gens bentas, nem incenso, nem velas. Os leigos têm estado presos sem a assistência de um padre. Os pa­dres não têm paramentos, não têm pão nem vinho para consagrar, não têm santos óleos, nem devocionários para ler. E descobriram que podiam arranjar-se sem essas coisas, indo a Deus em oração diretamente. Começaram a orar e Deus derramou sobre eles o Seu Espírito. Um genuíno despertamento espiritual, muito semelhantes ao do Cristianismo original, está ocorrendo entre os orto­doxos na Rússia.
Dessa forma acontece que na Rússia, bem como nos países satélites, existe uma Igreja Ortodoxa Subterrânea, que na realidade é evangélica, básica e muito chegada a Deus, restando à mesma, apenas, pela força do há­bito, muito pouco do ritual ortodoxo.
Esses ortodoxos secretos têm dado também grandes mártires. Quem poderia dizer onde está o velho arce­bispo Yermogen, de Kaluga? Ele se atreveu a protestar contra a traiçoeira colaboração do Patriarcado com o governo ímpio comunista.
Cinqüenta anos de domínio comunista! E a Imprensa russa a divulgar, amplamente, os triunfos da Igreja Sub­terrânea. Esta tem passado por indescritível opressão, mas tem permanecido fiel... e cresce!
Na Romênia, com o nosso trabalho secreto, temos semeado a semente no exército russo. Da mesma forma têm feito outros, na própria Rússia e em outros países invadidos pelos russos.   A semente vai frutificando.
O mundo comunista pode ser conquistado para Cristo. Comunistas podem tornar-se cristãos. De igual modo os que por eles são oprimidos, se somente os ajudarmos.
A prova de que estou certo é que a Igreja Subterrâ­nea floresce na União Soviética, na China e em quase todas as terras comunistas.
Para mostrar a beleza do caráter de nossos com­panheiros cristãos sob terríveis circunstâncias, apre­sentarei a seguir algumas cartas da Rússia, sendo as últimas provenientes de cárceres daquele país.

Como Varia, jovem comunista, encontra Cristo testemunha dEle e torna-se uma  trabalhadora escrava

As primeiras três cartas são de Maria, a jovem crente que levou Varia a Cristo.

Primeira carta:
"... Continuo a viver aqui. Sou muito querida. Também sou amada por um membro da cela do Kom-somol   (Liga da Mocidade Comunista).     Ela me disse: 'Não posso entender que criatura você é. Aqui muitos a insultam e afligem, mas você ainda os ama'. Respondi que Deus nos tem ensinado a amar a todos, não apenas aos que nos amam, mas aos inimigos também. Antes essa jovem me fez muito mal, mas orei por ela com um interesse especial. Quando ela me perguntou se po­deria amá-la também, abracei-a e ambas começamos a chorar. Agora, oramos juntas. Por favor orem por ela. Seu nome é Varia.
"Quando você ouve aqueles que veementemente ne­gam a Deus, parece que de fato eles estão convictos do que dizem. A vida, porém, mostra que muitos deles, apesar de amaldiçoarem a Deus com os lábios, em seus corações têm grande anseio por Ele. E você ouve o gemido dos corações deles... Esses homens buscam algu­ma coisa e querem encher com sua incredulidade o vazio que sentem no íntimo.
. "Sua irmã em Cristo,
Maria"

