Textos: Sl. 116.12 – Mt. 4.1-11
INTRODUÇÃO: A Teologia da Ganância está fundamentada na relação de causa e efeito, isto é, na possibilidade do ser humano barganhar com Deus. No estudo desta semana, destacaremos essa impossibilidade, tendo em vista a graça de Deus, que desconstrói essa relação de troca. No início, mostraremos que a Bíblia, como Palavra de Deus, condena a barganha com Deus, em seguida, que esse tipo de ensinamento é perigoso por desconsiderar o favor imerecido de Deus.
1. A BÍBLIA CONDENA A BARGANHA COM DEUS: A Bíblia é susceptível à construção de qualquer doutrina, ela pode ser usada para fundamentar qualquer posicionamento humano. Ao longo da história, ela foi usada para justificar o extermínio de pessoas, o preconceito contra os negros, entre outros descalabros. A Bíblia é a Palavra de Deus, mas precisa ser lida com sinceridade e responsabilidade, sobretudo com disposição para ouvir o que o Senhor tem a dizer (Ap. 2.7,11). O texto bíblico precisa ser considerado em sua inteireza, e contextualizado, dentro de uma revelação específica para determinado tempo, avaliando as possibilidades para a sua aplicação, tendo como crivo o evangelho de Cristo (Lc. 11.52). Tal como os amigos de Jó, muitos defendem, nos dias atuais, que as adversidades pelas quais muitos cristãos passam advêm de pecado, como também acreditavam os discípulos de Jesus (Jo. 9.1). O próprio Diabo acreditava que Jó se distanciaria de Deus se viesse a perder o que possuía (Jó. 1.6-12; 2.1-10), não são poucos que, como Elifaz, Zofar e Bildade querem fazer o mesmo. O Tentador também barganhou com Cristo quanto o Senhor foi tentado no deserto, prometendo-LHE as glórias desta era, caso se prostrasse e o adorasse (Mt. 4.8-10). A barganha é sempre uma doutrina satânica, respaldada pela religiosidade humana, o evangelho de Cristo é escândalo para o mundo e para a religião, pois Cristo morreu justamente pelos que não mereciam (II Co. 10.2). A base desse evangelho é o amor, revelado no agape, na disposição de Deus de entregar Seu Filho para que todos os que nEle creem tenham a vida eterna (Jo. 3.16).
2. OS ARTIFÍCIOS PERIGOSOS DA BARGANHA COM DEUS: A doutrina da barganha com Deus é perigosa porque condiciona a operação de Deus às atitudes humanas. O ser humano é posto diante de leis e decretos que são considerados infalíveis. A famosa expressão “toda ação resulta em uma reação” é amplamente usada pelos adeptos da barganha. Essa lei se aplica aos valores seculares, mundo, às trocas empresariais, mas nada tem a ver com o relacionamento do homem com Deus, não deve ser imitada pela igreja do Deus Vivo. Cristo é a verdade que liberta (Jo. 8.32-36), e, por causa dEle, nenhum ritual religioso pode restringir a graça (Cl. 2.16-23). A barganha perdeu toda e qualquer razão de ser, pois, na cruz, a cédula foi rasgada, não existe mais débito (Cl. 2.14,15). Nos primórdios da igreja cristã a doutrina da barganha adentrou as igrejas da Galácia. Paulo reconheceu o perigo daquele ensinamento, por isso escreveu urgentemente àquelas igrejas (Gl. 1.1-13). A circuncisão, naquelas comunidades, é o exemplo de lei que se impõe como entrave à manifestação da graça de Deus. Paradoxalmente, em Cristo não existe mais lei, senão a do amor, o fruto que em nos opera para a vida, não para a morte (Gl. 5.21,22). Aqueles que se fiam na lei não agem com amor, apenas conseguem impor sobre os outros as suas interpretações, suas neuroses, concretizada em perseguições, tal como fez Paulo, quando adepto do farisaísmo (Fp. 3.4,6; I Tm. 1.13).
3. BARGANHA É O ESTELIONATO DA GRAÇA DE DEUS: A barganha com Deus é um estelionato contra a graça de Deus, ela nega o princípio maior da ética do evangelho. A religiosidade fundamentada na competitividade leva às pessoas a quererem ser sempre uma melhores do que as outras. Tal como Caim, somos levados a medir constantemente as atitudes dos outros pelas nossas, inclusive no que tange à espiritualidade, impossibilitando a operação do amor de Deus (I Jo. 3.11-13). As pessoas que se fiam na barganha com Deus vivem sempre amedrontadas, não conseguem desfrutar da plena liberdade que há em Cristo (Gl. 5.13-16). É bem verdade que o homem ceifará o que semear, mas isso somente na dimensão da lei, pois, na graça, a ética é respaldada pelo amor. É o amor de Deus que nos constrange a fazer o bem (Gl. 6.9-10), como expressava Agostinho, “amemos a Deus e podemos fazer o que quisermos”. Os dividendos dessa condição existencial será para a eternidade, reconhecimento divino do nosso desprendimento (II Co. 9.7-11). As atitudes cristãs, inclusive a contribuição, é uma extensão da atuação graciosa de Deus. Os adeptos da Teologia da Ganância, no entanto, transformam essa ética em práticas legalistas. O objetivo central desses é o acúmulo de bens, a fim de viverem regaladamente, enquanto os pobres da igreja padecem necessidade. Mas o julgamento de Deus sobrevirá sobre eles, pois, conforme já antecipou Pedro, esses “farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita." (II Pe. 2.3)
CONCLUSÃO: O Jesus pregado pelos Teólogos da Ganância nada tem a ver com Aquele revelado nas Escrituras. Mais que isso, conforme revela Paulo aos coríntios, se trata de outro espírito e de outro evangelho (II Co. 11.1-4). A doutrina da barganha defendida por tais pregoeiros é perigosa porque põe em questão a manifestação escandalosa da graça de Deus através da cruz de Cristo (I Co. 2.14; 3.19). O relacionamento do crente com Deus, e com o próximo, se fundamenta não na misericórdia e na graça, mas na troca de favores, que nada tem a ver com o genuíno evangelho (I Co. 13).
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