terça-feira, 16 de outubro de 2012

O conturbado local do nascimento da Torá


O conturbado local do nascimento da Torá

O deserto do Sinai está sendo mergulhado no caos e na violência.

Neste Shavuot, o deserto, onde a moralidade foi transformada em lei, é um manancial de ilegalidade e conflitos, um microcosmo de doenças do mundo árabe e uma fonte de perplexidade israelense.

Nós israelenses conhecemos melhor o Sinai que qualquer um dos nossos antepassados desde Moisés. Lá lutamos, servimos, percorremos a pé e passamos as férias lá, nos apaixonamos com a sua majestosa paisagem lunar onde montanhas roxas e escarpas douradas sobrepujam as dunas douradas e os recifes azuis.

Após a sua devolução para o Egito, os israelenses se aglomeravam durante as férias nas praias, cânions e resorts do Sinai. As longas filas de veículos em Eilat - onde os passaportes que ostentam a menorah judaica foram carimbados com uma águia egípcia, e veículos com uma pequena bandeira de Israel em suas placas foram deixados passar através de um despretensioso cruzamento de fronteira quase tão naturalmente como se fosse de Quebec para Vermont- foram para nós mais doces do que qualquer vitória militar.
Agora, tudo isso é nostalgia.

O que começou na década de 2.000 com uma série de atentados terroristas em resorts ao longo da costa do Mar Vermelho, desde então se tornaram uma ofensiva no atacado sobre a autoridade egípcia, incluindo ataques a delegacias de polícia, caminhões dos correios e postos de controle de estrada; fricção com a força de paz do Sinai, e ataques contra o gasoduto que exporta gás para a Jordânia e Israel.

O estado judaico é, naturalmente, uma vítima do caos no Sinai, mas as suas origens não provêm de um conflito entre árabes e judeus, mas de árabes e árabes. Mais da metade dos 400.000 habitantes do Sinai são beduínos, seminômades que vagueiam entre os oásis montando camelos e pastoreando ovelhas. Quando o Egito finalmente recuperou o Sinai em sua totalidade em 1982, os beduínos logo souberam de duas coisas: Primeiro, o Cairo tinha grandes planos para a região e, segundo, não havia nada para eles.

O grande plano era uma Riviera no Mar Vermelho, que os egípcios realmente construíram, com mais de 100 resorts ao longo dos 120 quilômetros da costa cor de turquesa, e aonde 5 milhões de turistas visitavam a cada ano.

E os beduínos? Eles foram orientados para irem para as montanhas, onde 90% se tornaram desempregados. Assistiram de lá os membros do regime de Mubarak e seus amigos tomarem posse de uma região de costa onde antes pastoreavam por séculos, e a conclusão que os beduínos chegaram era simples: Cairo é o inimigo.

E, enquanto Cairo os humilhava durante os últimos anos outros souberam disso: al Qaeda. Os beduínos, normalmente calmos, hospitaleiros e pouco religiosos, passaram a ouvir os estrangeiros islâmicos que lá chegaram para lhes dizer que a Riviera, além de levar vantagem dos habitantes que antes lá habitavam no Sinai, também era de profanos religiosos e dignos do terror que foi produzido pelos beduínos.

A região tornou-se um repositório de ódio, encapsulando todos os elementos do descontentamento árabe: a corrupção política, a alienação social, o abuso de tribal e o oportunismo fundamentalista.

Atualmente, um falcão pairando por cima do Monte Sinai poderá constatar os estragos causados pela revolta beduína: no leste, praias quase vazias no Mar Vermelho e locais de construção inacabados; no noroeste, gasodutos que sofrem explosões; ao leste contrabandistas portanto metralhadoras, foguetes e mísseis, e ao longo do flanco oriental do Sinai, uma nova e quase concluída cerca de 240 quilômetros que Israel construiu para bloquear o contrabando de drogas, prostitutas e imigrantes ilegais.

Nos tempos antigos, inúmeros exércitos orientais cruzaram o norte do Sinai para invadirem outros impérios. Os nômades da época sempre observavam estas expedições militares da segurança das montanhas ao sul da costa do Mediterrâneo, de onde eles podiam avaliar as chances de um poder subir e outro cair.

Agora, da mesma maneira que os antigos nômades, assistindo através de nuvens de areia a passagem dos impérios, e os beduínos olham com lágrimas nos olhos a sua costa que lhes foi roubada, e agora são os israelenses que estão assistindo através do muro como a paz murcha no calor da Primavera Árabe.

No Cairo, os candidatos presidenciais prometem criar empregos para os beduínos através de uma polícia remodelada e uma zona de livre comércio no Sinai e Gaza. Os israelenses não têm ilusões se o próximo líder egípcio os receberá de volta às praias do Sinai, mas se espera que ele, pelo menos, cumpra as promessas aos seus moradores e restaure a honra deles.

Em Shavuot, os judeus não lembram sobre o Faraó, o déspota que morreu afogado no litoral do Sinai, mas lembram sobre o resto dos reis das suas épocas. Essa multidão real, de acordo com o Talmud, foi realmente inspirada pelas obras da legislação israelita, tanto assim que, quando Moisés recebeu a Toráh, "eles tremeram nos seus palácios e recitaram poesias".

Ninguém está pedindo que o sucessor de Hosni Mubarak trema ou faça poesias, mas o mundo inteiro está pedindo para que ele se concentre na dignidade social, oportunidades e mobilidade, e se ele não pode fazer isso para todo o Egito de uma só vez, então ele poderia muito bem começar onde a justiça social se tornou lei: O Sinai.

Amotz Asa-El é ex-editor executivo do The Jerusalem Post, é membro do Instituto ShalomHartman em Jerusalém.

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