Segunda carta:
"Em minha carta anterior escrevi a respeito da jovem ateia Varia. Agora me apresso a dizer-lhes, meus amados, de nossa grande alegria: Varia recebeu a Cristo como seu Salvador pessoal, testemunhando sobre Isso abertamente, diante de todos.
"Quando creu em Cristo e conheceu a alegria da salvação, ao mesmo tempo se sentiu muito infeliz. E Isto porque antes propagara que Deus não existia. Agora está decidida a expiar a sua culpa.
"Fomos com Varia à assembléia dos ateus. Embora eu a advertisse que tivesse cautela e se contivesse, isto de nada valeu. Varia foi, e eu com ela, para ver o que aconteceria. Depois do rotineiro entoar do hino comunista (do qual Varia não participou), ela pediu a palavra. Quando chegou a sua vez, pôs-se à frente de toda a assembléia. Corajosamente e com multa emoção testemunhou de Cristo como seu Salvador diante dos que ali estavam e pediu perdão aos seus ex-camaradas por ter tido antes os seus olhos espirituais fechados, não ter visto que estava seguindo e levando outros para a perdição. Implorou a todos que abandonassem o seu caminho de pecado e viessem a Cristo. Todos ficaram em silencio e ninguém a interrompeu. Quando acabou de falar, cantou com sua esplêndida voz todo o hino cristão "Eu não me envergonho de proclamar a Cristo que morreu, para defender os seus mandamentos e o poder da sua cruz".
"Depois...  depois levaram nossa Variá.
"Hoje é nove de maio. Nada sabemos a seu respeito. Deus, porém, é poderoso para salvá-la.   Orem!
Sua Maria".

Terceira carta:
"Ontem, dois de agosto, tive uma conversa com nossa querida Varia na prisão. Meu coração se confrange quando penso nela. De fato, ainda é uma criança. Tem apenas dezenove anos. Como crente no Senhor e tam­bém uma criancinha espiritual. Todavia ama-O de todo o seu coração e seguiu sem demora pelo caminho difícil. A pobre menina sente tanta fome. Quando soubemos que estava presa começamos a mandar-lhes pacotes. Recebeu, porém, apenas uma parte do que lhe foi man­dado.
"Quando a vi ontem, estava magra, pálida, fraca, Somente os olhos brilhavam com a paz de Deus e com uma alegria extraterrena.
"Sim, meus queridos, os que não experimentam a paz maravilhosa de Cristo não podem entender isso. Que felizes são, porém, os que têm essa paz... Para nós que estamos em Cristo, nenhum sofrimento, nenhuma frustração nos reprime.
"Perguntei-lhe através das grades que nos separa­vam: 'Varia, você não se arrepende do que fez' 'Não, respondeu. 'Se eles me libertassem, iria novamente e lhes falaria do grande amor de Cristo.   Não pense que estou sofrendo.   Estou muito feliz por me amar tanto o Senhor e dar-me a alegria de perseverar pelo Seu nome.'
"Suplico que você ore por ela do profundo do seu coração. Provavelmente será mandada para a Sibéria. Tomaram-lhe as roupas e tudo que lhe pertencia. Ficou sem nada, exceto o que tem sobre si. Não tem parentes, por isso temos de arranjar para ela as coisas mais ne­cessárias. Separei a última quantia que você me mandou. Se Varia for deportada, farei que esse dinheiro chegue às mãos dela. Creio que Deus a fortalecerá e lhe dará forças para resistir também no futuro.   Deus a guarde!
Sua Maria".

Quarta carta:
"Prezada Maria.
"Afinal posso escrever-lhe. Chegamos bem a. Nosso campo dista dez milhas da cidade. Não posso descrever nossa vida. Você a conhece. Quero dizer-lhe apenas um pouco sobre minha pessoa. Agradeço a Deus a saúde que tenho e poder trabalhar com as mãos. Eu e a irmã 'X' fomos postas a trabalhar na oficina. Traba­lhamos ali em máquinas. O trabalho é difícil e a saúde da irmã 'X' é precária. Tenho de trabalhar por nós duas. Termino primeiro minha tarefa e depois ajudo minha irmã. Trabalhamos de doze a treze horas por dia. Nosso alimento é como o seu, muito pouco. Mas não é sobre isto que desejo escrever-lhe.
"Meu coração louva e agradece a Deus porque ele me mostrou, por seu intermédio, o caminho da Salva­ção. Agora que estou neste caminho, minha vida tem um propósito, eu sei para onde vou e por Quem sofro. Sinto desejo de contar e testemunhar a todos sobre a grande alegria da Salvação, que sinto em meu coração. Quem nos separará do amor de Deus em Cristo? Nada e ninguém. Nem prisão, nem sofrimento. Os sofrimen­tos que Deus nos manda apenas mais e mais nos forta­lecem a fé nEle. Meu coração está tão cheio que a graça de Deus transborda.   No trabalho eles me amaldiçoam e castigam e me dão tarefa extra porque não posso ficar em silencio, mas tenho de dizer a todos o que o Senhor fez por mim. Ele fez de mim um novo ser, uma nova criatura, de mim que estava no caminho da perdição. Posso guardar silencio depois disto? Não, jamais! En­quanto meus lábios puderem falar, testemunharei a todos do Seu grande amor.
"A caminho para o campo encontramos muitos ir­mãos e irmãs em Cristo. Que maravilhoso é o fato de você sentir, através do Espírito, que eles são filhos de Deus, logo que você vê os irmãos e irmãs. É desnecessá­rio falar. A primeira vista você sente e conhece quem são.
"Quando nos encaminhávamos ao campo, em uma estação ferroviária uma senhora veio, deu-nos alimento e disse apenas duas palavras:    'Deus Vive'.
"Na primeira noite depois de nossa chegada aqui (era tarde), fomos levados a barracas subterrâneas. Saudamos os presentes com as palavras 'Paz Seja com Você'. Para nossa grande alegria, de todos os lados ouvimos as respostas: 'Recebemos você em paz'. E desde a primeira noite sentimos que estávamos em família.
"E de fato tem sido assim. Aqui somos muitos, os que cremos em Cristo como nosso Salvador pessoal. Mais da metade dos presos são crentes. Temos entre nós grandes cantores e bons pregadores do Evangelho. A noite, quando nos ajudamos depois de pesado trabalho, como é maravilhoso passar, pelo menos algum tempo, juntos em oração, aos pés de nosso Salvador. Com Cristo há liberdade em toda parte. Aprendi aqui muitos hinos espirituais lindos, e cada dia Deus me dá sempre mais de Sua Palavra. Com a idade de dezenove anos celebrei o Natal de Jesus pela primeira vez. Jamais es­quecerei esse dia esplêndido! Tivemos de trabalhar o dia inteiro. Alguns dos nossos irmãos, porém, puderam ir ao rio, nas proximidades. Ali quebraram o gelo e prepararam o lugar onde, durante aquela noite — de acordo com a Palavra de Deus — eu e mais sete irmãos fomos batizados. Oh, como estou feliz e como gostaria que você, Maria, pudesse estar comigo também, para que eu expiasse pelo menos um pouquinho, através do meu amor por você, o mal que lhe fiz em dias passados. Deus, porém, coloca cada um de nós em seu lugar, e devemos ficar firmes onde Ele nos tem colocado.
"Dê lembranças a toda a família dos filhos de Deus. O Senhor abençoará ricamente o seu trabalho costu­meiro, como a mim tem abençoado. Leia Hebreus 12:1-3.
"Todos os nossos irmãos a saúdam e estão alegres porque a sua fé em Deus é tão poderosa e você o louva incessantemente em seus sofrimentos. Se escrever a outros, mande-lhes nossas saudações.
Sua Variá".

Quinta carta:
"Querida Maria:
"Finalmente achei ocasião de escrever-lhe umas linhas. Posso informar-lhe, minha querida, que pela graça de Deus eu e a irmã 'X' estamos com saúde e nos sentimos bem. Agora estamos em... Eles nos mandaram para... e aqui permanecemos.
"Agradeço-lhe seu carinho maternal para comigo. Recebemos tudo quanto você preparou para nós. Agra­deço a coisa mais valiosa: a Bíblia. Agradeço a todos e quando lhes escrever transmita-lhes minhas sauda­ções e agradecimentos pelo que têm feito por mim.
"Visto que Deus me revelou o profundo mistério do seu santo amor, considero-me a criatura mais feliz do mundo. As perseguições que tenho de suportar consi­dero-as como uma graça especial. Estou contente por­que o Senhor me deu, desde o primeiro dia de minha fé, a grande felicidade de sofrer por Ele. Orem todos por mim, para que eu possa permanecer fiel ao Senhor até o fim.
"Que o Senhor a guarde e fortaleça para o santo combate!    "Eu e a irmã 'X' enviamos beijos a todos.
Quando formos mandadas para... talvez tenhamos a oportunidade de escrever novamente. Não se preocupe conosco. Estamos alegres e felizes porque nossa recom­pensa no céu é grande.   (Mat. 5.11, 12).
Sua Varia"

Esta é a última carta de Varia — a jovem comunista que encontrou a Cristo, testemunhou dEle e foi senten­ciada a trabalho forçado. Nunca mais tivemos notícias dela, porém seu lindo amor e testemunho por Cristo mostram a beleza espiritual da sofredora e fiel Igreja Subterrânea em um terço do mundo dominado pelo Comunismo.

CAPÍTULO VII

Minha mensagem, da parte da Igreja Subterrânea, para os leitores
Tenho sido chamado "A Voz da Igreja Subterrânea". Não me julgo digno de ser a voz de uma parte tão honra­da do Corpo de Cristo.
Entretanto, nos países comunistas por muitos anos liderei uma fração dessa igreja. Por um milagre sobre­vivi a catorze anos de torturas e prisão, inclusive dois anos na "cela da morte". Por um milagre ainda maior. Deus de alguma forma achou de ir à prisão, tirar-me de lá e mandar-me para o Ocidente a fim de falar à Igreja Livre.
Falo em nome de meus irmãos que permanecem em incontáveis e Inomináveis sepulturas. Falo da parte de meus Irmãos que hoje se reúnem secretamente nas florestas, porões, sótãos e outros lugares semelhantes.
A Igreja Subterrânea na Romênia decidiu que eu tentasse deixar meu país e trazer uma mensagem para os cristãos livres do mundo. Por um milagre consegui sair agora e estou cumprindo o encargo que me deram os que permanecem trabalhando, arriscando-se, sofren­do e morrendo nas terras comunistas.
A mensagem que trago de lá da Igreja Subterrânea. é a seguinte:
"Não nos abandonem!
"Não nos esqueçam!
"Não nos risquem do mapa!
"Dêem-nos os meios de que necessitamos! Pagare-mos o preço com o uso deles!"
Esta é a mensagem de que fui encarregado, para vocês.
Falo em nome da Igreja Silenciada, Igreja Subter­rânea, secreta, muda, que não tem voz para falar.
Ouçam os clamores de seus irmãos e irmãs das terras comunistas! Eles não pedem para fugir, ou para terem uma vida segura e fácil. A única coisa que pedem são recursos para neutralizarem o ateísmo com que os comu­nistas envenenam os seus moços — a próxima geração. Pedem Bíblias que possam usar na propagação da Palavra de Deus. Como poderão espalhar essa Palavra sem as Escrituras?
A Igreja Subterrânea é como certo cirurgião que viajava de trem. Este colidiu com outro; centenas de pessoas ficaram feridas, dilaceradas, morrendo no chão. O cirurgião passava pelo meio dos moribundos, bradan­do: "Se pelo menos eu tivesse meus aparelhos de cirurgia. Se tivesse o material necessário!" Com os instrumentos cirúrgicos poderia salvar muitas vidas. Boa-vontade não lhe faltava... mas não dispunha dos meios. É o que acontece com a Igreja Subterrânea. Está disposta a dar tudo quanto tem. Está pronta a oferecer seus mártires! Consente em arriscar longos anos nas prisçes comunistas! Toda a sua boa vontade, no entanto, de nada vale se não tiver o material com que trabalhar. A súplica da fiel e valente Igreja Sub­terrânea a todos vocês, que são livres, é: "Dêem-nos os meios: Evangelhos, Bíblias, literatura e ajuda. Nós faremos o resto!"

Como os Crentes Livres podem Ajudar

Cada cristão livre pode ajudar, imediatamente, dos seguintes modos:
Os ateus são pessoas que não reconhecem a origem invisível de suas vidas. Não fazem qualquer idéia do que seja mistério no universo e na vida. Os cristãos podem ajudá-los melhor andando, eles próprios, não pela vista, mas pela fé, vivendo uma vida de comunhão com o Deus invisível.
Podem ajudar-nos melhor vivendo uma vida cristã coerente, vida de sacrifício.   Podem ajudar protestando publicamente todas as vezes que os cristãos são perse­guidos.
Os cristãos ocidentais podem ajudar-nos orando para que os comunistas sejam salvos. Tal oração pode parecer ingênua. Orávamos por eles e no dia seguinte nos torturavam talvez um pouco mais do que antes da oração. Mas a oração do Senhor de Jerusalém também foi ingênua. Crucificaram-nO depois. Contudo, poucos dias após batiam nos peitos e cinco mil foram conver­tidos em um dia. Quanto aos demais, seja dito de passa­gem, a oração não foi vã. Toda oração que não é aceita em favor daquele por quem você intercede, volta para você com grandes bênçãos e torna-se em condenação para a pessoa que dela foi objeto. Cumprindo a ordem de Cristo, eu e muitos crentes sempre orávamos por Hitler e seus colaboradores. Estou certo de que as nossas ora­ções ajudaram a derrotá-lo, tanto quanto as balas dos soldados aliados.
Temos de amar ao nosso próximo como a nós. Os comunistas são nosso próximo tanto quanto quem mais o for.
Os comunistas são o resultado de se não obedece­rem as palavras de Cristo: "Vim para que tenham vida e a tenham com abundância". Os cristãos não fizeram ainda vida abundante para todos. Têm deixado alguns à margem de tudo que tem valor na vida. Estes se rebe­laram e constituíram o Partido Comunista. São muitas vezes vítimas de injustiça social. Agora são rancorosos e cruéis. Temos que lutar contra eles. Os cristãos, porém, mesmo quando lutam contra um inimigo, com­preendem-nos e amam.
Não estamos sem culpa de alguns serem comunistas. Somos culpados pelo menos por negligenciarmos nosso dever.
Por esta razão temos de fazer expiação amando-os (o que é algo completamente diferente de gostar deles) e por eles orando.
Não sou tão Ingênuo para crer que apenas o amor pode resolver o problema do Comunismo.   Não recomendaria às autoridades do Estado que resolvam o problema do banditismo apenas com amor. Deve haver a força policial, juizes, prisões para bandidos e não apenas pastores. Se os bandidos não se arrependem, têm de ir para a cadeia. Nunca eu proporia o "amor" cristão em oposição ao direito político, econômico ou cultural de combater os comunistas, visto que nada mais são do que "bandidos" em escala internacional. Bandidos rou­bam bolsas; os comunistas roubam países inteiros.




Ninguém pode intervir em alto mar. 50 mil folhetos em espanhol, especialmente preparados para comunistas, foram levados pelas correntes oceânicas às costas de Cuba comunista. Até agora a mis­são já lançou tais pacotes flutuantes em grandes quantidades nos mares da Sibéria, da China, do Adriático e do Baltico.

Entretanto, pastores e crentes, de per si, têm de fazer o melhor possível para levar Cristo aos comunistas, tanto quanto as suas vítimas inocentes — não importan­do os crimes que hajam cometido. Devem orar por eles com verdadeira compreensão.

Urgente Necessidade de Bíblias e Evangelhos

Em segundo lugar, os crentes livres podem ajudar enviando Bíblias e porções bíblicas. Há meios pelos quais elas podem ser mandadas com segurança para as terras comunistas. Desde que saí, já enviei muitas que chegaram a salvo. Há meios certos de mandá-las, caso vocês crentes livres, as providenciem para os seus irmãos e irmãs da Igreja Subterrânea. Quando eu ainda estava na Romênia, recebi muitas Bíblias que entraram por determinadas vias. Os meios de mandá-las não cons­tituem problema. Somente que elas sejam providen­ciadas.
Há grande necessidade delas. Milhares de crentes não têm visto Bíblias nem Evangelhos, a partir de vinte a cinqüenta anos atrás, nos países satélites e na Rússia.
Dois camponeses muito sujos um dia chegaram à minha casa. Tinham saído de sua vila para conseguir trabalho como paleadores de terra gelada durante todo o inverno, a fim de adquirirem algum dinheiro, com a leve esperança de poderem comprar uma Bíblia velha e rota para a sua vila. Porque eu tinha recebido Bíblias da América, pude dar-lhes uma Bíblia nova, e não uma velha e estragada.   Não podiam crer no que seus olhos viam! Quiseram pagar-me com o dinheiro ganho no trabalho. Recusei. Apressaram-se a voltar à sua vila com a Bíblia. Alguns dias depois recebi uma carta em que demonstravam incontida e extasiada alegria, agradecendo-me as Escrituras. Assinavam-na trinta resi­dentes do lugar. Cuidadosamente dividiram a Bíblia em trinta partes, que eles permutavam entre si.
É realmente patético ver um russo a implorar por uma página da Palavra de Deus. Ele alimenta com ela sua alma. Alegremente troca uma vaca ou cabra por uma Bíblia. Um homem do meu conhecimento vendeu seu anel de casamento, a fim de adquirir um Novo Testamento usado. Nossos filhos nunca viram um cartão de Natal. Se recebessem um, todas as crianças da vila se reuniriam em torno dele e algum ancião poderia falar-lhes a respeito do Menino Jesus e da Virgem Ma­ria, e, partindo daí, contar-lhes-ia a história de Cristo e da Salvação. Tudo isso... em troca de um simples cartão de Natal. Podemos mandar Bíblias, Evangelhos e literatura. Este é um dos meios de vocês fazerem algu­ma coisa.
Em terceiro lugar, podemos imprimir e enviar lite­ratura para neutralizar o veneno do ateísmo que está sendo ministrado à mocidade, desde o Jardim da In­fância até o Colégio. Os comunistas prepararam o "Guia do Ateu". É a bíblia deles. Versões mais simples são dedicadas às crianças do Jardim da Infância, e versões aumentadas do mesmo "Guia" são ensinadas às crian­ças mais crescidas. Essa "bíblia" maligna segue a cri­ança à proporção que ela vai crescendo, envenenando-a com o ateísmo por todo o seu caminho. O mundo cris­tão nunca publicou uma resposta ao "Guia do Ateu". Podemos e devemos imprimir uma resposta cristã ao venenoso ensino ateu. Devemos fazer isso imediatamente, porque a Igreja Subterrânea não dispõe de literatura para os jovens envenenados por tal livro. A Igreja Sub­terrânea tem as mãos atadas às suas costas, até pos­suir essa literatura nas diferentes línguas dos países comunistas.
Nossa mocidade envenenada deve ter uma resposta — a resposta de Deus, resposta cristã — a nossa resposta! Esta é outra coisa que vocês podem fazer, ajudar a prover tal literatura como resposta ao "Guia do Ateu" — literatura para moços, ilustrada, e Bíblias para crianças.
A quarta coisa que podemos fazer é "unir as mãos" às dos membros das Igrejas Subterrâneas e dar-lhes meios financeiros de viajar e se moverem levando o Evangelho e fazendo evangelismo pessoal. Neste mo­mento tantos deles estão "acorrentados" a seus lares, por falta de fundos que usem na compra de passagens de ônibus e trens, e para alimento enquanto estiverem viajando. Assim estão encalhados, Incapazes de se mo­vimentarem, enquanto vilas, entre vinte e trinta milhas de distância debalde os convidam para ir assistir a reuniões secretas. Dando-lhes algum dinheiro mensal­mente, podemos "desacorrentá-los" para que atendam aos chamados e se dirijam às cidades e aldeias distantes com a Palavra de Deus.
Ex-pastores que estiverem presos por causa da fé, têm uma edificante mensagem do Evangelho, amam ardorosamente as almas perdidas, porém, não têm os meios com que levem essa mensagem às cidades e vilas. Algumas dezenas de cruzeiros por mês lhes dariam essa oportunidade.
Leigos cristãos, homens e mulheres, devem ser aju­dados. Sendo crentes, ganham apenas o suficiente para sobreviver, nada lhes sobrando para irem de vila em vila, de cidade em cidade com o Evangelho. Este é o "milagre" que uma ajuda financeira mensal pode fazer por eles.
Pastores de Igrejas Oficiais que desempenham um ministério secreto, paralelo, com grande risco, devem ter verba que lhes seja provida ocultamente para esse fim. O "salário" deles, estabelecido pelo governo co­munista, é extremamente pequeno. A disposição desses pastores de arriscarem sua liberdade desdenhando os regulamentos comunistas e pregando o Evangelho a crianças, moços e adultos, em reuniões secretas, não é suficiente. Eles devem ter os meios de levar avante o seu produtivo ministério secreto.
Algumas dezenas de cruzeiros por mês ajudarão um membro da Igreja Subterrânea a disseminar o Evangelho com eficiência. Este é outro meio pelo qual se pode ajudar a Igreja Subterrânea.
Além disso, devemos irradiar o Evangelho para os países comunistas. Usando estações de rádio localiza­das no mundo livre, podemos alimentar espiritualmente a Igreja Subterrânea, que precisa muito do Pão da Vida. Porque o governo comunista Irradia em ondas curtas a sua propaganda para o seu próprio povo, milhões de russos e de outros povos escravizados têm rádios que rece­berão esses programas. As portas estão agora abertas para Irradiações dirigidas aos países comunistas. Esse trabalho deve ser ampliado. A Igreja Subterrânea deve ter a provisão de alimento espiritual de tais Irradia­ções. Eis outro meio pelo qual vocês podem ajudar a Igreja Subterrânea naqueles países.

A Tragédia das Famílias dos Mártires Crentes

Devemos providenciar auxílio às famílias dos már­tires crentes. Dezenas de milhares de tais famílias estão sofrendo agora de uma forma indescritivelmente trá­gica. Quando um membro da Igreja Subterrânea é pre­so — um terrível drama sacode sua família. É sobre­modo ilegal qualquer pessoa ajudá-la. Tudo isso muito bem planejado pelos comunistas a fim de aumentarem o sofrimento da esposa e dos filhos que ficam. Quando um crente é preso — e não raro a isto se segue tortura e morte — os sofrimentos apenas começam. A família sofre Interminavelmente. Posso dizer com segurança: se os crentes da' classe média não tivessem mandado ajuda para mim e minha família, nunca teríamos sobre­vivido para estar agora com vocês e lhes escrever estas palavras!
Agora mesmo rebentou nova onda de prisões em massa e de terror contra crentes da Rússia e de outras partes. Mais mártires estão sendo sacrificados cada dia. Embora eles desçam à sepultura e recebam o seu galar­dão, suas famílias vivem em condições horríveis e trágicas. Podemos e devemos ajudá-las. Naturalmente devemos ajudar os indianos e africanos famintos. Quem no entanto merece a ajuda dos crentes mais do que as famílias daqueles que têm morrido por Cristo, ou que estão sendo atormentados em prisões comunistas por causa de sua fé?
Desde a minha libertação, a Missão Cristã Euro­péia já mandou muito auxílio às famílias dos crentes martirizados. O que tem sido feito é pouco, em compa­ração com o que podemos fazer com a ajuda de vocês, que me lêem.
Como membro da Igreja Subterrânea, que sobrevivi e escapei trouxe para vocês uma mensagem, um apelo, uma súplica da parte de meus irmãos que lá deixei.
Eles me enviaram para que dirigisse aos leitores esta mensagem, em nome deles. Miraculosamente sobre­vivi para apresentá-la aqui.
Falei-lhes da urgência que há de levar Cristo ao mundo comunista. Transmiti-lhes o urgente apelo para que ajudem as famílias dos mártires cristãos. Apresen­tei-lhes os meios práticos pelos quais podem ajudar a Igreja Subterrânea a realizar sua missão de propagar o Evangelho.
Quando eu era espancado na planta dos pés, minha boca gritava. Por que? Não era ela que estava sendo maltratada. Gritava porque a boca e pés faziam parte do mesmo corpo. Vocês, crentes livres, são parte do mesmo Corpo de Cristo, que está sendo esbordoado nas prisões comunistas e que está produzindo mártires para o Senhor.
Vocês não sentem a nossa dor?
A Igreja Primitiva, em toda a sua beleza, sacrifício e dedicação, revive hoje nas terras comunistas.
Enquanto nosso Senhor Jesus Cristo agonizava em oração no Jardim do Getsêmane, Pedro, Tiago e João estavam a poucos passos do maior drama da história
contudo dormiam profundamente. Quanto da preocupa­ção cristã de vocês e de suas ofertas se dirige a au­xiliar os mártires da Igreja? Perguntem a seus pas­tores e lideres o que está sendo feito, em nome de vocês, para ajudar seus irmãos e irmãs atrás da Cortina de Ferro.
Por trás das paredes da Cortina de Ferro, o drama, a bravura e o martírio da Igreja Primitiva se repetem hoje uma vez mais, e a Igreja Livre dorme.
Nossos irmãos ali, sozinhos e sem ajuda, estão em­penhados na maior e mais corajosa batalha do Século XX iguais no heroísmo, bravura e consagração da Igreja Primitiva. E a Igreja Livre dorme indiferente a essa luta e agonia, exatamente como Pedro, Tiago e João dormiam no momento da agonia do seu Salvador.
Dormirão vocês também enquanto a Igreja Sub­terrânea, seus irmãos em Cristo, sofre e luta sozinha pelo Evangelho? Vocês vão ouvir nossa mensagem: "Lembrem-se de nós, ajudem-nos!"?
"Não nos abandonem!"
Apresentei-lhes a mensagem da fiel e martirizada Igreja Subterrânea nas terras comunistas,, provinda de seus irmãos e irmãs que estão sofrendo nós grilhões do Comunismo ateu.



"Quando o senhor dei­xou a Romênia sentimos como se Cristo tivesse saí­do também" — trecho de uma carta enviada secreta­mente pela Igreja Subter­rânea que fora por muitos anos dirigida por Richard Wurmbrand.

*


"Richard Wurmbrand é, sem dúvida, uma das mais destacadas figuras do sé­culo vinte" — (Jornal -"Evening News" - Lon­dres)


                 *



Leia o segundo livro de Richard Wurmbrand — "CRISTO EM CADEIAS COMUNISTAS".





"Crentes eram pendurados em cordas de cabeça para baixo e açoitados tão seve­ramente que seus corpos balançavam de um lado para o outro sob a força das pan­cadas. Eram colocados em refrigeradores — "celas refrigerantes" — tão frias que se formava uma camada de gelo na parte interna. Eu próprio fui jogado em uma dessas celas, com bem pouca roupa.
Médicos da prisão observavam-nos através de uma abertura, até verem sin­tomas de morte por congelamento. Nesse ponto davam sinal e os guardas nos tiravam e então éramos aquecidos. Quando já es­távamos adquirindo calor, éramos ime­diatamente colocados de novo nas celas congeladoras, e isto repetidamente!
Descongelar depois congelar até um ou dois minutos antes da morte, e então des­congelar novamente. Isso continuava in­definidamente. Até hoje, algumas vezes não suporto abrir um refrigerador".





 



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